Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 53
LIII


Notas iniciais do capítulo

01/07/2018 - Novo capítulo na área! Muito obrigada pelo apoio do cap anterior ♥ Vocês são muito gentis. Caso se perguntem o porque coloquei a data antes das Notas Iniciais, é só para eu não me perder nas datas de publicações. Gosto de me lembrar quando cada um foi postado e etc. Enfim, boa leitura!



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Os olhos de Magneto estavam fechados e não havia expressão em sua face, somente vincos marcados em sua pele há muito tempo. Com o capacete rubro na cabeça e um traje pesado, intrincado por fibras de metal, ele mantinha os joelhos flexionados como se estivesse sentado meditando, a diferença é que seu quadril - seu corpo - pairava há um metro do chão. O lugar não era exatamente silencioso, pois estavam num bairro pouco afastado do centro de Zurique e era possível ouvir o som dos carros, das pessoas, da vida fora da sala vazia em que ele se encontrava. Isso, no entanto, não impedia que permanecesse focado. Mesmo com as pálpebras fechadas, ele enxergava. Seus poderes tateavam os veios de eletricidade, os campos magnéticos diversos, a concentração metal em cada objeto e ser orgânico do ambiente que o circundava de forma crescente e radial.

Magnus apreciava o silêncio, principalmente antes de executar um plano seu. Geralmente curtia um instante de paz antes de entrar em ação, por mais violência que isso envolvesse. Fez isso há muito tempo na Argentina, enquanto procurava Klaus Schmidt, também conhecido por Sebastian Shaw. Fez isso até mesmo antes e neste país, em 1962 na cidade de Genebra. Naquela ocasião ele também estava se preparando para entrar em um banco famoso, prestigiado. Não sentiu saudades da época.

Ele escutou ecos distantes, estalos que não seriam ouvidos ou sentidos por ninguém que não tivesse os mesmos poderes do que ele. Eram explosões súbitas, ondas eletromagnéticas que pulsaram de forma simultânea em pontos distintos ao redor do mundo.

Abriu os olhos.

— Raven está adiantada. — Ele disse, chamando a atenção da mulher sentada ao seu lado, realmente encostada ao chão frio. Psylocke lançou-lhe um olhar interrogativo. Também estava meditando, a aura púrpura envolvia levemente seu corpo e desenhava asas de borboleta ao redor de seus olhos. — As bombas já atingiram os alvos. Partirei agora.

Magneto flutuou um pouco mais alto, para em seguida desfazer-se da postura contemplativa e parar de pé. Estavam em frente a uma sacada e era final do dia, o cenário lá fora anuviado por uma cortina de tecido leve, translúcido. A jovem se levantou também. 

— Não necessito que me acompanhe, Elizabeth. É mais seguro se juntar a Emma e aos outros. Logo Raven estará lá.

Magnus recebeu um suspiro debochado dela.

— Aquele homem, aquele ser… Roubou meu corpo. Toda a vida que eu tinha. Eu sei o que perdi e quero dizimá-lo assim como você quer.

Ele parou para encarar seu rosto oval, seus olhos cerrados e nariz pequeno. As íris de Elizabeth ainda eram negras e vez ou outra era possível enxergar um certo reflexo violeta nelas. Emma contou para ele que a partir daquele dia em 1999, em Kosovo, a alma e a mentalidade de Psylocke não estavam mais no seu corpo atlético, em seus lábios de sotaque inglês. Se foram completamente junto a explosão que tirou a vida de Lorna Darne. No entanto, sua alma ainda estava viva e por algum motivo incerto encontrou abrigo no corpo de uma menina japonesa que tivera uma parada cardíaca no mesmo instante.

Demorou um ano para que a Rainha Branca encontrasse Elizabeth, presa e confusa sob a forma de uma garota oito anos em Kyoto.

Magnus assentiu.

— Sua razão é válida, embora eu duvide que seja tão grande quanto a minha. Ele e a HYDRA congelaram meu corpo, depois quiseram tomar minha alma. Lorna morreu, Pietro morreu e Zola ameaçou a Wanda. —  Ele não se abalou ao vê-la revirar os olhos. Não tinha apreço pela mutante desde que ela prendeu-a numa coleira de energia psiônica.— Não irei dizer que a vingança não é uma boa motivação porque justamente é o que vim fazer aqui. Só não preciso que isto te cegue e me atrapalhe. Foi também sua impulsividade que custou seu corpo, Elizabeth.

— Eu tentei salvá-la, Magnus. — As escleras dos olhos dela se avermelharam, um tanto chorosas, um tanto furiosas. — Se chama isso de impulsividade, que seja.

— Eu não tenho tempo para discutir.

— E o que vai fazer? O sistema operacional de Zola está em um prédio de segurança máxima, usando a fachada de um banco. Vai simplesmente caminhar até lá?

— Acha que balas podem me parar? Acha que alguma coisa conseguiria me parar?

— Não. — Ela admitiu.

— Eu vejo homens primitivos tentando me acertar com metal. Tão estúpidos. —Ele estalou a língua, como se dissesse sobre algum tipo de inseto. Em seguida retomou o raciocínio da conversa. —Digo que não preciso de você aqui não porque a desprezo. Você, Emma e Raven fizeram um bom trabalho em me procurar, mesmo que eu não ache que precisassem se aliar ao cientista suíço que se aliaram. Mas você seria mais útil do outro lado do Atlântico. Lá está meu verdadeiro objetivo, meu legado. Isso… — Magnus ergueu os braços por um instante, as pontas de seus dedos sentiam Zurique inteira ao seu dispor. — Isso é só um capricho que posso muito bem resolver sozinho.

As palavras dele surtiram efeito na tempestuosa Psylocke. Ela abaixou o queixo, encarou o chão. Magnus lhe deu aquele momento para pensar.

Talvez ela imaginasse suas aliadas na ilha, o lugar em que a câmara criogênica de Magneto foi desovada e onde ele acordou há poucos meses. Descobriram logo depois da missão em Sokovia que aquele lugar era uma ilha abandonada e fazia parte de um obscuro - porém eficiente - conjunto de prisões destinados aos criminosos mais perigosos segundo a CIA. Após os anos 60, as prioridades do governo foram outras e essas prisões foram largadas ao pó e ao esquecimento, afinal, oficialmente elas nunca existiram… Até em algum determinado ponto da história, alguém largou a câmara criogênica dele lá. Magnus não sabia se agradecia ou se ia atras desse indivíduo para esgana-lo, já que a única pista que tinham era que a tal Viúva Negra estava envolvida - Mas Emma não achou nada útil na memória da espiã russa.

O grupo que reuniram ao longos dos dias foragidos estava todo lá agora, coordenados por Emma Frost em suas tarefas e auxiliados também por aquele outro homem, Avalanche. Enquanto Magneto punha fim a Arnim Zola e seus planos de Sentinelas, mutantes construíam um país para uma nação sem território, através de seus talentos únicos.

Haveriam muitos nomes para esse lugar: Idílio, refúgio, utopia, paraíso, salvação. Um lugar onde todas as classes de mutantes possam viver livremente. Depois de uma breve discussão com Mística, Frost e Psylocke, estava decidido o nome do país:

Genosha.

Era um plano sólido e de longo prazo. Com seus poderes magnéticos, ele ergueriria abrigos que se tornariam lares, prédios que virariam escolas, hospitais, estradas… E outros mais viriam. Uma comunidade floresceria e serviria de exemplo para o mundo caótico e cruel dos humanos. Ele sentia que era um plano até mesmo demasiado pacífico, misericordioso. Sua vontade era de retorcer e fazer sangrar os alicerces da sociedade humana em resposta a todos as anos de opressão aos mutantes, em resposta a sua fúria e luto. Magneto era capaz disso, era só lembrar do rosto de suas filhas e do rosto do filho que jamais conheceu. No entanto, havia um rosto que o impedia liberar toda a sua ira.

Recordou-se do rosto doce que amornava seu coração duro. Magda, de olhos grandes e verdes, de cabelos volumosos e castanho-avermelhados. E lembrou-se do espanto, do horror em sua face na noite em que Anya morreu no incêndio e ele empalou com hastes de ferro cada homem e mulher que não o permitiram salvá-la.

Wanda Maximoff tinha os mesmos traços que a mãe e Magneto, mesmo sem conhecer a Feiticeira bem, não suportaria ver a mesma expressão em seu rosto. Por ela, Magnus pouparia o Homos sapiens de provar toda sua vingança e também por ela, Magnus desintegraria a existência de Arnim Zola.

Ele divagou se num futuro próximo a encontraria novamente… E se até mesmo ela aceitaria ter um lugar ao seu lado no país que construíam.

— O que quero dizer é que não será fácil. — Psylocke argumentou, um tanto mais mansa. — Está acontecendo uma Conferência sobre o Serviço Sentinela nessa mesma cidade há uma dúzia de quarteirões de distância do nosso objetivo. Não é nenhuma coincidência e existem aprimorados que podem nos atrapalhar nesse evento.

— É claro que não é nenhuma coincidência. Zola, além de um maldito sádico e hipócrita, é covarde. Diz que quer eliminar os humanos para recomeçar a sociedade somente com mutantes… Mas ele promoveu experimentos e testes com esse robôs. Ele só quer peões mais poderosos para controlar e ao mesmo tempo quer se proteger com esses Sentinelas. De qualquer modo, não quero me alongar nessa missão. Como eu disse, é algo pessoal. Vou entrar no banco e desligar o tal cérebro central desse cientista suíço. Acredito que não dê tempo para ele retaliar.

— Esqueceu da parte em que você faz um discurso dramático.

Magneto quase sorriu, porém optou por deixá-la continuar.

— As pessoas vão vê-lo depois de tanto tempo. A mídia vai noticiar na hora e é possível que interpretem errado o que estamos fazendo, de novo. Tenho certeza que teremos problemas. Não iremos enfrentar somente Zola ou guardas de banco. Será algo público, político.

— Estou desacostumado com suas ponderações, Elizabeth. Não é do seu feitio. Geralmente que me dá esse tipo de alerta é a Emma.

— Você quer que eu seja cautelosa ou não?

Ele ergueu as sobrancelhas e ela apenas soltou um suspiro.

— O que eu quero dizer é que tudo o que fizermos será um reflexo para a vida dos mutantes ao redor do mundo depois. Podemos representar uma ameaça aos humanos, ou esperança ao nosso povo.

— Eu não vejo “ou” nessa frase. Nós somos uma esperança e uma ameaça. Também não me importo com a opinião da mídia, sempre vão distorcer as coisas para seus próprios interesses. O que me importa é que nosso plano seja concluído: Zola apagado e Genosha de pe. Mas é bom ver que me conhece bem, Elizabeth, talvez eu insira algum discurso dramático.

— Certo. —  Psylocke inspirou fundo, aceitando a derrota no argumento. — E os aprimorados?

— O quê? Um homem com em uma armadura de metal, um príncipe trajado em vibranium e um andróide? Posso lidar com eles com um estalar de dedos.

— E se não for só eles?

Magneto não disse mais nada, somente a encarou fundo. Foi uma resposta suficiente. Ele andou mais três passos adiante, afastou a cortina com as mãos e parou na sacada. Respirou uma par de vezes com os olhos fechados, mais uma vez sentindo as ondulações magnéticas com seus poderes. Virou-se para Psylocke, já começando a levitar.

— Vamos. O banco hoje tambem vai abrir a noite.

 

***

Os ouvidos de Wanda escutaram cada xingamento e ofensa de Natasha Romanoff até que esta esgotasse todo o seu extenso repertório. Alguns a Feiticeira nem sabia que existiam, mas a situação era tão catastrófica que não se atreveu a olhar na mente da amiga para ver aquilo era real ou inventado. Também parecia existir um peso sobre sua testa, desviando-a de qualquer pensamento concreto.

Voltaram ao apartamento de Yelena Belova depois que a ligação feita a Wakanda foi subitamente encerrada. Wanda, apesar de ter presenciado a explosão de várias bombas ao longo de sua vida, tinha uma boa audição e sabia que a chamada não caiu ou tampouco Shuri teria desligado sem aviso. Ouviu exclamações abafadas, algo caindo no chão talvez. Então quietude.

Droga! — Natasha grunhiu uma última vez. Estavam na sala de jantar e acima da mesa repousava uma coletânea de informações coletadas por Yelena sobre Arnim Zola. Sam lia uma pasta de documentos que detalhava o sistema de segurança em que abrigava-se o hardware de Zola, enquanto Steve encarava o mapa da Suíça em silêncio, com a mão sobre o queixo. Wanda somente piscava sem olhar para algo em específico, pensando em sua amiga em Wakanda. Depois de alguns segundos a Viúva Negra se recompôs, juntando as peças do quebra-cabeça.— Zurique. Zola está lá e com certeza planeja alguma coisa. Existe uma Conferência sobre os Sentinelas acontecendo na mesma cidade nesse mesmo instante. Tony está lá, professor Xavier, T’Challa... Eu só não entendo o que ele quer exatamente ou como Mística está envolvida nisso, logo em Wakanda. Estariam colaborando um com o outro novamente?

— Improvável. Eles usaram um ao outro. — Sam disse, largando a pasta em cima da madeira. — Lá na base ao Norte de Sokovia. O grupo de Magneto estava lá, mas Zola despertou os robôs para matá-los. Zola e os mutantes não estão trabalhando juntos.

— Isso ainda não explica o que o grupo de Magneto foi fazer Wakanda. — Natasha retrucou.

— A menos que não tenha sido o grupo inteiro. — Todos olharam para Steve Rogers, que começou a mostrar os pontos de seu raciocínio. — Magneto não tem nenhum atrito com o Reino de T’Challa, tem com Zola e os Sentinelas. A tecnologia wakandana é tão eficiente que só conseguiu ser hackeada por dentro. Talvez precisem disso mais uma vez, alguém de dentro para alcançar algo fora… 

As mãos de Wanda tremiam e ela escutava a discussão sem emitir um único som. Acompanhava as palavras e as indagações de seus amigos, mas sua mente voltava-se repetidamente á voz de Shuri e a ligação cortada. Uma vez, ela provou do gosto da agressão de Mística, sendo na ocasião mais ferida pela imagem falsa de Pietro do que pelo tapa em si, e só de pensar na possibilidade da princesa provar dor semelhante ou algo ainda pior… Seus dedos agitaram-se ao lado do corpo, seus olhos piscaram vermelhos tanto por conta de seu poder quanto por lágrimas. A realidade se dissolvia abaixo de seus pés assim como seu estômago. Precisava salvar sua amiga. Precisava salvar aquele desconhecido, Magnus. Precisava cumprir seu dever e evitar que pessoas fossem feridas em Zurique. Precisava descobrir quem ela era e quem Magda era.

Wanda fechou os olhos por um instante, muitos nomes abocanhando seu cérebro.

Magnus. Raven. Shuri. Zola. Magda. Natalya. Yelena. Shuri novamente. Bucky.

Ela abriu as pálpebras quando sentiu a mão de James se entrelaçar a sua de forma discreta. Estava ao seu lado na sala de jantar e depositou em seus olhos uma expressão preocupada, embora sua mão direita fosse quente e segura sobre a sua. Ele pressionou gentilmente seus dedos em silêncio.

Seus lábios tremeram e ela queria se partir em mil versões de si mesma para cumprir cada tarefa que buscava sua atenção. Aquela sensação inquieta, impotente e agressiva crescia dentro de si e era uma sensação conhecida, quase eco de seu passado. Wanda soltou a respiração presa em seus pulmões aos poucos, tentando concentrar sua mente fragmentada e descontínua. A presença de James ao seu lado trazia quietude, aquele mar abissal, escuro e calmo que ela sentia ao tocar seus pensamentos, e em meio àquilo um lampejo: uma ideia, uma memória.

Wanda desenlacou sua mão com a de Bucky e a enfiou no bolso do casaco, apalpando um papel dobrado diversas vezes e um tanto amassado e a moeda de prata, dada por Agatha Harkness. Sua pressa chamou atenção dos demais no cômodo e ela encarou o panfleto que juntou do chão na Estação Moskovsky:

O “M” vermelho, a convocação escrita em alfabeto cirílico, seu peso agourento e insustentável. Ela não tinha percebido antes, mas ali no rodapé havia uma 04/03/2017. 

— Eles querem alcançar algo fora. Algo tão protegido quanto Arnim Zola. — Wanda completou, seus olhos bem abertos. Ela passou o panfleto aos demais e cada um pode entender o que ela estava falando. — E vai ser hoje.

Natasha soltou outro xingamento, desta vez acompanhada pela voz de Sam. O panfleto foi posto sobre a mesa, ao lado do mapa da Suíça, e atraia o olhar de Wanda Maximoff de maneira magnética. Steve encarou os amigos em um velado tom de censura pelos palavrões, de modo que que o Falcão seguiu com o assunto.

— O resto deve ter ido até Zurique para acabar com Zola, então. Acabar com o Serviço Sentinela. Deus, nem posso dizer que eles estão errados.

— Certo, Sam. — A russa franziu os cenhos. — Mas todos sabemos que ninguém ali é bonzinho. O tal Magneto muito bem pode decidir que todo mundo lá é culpado. Ele tem problemas com a humanidade. Sem falar que há amigos nossos lá agora, o próprio T’Challa e, bem… Tony.

 

Um instante de silêncio. Cada um lembrou o que aconteceu no ano anterior. Steve franziu o cenho, tomou um momento de quietude. Wanda, apesar do abalo em si, assistiu a figura dele tremeluzir em azul escuro, pensativo. Mais que tudo, um tanto de saudosismo pela amizade desgastada. Ele, no entanto, conteve-se.

— É isso, então. Zola e Magneto vão se enfrentar. Mística foi até Wakanda para, talvez, hackear algum sistema. A Conferência de Sentinelas em Zurique pode ser uma forma de Zola se proteger. — Steve segurou o próprio queixo. — Ou, como ele disse em nossa missão anterior, talvez ele só queira ver o mundo queimar, reunir todos os inimigos no mesmo lugar.

— Desgraçado. — Natasha murmurou. — Deveria ter morrido na Base Leigh!

— O problema é que… Todos irão ver mutantes lutando contra robôs da ONU, ou até mesmo os aprimorados legalizados. Mata-Capas. E só nós sabemos o que está realmente acontecendo… E não temos muito crédito para confiarem na gente.

— Eles vão nos caçar de novo. — A Feiticeira Escarlate disse depois de Sam, mas não se referia ao grupo. Bucky a encarou, assim como Steve. Sabiam que ao falar “nós” ela se referia a mutantes, pois ela também era uma. — Tudo o que os mutantes vem lutando por tanto tempo… Vai se tornar pó. Haverá leis de restrições, registros… Prisões e punições.

— Nós não vamos deixar isso acontecer.

Wanda deu um passo para trás, mesmo ao ouvir a voz segura de Natasha Romanoff. Eram muitos sentimentos, muitas pessoas com emoções à flor da pele - inclusive ela. Segurou a própria cabeça com uma das mãos, aproximou-e da janela na tentativa de observar o nada e se despir de sentimentos alheios aos seus. Inspirou. Lembrou-se da aula de Agatha e sobre como não deveria se banhar na aura de terceiros. Expirou. Também estava nervosa por si própria. Manter-se calma não era fácil, muitas coisas aconteciam ao mesmo tempo e ela tinha que buscar respostas por conta própria. Por debaixo de sua expressão muito frequentemente serena e um tanto melancólica, abrigavam-se lampejos de ansiedade e medo.

Inspirou mais uma vez. Medo, no passado, a obrigou tomar decisões erradas. Ela sabia que poderia controlá-lo. Deveria. Iria. Voltou seus olhos novamente para o grupo. 

— E também não podemos deixar que Zola tente outra vez tirar a alma de Erik Lensherr. — Steve finalizou, lembrando-se das palavras de Yelena Belova sobre o que aconteceu em 1999, Kosovo.

— A pergunta é: Por que estamos parados? — Barnes argumentou de repente. Sua aura cinzenta expandia-se sobre o seu corpo, sua preocupação transbordava a pele. Shuri, apesar de seu comportamento no mínimo interessante, se dispôs a ajudá-lo para superar a lavagem cerebral da HYDRA e projetou seu braço novo de vibranium. Ele tinha por ela um carinho fraternal e, segundo Bucky numa conversa que tiveram no chalé, era um dos poucos que ouvia as piadas da princesa sobre o irmão. — Shuri corre risco!

— É uma situação perigosa, mas ela sabe se cuidar e tem as melhores guerreiras ao seu lado. Wakanda consegue lidar com uma mutante. — Sam ponderou. — Agora, não sei se um sintozóide e dois homens trajados em armaduras e metal poderiam lidar com Magneto.

— Sem falar que tenho certeza de que Zola vai distorcer a situação para se beneficiar, isso se a mídia não fizer isso sozinha. De novo, — Steve sentiu a necessidade de se repetir. — Essa Conferência em Zurique pode até mesmo ter sido algo forjado por ele pra tentar se proteger.

— De qualquer modo, meninos… — Natasha interviu. — Não temos horas ou combustível o suficiente. A nave não chegaria nem a Zurique e nem a Wakanda a tempo. Nós não temos muito o que fazer, só…  — Ela sacudiu a cabeça e recomeçou a frase. — Talvez avisar alguém, se ainda acreditarem na gente.

— Eles não precisam. — A voz de Steve era grave. — Ao menos não em nós, mas tem que acreditar em fatos. Ainda temos os arquivos do projeto Sentinela e sua capacidade de destruição, fotos dos… Experimentos. Se divulgarmos isso de forma segura, as pessoas não irão apoiar esse tipo de projeto e governo nenhum vai querer ser taxado de genocida.

— Você tem muita fé nas pessoas.

— É nossa única opção agora, Nat. Vamos, temos o equipamento de Yelena aqui dentro. Precisamos juntar nossos dados e ver aonde vamos divulgá-lo. Na verdade… — Parou um instante. — Eu tenho fé em ao menos em uma pessoa. Venham, me ajudem aqui.

 Enquanto debatiam sobre o que era possível fazer ou não naquela encruzilhada, Wanda divagou sobre todas as possibilidades. Suas íris eram rubras, seus dedos inquietos. Shuri poderia estar morrendo naquele exato momento, mas a própria princesa a recriminaria caso optasse por ajudá-la ao invés de partir em missão para o bem maior. O problema é que não haveria missão se permanecessem ali, ilhados, e com um sistema de comunicação que começava a falhar. Parecia sofrer alguma interferência, o que era estranho, afinal funcionara muito bem pela manhã.

Wanda e Bucky ajudaram a pegar as provas de que o Serviço Sentinela era uma farsa, algo forjado de maneira cruel e com o intuito que longe de ser pacífico. Eles tinham documentos digitalizados dos experimentos, fotos dos protótipos já em construção - o que violava termos internacionais pois era quase como ter armas nucleares, e por último um áudio gravado pelo equipamento de James Barnes. Tudo foi protegido durante a longa viagem percorrendo o Leste Europeu até São Petersburgo, sem falar a sorte de não terem perdido tais provas durante o combate com os robôs ou no breve atrito com Magneto na ocasião. Por um instante poderia-se dizer que eram provas circunstanciais, mas era o suficiente para desarticular o Serviço Sentinela por mais alguns anos - ou ao menos dar tempo para que os Vingadores Secretos pudessem agir.

— Certo, — A Viúva Negra ligou o transmissor que Yelena usara para mandar as coordenadas pela manhã. O aparelho soltou um zumbido. — Está pronto. É algo antigo, não tem como passar todos os arquivos, mas o áudio vai ser perfeito para T’Challa sacar que tem algo errado, principalmente na parte em que Zola fala sobre reunir inimigos no mesmo lugar. E ele inspira confiança o bastante para suspender a Conferência.

— Então… Por que não parece que está indo?

Natasha baixou os olhos para o dispositivo preto depois que Sam indicou tal coisa. Todos encararam tal objeto com expectativa, até que a russa perdeu a pouca paciência que tinha e o chacoalhou. Não houve bipes.

— Mas que desgraça! É impossível que Zurique inteira fique numa área de sombra. — Disse ela, girando o transmissor para ver se havia algo de errado, alguma peça talvez. Wanda notou que, diferentemente do que houve de manhã, o aparelho parecia não encontrar alvos para suas mensagens. Suas luzes não piscaram no mesmo ritmo. — Eu sei que o sinal é retransmitido da Estônia pra ficar mais estável, mas não é o que está acontecendo. E não tem nada quebrado aqui.

— Vamos tentar através do sistema da aeronave wakandana. Talvez a gente tenha mais sorte em entrar em contato com T’Challa.  — Steve sugeriu. — Vocês continuem tentando aqui, eu e Natasha vamos lá em cima. Liguem a TV e vejam se tem alguma notícia estranha das últimas horas.

O grupo assentiu e os dois saíram depressa. Wanda trocou um olhar com Bucky, depois com Sam, e o primeiro em seguida ligou a televisão da sala.  Ninguém disse nada, entretanto era óbvio que sentiam que havia algo errado, algo mais errado ainda. Os minutos escorriam e, enquanto Falcão buscava frequências diferentes e esperava respostas, Wanda afastou-se dos dois e fechou os olhos com os braços cruzados. Talvez fosse intuição, instinto ou experiência, mas ela podia sentir que existia algo acontecendo. Algo ruim. E ela podia ter medo pela situação em si e mais medo ainda por tentar fazer o certo e falhar miseravelmente, porém estavam lidando com a vida de milhões de mutantes, que seriam mais oprimidos caso houvesse um grande e terrível mal entendido em Zurique. Eles não iriam fraquejar covardemente. Ela não faria isso.

Ela nao focaria mais no alvo do que em si, pois seu objetivo era claro e ela estava ciente de seus poderes. Clint Barton a ensinou a arcar com suas responsabilidades, a também controlar seu comportamento ao lidar com seus objetivos, pois somente assim acertaria seus alvos.

Lidaria com um problema de cada vez, deixando as incógnitas mais difíceis para depois, assim como Jane Foster disse.

Todos os erros que cometeu, já havia pagado o preço. Ebony lhe afirmou isso e gatos não eram dados à mentiras. Não era mais hora de lamentar o passado.

Shuri… E Shuri, como a própria afirmara, não era mais uma voz frágil na tempestade. Ela era uma guerreira, uma futura chefe de Estado, e incitaria Wanda a fazer a coisa certa, a buscar o bem maior.

Steve a ensinou o lado sólido e resiliente da cor azul, Sam a leveza do amarelo. Rosa era para uma doçura traiçoeira, pérola para o bem velado.

E Bucky… A fez perceber que não estava sozinha. Que mesmo em meio à quietude escura, negra, e em meio a um labirinto, existiam pensamentos delicados. Que o silêncio não precisava ser desconfortável e que existia sempre uma mão segura para se segurar.

Todas as possibilidades e cores a preencheram.

O quer que isso representasse, era sinal que algo se iniciava, algo que ninguém sabia dizer se era bom ou ruim. Wanda entendia aquilo como puro Caos, pronto para fazer tudo mudar.

Era hora de fazer alguma coisa. Com os olhos ancorados no “M” vermelho do panfleto, a Feiticeira Escarlate pegou a moeda de prata em seu bolso. Já sabia o que ia fazer.


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Notas finais do capítulo

*O capítulo foi revisado, mas existe a possibilidade deste arquivo ser sabotado pela HYDRA. Caso encontre algum erro, favor reporte à Shalashaska.

*Genosha é um país fictício das HQs da Marvel. As origens no canon são diferentes, mas em essência permanece como o território povoado por mutantes e governado por um longo tempo por Magneto.

*Espero que tenham gostado ♥ Até mais!



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