Treena encarava o esboço final do vestido de noiva em uma mistura de curiosidade, desaprovação e surpresa. Ainda assim, aquele vestido expressava perfeitamente toda a personalidade de Lou e talvez isso bastasse para que fosse tudo bem sucedido, o tecido já havia sido escolhido e agora a costura seria realizada por uma profissional. Felizmente, haviam sido sensatos o bastante para deduzirem que Lou já estaria ultrapassando em muito os próprios conhecimentos ao desenhar o vestido e escolher os tecidos adequados.

—Acha que ficará pronto a tempo? - Questionou Lou olhando em direção a Treena, ambas estavam deitadas na cama da irmã mais jovem.

—Não se preocupe - Disse Treena colocando o esboço do vestido no apoio ao lado da cama.

—Preciso visitar o Will - Assegurou Lou se colocando de pé e pegando os inúmeros outros esboços no chão do quarto, ela havia desenhado muito nos últimos dias.

—Isso é apenas um pretexto para se livrar dos preparativos do casamento e me deixar fazer tudo, não é mesmo? - A voz de Treena era cheia de suspeitas e ela estreitou os olhos se sentando na cama.

—Você me conhece mesmo, Treena Clark - Respondeu Lou sorrindo e fechando a porta atrás de si.

Lou caminhava para a mansão dos Traynor, tinha muitas perguntas e nenhuma resposta. Algumas vezes gostava da incerteza que norteava sua nova vida e ao mesmo tempo tentava compreender como, depois de todos aqueles anos, havia experimentado um amor arrebatador. Ela acreditou por muitos anos que isso jamais aconteceria até que finalmente aconteceu. A mulher adentrou a casa de Will, o cumprimentou com um sorriso e deixou Nathan trabalhar; ela se sentou na escrivaninha do quarto de Will e começou a trabalhar novamente nos esboços.

Muitos desenhos haviam sido produzidos na tentativa de encontrar um modelo perfeito para o vestido de noiva, agora Lou poderia se focar nos outros desenhos que criara tentando encontrar as cores perfeitas para seus modelos. Haviam pincéis na mesa, tintas, canetas e todas as outras coisas que ela de algum modo instintivo sabia como e onde usar nos desenhos e se questionou como não havia percebido antes o próprio talento. Toda aquela criatividade, todas aquelas cores, todo aquele vermelho estivera oculto por tantos anos até finalmente ser revelado.

Havia algo novo em Louisa Clark e ao mesmo tempo havia uma insuportável sensação de finalidade.

A noite caiu e a garota permanecia no mesmo lugar, ainda desenhando e ajustando os novos modelos. Will havia sido colocado na cama do outro lado do aposento, estava sentado e recostado na cabeceira olhando atentamente para algo na televisão. Will estava melhor ultimamente após recuperar todos os movimentos da mão direita, era um progresso quase impossível e ele havia sido capaz; já a mão esquerda permanecia com o movimento restrito. Ainda assim havia esperança, alguma remota chance de que ele obtivesse alguma independência no futuro.

—Clark, ainda não terminou? Quero vê-los - Perguntou Will em seu habitual tom de petulância.

—Estão prontos - Respondeu ela sorrindo e então completando com alguma hesitação - Eu não sei se são bons o bastante para você, não são tão sofisticados.

—Me mostre todos os desenhos - Pediu a encarando com desaprovação por hesitar.

Lou sorriu amplamente, reuniu os desenhos e escalou a cama de Will. Ela estava habituada a ocupar o lado direito da cama, se sentar com as pernas cruzadas e conversar com ele por horas, era assim o modo mais fácil para que mantivessem contato visual. Lou estava muito adaptada as necessidades de Will ainda que não compreendesse com exatidão como tantas pequenas coisas haviam se modificado em suas ações individuais para que tudo ficasse mais fácil e humano para Will.

—O meu vestido de noiva não está aqui - Garantiu Lou erguendo os desenhos, espalhados pela cama, para que ele pudesse ver.

—Eles são muito bons Clark - Disse Will agora com um sorriso leve - Você tem um talento inato.

Lou reuniu os desenhos novamente após mostrar todos para Will e os colocou na mesa de cabeceira próxima a cama. Ela permaneceu sentada com as pernas cruzadas, olhou para trás de si notando a tempestade que se iniciara, já era tarde da noite e ela não notara o tempo passar.

—Fique - Pediu Will com alguma gentileza e então complementou de forma arrogante - Tenho algumas sugestões de cores mais harmônicas para seus vestidos.

—É mesmo? - Questionou Lou em desafio erguendo a sobrancelha e então se aproximando dele.

—Por que não para de segurar seus impulsos luxuriosos e me beija? - Questionou Will fingindo ironia e usando seu tom bem humorado.

Lou Clark o beijou fortemente, segurou os cabelos daquele homem e passou uma das pernas ao redor da cintura Will, agora estavam realmente mais próximos. Estranhamente ela não considerava incomum o fato de Will não poder segurar a cintura dela e traze-la para mais perto, porque nunca realmente assumira o comando ou a iniciativa. Todas as suas experiências pretéritas foram despretensiosas, entediantes, comuns e terrivelmente dispensáveis.

—Lou - O sussurro de Will era de alguma forma gentil e foi pronunciado quando a garota retirou a camisa que ele vestia.

—O que foi? - Perguntou ela se afastando levemente, mas mantendo as mãos no pescoço dele.

—Depois do acidente - Will engoliu em seco, fechou os olhos e sentiu peso terrível da humilhação que pensava estar se sujeitando - Eu não estive com nenhuma mulher.

—Sei disso - Assegurou Lou assentindo - Apenas você importa, estou apaixonada Will Traynor.

—Estará apaixonada depois disso? Eu não sou um…- Lou o impediu de continuar falando e o beijou fortemente para em seguida retirar o próprio suéter.

Louisa Clark lera muitos livros, sabia exatamente como seria e quais seriam os limites, como também sabia o que deveria fazer. Era algo novo para ambos, mas ainda assim ela sabia que era perfeitamente possível, tudo ocorreria exatamente como deveria ser e assim seria. Felizmente, ela não precisou se lembrar dos livros, porque instintivamente soube o que fazer e Will também soube se calar perante o beijo dela. Talvez fosse certo continuar e ao te-la ali, diante dele, houve uma certeza completa de que eles eram exatos por serem como eram.

***

Will foi o primeiro a despertar, o sol ainda não havia nascido por completo e o quarto era invadido pelos tons vermelhos do final da alvorada. Lou estava ao seu lado e dormia profundamente enquanto ele a sentia por completo de alguma forma que jamais havia sentido nenhuma outra mulher antes. Ele apenas viveria uma grande paixão caso se tornasse tetraplégico? Ele teria de perder tudo para que se tornasse merecedor daquela mulher? Infelizmente, agora ele sabia que sim. Lou era possível porque aquele acidente acontecera e pela primeira vez em muito tempo o universo não parecia mais ter uma dívida tão grande.

Dormir com Lou havia sido algo diferente e ao mesmo tempo muito melhor do que ele poderia prever. No final, ela estava cansada o bastante para dormir e ele estava surpreso o bastante para não conseguir cair no sono verdadeiramente. Tudo havia sido muito melhor do que ele pensou que seria. Will sorriu levemente para a expressão séria e cansada de Lou enquanto dormia e então voltou os olhos para o computador colocado em um apoio do outro lado da cama.

—Eu sinto muito Lou - Disse ele em um leve sussurro sabendo que não a acordaria.

Will Traynor sentia muito porque havia lido os resultados dos exames que Lou havia realizado dois meses antes, sentia muito porque ela havia pedido para que fosse enviado para Will em um voto de confiança por ter perdido a própria senha do email. Will Traynor sentia, realmente, muito porque ao ler os exames em um lapso de curiosidade ficara sabendo que Lou estava doente demais, que ela iria partir muito em breve e que o tempo não esperaria por ninguém; ele sentia muito porque era incapaz de contar a ela e provavelmente não contaria até depois do casamento.

Will Traynor sentia seu coração em um milhão de pedaços porque a amava e inevitavelmente ele também a enterraria. Isso o devastava, porque ele gostaria de oferecer a ela todo o tempo do mundo.

Porém, tudo que possuíam, era aquele quarto em tons de vermelho e uma paixão avassaladoramente impossível.