Interativa - Survivors: Terceira Temporada escrita por Luan Hiusei


Capítulo 16
S03CAP01 - Beauty Stars


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, temporada nova começando. Sinopse e capa novas, estilo de escrita novo. E muitas mortes em frente. Enfim, boa leitura.



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Ana Everett

Abri meus olhos lentamente. Estava em uma cama, temporária, como todas as outras nesse último mês. Eu não me lembro se já é março ou maio, ainda está quente mas não tanto, então deduzi que era perto disso. Eu? Você já sabe quem, Ana Everett, irmã de Mariana.

Esse mês foi meio agitado, tudo começou com o desastre no abrigo de Sandra, que terminou com sua morte. Não ouvimos falar de Michael desde então, provavelmente morreu quando os aviões bombardearam a cidade, ele e todo o grupo. Ainda bem. Logo depois saímos de lá, e graças a ideia de um dos nossos, começamos nossa jornada em busca de um navio. Pois é, no começo até foi fácil, mesmo com o péssimo clima que a morte de Sandra causou. Tínhamos comida, agua e higiene. Agora, achar uma sardinha é luxo, agua marrom do rio é um elixir e sobre a higiene, bem, não preciso nem comentar.

Não temos problemas internos ao menos, Clara e Rebecca são excelentes em tratar os vários ferimentos que adquirimos nessa jornada um pouco arriscada, ferimentos as vezes graves, como o de Bernardo, que quebrou o braço correndo de um errante. Sinceramente, ele não é uma adição ao grupo, pelo contrário, mas isso não importa, temos que nos ajudar. Se nos ajudam de volta, é claro.

A cirurgia de trauma orquestrada por Rebecca terminou com bastante sangue derramado, ele ficou com muita febre e dor por dois dias, mas está bem agora. Embora mais incapacitado que o de costume.

Tem também o problema da gasolina e da comida. Como destino, eu sou encarregada de distribuir a comida, e como era de se esperar, nem todos concordam com as minhas decisões, por isso Yuri e Claudio estão tentando ficar no comando, eu pessoalmente apoio Yuri, e não é porque gosto dele, se gosto dele, ele parece bem mais sensato que Claudio, que está ficando um pouco... Rígido, provavelmente se deixarmos, isso vira uma ditadura, ele e Amora, os imperadores e nós os escravos súditos.

Rebecca, Yuri, Clara e eu formamos o grupo pró-Yuri, já Amora, obviamente, Julio César, Mariana e o próprio Claudio são os pró-Claudio. E venho percebendo que uma hora isso irá ser um problema enorme, Kauan e Bernardo, que não conseguem nem se defender vão ter a palavra final provavelmente, o que me assusta.

Mas o problema atual é Mariana, pois é, sei que ela é uma adolescente, e que adolescentes são por natureza psicologicamente desequilibrados, mas porra, é o fim do mundo, não temos tempo pra ficar desequilibrados. Falo isso pois percebi há pouco tempo isso, que não tinha tempo para chorar, que tinha que me levantar e estou conseguindo. Mas não é esse o problema dela. Ela, Claudio e aquele Júlio estão sempre de conversinhas, provavelmente ela e Julio tem alguma coisa, e não estão preocupados com nada, gastam recursos, brincam com os carros, e não batemos de frente com eles, pois não temos autoridade, e ela, se tornou desrespeitosa por causa deles, tudo bem, é minha irmã e daria a vida por ela, mas tudo tem limites.

E, bem, é hora de levantar desse carro e distribuir o pouco que sobrou. Saio do carro velho e vermelho cheio de poeira onde estou. Estamos em um posto de gasolina abandonado no meio de uma rodovia. A loja de conveniências tem agua ainda, mas as janelas estão destruídas então dormimos nos quatro carros que sobraram. A camionete 4x4 branca, onde eu, Clara e Yuri ficamos, este Gol de 1998 vermelho que normalmente abriga Bernardo, Rebecca e Kauan, e os dois Peugeot 308, prata e azul. Aqueles são para Amora e Claudio, enquanto o azul para Mariana e Júlio.

Eu estou usando uma camisa social branca, mais amarela, na verdade, uma calça preta e uma sandália azul que é razoavelmente confortável. Meu cabelo loiro está preso num coque segurado por uma caneta, algumas mechas caem sobre meu rosto.

 Felizmente ninguém está fedendo hoje, é a primeira observação que faço quando saio para fora. Os dias de verão tem sido um verdadeiro inferno não só pelo calor, mas pelas consequências dele. O cheiro de coisa podre em qualquer lugar é horrível, e isso quando temos que passar quinze horas viajando num carro apertado. Felizmente estamos chegando em abril, e o outono vai realmente começar.

As duas primeiras pessoas que vejo são Rebecca e Kauan. Ela está usando uma camisa de manga curta azul e uma calça jeans com vários rasgos, usa um chinelo preto. Sua pele era bem clara, mas agora está começando a corar. O cabelo ruivo e bem cuidado cheio de cachos agora está embaraçado, os cachinhos continuam lá, mas o vermelho claro agora é uma mistura de cobre e vermelho. Kauan parece mais velho, deve ter feito aniversario nesse meio tempo, mas não sabemos mais com certeza os dias aqui. Ele está usando uma camisa azul fraca e uma bermuda branca, também usa chinelos pretos. O cabelo preto está maior, e bem crespo.

— Vai recomeçar? – Ela deixou o garoto com os carrinhos de brinquedo e se levantou. Hora de enfrentar os dragões famintos.

Esqueci de comentar sobre a cesta presa ao meu braço. É uma daquelas de supermercado, com duas latas de milho, duas de sardinha e o prato principal: Um belo pote de pepinos em conserva. São meus preferidos, e hoje serão meus. E como pode ver, são cinco para dez, e isso aumenta ainda mais as divisões.

Os próximos a aparecerem são Julio, Mariana, Claudio e Amora. Eles me olham como se fosse uma velha antiquada, deve ser porque tenho vinte e quatro já. Não gosto de presumir coisas, mas não vou com a cara de Júlio desde já, nunca conversei realmente com ele, mas já percebo como me olham.

— Gente! Ela vai distribuir! – Claudio grita e dá uma risada tosca. Cerro meu punho livre enquanto todos se aproximam. Bernardo e Yuri chegam para meu alivio. Não consigo fazer isso direito sem ele por perto.

— Milho para Rebecca e Amora. – Levanto os latas, e as duas vem buscar. – Sardinha para Julio e Yuri, e o pepino é divisível por dez. – Minha voz sobe quando falo o nome do moleque, acho que é tão incontrolável quanto o olhar de piada que ele lança sobre mim. Infelizmente pra ele aquilo não tem o efeito que ele espera, e sinceramente, me dá vontade de rir. Ele praticamente arrancou a lata da minha mão.

Você pode achar que é um serviço fácil, subir num tijolo, entregar umas latinhas de comida, gritar alguns nomes. Mas não é. Não é quando você tem que deixar uma criança sem comer por que já deu comida pra ela duas vezes seguidas. É triste ver o olhar no rosto de Clara, que sempre fazia todos rirem há alguns dias atrás. De como Bernardo baixou a cabeça decepcionado e saiu arrastando os pés. Mas Yuri chamou ele, Clara e Kauan. Rebecca deu a lata de milho a eles e ela mesmo teria ficado sem comer se Clara não insistisse. Abri o pote dos abençoados pepinos e peguei dez, com o máximo de gentileza que consegui acumular entreguei o restante a Amora. Ela felizmente era a mais razoável do grupo deles, ela parecia realmente decente, mas o ambiente social não ajudava no nosso contato.

— Nenhum problema com eles...? – Yuri perguntou quando me sentei com eles e distribui o resto da refeição.

— Não ainda. Acho que eles se consideram importantes agora que tirei alimento de uma criança para dar a eles.

Yuri estava com o cabelo preto desarrumado já, mas não estava grande. A barba estava maior e realmente parecia uma barba, ele estava usando uma camisa preta e calça jeans junto com um tênis.

Clara estava com o cabelo preto solto mesmo com o calor, usava uma camisa fina de cor roxa, calças azuis e uma sandália preta. Seu cabelo não estava mais tão bem cuidado como antes também, agora estava mais embaraçado, e os cachos leves haviam sido substituídos por emaranhados de fios ondulados e quebradiços. Bernardo estava com o braço direito enfaixado e amarrado ao pescoço, usava uma camisa bege com uma bermuda e chinelos brancos. O cabelo loiro estava ficando escuro, provavelmente era bem pintado antes.

— A sobremesa está servida! – Yuri levantou os dois pedaços de pepino e riu, acompanhamos ele.

— Vamos gente, temos que brindar isso. – Clara sugeriu e pegamos os copos plásticos com aquela agua quase radioativa e os levantamos.

— Gente, ao melhor almoço das nossas vidas. – Eu completei e rimos da nossa própria situação juntos, isso era o que me conformava. Kauan parecia melhor e já deveria ter superado a perda de sua mãe, e ainda estávamos tristes, mas isso não podia nos parar.

Lá do outro lado, em cima da camionete, o Quarteto Fantástico conversava e ria mais alto que nós. Pareciam bêbados, e eu não duvido muito disso. Nós sempre ignoramos as bebidas pelas quais passamos, mas não tinha certeza quanto a eles.

Conseguia ouvir a conversa deles daqui onde estava. Gritam praticamente, acho que esqueceram que podemos ter companhia a qualquer momento.

— E ela acha que manda alguma coisa aqui! Se quisermos, podemos pegar qualquer coisa na maldita despensa! – Julio Cesar falou bem mais alto do que ele achava, Claudio e Mariana aplaudiram ele. Amora não disse nada.

— Vamos lá então! – Claudio incitou o grupo, assim que eles começaram a se levantar, eu e Yuri já estávamos de pé imediatamente.

— Por favor Claudio. Você está bêbado. Senta. – Amora o puxou e ele caiu sentado. Pensei que ele ia virar e dar um soco nela mas ele apenas riu.

— Vamos deixar essa pra próxima então, pessoal. – Ele se ajeitou na caminhonete e estendeu os pés, passou o braço ao redor do pescoço de Amora e eu tentava entender como ela não sentia nojo da cara dele.

Estava anoitecendo já, o calor estava se dissipando rapidamente. Estávamos parados esperando o dia terminar para entrar para nossas camas temporárias quando Rebecca finalmente liberou Bernardo depois de recomendar a ele como dormir. Sinceramente, aquela mulher é incrível. Nunca gritou, e consertou um braço quebrado em duas semanas. São qualidades admiráveis.

— Tudo bem com ele? – Eu me aproximei dela assim que ele saiu. Estava preocupada um pouco com ele, andava muito quieto.

— Fisicamente sim. Mas acho que ele está um pouco abalado com tudo que aconteceu. Ele só fala da irmã dele, Natalie, e quando falei que iriamos procurar ela no Rio a felicidade era quase palpável. – Ela falou com um tom baixo. Essa teria sido cantora se o mundo não tivesse acabado.

— Não sei se todos vão ser a favor disso. – Ela entendeu rapidamente o meu ênfase na palavra “todos”. Felizmente ela era muito inteligente também. Característica de nós mulheres, como Clara gostava de dizer.

— Bom, se todos vão ser a favor eu não ligo. Mas não podemos deixar ele separado da irmã. Já deve ter percebido o tamanho do estrago. – Ela começou a recolher as roupas das portas dos carros para organizar nossas camas.

— E o Kauan, como vai? – Eu perguntei depois de uma pausa ajudando ela a juntar as coisas. Como era de se esperar, o Quarteto Fantástico não limpou nada.

— Ele está lidando como uma criança de treze anos lidaria. – Ela começou a arrumar a cama para o garoto dentro do carro, ela respirou fundo e olhou para mim. – Mas tem alguma coisa errada no olhar dele. Acho que está perdendo a humanidade. – Rebecca falou com um pesar triste de uma notícia chocante mas inevitável, e isso era de se esperar. Todos sabemos como um sociopata surge.

Baixei minha cabeça sem ter muito o que dizer, já estava noite agora. Entrei n carro e me arrumei no banco de trás. Tinha um banco e meio de conforto pelo menos. Olhei pela janela do carro, havia limpado o vidro para poder observar as estrelas. Talvez me ajudassem a dormir, pois geralmente metade da noite se vai antes que eu consiga pegar no sono. E então vou ficar olhando o brilho distante delas. Esse mundo pode ser feio, mas as estrelas... Essas sempre serão lindas.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? É isso, espero que tenham gostado das mudanças, peço opiniões sinceras de todos. Até mais.