Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 86
LXXXVI




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Notas: 08/05/2019 Como as notas serão desativadas na atualização do Nyah!, aproveito para manter minha comunicação direta com você aqui no "corpo" do texto mesmo, ok? Eu também queria uma nova capa para se adequar ao novo formato do site, então se alguém souber de alguma página de capas que tenha pedidos abertos, por favor me dá um toque. Agradeço muito o acompanhamento de todos ♥ 

Boa leitura!

 * * *

 

 

Bucky mal sabia para onde olhar quando chegou na ilha, embora sua atenção recaísse sobre figuras que caminhavam de forma estranha sobre o local, pernas e pés grandes demais para as proporções do Porto. Entendera que parte do plano simplesmente tinha ido por água abaixo quando Anna Marie e Remy não conseguiram explodir as injeções à tempo, mas a mensagem de Sam Wilson no comunicador poderia ter sido mais específica sobre as dificuldades que enfrentariam. No entanto, não era tão difícil assim imaginar. O soldado forçou a vista, ainda sentado na poltrona do piloto da aeronave. A névoa engolia a nitidez daqueles colossos, mas logo a luz amarela do tórax de um deles atingiu-o. Eram Sentinelas, nove deles para ser mais exato. E um deles tentou pegá-los com sua imensa mão.

Ele desviou no último segundo, o movimento do jato súbito demais. Anna Marie soltou um grito, Remy a segurou com força. O nevoeiro foi se desfazendo da ilha, descortinando o cenário desastroso que se desenrolava ali embaixo.

O time dos X-Men já estava lá, a aeronave que pilotaram estendida no concreto do porto feito um brinquedo jogado por uma criança frustrada. Jean Grey usava seus poderes telecinéticos para evitar que os disparos dos Sentinelas atingissem os jornalistas, enquanto Scott seguia num ataque agressivo de tiros, acompanhado por Natasha. Bucky podia jurar que havia visto Logan em cima de um dos robôs, enfiando garras nos circuitos dele, mas o soldado foi distraído por uma sequência de raios invocados por Ororo. Infelizmente, ela foi atingida por uma das máquinas e começou a cair. Sua sorte é que Sam Wilson estava com seu equipamento de vôo e a salvou da morte certa.

O pouso feito por Bucky foi improvisado entre tiros, caos e pouquíssimo espaço. Não demorou para que saísse da poltrona do piloto para pegar seu rifle e munições extras, dando instruções à Remy e Anna. Também entregou armas para os dois por precaução.

— Gambit, auxilie Scott e Natasha no ataque. — Ele apontou para o bolso dele, se referindo ao baralho que ele sempre usava com seus poderes. — Mire no centro do corpo deles. Anna… Anna, tente ajudar Jean Grey a evacuar a ilha. Guie as pessoas fora daqui.

— E você?

— Vou ver onde o Steve está. — Abriu a escotilha da aeronave. — Não o enxerguei lá de cima e isso só pode significar que ele está fazendo algo muito estúpido. — Bucky parou antes de sair, virando-se para os dois mutantes, em especial para Anna: — E sobreviva para espalharmos que Remy LeBeau é uma farsa.

Não se deixou abalar pelo xingamento francês que escapou da boca de Gambit. No segundo seguinte, Bucky começou a percorrer um trajeto tortuoso por aquele campo de batalha, poupando tiros desnecessários e disparando somente quando tivesse o tórax ou a cabeça de um dos Sentinelas na mira. Seu objetivo era chegar onde Scott e Natasha estavam para  ajudá-los e também para saber o que diabos tinha acontecido naquela ilha. Talvez soubessem onde Steve se enfiou. Se Magneto era o alvo primário, onde ele também estava? Teria Steve arquitetado alguma estratégia? Ele parou de pensar para se focar em coisas mais simples, como seu instinto de autopreservação. Teve que desviar de um disparo de energia vindo de um dos Sentinelas, depois rolou no piso para escapar de um pedaço de concreto que voou em sua direção.

Ajoelhado, com suor na testa e pó cobrindo seu corpo, Bucky começou a recarregar sua arma. Seu braço metálico já estava brilhando devido ao impacto de estilhaços e batidas, mas ele não poderia arriscar ainda um contato direto com um dos robôs. Parou um instante, protegido por uma barricada de destroços de uma das máquinas que Ororo Munroe conseguiu derrubar antes de ser atingida. Com sua visão periférica, viu a cor rosada e neon dos ataques explosivos de Remy LeBeau e esperava que ele fosse tão agressivo com seus oponentes quanto aquele primeiro dia em Bucareste. Olhou para frente. Faltavam poucos metros para chegar até Natasha e à metros atrás dela havia Jean Grey protegendo os jornalistas. Bucky não parou para contar, mas considerou que era uma média de vinte a trinta pessoas. Foi nesse meio tempo que ele viu Sam Wilson pousar perto de Jean com Ororo inconsciente no colo, deitando-a no chão com delicadeza, enquanto Anna Marie se aproximava sorrateira.

Escutou um som elétrico, algo semelhante ao que tinha escutado no metrô da capital da Romênia, e estava estupidamente perto. Era o som do robô se desfazendo para logo em seguida montar-se de novo. O soldado deu um passo para trás ao notar que tal barulho vinha das peças que serviam de barricada para ele naquele instante, assistindo atônito a imensa perna artificial no chão se erguer para substituir aquela danificada no Sentinela ainda de pé. Engatilhou e disparou, embora seus tiros não fizessem nada além de atrasar o processo. Optou por sair logo dali para não se tornar um alvo fácil e, por fim, conseguiu parar ao lado da Viúva Negra.

— Está atrasado. — Ela disse, sem nem piscar com o barulho caótico do combate ou se incomodar com o recuo das pistolas nas mãos. —E espero que não tenha ficado de graça com Wanda dessa vez. Viu Belova no caminho até aqui?

— Não. — Ela rangeu os dentes devido a resposta negativa. Bucky também voltou a atirar, mirando o tórax dos robôs, na parte central de luz amarela. — Onde está o Steve?

— Foi ajudar Magneto. Ele, Mística, Frost e Psylocke foram atingidos pelo soro.

Merda.

— E dos quatro, Mística está pior. Sofreu uma convulsão e Lensherr não conseguiu deixá-la. Elizabeth e Emma estão com Jean, só que estão praticamente inconscientes. Time Westchester não foi atingido pela cura, mas todo o resto está sem poderes.

Bucky buscou as figuras deles mais adiante, entre a confusão de peças de robôs e estilhaços de tiros. Encontrou Steve se defendendo somente com sua força de vontade e com os escudos em seus antebraços, absorvendo os golpes desferidos pelos Sentinelas. Naquele instante, James Barnes agradeceu por seu amigo ter muita força de vontade e principalmente por se negar a morrer em todas ocasiões em que se colocava em risco. Mística estava desacordada nos braços de Erik, que por sua vez parecia tentar explodir as máquinas só com o peso de seu ódio. A situação era crítica e Bucky notou algo mais:

— Os Sentinelas… Estão em uma posição estratégica?

— Sim. — Scott Summers se aproximou, dando uma pausa para respirar entre as rajadas de laser que soltava pelos olhos. Mesmo que o restante do grupo estivesse quase inteiro concentrado ali, Barnes tinha a sensação que estavam recuando aos poucos, para cada vez mais perto de Jean. Os ataques eram brutais e eles estavam apenas segurando as pontas. — Três deles estão se desmanchando para virar outra coisa é essa coisa… Suponho que seja a Máquina de Almas. Três estão protegendo o ponto e três estão tentando levar Lensherr até lá.

Sam Wilson, agora mais perto, soltou um assovio:

— O pessoal da HYDRA é realmente obcecado com a simbologia do número nove.

— Conseguimos derrubar um, — O mutante prosseguiu com as explicações, sem tempo para os gracejos tolos do Falcão. Talvez não conhecesse muito bem o que era HYDRA para entender a referência. — Mas nossa munição está acabando pra derrubar o segundo e Rogers não vai aguentar proteger Mística e Magneto por muito tempo. Logan está num terceiro e talvez picotar os circuitos neurais dele dê certo.

Definitivamente, eles estavam recuando. Bucky sentia suor descer pela lateral de seu rosto e enxergava a preocupação estampada na face de Natasha. Seu consolo era saber que estava perto o suficiente de Jean Grey e que ela tinha poder o suficiente para desviar o curso de disparos lançados sobre eles e também dos destroços que vinham em sua direção. No entanto, ela já não continha murmúrios doloridos pela grandeza do esforço. Chamou pelo nome de Scott e aquilo era um sinal de alerta.

James desviou o olhar para conferir o estado da mutante e das pessoas atrás de sua barreira telecinética. Os jornalistas, meros humanos civis naquela luta titânica, estavam assustados e não era raro ouvir uma ou outra prece. Escutou a voz de uma mulher acalmar um homem que se chamava Phil, dizendo que tudo ia dar certo. Os Vingadores estavam lá, afinal. Alguns mais ousados ainda filmavam o que acontecia. Emma, Elizabeth e agora Ororo jaziam desacordadas ali perto, pouco depois de onde Jean Grey permanecia de pé. Anna Marie verificava o estado delas e era possível notar que a jovem olhava para os lados numa tentativa de arrumar uma forma de levar todos embora.  

Sam guardou um das armas no bolso quando acabaram as balas e soltou um suspiro:

— Ao menos Remy não precisa exatamente de munição.

Natasha também estava irritada. Economizava nos tiros, demorava mais sua mão para focar um tiro certeiro. Entre dentes, disse:

— Sem Ororo, mal fazemos avanço.

Houve um grito à distância, um grito insano e alegre de Logan ao decapitar uma das máquinas. O estrondo do corpo ao cair no chão foi poderoso, mas logo um dos Sentinelas que vigiava a formação da Máquina de Almas saiu de seu posto e caminhou a passos pedados até ele, murmurando seu protocolo de segurança em sua voz artificial. Enquanto isso, Remy LeBeau desviava de um dos braços que se destacou do corpo do robô para atingi-lo. De fato, as descargas elétricas de Tempestade poderiam ajudar muito naquele momento, mesmo que só para paralisar os inimigos.

Uma ideia cruzou sua mente e ele foi obrigado a mais uma vez olhar para trás, agora na direção de Anna Marie. Ela parecia pensar a mesma coisa, até mesmo tinha tirado uma de suas luvas. Hesitava na frente de Ororo Munroe, mas ao ver Bucky Barnes assentir… Ela não teve mais dúvidas. Ajoelhou-se ao lado da poderosa mutante, dizendo:

— Me perdoe.

E segurou sua mão.

Não demorou muito para Anna Marie transbordar poder. Bucky podia sentir a estática no ar, as nuvens de fechando. Ela largou os dedos de Ororo com veias saltadas na pele, e abriu as pálpebras para revelar olhos esbranquiçados. Levantou-se do chão arfando, sem conseguir controlar-se. Nunca passou por sua cabeça o quanto era difícil para a mutante, a diretora do Instituto Xavier, lidar com suas habilidades sobre os ventos até assistir Vampira quase desfalecer devido intensidade dos poderes. Isso o fez lembrar de Wanda. Talvez fosse algo assim, algo que ele sequer podia imaginar… E era tão estranho. Ororo era uma mulher gentil, Wanda também. Poderiam despedaçar o mundo, se desejassem.

O vento uivou sobre a ilha, castigando-a com sopros cada vez mais fortes. O dia quase virou noite devido as nuvens escuras que se aproximaram, soltando o eco dos trovões, enquanto Anna flutuava no ar. O mar acompanhava a tempestade, suas ondas ferozes. E então, raios cortaram o céu e atingiram o solo, quase sem distinguir quais eram seus alvos. Três Sentinelas foram atingidos, petrificados pela eletricidade contínua.

Bucky engoliu seco, Natasha parou para observar. Ela franziu a testa, chocada, e então voltou ao mundo real:

— Eu vou atrás de Belova e do pendrive. Se ela ainda estiver no painel de controle com o dispositivo, ao menos conseguimos isolar a Inteligência Artificial de Zola aqui.

— Certo. Eu vou tirar o Steve de lá.

Sam estava ao lado de Bucky agora é não perdeu a oportunidade de alfineta-lo.

— Não vai esquecer seu sogro.

James Barnes o encarou com uma carranca estampada em sua expressão. Depois, voltou seus olhos à Natasha em um tom acusatório. Em menos de 24h, teria ela contado o que aconteceu em Bucareste?

— O quê? — Ela ergueu uma sobrancelha. — Você acha que ninguém mais sabia desse seu caso com a Wanda?

— Não é um caso. — Bucky se odiou por ter negado tão rápido. Não era um caso, não era algo frívolo ou proibido, ele não teria que dar satisfações. E com certeza não deveria ter soado tão nervoso e na defensiva, pois o sorriso de Natasha e de Sam só aumentou. Isso o fez lembrar da voz de Wanda ao dizer que ele era o seu amante. — E eu só achei que vocês poderiam ser mais discretos, já que são espiões.

— Amigo, a gente apareceu na televisão. Ela deu entrevista no Congresso.

— Sam, eu pisei no Congresso.

— De fato.

— Barnes, foco. — O mutante veio ao seu lado e disparou mais um lampejo vermelho em direção aos robôs. — Não deixe esse conflito pessoal atrapalhar a missão.

Bucky queria ter respondido à Scott que ele fazia o que diabos ele queria, mas apenas seguiu em frente correndo. Parte de si estava de fato surpresa por aquele pensamento malcriado, considerando que talvez realmente estivesse cada vez mais perto de uma cura para seus fantasmas e HYDRA. Ele não tinha que obedecer ninguém. Sem mais "Ya gotov otvechat”, graças a Steve, Shuri, Wanda. E outra parte de si permanecia preocupada. Não podia deixar o sogro morrer.

Correu entre destroços, raios e o movimento dos robôs eletrocutados. Na contagem de Sentinelas, três estavam paralisados, um já havia sido derrubado por Logan e outro pela equipe como um todo. Os outros três que se desmontaram para se tornar uma máquina maior pareciam finalizar o processo, então faltava apenas um para se preocupar no momento, e ele era distraído por Steve Rogers.

O soldado notou que seu amigo já estava sujo de pó do concreto destroçado e sangue de cortes abertos no rosto. Um pedaço do escudo esquerdo tinha sido arrebentado na luta, pois a força dos Sentinelas era tanta que podia quebrar material fornecido por Wakanda. Steve desviava, rolava no chão, e voltava a atacar as pernas ou qualquer parte dele que pudesse atingir. Bucky atirou no tórax do robô, obrigando-o a parar seu gesto de punhos fechados para esmagar o alvo, Steve. Por sua vez, o Capitão América agradeceu com uma continência rápida e começou a subir com destreza o corpo do inimigo colossal, fincando as pontas em garras dos escudos retangulares em sua carapaça dura. Seu objetivo era o pescoço da máquina. Considerando que a situação, por mais frágil que fosse, estava sob controle, Bucky seguiu o caminho e alcançou onde Magneto e Mística estavam.

— Nós temos que ir. — Ele se apoiou com um joelho no chão, chegando um tanto esbaforido e apressado. — Anna Marie não vai segurar os poderes de Tempestade por muito tempo, nem Steve vai distrair esse Sentinela pra sempre.

A resposta veio devagar. Não tinha considerado a possibilidade de Erik Lensherr estar abatido, mas lá estava ele, com os olhos desfocados e concentração nula. Parecia demorar para processar as palavras de James Barnes, o que o fez lembrar da reação de Wanda quando foi atingida por uma daquelas seringas. Ela permaneceu inconsciente por horas, assim como Mística estava naquele instante, apoiada sobre Magneto.

Foi nesse momento que ele parou para prestar atenção na mutante. Ela vestia roupas brancas, agora já sujas por causa das cinzas e fumaça, e sua pele era caucasiana, não azul. Ou melhor, sua pele era mesclada, como se fosse vitiligo.Seus cabelos não eram mais daquele tom vermelho flamejante, mas sim pretos; e Bucky supôs que se ela abrisse os olhos, estes não seriam mais amarelos. Ele esperava que o que quer existisse na composição daquela seringa, não fosse permanente.

— Você é… Barnes. — Erik constatou, depois girou um pouco o rosto como se procurasse alguém no horizonte. — Você estava com minha filha. Ela…?

Bucky desejou e não desejou que ela estivesse ali.

— Não. Escute, você tem que me ajudar. Posso levar Mística em um dos braços, mas você vai ter que ir andando. Pode se apoiar no meu ombro. Consegue andar, senhor Lensherr?

Mais uma vez, um breve período de silêncio por parte de Magneto. Ao fundo, podia-se ouvir os sons da batalha, as máquinas se movendo e o impacto dos golpes. A eletricidade dos relâmpagos de Anna Marie começava a se dissipar.

— Me mate.

— O quê?

Me mate. — Repetiu, seus olhos muito vítreos e sérios. — Vocês não vão conseguir derrubar os Sentinelas à tempo. Se você me matar, Zola não vai ter como fazer a troca. É a única forma de salvar todos dessa ilha. É a única forma de deixar minha filha segura.

— Essa não é minha missão.

Erik só fechou os olhos por um segundo, franzindo a testa. Fazia força notável para se manter desperto, porém sua mente já não raciocinava plenamente. Seus pensamentos estavam demasiado longe de Genosha, centrados em uma jovem de íris verdes e poderes escarlates.

— Ela pensa em mim? Ela chegou a comentar…?

— Wanda está confusa. — Bucky justificou a ausência da Feiticeira, o motivo de sua viagem. — Mas ela realmente quer laços e quer saber a verdade. Consegue andar, Lensherr? Por ela?

Houve um instante de lucidez. Por ela, Erik conseguiria tudo. Tudo. Isso estava nítido em seus olhos. Magneto fez menção de se levantar, mas estava fraco e não conseguia mover Mística sozinho. Bucky se apressou em girar a faixa de seu rifle para manter a arma virada para suas costas, e então pegou a mutante com seu braço metálico e a apoiou no ombro. Com o braço livre, auxiliou Magneto a ficar de pé.

Ele encarou o ponto de onde tinha vindo, Jean Grey com os braços erguidos e Anna Marie faiscante no céu tempestuoso. Entre destroços e peças de Sentinelas, o caminho era longo e perigoso, entrecortado por tiros. Faltavam ainda algumas máquinas para vencer.

Começaram a andar de forma lenta, trôpega.

Atrás de si, escutou um estalo alto e em seguida o estrondo de um forte impacto. Sentiu até mesmo vento alcançando as pontas de seus cabelos. Olhou de esguelha, por detrás do ombro, para conferir o que se tratava. Era Steve, sua silhueta escura e o cenário ao seu redor em fumaça. Ele tinha conseguido decapitar um Sentinela e acabara de descer do pescoço do robô, que se desmontou no chão. Seu amigo se aproximou, ferido e resfolegante, e se ofereceu para levar Mística nos braço. Bucky a passou com cuidado, grato pela ajuda. Assim seria mais rápido colocá-los em segurança.

Steve foi na frente e já estava longe. Apesar do peso da mutante, era mais fácil  Steve caminhar com ela do que levar alguém apoiado no ombro, como Bucky fazia com Erik. Lá detrás, o soldado pode assistir Jean Grey cambaleando, Scott ao seu lado e Logan do outro. Steve chegava agora e apoiava a mutante junto de Emma e Psylocke, que começaram a despertar. Sam Wilson continuava a atirar nos robôs que eram eletrocutados por Anna Marie, mas ela logo desfaleceu e caiu dos céus. Sua sorte foi que naquele segundo, Remy LeBeau estava lá para pegá-la. Apesar de feridos e cansados, todos do time pareciam bem. Apenas Natasha não estava lá, pois saiu para procurar Belova.

Bucky sentiu alívio inundar seus pulmões. Dos nove robôs que vieram a Genosha, um foi abatido pela equipe, outro por Logan e um há pouco por Steve. Os três Sentinelas que foram atingidos por raios da Vampira ainda se debatiam e soltavam frases repetitivas em sua voz grave, convulsionando. De resto, faltavam apenas aqueles que se uniram para formar uma máquina só, uma imensa estrutura instalada nos fundos do porto e, mesmo que tudo tivesse dado errado naquele dia, eles dariam conta de destruir uma máquina. Ela girava e brilhava em tons verdes, acesa e esperando, no entanto não havia mais como Magneto ser sua vítima.

Para reforçar seu argumento, um dos robôs eletrocutados caiu, completamente desligado. Depois outro. James até mesmo afrouxou o passo, poupando o ritmo da caminhada para Erik Lensherr. Faltava um. Tudo ficaria bem.

O terceiro Sentinela se desmontou, suas peças separadas e suspensas no ar. A pele de Bucky Barnes se arrepiou, ele engoliu seco. Ele cairia assim como os outros, não? Desligado, morto. A parte central do tórax do robô então iluminou-se feito um farol, contrariando suas suposições e virando-se em direção a Barnes e Lensherr com sua cor amarela doentia. O soldado mal teve tempo de abrir a boca e soltar um grunhido, mas ao menos foi rápido o suficiente para jogar Magneto no chão e erguer o braço esquerdo para conter o disparo de energia vindo do tronco suspeso robô. Seu membro era feito de vibrianium e ele esperava que aguentasse o golpe por tempo suficiente.

Mas isso não significava que não doía. O impacto era tamanho que ele tinha a sensação de tentar segurar um cometa em movimento e queimava a tal ponto que Barnes considerou que seu ombro derreteria para fora do corpo. As linhas douradas no metal acenderam-se mais ainda, a tecnologia wakandana de reverter impacto totalmente carregada, aliás, sobrecarregada. Ele desviou o olhar, tentou ver se seus amigos conseguiriam derrubar a máquina ou se ela finalmente ficaria sem energia. Nesse instante, ele enxergou algo que fez seus joelhos tremerem:

As peças restantes do Sentinela, os membros que pairavam no ar com aquela maldita tecnologia de Zola, avançaram para se conectar com um tronco saudável. Bucky Barnes nada foi capaz de fazer quando braços, pernas e a cabeça do último titã voaram sobre si e se ligaram ao corpo quase inteiro do robô que Steve nocauteara. O robô se levantou rápido, implacável e encarou Erik Lensherr com seus olhos frios, o mutante ainda caído no concreto.

 

Alvo primário localizado. Executar comando.

Extração de alma calculada em:

Três minutos.

 

Iniciar.

 

Bucky gritou.

Os braços do Sentinela se destacaram novamente do corpo novo e alcançaram Magneto, sem poderes e sem defesa. O soldado pôde ouvir seus aliados exclamando e lutando para impedir que o pior acontecesse, no entanto a ação do que o Sentinela era precisa, imparável. O disparo do outro tórax continuava, impedindo que o soldado pudesse reagir. Em um segundo, o braço esquerdo do robô agarrou Erik Lensherr. No instante seguinte, ele já estava subjugado, sendo arrastado na Máquina de Almas.

— Não!

James Barnes, numa última tentativa de se livrar do disparo feito pelo tórax do robô, ativou o recurso de seu braço de vibrianium de reverter e redirecionar o impactos. Só não esperava que tal coisa refletisse o raio de energia e ocasionasse uma explosão. Ele fechou as pálpebras devido a claridade repentina, depois escutou só o som agudo de um zumbido. Quando abriu os olhos de novo, sua visão estava embaçada e ele estava no chão, todos os músculos do seu corpo latejando. Sua testa sangrava, sentia o calor morno escorrer pela sua pele. Um gemido dolorido escapou pela sua boca quando tentou se levantar. O que diabos tinha acontecido? Soube que havia apagado por alguns instantes e que não escutava nada direito. A fumaça também não ajudava.

Ele esperou alguns segundos para pôr a mente no lugar. A audição foi voltando gradualmente ao normal, bem como o cenário foi se tornando mais nítido. Ele encarou o ponto onde estava a Máquina de Almas. A fumaça se dissipou, revelando a luz verde da carapaça metálica da estrutura em pleno funcionamento. Erik Lensherr estava preso pelos punhos e pelos tornozelos no centro, seu corpo pendurado em X.

Bucky resfolegou, tentando se levantar de novo e tateando com desespero a superfície áspera do chão. Pior foi ouvir uma voz conhecida, de sotaque forte. Vinha do sistema de som dos Sentinelas, e aqueles que não sofreram avarias nessa parte, mesmo que caídos, ecoaram tal voz por todo o ambiente. Havia também um último robô de pé, aquele que arrastou Lensherr até lá, e as palavras saíram de sua cabeça inexpressiva:

— Pensei em me revelar só no final, já que vocês sempre reclamam tanto dos meus discursos. — Bucky reconheceu o deboche de Arnim Zola. — Satisfeitos?

Erik Lensherr soltou um urro de dor e de fúria.

— Eu preciso dar créditos por terem tentado. E por terem quase conseguido. Se bem que eu calculei que vocês fossem tentar, de alguma forma.

— Apenas me mate logo!

— Não, caro Lensherr. Eu não quero te matar. Sei que deve ter ficado chateado pela injeção mais cedo, mas era a única forma de você não interferir nos Sentinelas feitos de metal. Como que você não tinha percebido, seu tolo? Não interessa mais. — Ele fez um barulho como se tivesse estalado a língua embora sua voz nada mais fosse que uma sequência de sons de uma Inteligência Artificial perversa. — Assim meu povo fez com o seu, eu quero aprender com seu corpo. É o que falta para continuar meus experimentos. Ninguém vai me parar e talvez eu consiga afinal isolar o gene X e replica-lo quando quiser, suprimi-lo quando for conveniente. Será uma nova Era.

Houve um som que Bucky não conseguiu distinguir. O mais próximo que poderia lembrar era o barulho ascendente de uma turbina, algo que o fez sentir um aperto na garganta. Não se movia direito. Nem conseguia ver ao certo o que tinha acontecido com seus aliados. Sabia apenas que tinham que parar Zola, mas a máquina já estava ligada. Erik Lensherr jazia pendurado numa estrutura triangular formada pela combinação de braços e pernas de Sentinelas, enquanto a base quadrada era feita dos troncos. Tudo foi projetado com nanotecnologia moderna, o que permitiu que certas partes se moldassem de forma diferente. Por cima e por volta da estrutura triangular, havia um arco de metal que girava em seu próprio eixo cada vez mais rápido.

— Eu evolui. Os humanos também precisam se adaptar. E quando eu acabar com você, vou atrás de fräulein Maximoff. Ela deve ter respostas do universo nas veias e meus bisturis estão ansiosos para saber.

As luzes e eletricidade aumentaram, assim como os gritos de Magneto.

A imagem de Wanda veio em sua mente, e com ela veio um anseio paradoxal. Longe, ela estava segura. Zola mencionou abri-la com um bisturi e ele não podia imaginar destino mais terrível para ela, há tanto tempo trancafiada e tratada como um rato de laboratório. Sabia que esse pensamento não era só seu. O horror dessa possibilidade, a ira que isso provocava, era também inteira sentida por Erik Lensherr. Mesmo na dor, ele pensava na filha.

Longe, ela não assistiria essa cena horrenda que Bucky não pudera impedir. Perguntou-se se ela o perdoaria. Perguntou-se se ao menos sairia vivo de Genosha. Ferido e impotente, ele divagou sobre a cor vermelha enquanto Magneto gania de dor.

Se ela estivesse ali…  

Tentou de arrastar mais adiante, o braço de vibrianium pesado e inútil em seu ombro.

Se ela estivesse ali… Seria capaz de resolver tudo. Implacável, furiosa, etérea.

Sua Feiticeira Escarlate.

Bucky fechou os olhos por um segundo. Não poderia ver. Não iria aguentar saber que falhara. Seus lábios tremeram ao murmurar o nome dela e ele sentiu o ódio lhe trazer lágrimas amargas. E então, uma segunda luz intensa o obrigou a abrir as pálpebras logo em seguida, seus olhos azuis banhados em uma cor que ele tanto conhecia.

Que ele tanto amava.

 

 * * *

Notas:

* O capítulo foi revisado, mas existe a possibilidade deste arquivo ser sabotado pela HYDRA. Caso encontre algum erro, favor reporte à Shalashaska.

* Eu não escrevi além desse ponto, então não sei quando vou conseguir postar o próximo. Espero que logo!

* Cenas de ação são um desafio para mim. Caso algo tenha ficado confuso ou você veja algum ponto em que eu possa melhorar, pode me mandar mensagem que eu respondo ♥

* Wanda chegando em Genosha igual Thor chega em Wakanda em Guerra Infinita.


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