Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 87
LXXXVII




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16/06/2019

Oi,galera! Demorei, mas trouxe 6k de palavras. Assim como eu disse anteriormente, esse capítulo vai voltar um pouco no tempo pra mostrar o que a Wanda estava fazendo esse período todo e como ela vai parar em Genosha. Muitas informações importantes vão rolar nesse capítulo, então me dá a mão, respira fundo e vamos nessa!

***

 

O humor leve de Wanda Maximoff não passou despercebido pela bruxa ou pelo gato, mas eles não a incomodaram com piadas jocosas ou questionamentos de sua tarde em Bucareste, afinal ela merecia certo descanso depois de tanto sofrimento e depois de tanto esforço na casa de Agatha Harkness. A Feiticeira, por sua vez, agradeceu mentalmente a discrição de seus amigos. Não tinha vergonha de expor seus sentimentos, no entanto ainda era algo novo para Wanda ter aquela sensação morna dentro do peito e ela precisava processar essas emoções sozinha antes de dividi-las com alguém. Na realidade, duvidava que os outros desejassem detalhes sobre seus beijos em James Barnes. Ela voltou para a loja da mestra sorrindo, mas não ficou muito tempo ociosa depois do pôr do sol. Sabia que certas coisas a bruxa preferia fazer a noite e naquela data a lua era particularmente propícia.

— Vamos, menina. — Agatha fechou o grimório da loja. Wanda esperava que depois abrisse as escadarias que levavam à casa, no entanto a mestra a direcionou à porta esquerda, a lua minguante. Nunca tinha ido até o cômodo onde Agatha atendia seus clientes, embora soubesse que era onde exatamente as portas esquerda e direita davam. — Ainda temos muito trabalho a fazer.

— Como o que?

— Você sabe que existe uma perturbação em  Wundagore, e sabe que não será nada fácil tirar Natalya de lá. Eu proponho um exercício especial para você, antes que de irmos até a Travessia da Bruxa. Ebony, você fica.

A Feiticeira Escarlate pensou um pouco, acompanhando-a passo por passo pelo corredor escuro. Nem parou para pensar no silêncio do gato preto. Sua mente divagava em outros assuntos. Natalya Maximoff, irmã de Django Maximoff e portanto, tia adotiva de Wanda e Pietro, era uma feiticeira também e tentou ajudar Magda a sair da Montanha Wundagore. Só os gêmeos sobreviveram. Como Magda veio parar em Wundagore, como tantos anos de passaram sem que ela envelhecesse e o porquê o lugar se mostrava perigoso ainda eram questões no ar. Ela também gostaria de saber mais detalhes do motivo Natalya teria voltado até lá, presa agora entre um plano astral da Travessia da Bruxa e o mundo real. Soube pela Phuri Daj que encontrou em Varsóvia, Lucja, que Natalya quis aprisionar algum mal, algo que… Que desejava Wanda, de alguma forma.

Um exercício de magia seria bom para Wanda praticar e poder se defender adequadamente. Entendia que Agatha também queria ir até a Travessia da Bruxa por ser mais seguro. Se não fosse por Ebony, Ameena, Âmbar e James Barnes, ela não teria escapado da floresta ao sopé da Montanha. Existiam criaturas lá, ilusões e portais. Coisas além da razão. Wanda não cometeria o mesmo erro ingênuo de vagar por lá sem estar preparada. Só não esperava que Agatha a levasse até sua sala particular na loja e lá estavam as duas.

O lugar não era grande e a falta de objetos lá dentro era compensada pela decoração. O cômodo iluminava-se por apenas luz de velas, ancoradas em um par de candelabros de pé. Nas quatro paredes haviam espelhos circulares que ocupavam quase a superfície inteira, mais suas molduras de prata. A primeira coisa que a Feiticeira viu ao entrar na sala foi a si mesma pelos espelhos, tingida através dos reflexos das chamas pequenas. Parecia assistir uma sucessão infinita de Wandas, todas escarlates. Ao centro, somente mais duas grandes almofadas de cetim roxo.

Os passos das duas ecoaram pelo ambiente quando se aproximaram do meio. Agatha fez um gesto para que se sentasse e ela obedeceu. Ofereceu antes seu auxílio para ajudar a mestra se sentar também, mas Agatha negou com um gesto vago e despreocupado. Wanda olhou por de trás dos ombros e notou que a porta pela qual tinham vindo se fechou sozinha, do lado de dentro sendo um espelho. Isso a fez cogitar que o espelho da parede oposta era também uma porta, a saída. Agora se encaravam, uma de frente para a outra.

— Wanda, querida. — Sorriu, os vincos de sua face com muitos e muitos anos de idade. — Está muito próxima do estágio final, Rubedo. Um novo momento vem para você, Feiticeira Escarlate. Será bom e será frágil.

— O que isso significa?

— Significa que é melhor nos apressarmos. Sinto algo, Wanda. Algo com fome em Wundagore. Mas eu não seria tola o bastante para mandá-la para lá sem que estivesse pronta.

— Então hoje… Hoje farei um novo exercício? Alguma prova, como o labirinto?

— Sim e não.  Como eu disse há dias, eu posso te ensinar feitiços, encantamentos e poções, mas a magia é sua. O controle é seu. E você, Wanda, mal tem limites.

— Eu… Eu sei. E ao mesmo tempo, não entendo. Eu altero a realidade. Isso não deveria ser possível.

— Ebony estava certo em lhe dizer que você é infinita. E também deve ter mencionado que criar e destruir coisas do zero ao zero é custoso.

— Sim. — Wanda assentiu. Quando seus poderes se acendiam em momentos extremos, ela se sentia muito perto do Paraíso e ao mesmo tempo perto do Inferno. Era dolorido, desesperado, vulnerável. E ela não queria mais entrar em colapso. No entanto, não era da índole da mestra a proibir fazer algo. Com a testa franzida, Wanda concluiu: — Eu suponho que é isto, então. Hoje vou tocar nos véus da realidade.

— Sim. Como você vai fazer isso, está em suas mãos.

— O que quer dizer com isso?

— Que eu confio em você. Tem feito um bom trabalho com a própria intuição, só precisava de ferramentas necessárias. Um pouco de confiança.

— Um pouco de tempo, eu acho. — Ela concordou. — E paz. Mas… Não tem medo do que eu posso fazer? Trazer quem já se foi. Obliterar o que não desejo mais. Caos.

— Bem, querida… Eu não recomendo, assim como lhe disse em São Petersburgo, antes de você teletransportar seus amigos para Zurique. É custoso. Mas o que somos se sempre tememos nossas capacidades?

— Eu sei, eu sei. Não posso passar a vida inteira com medo de algo. Com medo de mim. Mas o que faço se posso fazer tudo?

— Ora, eu mal suspeito. Proponho esse exercício para que você tenha mais intimidade consigo mesma. Vai precisar quando enfrentar seus piores inimigos. E sendo sincera? Você sempre me dá respostas muito criativas.

Wanda sorriu, lembrando-se. Começou com silêncio. Enterrou e regou suas lágrimas, deixou-as brotar. Ela encarou-se mais uma vez no espelho, enxergando seu rosto quieto e seus olhos vibrantes. Não sabia se mudaria algo, caso rasgasse a realidade. Não havia nada enobrecedor em sofrimento puro, embora tenha crescido nesse meio tempo. Não se conhecia mais de outra forma do que era agora. Então, não. Não mudaria o mundo, ao menos não agora. Ele era o que é, terrível desse jeito. Encantador desse jeito.

Wanda apenas observaria seus muitos reflexos na realidade. Seu eu em outras eras. Sua infinitude.

Tentou não pensar muito no mundo externo, não agora. Existia ainda o medo pelos Sentinelas e pelo crescente conflito com os mutantes, existia Genosha e Outer Heaven. Steve Rogers e os outros cuidariam do caso, descobririam mais sobre o que houve com Anna Marie. Eles ficariam bem. James Barnes estava seguro, junto com Natasha e em breve com todos os seus amigos. Eles confiaram nela para se aventurar sozinha, e ela confiaria de volta para que seguissem vivos e à salvo. E também… Duvidava que Magneto permitiria algo acontecer com Genosha.

Ou ao menos era tudo isso que Wanda dizia a si mesmo enquanto se preparava para um esse exercício de magia.

Ela invocou a tiara vermelha em suas mãos. O peso era pouco, mas seu significado pesava. Um presente de seu violentamente amável pai. Assistiu Agatha sorrindo ao ver o pequeno feitiço de invocação e fez algo que obrigou o sorriso de Agatha se alargar ainda mais: suas roupas simples, todas amarrotadas e perfumadas pelos abraços apertados em James Barnes, foram substituídas lentamente por um rico tecido escarlate. Ela descruzou as pernas, mas mesmo que ainda estivesse sentada na almofada, o traje tinha caimento perfeito em seu corpo:

Uma blusa justa e vermelha com mangas compridas, calças escuras. Acima disso, um longo sobretudo, maio longo que ela jamais vestiu na vida, até seus tornozelos. O corte era reto, acinturado e intricado por um finos bordados em pedraria, que seriam somente feitos através de feitiços. Refletiam a luz das velas como se também estivessem acesos em diminutas chamas.

Dramática. — Agatha riu, erguendo uma sobrancelha.

— Eu aprendi com a melhor.

O olhar que a bruxa lhe ofereceu transbordava orgulho.

— Oh, querida. Você realmente vai desabrochar, não vai?

— Eu… Eu espero que sim. Só vou ver algumas coisas. E também prefiro fazer isso na dimensão do meu grimório, ok? Talvez eu demore.

— Estarei aqui para te ajudar, caso precise. Vá, Feiticeira Escarlate.

Devido a volatilidade e magnitude de seus poderes, Wanda deveria tomar cuidado. O caos dentro de si jorrava quando magia escorria por seus dedos, então sua mente e coração tinham que estar em paz para saber conduzi-lo na direção correta. Ela tocava os véus da realidade e poderia distorcê-los a seu bel prazer, o que lhe dava devaneios egoístas e sonhadores. Tinha a capacidade de tudo, não? Poderia rasgar a realidade no meio e trazer Pietro de volta. Seus pais também, embora essa questão fosse um pouco mais complexa. O mundo conheceria paz e Wanda Maximoff também, mas… Ela sabia que isso não significava que não haveria consequências. Custos. Dor. Entendia que não era mais a mesma pessoa quieta e violenta, disposta a sacrificar tudo e todos para atender seus próprios desejos. Não eram desejos ruins, porém… Ela deixaria os mortos descansarem.

Wanda fez um trio de velas sair dos candelabros e virem ao seu redor, na forma de um triângulo, e conjurou um símbolo de proteção pairando no ar, feito de magia escarlate. A tiara vermelha emoldurava seu rosto, deixando seus pensamentos mais precisos, focados. Ela invocou o livro de capa roxa que há tanto tempo recebeu de Agatha, ainda em Wakanda. As páginas do livro estavam em branco até que dissesse as palavras-chave em latim, mas ela não iria apenas ler ou fazer anotações naquele instante. Entraria no livro, como fez várias vezes antes durante o treinamento com a mestra, para permanecer no silêncio daquela dimensão sem tempo. Poderia passar horas e horas ali, e quando voltasse não teria escorrido um minuto sequer.

Solve et coagula, Wanda sussurrou e só o livro ouviu tal som.

Ao contrário das lições anteriores, a mestra não estava lá. Permaneceu em sua sala, tanto física quando astralmente falando. O local era escuro e silencioso, confortável. A Feiticeira sempre tinha a sensação de mergulhar até lá, ao invés de cair ou simplesmente aparecer nessa dimensão. Sabia que estava ali com seu corpo físico, embora a situação sempre parecesse ser um tanto espiritual. Ela andou alguns passos, sem chegar a lugar nenhum, até que também se sentou ali.

O que queria fazer era potencialmente perigoso, embora inocente. Bom, ao menos ela diria que era inocente. Uma curiosidade mórbida. Assim como pessoas conseguiam vislumbrar vidas passadas, Wanda desejava assistir o seu eu de realidades paralelas para tentar entender um pouco mais sobre si mesma e sobre seus poderes. Charles Xavier lhe dissera sobre ser um ser Nexus, alguém que interfere nas probabilidades, no futuro e na coerência da realidade. Uma mutante nível Ômega. Uma Feiticeira. Uma Vingadora.

Inspirou fundo. Expirou devagar. Fechou as pálpebras e seus olhos por detrás brilhavam na cor vermelha. O caos em sua garganta quis rugir, mas Wanda segurou seu impulso de deixá-lo solto e colapsar. Sua pele se arrepiou, seus cabelos ondulavam mesmo sem vento. E então, com olhos ainda fechados, ela foi capaz de ver.

Sua intenção era enxergar as infinitas possibilidades como uma mera observadora, um fantasma. Uma aparição escarlate quase não vista, talvez apenas sentida. O cenário que desdobrou tal qual um caleidoscópio, mas o mundo à sua frente era muito parecido com o que conhecia, extremamente familiar. Sokovia, seu lar… Ou o que restou da capital, Novi Grad. Era o cemitério, a parte reservada a famílias judaicas, onde enterrara seu irmão dois anos atrás, no entanto… O túmulo simples no chão não tinha o nome de seu gêmeo. Ali, na verdade, jazia Wanda Maximoff.

A perturbação de saber que naquele mundo ela estava morta não a fez desistir, porém. A Feiticeira, com seus olhos espectrais, continuou assistindo a cena e se sentiu observada. Antes que pudesse interpretar a situação, um homem veio ao túmulo. Se ajoelhou. Disse um breve “olá” e depositou uma pequena pedra no túmulo, conforme os costumes da religião. Era primavera ali e ela enxergava insetos voando, as abelhas e as rápidas libélulas azuis que Wanda tanto gostava de observar. O homem então começou a lhe narrar os últimos dias de seu cotidiano, que parecia bem movimentado junto aos Vingadores em duras missões, até que seus olhos azuis se banharam em tristeza e ele começou a chorar em silêncio.

— Eu… Eu às vezes queria que tivesse sido eu, Wanda. — Fungou. — Não cuidei de você direito e… Nós nascemos juntos. Deveríamos partir desse mundo juntos. Eu…

O lamento de Pietro interrompeu suas palavras e aquilo provocava tamanha dor em Wanda que ela sentia que poderia ganir em sofrimento. Wanda quis abraçá-lo e dizer que estava ali, que estava bem. Seu Pietro, seu irmão, seu gêmeo, a cor azul e volátil no mundo… A metade de si. No entanto, ela era apenas uma observadora e não poderia tocá-lo, fazê-lo ouvir suas palavras doces.

A Wanda daquela realidade, a que veio a falecer naquele fatídico dia, também se recusava a deixar o irmão gêmeo. Quase como névoa, quase como sombra, sua figura pairou acima do irmão e enxugou suas lágrimas. Ele não sentiu, parecia só o vento. Somente a Wanda, a observadora, podia vê-la e o espírito a encarou de volta, fazendo um gesto de silêncio com o dedo sobre os lábios. Para manter segredo.

— Eu sonho com você. — Pietro disse, agora mais calmo. — São só… Fragmentos. Você rindo. Cantando. Você brava por alguma piada idiota que eu fiz. E… Às vezes eu te vejo. Ou penso que te vejo, principalmente quando minha sorte parece virar e as coisas funcionam pra mim. E então eu sei que está comigo, o tempo todo. Fazendo aquelas esquisitices que sempre me ajudam.

As duas Wandas sorriram. A Feiticeira então decidiu dar um momento de privacidade aos gêmeos daquela realidade alternativa, Pietro vivo e Wanda somente em espírito, e mirou para horizontes ainda mais distantes. O que as várias Feiticeira Escarlate faziam? Seriam tão caóticas assim? Mundos inteiros se dobravam a sua vontade?

Ela viu ela mesma, porém com cabelos mais curtos e ondulados. Trajava um belo vestido vermelho e tinha os lábios pintados, que vez ou outra soltavam fumaça do cigarro em sua boca. Havia música no ar, risadas. O ambiente era colorido, mas nem o sorriso daquela Wanda e nem a taça de bebida em sua outra mão conseguiriam convencer a Feiticeira que estava tudo bem. Havia tremor em seus dedos, gotas de suor em sua testa. O lugar era um cassino e todos se vestiam da maneira que… Que a década de vinte pedia. E ela suspeitava que muitos dos homens ali eram da máfia.

— Se não é a Dama de Ouros… — Uma pessoa se aproximou, um homem. Ele mostrou a carta em questão para a Wanda dali, num gesto elegante de flerte, mas parecia se referir a ela pelo nome da carta. Devido sua vestimenta, a Feiticeira supôs que era o carteador da mesa mais próxima…E pelas suas feições, poderia cogitar que aquela era uma versão de Remy LeBeau. Ele pôs a carta de volta ao baralho. — Pronta para apostar essa noite, senhorita Eisenhardt? Suponho que seu irmão não goste de te ver nesse ambiente depravado.

— Não me chame assim, Remy. Não aqui. — Ela completou, mais gentil. — E não fale do meu irmão. Ele… Ele teve dias difíceis.

— Oh, sim. Ser novo no grupo dos Genovese é bem penoso. Por isso, prefiro somente distribuir as cartas. Não me fará nenhum mal.

— É claro. — Ela arqueou a sobrancelha, tomando mais gole de bebida. — E as cartas que distribui sempre parecem melhor sorteadas para alguns do que para outros.

Oui. — Ele admitiu que alterava as cartas, favorecendo uns em detrimento à outros. — Mas você, minha nobre Dama… Nunca parece se abalar com mãos ruins. Interessante, não?

— Eu chamo isso de sorte. Minha pequena sorte escarlate.

— E parece funcionar bem no baralho, no caça-níqueis, na roleta… Até no bingo.

— Mas é como dizem, sorte no jogo, azar no amor.

— Wanda… Não precisa ser assim. Não seja imprudente. Sei que faz apostas pequenas, mas… Já te chamam por Dama de Ouros. Tem ficado famosa. E tem tirado dinheiro de gente importante. Não atraia atenção dessa laia.

— Falta pouco, Remy. E eu e Pietro vamos nos mudar para algum lugar seguro.

— Não minta para si mesma. — O olhar dele estava entre a pena e o amor. — Pietro não quer se mudar, chérie. Está atolado demais com os Genovese. Ouvi dizer que criou dívidas. Quer virar consigliere. Onde você for, essa vida vai te perseguir.

Os olhos daquela Wanda faiscaram.

— Me dê suas piores mãos, monsieur. Ainda vou ganhar esse jogo.

A Feiticeira recuou, admirada pela insana coragem daquela sua versão. Ela brincava com fogo, com mafiosos e cartadas que poderiam ser sua ruína. Era uma Wanda inteligente e carismática, mas… Com um sofrimento ardido nos olhos, talvez por estar ciente de que não importava sua sorte no jogo, estava fadada a decadência de seu destino. Por não conseguir salvar o irmão, por não conseguir salvar a si mesma. Ela se distanciou daquela realidade, mas esperava que aquela Wanda encontrasse uma forma de sair viva do cassino. Viva e feliz.

Novamente, a cor vermelha se desfez em uma miríade de tons e formas. Ela optou por ir longe, mais longe. Viu uma versão de si mesma que não tinha um sobrenome certos, apenas títulos, alcunhas. A Filha do Rubro, Herdeira do Trono. A Futura Sacerdotisa Escarlate. A Santa. A Bruxa. A Sobrevivente. O cenário mudou para uma Era distante, fantasiosa.

A Wanda daquela realidade estava maltrapilha e agachada num lugar abandonado, em ruínas de um templo. Existiam linhas de um feitiço ao seu redor, velas acesas que feriam a noite.

— Eu temo por ti, irmã. — Uma voz se fez ali perto. A Feiticeira reconheceu Pietro, por mais que ele ostentasse cabelos mais longos, um aspecto mais magro. Ele estava com roupas puídas também, uma túnica azul pálida e uma espada um tanto enferrujada em suas mãos. Levantou-se devagar de uma pedra e se aproximou. — Este livro… Este livro não estava na ala sagrada da biblioteca. Me traz mau agouro. Sei que tem exercitado teus poderes nele, mas...

— E o que há da biblioteca senão cinzas? — A bruxa levantou o queixo com raiva. Isso fez com que seu rosto ficasse a mostra, uma pintura de linhas e símbolos em vermelho na sua pele. Uma tinta ritualística.— Nosso reino virou pó, nosso pai está morto, nossa irmã está morta e nada cresce em nosso reino há anos. Só existe miséria.

— Eu sei.  O povo ainda clama por nossa retomada do trono, mas… Somos pior do que camponeses em nosso próprio reino. Somos andarilhos, nada mais que mendigos, e os invasores ainda estão aqui. Por isso repito, Wanda, que conserves a tua alma. É só que nos resta.

— Pois eu a troco de bom grado se for este o preço de reconquistar o que é nosso por direito. Esse livro veio como uma benção para mim, Pietro. Uma dádiva escondida entre entulhos e musgo. Veja só, vi até uma aranha sobre o couro da capa! Não ligo que minha alma seja o custo. Não seria necessário se… Se todos esse horrores não tivessem acontecido. Eu seria a Sacerdotisa, tu sabes. E então poderia reverter tudo sem recorrer a sacrilégios.

— Só tome cuidado. — Ele suspirou, derrotado. — Tu és tudo o que tenho.

— Eu sei, Pietro. — O ardor dela virou uma chama amena, embora ainda determinada. — E peço silêncio. Tudo o que é ruínas voltará a vida.

Ele obedeceu e ela iniciou um cântico. De algum modo, o coração da Feiticeira entendeu o que acontecia ali. Eles tinham perdido muito e aquela Wanda faria qualquer coisa para ter tudo de volta. Não importava se era um ambiente um tanto medieval, não passava da mesma coisa que ela tinha feito em seu universo: um erro. A Feiticeira retirou-se da cena, sabendo que aquele feitiço se desdobraria em uma cascata de eventos caóticos.

Viu uma realidade mais recente, por assim dizer. Era 1945 e ela era uma jovem polonesa que havia escapado das mãos de nazistas, embora ainda estivesse no meio do fogo cruzado. Tinha sido abrigada por uma base americana junto com sua recém-aliada soviética, Natalia, na fronteira com a Áustria. E lá ela conheceu alguns soldados ilustres do 107° batalhão. Existia o notável capitão Rogers, existia também seu melhor amigo, o sargento James Barnes que amava chocolates. A vida deles foi interrompida, como a maioria das histórias de amor na guerra.

A Feiticeira viu uma realidade de um futuro longínquo que Wanda era somente uma jovem desfeita em um programa virtual. Um presente alternativo onde ela era gótica e de cabelos curtos e pretos. Outro no qual ela amava Visão e ele a amava de volta. Um passado onde todos eles estavam vivos, Lorna, Pietro e Wanda. Erik. De algum modo, estavam sempre relacionados. Sempre ali, perto um do outro, não importava qual realidade era. Wanda parecia querer fazer o bem em todas essas realidades. Em algumas delas, fazia coisas bem ruins. E isso a levou para uma última visita, onde tudo era escuridão.

Sua versão de si mesma estava ajoelhada, chorando entre destroços. Estilhaçada por dentro. A Feiticeira pairou em sua direção devagar, mesmo que a outra não pudesse enxergá-la de volta. Vestia um belo e longo vestido vermelho, seus ombros à mostra enquanto soluçava. Havia outras pessoas ali que não ousavam chegar mais perto, pois sabiam o quanto era perigoso. Instável, ela era capaz de obliterar um universo inteiro… e naquele instante, Wanda parecia muito próxima desse ponto.

O coração da Feiticeira se contorcia junto com o dela. Mesmo de realidades tão diferentes, ela entendia o que se passava com as versões de si. Com aquela Wanda, a sensação de familiaridade, reconhecimento, não era diferente. Só era pior. Ela era mais velha, talvez já próxima dos trinta anos. Foi uma vilã. Uma heroína. Se casou, se divorciou. Teve filhos gêmeos, Tommy e Billy, e os dois foram tirados dela… Porque em um primeiro momento, eram apenas criações de seus poderes caóticos. Seus filhos, luzes da sua vida… Reduzidos a nada, a sonhos. E então, no limiar de sua sanidade, aquela Wanda tentou fazer tudo dar certo. Os mutantes de repente eram maioria. Seu pai, Magneto, um líder notável. Mas cada alteração da realidade sofreu um revés que não esperava e agora ela jazia ali, com o corpo de seu irmão nos braços. Culpava seu pai. Culpava todos. Acima de tudo, culpava a si mesma.

— Pietro estava certo. — Dizia ela para si e para o pai. — Você… Você nos destruiu antes mesmo que nós tivéssemos chance. Por que tratar suas propostas crianças assim? Por que? Porque você realmente acha que é melhor que todos. Arrogância. Você acha que mutantes são melhores. Que nós merecemos governar. Era isso o que você desejava e eu te dei. Mas olhe… Olhe o que virou. Mesmo quando você tem o que deseja, você é um homem horrível. Nós não estamos um passo à frente. Não somos deuses. Olhe para nós, pai! Nós somos monstros!

Ela abriu os olhos cheios de lágrimas. Suas escleras estavam vermelhas e luminosas.

— Você escolheu isso ao invés da gente e nos destruiu! Papai…

A Feiticeira sentiu o caos se agitar com a voz embargada daquela Wanda.

Sem

mais… 

mutantes.

E o caos se fez.

Ela fechou os olhos, o vermelho ao seu redor e as formas brilhantes em sua visão se apagaram. Saiu de sua estranha e etérea viagem pelas inúmeras versões de si, retornando às dimensão vazia do grimório roxo. Ela tinha observado diferentes formas em que mudou o universo, inclusive nesta última onde atendeu e destruiu o sonho de todos. Ela era de fato capaz de alterar a realidade como bem queria - e não foi para melhor neste último episódio. Ele teve filhos. Ela os perdeu. Ela ficou insana e alterou o universo. Prometeu a si mesma, tremendo, que não cometeria os mesmos erros. Ela era infinita, não? Sim, a tragédia parecia fazer parte de si… Mas poderia ser aquela versão que fez justiça às outras. Faria isso ela, por todos seus reflexos escarlates.

 

A Feiticeira saiu da dimensão do grimório e voltou ao círculo de proteção dentro da sala de Agatha Harkness. Apagou as velas, desconjurou os símbolos, fechou o livro sem dizer ainda uma única palavra. Ela enxergava sua imagem nos espelhos como que via um sonho encantador e terrível.  E então, com as mãos trêmulas, ela se pôs a narrar o que observou para sua mestra.

— Vi coisas maravilhosas. E vi tragédia e dor.

— E, ainda assim, aqui está você.

— E, ainda assim, aqui estou. E esta realidade por enquanto me basta do jeito que é.

Agatha sorriu.

— Levante-se, Feiticeira Escarlate. E vá descansar. Em breve, iremos à Travessia da Bruxa.

* * *

As duas saíram pela porta seguinte, que realmente era o espelho oposto da entrada - confirmando, portanto, as suspeitas de Wanda. Voltaram a loja e logo abriram a porta que dava à casa, murmurando assuntos triviais para aliviar a tensão. Wanda pegou Ebony no colo, agradando seu pescoço. Apesar de sua mente dar voltas sobre o que houve e sobre quem ela era, jamais tinha sentido seus poderes fluírem tão bem em seu corpo. Foi revigorante, de certa forma, sentir o caos correr pelas suas veias. Era revigorante ter a mente tão clara.

Antes de ir dormir, no entanto, a Feiticeira sentiu necessidade de conferir uma última coisa.

Ela e o gato preto estavam mais uma vez sentados sobre o gramado após o lago, a noite cobrindo-os. Wanda sentia o vento envolvendo seu corpo, uivando em seu ouvido enquanto o silêncio reinava naquele instante. Trajava uma blusa simples de manga comprida, calça folgadas. Fechou os olhos um momento de contemplação e logo os abriu para encarar as estrelas, mais especificamente a constelação de Órion. Ela se lembrou do irmão, lembrou-se também de suas caminhadas noturnas por Wakanda e uma estranha conversa com Jane Foster. Quanto havia se passado!

E então ela olhou para frente, para o ponto onde tinha enterrado e regado suas lágrimas, o local de seu pequeno feitiço pessoal. Tinha brotado, crescido numa velocidade que somente magia explicaria. Mal acreditou quando viu uma flor ali, seus ramos bem verdes e fortes e as pétalas vermelhas. Seria então seu marco? Rubedo. Aproximou-se inclinando o corpo, passou as pontas dos dedos pela flor com um sorriso no rosto.

— Parece uma rosa canina, não?

Ebony apenas balançou a cauda, seus olhos muito brilhantes.

— Barnes realmente infectou sua cabeça, huh?

— Ah, quieto. Ei, veja! — O coração dela se derreteu.— Tem um botão azul ao lado!

O gato levantou-se e veio cheirar a planta, verificando de mais perto a flor ainda em botão ao lado, sua tonalidade feito o céu esmaecido.

— Hm. Talvez a flor esteja destinada a sempre nascer com seu gêmeo.

Wanda sorriu para o gato e mais uma vez o colocou sobre o colo. Depositando um beijo atrás de suas orelhas, ela o apertou mais um pouco e perguntou:

— É o fim?

— Sim, não.

Assentiu.

— A essa altura, sei que finais são novos começos. Ad infinitum.

— Ad infinitum.

O gato concordou e os dois voltaram a observar o desabrochar da flor da Feiticeira Escarlate.

* * *

Sua mestra até chegou a questionar se ela não desejava um pouco mais de descanso, tamanha a intensidade de suas experiências e o fato de ter acordado cedo. Tinham acabado de tirar as cartas no café da manhã e o dia parecia auspicioso demais para deixarem passar, sem falar que existia um fogo no peito de Wanda que ela não conseguia dizer o que era. Talvez fosse ansiedade, antecipação por algo que ela tanto esperava. Então não, ela não via o porquê esperar ainda mais. Pegariam somente alguns itens de proteção e iriam para a Travessia da Bruxa, para tentar descobrir mais um pouco sobre o mal em Wundagore. Depois, partiriam para Wundagore em si.

E foi o que fizeram.

Bruxa e Feiticeira lado a lado se foram. Wanda invocou o traje longo e belo que usara no dia anterior, um tanto encantada pela confiança que aquelas vestes detalhadas inspiravam em si. Também aproveitou para lançar feitiços de proteção na roupa, uma dica de sua mestra, à despeito de todo o deboche de Ebony. Optou também por usar sua tiara vermelha, o presente de Magneto. Em poucos segundos, já estavam na Travessia da Bruxa.

Os troncos das árvores eram altos e grossos, mal era possível ver luz além das copas. Os caminhos jaziam repletos de musgo, pedras, galhos e cogumelos que cintilavam, ladeados por raízes das árvores. Tais raízes conduziam a caminhos tortuosos, serpenteando clareiras e outras direções. Wanda sentia tudo, enxergava diferentes níveis de auras de cada vegetal, animal e mineral. As cores, no entanto, não a incomodaram. Ela seguiu para uma parte nefasta da Travessia, um local que ela visitara uma vez sem querer num sonho terrível. Lá, o brilho cálido da floresta não passava de um lume opaco, desbotado. Lá, Wanda não passava de uma observadora.

As duas chegaram ao ponto que almejavam e a cena seguiu-se da mesma maneira que anteriormente: A figura encapuzada em vermelho virou-se de forma lenta, seu rosto um tanto confuso. Parecia apenas uma mulher esperando alguém. Esperando o pior. Wanda deu um passo a frente, embora com cautela. Iria se apresentar de novo, pois Natalya não tinha a reconhecido da primeira vez. Talvez sua memória fosse apagada a cada vez que o monstro surgisse. Agatha havia lhe explicado que toda vez era aquela exata visão: A feiticeira romani estava lá, o monstro vinha e tudo recomeçava. Agatha nunca conseguiu fazê-la ouvir suas palavras, jamais tinha conseguido evitar o mal de chegar e expulsá-la daquela parte da Travessia. Foi assim inúmeras vezes antes… Até que Wanda foi capaz de conversar com ela.

— Natalya. — Ela disse, sua voz hesitante. Lembrava-se dos presentes mandados pela tia, antes de seu aniversário de dez anos. O silêncio que se seguiu depois que seus pais morreram no bombardeio. — Natalya, eu me chamo...Wanda. Eu vim ajudar.

A mulher escutou-a sem expressão, seu rosto limpo e de olhos serenos. Vestia roupas folgadas e rubras, o capuz escondendo um pouco dos cabelos fartos. E então, ela também deu um passo a frente.

— Wanda. Wanda, conheço você. — Natalya sorriu, seus olhos cheios de lágrimas. — Eu lembrei.

A Feiticeira Escarlate sentiu uma pontada em seu coração devido a surpresa e a dor. Virou seu rosto para trás, para conferir o que Agatha tinha achado daquilo, e a mestra a instigou a continuar em frente. Era um bom sinal. Não era uma Natalya do passado, senão os fatos futuros teriam seguido uma cascata de paradoxos. E ela não parecia apenas uma fantasma. Era uma alma, então. Uma alma solta.

Natalya acompanhou o seu olhar e ergueu uma sobrancelha.

— Há alguém com você?

— Sim. Eu tive ajuda até chegar aqui. Para salvá-la. Não consegue ver?

Natalya balançou o rosto.

— Ah, Wanda. Queria que fosse mais fácil. Eu estou presa aqui por um feitiço meu. Não fui forte o suficiente para derrotá-lo, então… Então o aprisionei junto comigo, entre o plano astral e o terreno. Não posso sair daqui. Não sei nem como consigo lhe ouvir ou lembrar do que conversamos. Tudo se repete, mas… Vejo que ele fica mais forte e mais esperto a cada vez.

— Quem é “ele”?

Natalya olhou por detrás do ombro. Aquele rugido recomeçou distante, anunciando que mais uma vez seu o viria para a batalha eterna. Wanda enxergava sua relutância em dizer o nome, em seguida viu sua desistência. Falar ou não o nome da criatura não evitaria seu fim.

Chthon.

O caos dentro de Wanda sacudiu, bem como a floresta. A mão magra de Agatha de repente segurou seu ombro, pânico fazendo seus dedos tremerem. Wanda não conhecia o nome, mas pela reação da mestra e da natureza astral ao seu redor, sabia que era um nome terrivel. Antigo, mal pronunciado. E isso fez com que o ardor dentro da Feiticeira somente aumentasse. Ela iria salvar Natalya, mesmo que tivesse que arranhar deuses ancestrais e levá-los ao inferno, de onde nunca deveriam ter saído.

— Em breve, posso virar névoa e o que há aqui, fogo. — A outra romani continuou. — Venha pela Montanha, querida. Ela sangra horrores, horrores que você já testemunhou uma vez, mas é a única entrada e única saída. É necessário abandonar algo ao entrar e ao sair. Foi o que houve com Magda.

— É verdade, então? Ela é… Minha mãe?

Wanda já sentia que sim, há muito tempo. Sentia laços de sangue com Erik, além de assistir inúmeras realidades a recorrência de tal familiaridade. Havia aquela mínima chance de que tudo estivesse errado e que seu universo fosse aquele em que ela tinha uma árvore genealógica mais simples, mas não era o caso. Wanda e Pietro eram filhos de Magda e Erik,  adotados por Django e Marya. Natalya que havia feito a ponte entre eles, de certa forma.

— Sim. — Confirmou. — Ela ficou na montanha por muitos anos, sem saber o que acontecia no mundo lá fora e sem envelhecer como nós envelhecemos no mundo real. Até que percebeu o perigo em Wundagore e eu vim ajudá-la. Voltei para a Montanha depois de entregar você e seu irmão a Django, pois eu ainda precisava eliminar Chthon, Wanda. Não estava segura. E hoje permaneço aqui, presa num feitiço há anos… Mas você me fez lembrar. Minha pequena feiticeira.

Wanda sorriu, sem nada dizer. A tia concluiu:

— Ainda assim, você mudou.

— Sim, tia. E é por isso que conseguirei te tirar daí.

Foi a vez de Natalya Maximoff sorrir.

— Ah, Wanda. Eu… Eu não me importo em perecer se você continuar segura. Sei o quanto é poderosa, menina. E sei que Chthon pretende fazê-la um receptáculo para se manifestar no mundo. Não digo para vir me salvar, pois sou fraca e já não ligo em desvanecer. No entanto, assim que eu me for, o feitiço se quebrará e eu não posso deixar que Chthon vá atrás de ti. Venha não por mim, mas para sela-lo de uma vez por todas.

— Eu irei. — Wanda disse, seus olhos luminosos.

Os gritos distantes se tornaram mais próximos, mais rasgados e dissonantes. Era um eufemismo chamar tal coisa de grito. Wanda não quis pensar no que acontecia com a serena figura de Natalya quando Chthon chegava, mas sabia que o tempo era curto. Sua tia assumiu uma postura defensiva, suas mãos brilhando tal qual a primeira vez que a viu. A presença demoníaca se alastrou pela Travessia da Bruxa, tingindo cada folha e cada pedra em tons negros e em tons quentes de sangue. Ela encarou Natalya com amor, sabendo que ela era última peça de sua família - mesmo que fosse sua família adotiva - que ainda restava. A outra não sabia disso, não sabia que Pietro tinha morrido, e Wanda não iria revelar tal tragédia naquele momento. Talvez nem soubesse do bombardeio em Sokovia. A visão se apagou quando os urros se tornaram presentes, apertando a garganta de Wanda com a sensação de medo enquanto Natalya se impulsionava para mais uma batalha.

De súbito, bruxa e feiticeira estavam de volta a um ponto inicial na Travessia da Bruxa, seguras e fora do combate. Agatha murmurava a insanidade em derrotar Chthon, um deus antigo e terrível, pouco conhecido, mas Wanda não ligava para tais limitações. Pelo o que sabia, era uma das únicas pessoas vivas a ver dúzias de realidades diferentes, e era também uma das únicas capaz de alterá-las. Se existia alguém capaz de derrotar um deus, era ela. A Feiticeira Escarlate.

A cor se alastrava em seu coração, em suas veias. Ela sentia o caos palpitar dentro do tórax e cogitou em mudar o universo naquele instante mesmo, retirando Chthon ou qualquer material fosse tal nome impronunciável da face da Terra. E então, ela sentiu ondulações. Um chamado.

— Wanda? — Agatha chamou-a, vendo que não tinha prestado atenção na sua lista de materiais e condições para se tentar matar um deus, ou ao menos adormece-lo. — Você me escutou?

— Silêncio. — Respondeu, concentrada. — Eu sinto…

Ela ouviu um uivo, muito ao longe e misturado com uma canção polonesa. Sons que não seriam escutado por ouvidos comuns, nem por quem estivesse perto. Sons do inverno e de lembranças. Wanda arregalou os olhos de repente, aura vermelha incendiando seu corpo.  Havia entendido o que era. Quem era.

Agatha mal teve tempo de chamar seu nome.

A Feiticeira Escarlate tratou de imediatamente se teletransportar até a origem do uivo, seu corpo inundado pela tom de sua alcunha.


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Notas finais do capítulo

Vou usar as notas finais pra chamar a sua atenção! O que acha de uma cena +18 em Vazios? Não vai ser um negócio detalhado e tal, mas quero saber a opinião de vocês. Não deixem de responder ♥