Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 56
LVI


Notas iniciais do capítulo

28/07/2018
Cá estou, mais cedo do que esperava! haha Mas isso é bom e pretendo manter o ritmo, afinal, quem não gosta de escrever uma boa briga? Sei que estão esperando mais um capítulo do nosso playboy, gênio, filantropo e bilionário favorito, porém ele vai ficar em segundo plano porque pretendo alternar os focos narrativos nos próximos capítulos. Fiquem tranquilas, garotas e garotos.
Tony Stark vai voltar.
Na verdade, sou muito grata pela recepção do capítulo anterior! Parece que trazer o Homem de Ferro na jogada surpreendeu alguns de vocês de maneira positiva, o que me faz crer que realmente esse personagem tem uma aura e poder no mundo "real" haha
E ATÉ MESMO ISSO ME RENDEU UMA NOVA RECOMENDAÇÃO OMG
Thank u, Switchblade. Cê sabe que é uma fofa e que eu sou muito grata por ter sua amizade.
Bom, aqui vou apresentar alguns personagens novos e que alguns de vocês não estarão familiarizados. Nas notas finais vou explicar um por um, ok? Ok.
Espero que apreciem a leitura tanto quanto eu gostei de escrever!



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James Barnes segurava-se com força nas barras internas da aeronave, pois já não havia tempo para se sentar e colocar os cintos de segurança em si próprio assim como pôs em Wanda. Esperava que seu braço metálico fosse o suficiente para manter-se firme, assim como esperava que as habilidades de pilotagem de Natasha, somadas aos poderes de Wanda, evitassem a colisão fatal da nave com os prédios de Zurique. A queda era turbulenta, embora controlada, e as duas mulheres rangiam os dentes.

Todos tinham expressões fechadas naquele momento, ou melhor, desde o instante em que sobrevoaram o centro da cidade e viram aquela cena se desenrolar lá embaixo: jipes militares com munição pesada, agentes. Existia um cerco muito bem armado entorno de uma única mulher, a qual invocava energia psiônica violeta. Psylocke. O pior não foi vê-la ali. O pior foi testemunhar que os agentes armados nada faziam, pois além deles havia também três agentes da unidade para-militar Internacional, os Mata-Capas.

Estavam somente pairando acima do bairro onde se desenrolava aquela cena ao mesmo tempo em que Steve se comunicava - ou ao menos tentava se comunicar - com Tony Stark para lhe contar todos os fatos. A verdade é que Psylocke estava muito quieta e eles se perguntavam onde estaria Magneto, quando então vieram avisos indistintos de um megafone.

Não acharam que se referiam a si, não até que um dos agentes olhou para cima. Uma ordem foi dita em seu comunicador e o ataque veio logo em seguida.

James Barnes supôs que o descobriram usando uma equipamento para detectar assinaturas de calor, pois a aeronave estava no modo furtivo, quase invisível, e não era possível que tenham sido vistos. Só não pensava que descobririam tão rápido, muito menos que alvejariam a aeronave logo de primeira por não receberem uma resposta formal. Mas, lembrando-se da abordagem usada pela polícia na Alemanha em 2016, ninguém era conhecido por tratar aprimorados fugitivos muito bem, ainda mais quando existe uma mutante na mesma cidade usando seus poderes para afastar qualquer um que tentasse se aproximar do LernaBank, um banco respeitado da região.

A Feiticeira Escarlate mais uma vez acionou sua cor e névoa vermelhas para cobrir a carapaça da nave com um escudo de energia. Seus olhos permaneciam abertos e luminosos, sua face coberta de ira e dor. A Viúva Negra sabia disso, do esforço da colega em manter todos seguros desde que se teletransportaram até Zurique, e era nítido em sua face o quanto tentava não depender da amiga para concluir o pouso. Segurava a direção da nave com firmeza, tentando evitar choques mais violentos.

Uma gota de suor escorreu pelas têmporas de Bucky. Mal respirava enquanto tudo mais chacoalhava. Cruzou seu olhar com o de Steve, que retribuiu o gesto de maneira ansiosa e irritada. Neste simples olhar, eles prometeram um ao outro que aquele não seria o fim da linha. Não poderia ser. Bucky fechou os olhos por instinto.

Uma última colisão veio da frente, do bico da nave. Depois, o chão sendo triturado abaixo deles. Sofreram a lei da inércia, logo o som de algo se chocando forte com algum dos painéis. Um murmúrio de dor. As luzes se apagaram, sobrando apenas as vermelhas de emergência, que piscavam em meio a escuridão junto ao sinal de alerta. E por fim, silêncio.

Demorou alguns minutos para que esboçassem reação. O sentimento de alívio - já que estavam todos vivos - e de alerta - porque algo ou alguém queria derrubá-los - era geral. O Capitão América logo limpou o sangue do corte com as costas das mãos, perguntando se mais alguém havia se machucado. Foi ele o único a sofrer ferimentos leves na testa, já que estava de pé na nave se comunicando com Tony quando algo os atingiu e deu um encontrão com o painel de controle. Sam até tinha batido a cabeça, embora nada grave. Começaram a se levantar depressa, Bucky ajudou a Feiticeira a tirar os cintos de segurança enquanto Nat auxiliava Sam a sair da poltrona de co-piloto.

Houve mais um ataque na carapaça da nave que quase desequilibrou os Vingadores Secretos.

Wanda arregalou os olhos, James a segurou forte. Isso fez com que a jovem o encarasse, o rosto meio em dúvida e meio grato. Sua expressão era uma pergunta a qual o Soldado Invernal não saberia responder com palavras. Não a largou, porém. Não conseguiria ver a Feiticeira ser abatida pelo inimigo novamente, não igual em Sokovia. Ela sobreviveu por sorte, por obra da magia ou milagre. Fosse lá o motivo, ele não queria arriscar.

— Sentinelas? — O Falcão lançou a suspeita, quase num sussurro.

— Se fossem Sentinelas, já teriam pisado na gente. — Bucky retrucou. — Magneto?

— Nem o vimos, Buck. E isso é o que mais me preocupa. — Era perceptível que o loiro sentia falta do capacete e do escudo circular de vibranium, embora não reclamasse dos escudos retangulares oferecidos por Wakanda. Ajeitou-os no antebraços, todos os seus parceiros próximos de si. Eles esperaram mais um pouco, próximos da saída. Novamente veio o aviso dos megafones, mais próximo e nítidos. Eram palavras de ordem, assim como qualquer Polícia faz com aqueles que ferem a lei. Steve, Sam e Natasha não deram muita atenção àquilo porque enfrentaram situações semelhantes juntos, no entanto, o nervosismo de Wanda transparecia pelas suas mãos inquietas. Ela fechou os olhos e murmurou baixinho:

— Mata-Capas. — Sua testa franziu-se, Bucky podia sentir os milhares de pensamentos alfinetando-a por dentro. — Deus, são Mata-Capas mesmo.

Ele entrelaçou sua mão esquerda com a direita dela, discreto, de modo que a própria Feiticeira Escarlate sequer notou tal gesto. De repente percebeu o calor em sua mão e levantou os olhos para Bucky, sua boca meio aberta e vazia de palavras.

Eles não disseram nada. Não sorriram. E Bucky tinha a certeza que Wanda não usava seus poderes telepáticos naquele instante, mas ainda assim foi como se pudesse escutá-la e ela pudesse ouvi-lo de volta. Então o olhar dela tomou um novo brilho, um ar feroz. Estava cansada e com medo, mas devoraria todas essas sensações. Por ele e por todos eles. Principalmente por ela mesma.

— Quem você reconheceu dos Mata-Capas, Sam? — A voz da russa era um sussurro. Sua pergunta visava saber quem enfrentariam, pois isso a deixaria mais preparada. Ela arrumou os braceletes elétricos nos pulsos e armas nos coldres.

— Silver Sable. Paladino.

— Paladino? O que estão pensando? Paladino é um mercenário.

— Talvez eles realmente estejam pagando. — Natasha deu de ombros, sendo realista. Não impressionava que alguns tenham que ser pagos, muitas vezes fazia até sentido, afinal, eram homens e mulheres doando seu tempo e a vida em prol de todas as nações. Isso, porém, não condizia com a ética de Steve, principalmente em relação à Paladino. As lembranças não eram boas da missão que tiveram há meses. — Sable é habilidosa, cuidado. Paladino é um cretino. Mas não reconheci a terceira, a mulher com uma espada do meu tamanho.

— Caledônia. — Steve respondeu. — Não pensei que fosse aceitar.

Sam Wilson soltou um assobio preocupado, engatilhando pistolas. Já estava vestido com um colete a prova de balas, entretanto não havia traje com asas para que pudesse voar.

— Certo, Paladino eu conheço. —  Bucky suspirou. Steve lhe contara de algumas missões do meio tempo em que estivera adormecido pela criogenia. Era um mercenário estupidamente habilidoso e honesto em suas convicções: quem o tinha nas mãos era quem podia pagar mais por seus serviços. — Mas Sable e… Caledônia não.

— Sable, agente platinada que faz tudo o que eu faço. — A ruiva entortou a boca. — Mas com menos graça. Caledônia, guerreira com espada gigante, aparentemente.

Ocorreu à Bucky que uma espada imensa poderia cortar o braço que lhe sobrara.

Ótimo.

— Gente? —  Todos se viraram para a Feiticeira Escarlate, seu rosto cansado e tingido pelas luzes de emergência. Suas íris começaram a emitir um leve brilho vermelho, pulsante igual as luzes de alerta da aeronave. — Algum deles consegue… Fazer isso?

Um estalo.

A lateral da nave foi atravessada por estalactites escuras à esquerda e à direita, primeiro de forma lenta e depois rápido e forte, como uma mordida. Não os feriu, ainda que os cinco tenham dado um pulo para trás. Bucky engoliu seco, tentando identificar aquilo. Não pareciam dentes, porém. Nem exatamente gelo ou pedra. Tudo sacudiu depressa demais para que o Soldado Invernal pudesse compreender o que acontecia, tanto que se segurou no ombro de Sam Wilson e amparou Wanda no mesmo instante. Eles se entreolharam por poucos segundos, em seguida veio o terceiro aviso:

Vocês estão presos por violação do Artigo Sete, Parágrafo Três do Acordo de Sokovia e serão encaminhados sob custódia para os órgãos responsáveis. Qualquer tentativa de fuga ou retaliação será respondida à altura pela Força-Tarefa autorizada pela ONU. Saiam do aeronave não-identificada e não-autorizada a sobrevoar Zurique com as mãos para cima e larguem qualquer arma que possuam.”

Houve o som de um longo e picotado rasgo, metal sendo arrancado do lugar. As estalactites não eram dentes nem gelo, mas sim garras de um animal imenso. Ele desmembrou a lateral da nave e jogou a carapaça de metal fora, revelando o cenário em Zurique e a sua própria figura. Bucky largou a mão de Wanda e deu um passo à frente, engatilhando sua arma enquanto Steve ativava as garras dos escudos.

O animal ficou parado, seu pelo branco bagunçado pelo vento noturno. Chegava fácil a quinze pés de altura, suas mãos desproporcionais e as garras imensas. Parecia deslocado do cenário ao seu redor, pois era mais um monstro de lendas esquecidas do que parte de uma equipe paramilitar internacional na modernidade. Bucky observava sua cabeça com a mira, ponto vulnerável de qualquer ser vivo e talvez a única chance de vitória contra uma besta de tal porte. Só não esperava encontrar olhos negros muito espertos, brilhantes e ao mesmo tempo brutalmente calmos. Encarava de volta, sem se incomodar com o rifle apontado para seu crânio.

Deu dois passos para trás, cada movimento seu lento e estrondoso. O chão tremeu e os jipes avançaram com homens e mulheres empunhando armas, encurralando os Vingadores Secretos. A formação era bem aplicada, agentes com escudos na frente e artilharia pouco atrás. Existiam luzes de holofotes, bem como de um helicóptero acima deles.

Este é o último aviso: Qualquer tentativa de fuga ou retaliação será respondida à altura pela Força-Tarefa autorizada pela ONU. Saiam do aeronave não-identificada e não-autorizada com as mãos para cima e larguem qualquer arma que possuam. Aprimorados com habilidades especiais serão subjugados com coleiras e braceletes adequados.”

Aprimorados com habilidades especiais. Coleira. Coleira elétrica.

Essas palavras atingiram James Barnes e o inflamaram de ódio. Sua mandíbula travou na boca, mas ele não se moveu um centímetro e tampouco baixou a arma. Olhou de soslaio para Wanda, que tremia. A jovem passou a mão no pescoço nu, gesto que ela achava imperceptível e que na verdade traduzia os horrores da prisão no fundo do mar. Ela seria levada de volta caso se rendessem.

Nenhum deles permitiria que isso acontecesse.

Natasha liberou as descargas elétricas em seus punhos para que fossem visíveis e para que soassem mais do que uma ameaça, uma promessa.

A cor rubra tomou conta dos cinco, ainda dentro do pedaço da aeronave wakandana, vermelho vivo e em névoa, quase líquido. Wanda deu um passo para frente assim como Bucky e parou ao seu lado, embora suas mãos não sustentassem nada mais do que seu ódio. A névoa escarlate então começou a se condensar na frente deles, tornando-se aos poucos sólida e intransponível. Uma barreira. Ela também não estava disposta a perder ninguém naquela noite.

Antes que um dos lados atacasse, dois agentes dos Mata-Capas abriram caminho entre a formação dos soldados e chegaram à frente dos homens com escudos. Seus passos eram folgados, mal se importaram com a quantidade de pessoas ali ou o fato que a terceira agente, a com espada, lidava quase que sozinha com Psylocke a poucos metros de distância.

Bucky reconheceu-os pelas descrições dadas dos amigos: Paladino, mercenário e cretino. Silver, agente platinada com as mesmas habilidades que Natasha, só que mais bruta.

Seus uniformes não eram padronizados por cor ou estilo, pois os heróis que trabalhavam para a ONU não foram sempre heróis e não eram pessoas fáceis de convencer a mudar suas preferências em trajes. A única exigência eram os símbolos ostentados nos antebraços ou tórax: O logo da ONU, um mapa mundi azimutal; e o símbolo criado para a equipe Mata-Capas, um losango dentro de um círculo - representando uma “capa”, os heróis— e duas faixas atravessando-o em diagonais opostas - representando lâminas, a proibição.

Silver aproximou-se, parando de frente para o grupo. Ela tirou uma das mãos do longo sobretudo branco e acenou para a equipe atrás dela descansar a mira. Sua ordem foi acatada imediatamente. Então soltou um suspiro cansado, ajeitou a mecha de cabelo prateado que lhe atrapalhava, mais como uma policial que cuida de adolescentes baderneiros do que uma agente lidando com Aprimorados letais. Quando ajeitou tal mecha de cabelo, o símbolo em preto dos Mata-Capas ficou evidente na gola do sobretudo, acima do signo menor da ONU.

— Não existe necessidade de um combate. — Ela se pronunciou, com um sotaque que Bucky podia identificar como do Leste Europeu. Porém não era como o de Wanda, mesmo que Silver não tivesse o sotaque tão carregado. — Se entreguem para não piorar a situação, nem a pena de vocês.

— Com todo o respeito, senhorita Sable, nós ainda não fizemos nada. Vocês atacaram nossa aeronave. E não cometemos crimes para que tenhamos que nos entregar.

Ela sorriu ao ouvir a voz séria de Steve Rogers.

— Você libertou prisioneiros do Acordo de Sokovia e atuou todo esse restante de tempo fora da lei. Essa aeronave não foi autorizada a entrar em espaço aéreo suíço, muito menos com modo furtivo e no mesmo instante em que a nossa equipe lida com uma ameaça D-1-5. — Ela deu de ombros, implicando justamente a verdade: eles tinham intenção de ajudar os mutantes. — Demos um aviso que foi ignorado. Isso é uma lista resumida das infrações cometidas que já valem uma pena longa. Capitão Rogers, nós não estamos para brincadeira.

— Nós também não.

— Sable, deixe-nos passar. — Natasha argumentou. — Existem inúmeras provas que estamos fazendo o certo, mas não temos tempo.

— Romanoff. Quando se revelou para o Congresso há anos atrás, achei que montaria uma empresa igual a minha. Seria interessante ter uma concorrente. Depois pensei que seríamos aliadas pelo Acordo. — Balançou a cabeça levemente. — Não é honra para mim prendê-la.

— Então nos permita passar. Prestaremos todos os esclarecimentos depois. Aquele homem, Erik Lensherr, foi atraído até aqui por Zola, a mesma mente por trás do Projeto Insight. Se deixarmos que Zola chegue perto dele…

— Erik Lensherr? — Paladino soltou um riso curto de deboche. Ele ajeitou a faixa de apoio de sua arma no ombro como alguém ajeita a alça de uma mochila nas costas. Não parecia fazer questão de estar ali ou de ostentar os símbolos da unidade Mata-Capas na altura dos deltoides cobertos por seu traje de kevlar roxo. Tal gesto fez com que Bucky segurasse sua arma com mais força. — Magneto, o homem responsável pela morte de JFK e líder de insurgências mutantes? Ele não precisa de proteção, querida, e não é nenhum coitado inocente. De qualquer modo, está controlado. Falta só pegar a menina da katana roxa. Nós voltaremos para casa e vocês voltarão para o xilindró.

Houve um momento de silêncio.

— Paladino está certo. — Silver suspirou. — A situação está sob controle. Os detalhes das provas ou quaisquer alegações que tiverem poderão ser ditas e entregues para um juiz. Se os faz mais calmos, Zola — Disse de maneira forçada, ácida. — Não conseguiu pôr as mãos em Erik Lensherr.

— Porque Zola está morto. — Paladino completou. — Mesmo seu cérebro transformado em máquina foi detonado na Base Leigh.

— Mas vocês sairão daqui conosco. Dêem um passo a frente com as mãos erguidas. — A agente recitou a fraseologia padrão do procedimento de captura. — E larguem qualquer arma que possuam. Aprimorados com habilidades especiais serão subjugados com coleiras e braceletes adequados. Facilitem as coisas, enquanto eu ainda peço com educação.

Bucky olhou para Steve, que tinha o rosto firme e congelado naquela sua expressão de pedra. Talvez Magneto, “controlado” pelos Mata-Capas, pudesse estar a salvo de Zola, mas isso não impediria o cientista suíço de tentar algo no futuro, além de que agora os Vingadores Secretos não tinham mais uma aeronave para sair dali e sofriam ameaças sérias.

Sabia que ele tinha mil palavras revirando sua cabeça, mas seu amigo também tinha o hábito de ser conciso, direto. Isso o fez arranjar muitas brigas no passado e Steve, mesmo sendo um moleque mirrado na época, não fugiu de nenhuma. Bucky, por sua vez, sempre estava lá para lhe dar cobertura e estaria nessa encrenca também.

Um braço metálico e soro do supersoldado tinham que lhe dar alguma vantagem.

Steve passou seus olhos brevemente pelos seus amigos, depoi voltou a encarar Silver Sable.

— Não.

— Existem alguns repórteres aqui em volta, não queria que esse tipo de violência seja noticiada. Por favor, esse é o último aviso. — Sable parecia genuinamente preocupada, embora não pela segurança deles. — Rendam-se.

Sem resposta. Ela anuiu, deu um passo para trás e fez o gesto no ar para que a equipe se reagrupasse em uma nova formação envolta dos foragidos.

— É uma pena que tenham que nos forçar a isso.

— Não se preocupe, pequena Silver. — Paladino respondeu por eles, engatilhando a arma com humor evidente. — No passado, eu diria que são apenas negócios. Agora é a Lei. Que tal sermos os agentes que derrotaram o Capitão América?

Ela nada disse, somente entortou a boca.

Se afastaram para que os jipes passassem. Um dos veículos carregava um canhão de tecnologia de ponta, sem munição a base de pólvora. Era de energia, desenvolvida a partir de pesquisas com o Cubo, aquele mesmo que o Caveira Vermelha queria e que um deus asgardiano tentou roubar em 2012. Com poucos gritos de ordem, deram início às contramedidas: A bases das arma brilhou quase que incandescentes, aumentando a intensidade de acordo com o som.

O monstro branco se remexeu um pouco, preparando-se logo atrás dos jipes. Silver e Paladino se mantinham na retaguarda, apenas esperando o primeiro tiro, e suas posturas eram confiantes. O holofote do helicóptero permanecia focado nos Vingadores.

Bucky ancorou sua mira na cabeça da fera mais uma vez, por um momento desejando que Yelena estivesse ali para ajudar. Logo lembrou que era bobagem, ela era uma péssima sniper. De qualquer modo, era bom derrubar aquele yeti logo. Ou melhor, depois que sobrevivessem a saraivada de tiros da equipe da ONU.

Sentiu que Sam estava pronto, assim como Natasha com seus braceletes elétricos e Steve com os escudos. Wanda iluminou-se ainda mais em vermelho, reforçando a barreira que levantara. O som do canhão tornou-se mais alto e agudo, um lume azul já em sua ponta.

Eles iriam atirar.

O Soldado Invernal orou para que a barreira de energia psiônica de Wanda fosse tão forte quanto ela. Piscou os olhos por um momento enquanto pensava nisso, sua respiração presa. Abriu as pálpebras para observar o clarão de luz, a rajada que iria acertá-los.

Foi o tempo de ver o helicóptero militar que sobrevoava acima deles ser jogado por uma força desconhecida em direção ao jipe com o canhão.

No intervalo de segundos entre ver o helicóptero descendo com uma velocidade anormal e o impacto em si, ouviram-se gritos alarmados de Sable, comandando seus homens a evacuar. Assim como o canhão em atividade, o resto dos veículos continha equipamentos com alto poder de fogo, como granadas e cartuchos de bala. A mobilização dos agentes foi inútil, lenta demais para a explosão que se seguiu.

Bucky fechou os olhos por causa de seu instinto de se proteger da luz, assim como a Viúva Negra e Falcão. Steve, por sua vez, além de comprimir as pálpebras com força, também ergueu os escudos para escapar da claridade ofuscante. Wanda gritou um curto e engasgado “não”. O barulho terrível dos estouros alongou-se por sólidos trinta segundos, tempo o suficiente para sacudir o chão e o espírito de James Barnes. Algo dentro de si retorcia devido ao som de destroços e o crepitar do fogo, memórias suas de quando ele não era ele mesmo.

No entanto, nenhum calor ou estilhaço os alcançou. Bucky saiu de sua posição de defesa, a boca aberta ao ver a Feiticeira Escarlate avançar com suas mãos erguidas, poder rubro saindo de seus dedos. Ela rangia os dentes, gemia de dor e esforço, mas a explosão não era mais do que uma esfera disforme de luz, contida por uma camada de energia psiônica vermelha. Era fogo que se retorcia sobre si mesmo. Não atingia ninguém.

Silver Sable, que até então tinha sido rapidamente protegida pelo monstro branco junto a Paladino, desenlaçou-se do braço peludo da fera e gritou para que seus homens ajudassem a tirar os soldados de perto. Não sabia-se se a jovem poderia segurar a detonação por muito mais tempo, ainda mais porque já suportava toda a estrutura do helicóptero no ar com seus poderes. Um dos dois agentes que estavam no jipe foi arrastado da cena, sangrando e com o braço torcido num ângulo irreal, mas vivo. O outro saiu desacordado. Os arredores foram evacuados rapidamente, todos esperando o momento em que Wanda Maximoff não conseguiria mais aguentar.

A barreira escarlate oscilou, assim como a postura dela, embora seus olhos permanecessem completamente vermelhos. Parecia que jamais teria as íris verdes de novo, Bucky divagou. Natasha repetiu o nome da jovem, abismada. Steve aproximou-se reticente, encarando alternadamente a explosão contida e a Vingadora. Em resposta, Wanda soltou um ganido e ajoelhou-se em um só baque, sem deixar de manusear seus poderes.

Ninguém podia ajudá-la.

O braço metálico de Bucky parecia ainda mais pesado, tal era sua sensação de inutilidade. O outro, que segurava a arma, não era muito diferente, já que balas não resolveriam a situação. Deu mais um passo para perto dela, depois recuou. Então, ao ouvir o choro dela, aproximou-se de novo. Lágrimas desciam lentas sobre sua face.

— Não como Lagos. — Ela disse, mais como uma súplica. — Não como Novi Grad. Nunca mais. Nunca mais!

Com essas palavras, o poder puro de Wanda Maximoff foi capaz de sufocar a explosão. A esfera de energia psiônica erguida por ela diminuiu mais e mais, ainda que o fogo tenha entortado estruturas metálicas e peças tanto do jipe quanto do helicóptero. Com um curto lampejo de luz carmim, a detonação se desfez assim como os dois veículos militares. E então, ambos de repente não eram mais nada, nem pó nem névoa. Deixaram de existir, como se o sopro e a vontade dela pudessem moldar a realidade.

E aniquilá-la também.

Ninguém disse nada. A jovem não foi capaz de se sustentar ereta sobre os joelhos, caindo de mãos espalmadas sobre o piso. Sua respiração era forte, engasgada, desesperada. Seus lábios soltavam murmúrios indistintos, choro. Bucky, ao seu lado, pôs a arma no chão e em seguida segurou seus ombros com delicadeza, ao mesmo tempo firme o suficiente para trazê-la para mais perto de si, sentada. A verdade é que a sentia frágil, mole, sob seus dedos. Sua boneca. Sua boneca de ar gentil e bochechas de porcelana. Ele a trouxe mais para perto do peito, abraçando-a forte, dizendo palavras também indistintas, embora cada uma delas fosse doce. Não existiu nele dúvida em acalentá-la em seu colo, nenhuma vergonha ou vontade de reprimir seu instinto na frente de todos. Wanda agora tinha os ouvidos na altura de seu coração, os olhos fechados e as mãos trêmulas. O escutava batendo. E se acalmava aos poucos.

— Wanda. — Steve ajoelhou uma das pernas na frente deles, sua voz tão azul quanto seus olhos. —  Wanda, você conseguiu.

Ela ergueu seu rosto para mostrar que ouvia, ainda que sua expressão fosse um tanto débil. Sangue escorria de seu nariz. Steve franziu a testa diante de tal figura, tentando fazer com que sua face não transparecesse o ardor de seu pesar. Então ela recuperou aquele brilho indestrutível em em suas íris vermelhas, sua voz tal qual um corvo que crocita:

— Nunca mais.

Sam e Natasha também se aproximaram do trio, igualmente assustados.

— Bom, isso com certeza foi útil. — Paladino quebrou o silêncio, empunhando sua arma mais uma vez. — Obrigada pela ajuda, docinho, espero que isso diminua o tempo de seus amigos na cadeia.

— Paladino, não. — A agente de cabelos platinados baixou o cano do rifle dele com a mão, sua voz severa. Seu olhar era cauteloso, a boca comprimida por deixar escapar uma opinião contrária a que tinha há momentos atrás. Encarou Steve Rogers de esguelha, depois voltou-se ao colega. Inspirou fundo.— Eles não apresentam ameaça. Sem munição letal.

Ele anuiu com a cabeça, afastou-se um pouco. Bucky o acompanhava com os olhos, sabendo que existia algo errado com aquele homem. Algo que o enfurecia mais do que ouvir um cretino daqueles chamar sua boneca de “docinho”. Algo falso. O curioso era que a fera branca, o monstro peludo e humanoide, também parecia notar tal fato. Suas garras se apoiavam no chão de forma hesitante, tanto que ele se aproximou do agente de roxo. Então Paladino sorriu, já a cinco passos longe de Sable, e engatilhou a arma.

— Me deram uma missão, Sable, e eu estou disposto a cumprir.

Três aconteceram em frações de segundos:

A fera diminuiu e alterou sua forma, tornando-se alada. Transformou-se numa coruja branca salpicada de preto, e soltou um longo guincho enquanto voava em direção a Paladino, para rapinar sua arma.

Mas, a despeito de suas garras poderosas e o impacto da ave contra o braço do agente, o disparo foi feito contra a única que podia acabar com os Mata-Capas de uma só vez: Wanda Maximoff.

Bucky abraçou-a ainda mais forte e virou-se, colocando seu braço esquerdo e metálico contra o tiro que certamente viria. Queria olhar o rosto dela. Queria porque não sabia se a bala na verdade atingiria alguma parte de seu corpo que o faria dormir para sempre e ele ainda tinha medo de ter pesadelos. Wanda conseguia despistar seus algozes nos sonhos, embora ela sempre fosse tão inalcançável. Era estranho. Ele sempre a considerou intangível e espectral e agora desejava que ela realmente fosse assim para escapar de um tiro.

Queria olhar para a face dela para ter a certeza de sonhos mais leves. Entretanto, pela posição e que estavam e para protegê-la, Bucky Barnes não teria tal visão. Encararia somente a bala. E foi o que fez.

E a bala não o atingiu.

Ficou pairando a alguns centímetros de seu torso, numa posição que o mataria caso tivesse realmente penetrado sua carne. Bucky engoliu em seco, soltando depois sua respiração. Ouviu Sable gritar com Paladino, ouviu a movimentação entre os agentes para imobilizá-lo por desacato de uma superior direta. E depois ouviu o silêncio súbito.

Bucky afrouxou os braços, Wanda pareceu ter recuperado parte da energia por conta do medo. Ela segurou os ombros de James com o resto de força que tinha nas mãos, sussurrando seu primeiro nome enquanto se certificava que ele estava bem. A questão é que ele olhava para o alto, assim como todos os outros naquele lugar.

Wanda olhou para a bala estática a centímetros de Bucky, sabendo que não se tratava de seus poderes. Ela então ergueu o queixo e encarou o que estava acima deles.

Uma figura desceu lentamente o céu noturno, sua capa rubra movendo-se devido ao vento. Pousou entre os agentes da ONU e os Vingadores Secretos, sólido e com o rosto transbordando ira. Seu capacete tinha marcas de disparos do combate anterior, seu traje também estava borrado com cinzas e queimada nas pontas. Ele mexeu nos pulsos, tirando uma algema de material não-magnético do braço esquerdo. Lançou um olhar duro a Bucky, um olhar pesado e longo. E encarou também Wanda Maximoff em seus braços. Em seguida fez um gesto curto com os dedos.

A bala suspensa no ar caiu com um tilintar suave.

Magneto se pronunciou, mais para Wanda do que para qualquer outra pessoa que o assistisse, como se nenhum deles fosse digno o suficiente para ouvir suas palavras. O som de sua garganta era áspero, incontido. Bucky ainda não entendia por completo toda a simpatia que aquele homem tinha com a Feiticeira Escarlate. Pensara que viesse do fato de, segundo comprovações recentes, ela ser mutante. Talvez por ser judia igual ele, por ter sido mal interpretada e engaiolada sua vida inteira. Não faltavam motivos ou semelhanças, mas o Soldado Invernal sentia que existia algo a mais nessa história, ainda mais por Wanda agora ter dúvidas sobre suas origens. Sobre seus pais. Fosse lá o motivo, era forte o bastante para que o Mestre do Magnetismo engolisse todo seu ressentimento por Bucky Barnes e o salvasse, logo o homem responsável por sua prisão em 1963 e pela morte de JFK.

— Está certa, criança. — Sua mandíbula estava demasiado dura, sua boca se fechou embora sobrasse a impressão que queria dizer algo a mais para a ela. — Nunca mais.

Magneto então se virou para os Mata-Capas.


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Notas finais do capítulo

*Hora de explicar as referências!

*LernaBank é um banco ficcional criado por mim haha Na real, eu não sabia que tipo de nome colocar num banco e eu não queria que fosse algo tão óbvio quando HYDRA BANK ou RedSkull Bank hahah ZOLABANK HAIOSH Então, eu peguei o nome Lerna porque justamente é esse o lugar onde o monstro hydra habitava na mitologia. Derp.

*Silver Sable é uma agente paramilitar com cabelos prateados/brancos que veste uma roupa prateada/branca. Você vai vê-la mais nas HQs do Homem Aranha. Ela é uma mercenária profissional e CEO da empresa Sable International.

*Paladino é um anti-herói misterioso. Não se sabe nada de seu passado, nem seu nome verdadeiro, apenas que ele faz tudo por dinheiro. Nos Quadrinhos ele já cruzou caminho com o Demolidor, Justiceiro e com ~~ ahá!~~ Silver Sable. Notável galanteador e um combatente melhor ainda. Não tem poderes específicos, mas possui resistencia fora do comum, força e velocidade - quase como se tivesse tomado o soro do supersoldado. Também é um ótimo atirador.

*Esse Yeti/monstro branco/fera peluda que transformou em coruja se trata na verdade de uma moça de aparência angelical: Snowbird. Não dei nome para ela ainda durante o texto, mas achei bom explicar o porque diabos tem um yeti na minha fanfic. Ela tem poderes de se metamorfosear em animais árticos e alguns poderes místicos também, pois é filha de uma deusa Inuíte com um humano.

*Calêdonia ainda vai aparecer mais, mas basicamente ela é uma guerreira com uma espadona. Ela voa, tem resistência,força, velocidade e reflexos aguçados e nem é dessa dimensão - É de uma dimensão que as HQs classificam de Terra-9809, onde ela era a última escocesa de lá (estranho, eu sei!) e foi salva pelo Quarteto Fantástico. Na nossa dimensão, ela se tornou babá da família Richards e heroína.

*"Nunca mais", além de uma tradução livre da frase do Magneto "Never Again" , também se remete ao poema de Edgar Allan Poe e isso explica o porque tem um corvo opaco na imagem do começo do capítulo.

*O capítulo foi revisado, mas existe a possibilidade deste arquivo ser sabotado pela HYDRA. Caso encontre algum erro, favor reporte à Shalashaska.