Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 26
Devyat' - Parte Dois


Notas iniciais do capítulo

A semana foi do meu aniversário, mas quem ganha são vocês!
Não apenas um, mas DOIS capítulos novinhos e, assim espero, deliciosos! Escrever essa fic tem me deixado muito feliz em tempos difíceis e sempre me animo em saber o que acham. Sem falar que tem sido um aprendizado e tanto... Li um encadernado do Magneto que é simplesmente lindo e de partir o coração, e a respeito de Depressão, li o livro "O demônio do Meio Dia". Leituras fantásticas.
Espero que possam deixar um alô nos comentários, pois serão muito bem-vindos!



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Os corredores de Palácio de Wakanda estavam acostumados a vê-la vagando sem rumo definido, embora determinada a continuar caminhando. Havia uma bússola dentro de si que o Norte apontava ao inverno, ao frio que lhe era familiar e ela desejava tanto voltar para casa.

Pensou numa realidade alternativa, onde bateria à porta do apartamento alugado aos pedaços em que vivera por um breve período com seu irmão, e ele a abriria resmungando em poucos segundos. Pietro brigaria com ela por voltar tão tarde e não trazer doces.

Ela parou, pensando naquilo que Njeri dissera. Era ridículo como rubor havia tomado conta de suas bochechas, era mais ridículo ainda porque sua psiquiatra não estava se referindo de modo algum a James. E, ainda assim, estava parada no cruzamento entre corredores, e bastava apenas seguir pela esquerda e descer alguns degraus para chegar ao Laboratório de Criogenia. À direita, o Salão Principal, por onde deveria ir até ao ponto de encontro com seus amigos, que já deveriam estar reunidos com os visitantes.

 Seus pés hesitaram para a esquerda, deu dois passos. Soltou um longo suspiro, seu coração acelerando-se à medida que mais números noves vinham à mente.

— Senhorita Maximoff. — Uma voz a chamou de volta. Ela se virou de forma natural, blefando com um sorriso acanhado e olhos baixos. Tinha aprendido um truque e outro com Natasha, embora T’Challa pudesse enxergar através disso. — Que surpresa vê-la pelo caminho.

— Majestade. — O cumprimentou com um aceno educado. — De fato, uma surpresa.

Ele encarou-a por alguns segundos, depois desviou o olhar para a direção que a jovem pretendia seguir. Compreendeu imediatamente quem ela iria visitar, embora não o porquê.

— Faz tempo que não conversamos a sós. Que tal me atualizar, enquanto me acompanha no caminho até Steve e Sam? Temos convidados muito especiais a receber.

— Claro. — Disse, sem conseguir esconder o desapontamento em seu rosto. Foi até ao lado do rei e ambos começaram a andar, ele com seu ar resoluto e mãos entrelaçadas nas costas. Seu olhar era investigativo, o resto da expressão neutra. Era interessante como o temperamento dos irmãos era diferente, de modo que Shuri só adquiria esta calma quanto estava na arena. —O que quer saber?

 — O que for importante.

— Bom... — Wanda encarou a decoração, os quadros. Deu de ombros. — Njeri diz que estou me recuperando bem. Eu e Shuri estamos nos entendendo. E apesar de não termos chegado em alguma conclusão melhor, acho que as investigações do hack estão fluindo.

Ele deu um meio sorriso.

— Agora diga algo que eu não tenha ouvido dos outros. O que você tem feito, Maximoff?

— Eu... — A palavras arranharam a garganta dela. — Eu tenho tentando entender mais sobre mim. Sabe, isso... — Ela fez um gesto com a mão, mostrando uma elegante e calma chama escarlate sair de seus dedos. Imediatamente soltou um suspiro, aliviada. — Isso ainda não foi bem explicado.

À contragosto, recordou-se de uma conversa semelhante que teve com Visão e era penoso admitir que havia lógica em seu raciocínio: Quanto mais soubesse sobre seus poderes, menos se deixaria levar por eles.

— Entendo. E como está fazendo isso, exatamente?

— Bom, eu... — Ela molhou os lábios. T’Challa estava incrivelmente perto de saber o que todos vinham negando esses últimos dois meses: Wanda era uma garota esquisita usando poderes de forma irresponsável numa pessoa para se sentir melhor. O resto era consequência, coincidência. Armou-se da face mais inocente que tinha, com o tom mais evasivo que podia. Junto à isso, um breve lampejo rubro passou por suas íris, manipuladoras. — Eu tenho lido muito. Meditado.

Ele não pareceu tão convencido. Deu-lhe um olhar de esguelha, silencioso e esperando que tal quietude a forçasse falar mais. Mas, bruxa do jeito que era, Wanda também colocou as mãos atrás do corpo, gesticulando de forma breve. No instante seguinte, T’Challa pareceu confuso, depois leniente. Somente suspirou, aceitando o que sua convidada tinha dito.

Chegaram onde deveriam.

A atenção de Wanda pousou sobre um homem calvo, sentado numa cadeira de rodas estilizada e moderna.  Ele exibiu um sorriso gentil, como se aguardasse por ela exatamente naquele instante, mesmo que entretido pela conversa entre ele, seus amigos, a princesa e outra mulher ao seu lado.

Uma expressão franca que durou uma fração de segundo, mas que pareceu calculada e, por esta mesma razão, estranha e etérea a ponto de despertar um pulso rubro dentro de seu coração. Era seu instinto de segurança a sondá-lo, a sondar de forma automática cada alma ali dentro.

Ao mesmo tempo em que sua respiração se aliviou por se permitir outra vez banhar-se na cor escarlate, um pensamento urgente lhe dizia para retrair-se, para trazer de volta as ondas de seu poder que tomavam conta de seus olhos. Ela mataria alguém, pois já matara e seria capaz de matar de novo. Um passo em falso, um empurrão mais forte. E então, rápido como veio, a aura rubra retornou as pontas de seus dedos e aos seus olhos, indo para o centro de seu tronco.

A conversa entre eles parou, interrompida pela chegada do rei e da estrangeira.

T’Challa encarava a mulher que estava de pé ao lado do professor Xavier. Demorou a dar mais um passo a frente, retornando também à realidade depois de sorver da imagem dela. Ele piscou, soltou um circunspecto sorriso, no entanto foi ela que lhe dirigiu primeiro a palavra:

— T’Challa. — Cumprimentou, seus brincos em formato de relâmpagos balançando ao inclinar o rosto, com apenas uma sobrancelha levantada. Passou a mão discretamente em seus cabelos brancos, longos, e depois cruzou os braços. — Da última vez que o vi, era bem mais baixo. E ainda não era rei. —Ela finalizou, com uma breve mesura. — Majestade.

— Ororo. — A garganta dele estava seca. —E da última vez que eu a vi, você tinha um moicano. Mas foi sempre uma rainha.

Wanda não precisou de poderes, de instinto caótico ou algum artifício sobrenatural para entender o que estava acontecendo ali, embora não entendesse completamente de fato. Ela sorriu e ficou tentada a espiar dentro da cabeça do Pantera Negra, mas professor Xavier ainda estava olhando.

E ele parecia saber o que ela estava fazendo.

— Então... — Sam Wilson alongou as vogais. — Vocês se conhecem. Legal.

— Senhorita Munroe e eu nos encontramos na adolescência. As circunstâncias foram desagradáveis, mas guardo boas lembranças da ocasião. Mas... — Voltou-se ao professor. —Não seria Summers que acompanharia o senhor?

Ele assentiu, como se pedisse desculpas.

— Outra aluna minha, Jean Grey, precisava de ajuda com algumas coisas. Scott decidiu ficar e Ororo veio comigo. Acredito que tenha sido melhor para nossa chegada. Deve ter visto as nuvens antes de pousarmos.

— É claro.

 T’Challa e ela compartilharam um olhar nostálgico, ato que provocou uma reação adversa a irmã dele, mas logo o rei lembrou-se de seus deveres. Endireitou sua postura, pôs um tom mais solene na voz.

— Perdão, eu deveria apresentá-los. Senhorita Maximoff, estes são professor Xavier e a vice-diretora do Instituto Xavier, Ororo Munroe.

Embora Ororo tenha lhe oferecido um aceno simpático, Wanda foi tomada por repentino assombro. A aura dela era composta por fina e branda névoa, trazendo o suspense da antecipação e das nuvens da tormenta. A lembrou da frase que saíra de seus próprios lábios dias atrás, da qual não sabia a razão.

“Tempestade. Eu vejo Tempestade.”

De algum modo soube a razão de tornados serem nomeados com nomes femininos só de olhar para sua fisionomia poderosa. Buscou apoio no rosto de Shuri, que retribuiu o lance com a expressão intrigada. Acreditou que Wanda saberia quem era ela, que tinha dito aquilo antes de propósito. Não era o que parecia agora, mas elas teriam que esperar para conversar melhor.

— Olá, Wanda. — Xavier disse, endireitando a cadeira em sua direção. — Nós estávamos ansiosos para conhecê-la. Capitão Rogers me falou de você.

Aproximou-se, dando um aperto de mãos.

— Falou, é?

— Sim. E meus alunos agora me perguntam o tempo todo quando o professor de Artes deles vai voltar.

Ela virou o rosto para Steve, chocada por não saber disso. Já bisbilhotara coisas terríveis e difíceis na mente dele, coisas que não deveria ver. E também já passara muito tempo em sua companhia, meses, anos. Três, contando com este, e não fazia a vaga ideia de que ele arrumara espaço entre seus afazeres para dar aula no Instituto Xavier.

Não era à toa que ele era tão sensível quanto ao lugar.

— Certo, eu me sinto traída agora. — Wanda disse, a boca ainda entreaberta. Em seu íntimo, estava surpresa por parecer natural com todos aqueles estímulos mentais, astrais. Estava sensível naquele dia e precisava ficar sozinha o quanto antes. — Eu não tive aulas de Artes com ele.

— É, nem eu. — Sam completou: — Só não me diga que os ensinou a desenhar seu escudo. “Vamos, crianças. Primeiro vermelho, depois azul e no centro uma estrela branca. Deus abençoe a América.”

Steve desviou o olhar, os lábios comprimidos e a testa franzida.

— Conversamos sobre isso depois.

T’Challa parecia satisfeito com a reunião. Havia divertimento em sua face, mas a cada vez que seus olhos se cruzavam com o de Ororo, ele podia sentir eletricidade correr seu corpo. Nestes instantes, tinha que se lembrar de que estavam ali para um propósito maior.

E é claro, Wanda não podia deixar de se sentir curiosa ao ver aquilo. Jamais pensaria que poderia presenciar um flerte do educado e elegante rei de Wakanda, sempre tão bom em suas palavras, tão calculista em suas expressões. Ah, como ela queria saber mais, saber a razão da falta de jeito entre dois adultos sérios.

E o porquê Shuri estava tão perturbada com aquilo.

Foi quando percebeu que ainda segurava a mão de professor Xavier. Embaraçada, ela desvencilhou-se com um sorriso afável, mas também desconfiado. De algum modo, ele parecia poder lê-la feito um livro aberto e tal sensação era nova para Wanda, nova e constrangedora. Imaginou que tal fato estivesse relacionado com os poderes dele.

Telepata

Ela franziu a testa e sentiu-se endurecer, a explosão escarlate dentro de si tornando-se rubi. A expressão dele se alterou, intrigado.

— O fim da tarde está ótimo. — O rei fez um gesto expansivo, em direção à varanda. —Acredito que podemos dar uma volta, e depois jantar.


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Notas finais do capítulo

Segue o mesmo esquema: sugestões, headcanons e correções? É só dizer pra Shal.
Só eu estou empolgada com os novos personagens que apareceram? hahahah
Lembre-se, a cada vez que você comenta, Bucky Barnes se recorda de algo doce.



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