Cosmos escrita por Sapphire


Capítulo 22
Capítulo 19 - Pedido de desculpa


Notas iniciais do capítulo

Desculpe o atraso de meses. Estava sem nenhuma inspiração... Fora a preguiça. Tem hora q você nao quer sentar para escrever.

Desculpe mesmo.


Mas espero que gostem... algumas partes nao revisei e não sei se está bom :)



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Richard chegou cansado a noite vindo diretamente do aeroporto. Consultou o relógio e os ponteiros marcavam onze e vinte e sete da noite.

Ele abriu a porta do quarto descobrindo algo que já sabia o que encontraria. Um quarto totalmente vazio com as cortinas fechadas. Paola não estava lá. Já não era mais nenhuma surpresa. Tentou não pensar muito sobre o assunto, havia passado por um final de semana tranquilo ao lado dos tios e do filho e precisava manter a mente leve.

Ele jogou a mala em cima da cama e sentou na poltrona próxima passando a mão na barba não demorando muito sendo vencido pelo cansaço adormecendo rapidamente.

Paola chegou em casa na parte da manhã com os olhos vermelhos por não conseguir dormir no voo, perturbada porque não conseguira alcançar o marido. Seu avião saíra antes e o próximo voo dela sairia algumas horas depois.

Ela rumou direto a sala de jantar fazendo seus saltos ecoarem pelo recinto. Sabia bem que Richard tomava seu café da manhã ali. E estava certa. Ele estava lá com sua pose elegante, viril e no seu traje fino que eram seus ternos sob medida bem alinhado aos músculos. O cabelo puxado para trás brilhoso enquanto ela estava um caos, desalinhada e totalmente cansada do estresse e do voo.

—  Fazenda na Alemanha, Richard? Sério? – Ela deu alguns passos em direção a mesa apoiando as mãos na cadeira ao lado do marido. Era a única coisa que conseguira dizer, não sabia bem como começar aquela conversa, e falou a primeira coisa que veio a cabeça de forma rude como sempre quando se dirigia a ele.

Por um triz o moreno não derramou café na roupa. Não esperava ela aparecer tão cedo ali. Na verdade, sua esposa nunca levantava cedo, e quando dormia fora de casa tentava chegar o mais tarde possível para evitar o confronto e assim nascer uma discussão. Richard aprendeu a se acostumar em vê-la distante e até mesmo em dormir sozinho. Cansara das brigas por essas atitudes mesquinhas.

— Sabe como é bom sua tia quase me mandar prender por ter chegado perto da propriedade atrás de vocês?

Richard levantou imediatamente, e sua aparência poderosa pareceu emanar dele fazendo Paola umedecer os lábios. Ele parecia tão grande e de tamanha importância ao seu lado como se fosse um rei.

— Como assim? – Ele limpou os lábios com o guardanapo.

— Você ouviu muito bem. – Ela ajeitou o cabelo para tentar parecer pelo menos decente na presença dele. – Sabe como é difícil achar uma pessoa que fale Inglês ou espanhol naquele fim de mundo? Alemão é uma língua horrível.

Ela bufou fazendo a franja na frente levantar impaciente por lembrar as horas horríveis que passou.

— Você foi lá? E como soube onde nós estávamos? Pensei ter deixado claro aos empregados para não te falar nada. E ainda assim achei que ia ficar a semana toda no hotel que você gosta tanto.

Ela sentiu notas de desprezo e rancor saírem de sua boca e aquilo lhe feriu o coração. Então de fato ele não queria que soubesse onde o filho deles estavam. O que ele pensou que ela faria? Que mataria o Rick?

— Eu ia ficar lá até você se acalmar e quisesse conversar comigo, mas você não foi atrás de mim e eu vim.

Richard franziu o cenho pensando onde que a esposa tirou da cabeça que ele iria atrás dela depois de tudo?

— Fiz as empregadas me contarem onde vocês estavam. – Ela continuou. – Mas tem uma dedo duro aqui dentro que ligou avisando que eu estava a caminho e sua tia mandou os seguranças me barrarem. Aposto que foi a Helga. Não sei como ainda não mandou essa mulherzinha embora.

— Minha tia fez o que? – O moreno ignorou o comentário final da loira. – Olha Paola uma coisa é você estar nervosa, outra coisa é inventar mentiras. E de mentiras já estou farto.

Suas feições estavam duras, e Richard parecia muito mais velho quando trancava o rosto em uma carranca e deixava a barba cheia.

— Não é mentira. Eu fui expulsa da sua casa duas vezes. Aqueles seguranças grossos... Todo alemão é grosso. – Ela cruzou os braços e um olhar de censura atravessou ela, deixando claro o desgosto do comentário.

Richard jamais foi grosso com sua esposa, não por qualquer motivo. E toda vez que ele pensou em elevar a voz foi por um real motivo. Mas ele não elevou um dedo, mesmo ela merecendo em muitas ocasiões.

— Porque não ligou lá? Você tem o telefone. – Perguntou enquanto abotoava o terno, ignorando a presença dela.

— Adiantaria com sua tia desligando na minha cara? Os empregadinhos dela estavam muito bem treinados.

Seu rosto virou na direção da entrada da sala de jantar com a voz da governanta que entrou no local pedindo a uma das empregadas para servir o café da manhã a Paola.

— Não consigo acreditar que ela fez isso. Porque não pediu aos seguranças para me chamar? – Ele perguntou desconfiado.

— Porque não chamariam, e eu estava proibida de entrar na residência. Poderia ter me dito onde você ia estar.

Ela deu um passo a frente e ele deu um passo para trás. Dessa vez não estava para brincadeiras e não iria ceder seus caprichos.

— Achei que não ligaria e não queria incomodo do trabalho, queria passar o fim de semana com o Rick.

Ele a mirava ainda sério, sem qualquer abertura para aproximação.

— Eu fui por esse motivo, também queria estar com vocês, principalmente com ele. – Confessou com um pesar na voz.

O moreno suspirou fechando e abrindo os olhos voltando a atenção a pessoa a sua frente.

— Eu li sua carta.

Paola sentou-se sendo seguida por ele que resolveu sentar-se também sem nenhum momento desviarem o olhar de um para o outro.

— E porque não foi falar comigo? – Perguntou com medo da resposta.

— Eu fiquei chateado. E ainda estou. Porque não me disse que nunca quis ser mãe? Você parecia feliz com a gravidez. – Suas mãos descansaram em cima da mesa. – Você não o ama?

Ela suspirou fechando os olhos rapidamente e os abrindo de novo. Como era difícil pôr seus sentimentos para fora.

— Eu estava feliz com a gravidez no final. Eu lhe disse que não estava pronta, mas no final eu me senti diferente. Mesmo no início não estando confortável pelo que viria a frente. É claro que eu me importo com nosso filho.

O rosto do moreno estava transfigurando em raiva para indignação.

— Como teve coragem de bater nele? Você sai quase todo dia e simplesmente não pode ficar algumas horas com nosso filho? UM DIA SÓ, PAOLA!

O rosto de Richard já atingia a coloração rosa com uma veia pulsando na testa. Paola quase ficou sem ar ao ver ele naquele estado pela primeira vez. Em outro momento teria amado um pouco de agressividade, mas naquela circunstância eram péssimas fazendo a se sentir a pior pessoa do mundo.

De fato, sua presença era toxica e precisava manter distância dos dois para não machucar ainda mais eles e ela mesma.

— Fiquei nervosa quando vi o vestido sujo. Eu errei muito. – Com notas de desespero, ela pedia desculpas por trás daquelas palavras. Seu olhar suplicava para que ele não a ignorasse.

— Fiquei sabendo do vestido, mas ainda assim não é motivo para bater e ter dito o que disse. – Ele estava firme e sua postura não demonstrou fraqueza.

— Eu estava nervosa, falei e agi no momento da raiv....

— Você o largou no chão. – Richard a cortou. – E saiu simplesmente como se ele fosse um pedaço de carne. Um bicho.

— Acha que me senti como quando eu caí na real? – Os olhos estavam vermelhos, mas nenhuma gota caiu sobre sua face.

Ela tocou na mão do marido que recusou o toque. Queria se defender da acusação, só que nada do que dissesse poderia justificar para o seu comportamento e lhe doía que ele estava se afastando dela.

Um pânico tomou conta da sua alma e um frio na espinha. E se depois disso ele quisesse o divorcio e tirasse a guarda do Rick?

— Não sei.... – Ele recostou na cadeira como se desistisse das coisas. – Simplesmente não sei. Você age com tanta indiferença com ele o tempo todo que não dá para saber o que se passa dentro de você. Não sei mais sobre seus sentimos em relação a gente. De verdade, Paola eu não sei mais nada.

Ele cruzou os braços fazendo seu peito estufar sob o palitó.

— Eu não consegui voltar para casa sabendo o que eu fiz. Não tive coragem, porque estava com medo do que ele sentia.

— Ele acha que você não o ama.

Uma das empregadas aproximou-se servindo a patroa. Um silencio se estabeleceu no ar só com o barulho da louça sobre a mesa. O casal se encarava sem dizer uma só palavra. Assim que ficaram sozinhos, Paola quebrou o silencio.

Ele... – Olhou para baixo. – Acha errado.

Ela falou tão baixo que Richard não pôde escutar.

— Só que eu disse que não era bem isso e que você estava com raiva apenas, mas fiz isso só para tranquilizá-lo, porque nem eu mesmo sei se é verdade ou não o que falei. Sabe o que é pior Paola? Nosso filho está crescendo e você nunca está lá ao lado dele, você está perdendo tantas coisas, os melhores momentos estão passando diante dos seus olhos e você simplesmente não quer aproveita-los. Um dia ele vai sair de casa e ter a própria família.  E você vai se arrepender de não ter ficado ao seu lado. Mas quando este dia chegar será tão tarde, mas tão tarde. – Ele enfatizou. – E infelizmente não podemos mudar o passado. – Ele levantou deixando claro que aquela conversa havia chegado ao fim. – Tenho que ir. Já estou atrasado. Até mais tarde se estiver em casa.

E saindo sem lhe depositar um beijo nos lábios como era de costume ele não ficou para ouvir a resposta.

— Eu vou estar. – Respondeu quando já não estava mais ali.

Seu olhar ficou vago mirando em um ponto fixo do copo de suco e naquele momento ela sentiu algo que jamais sentiu. A mansão tornara-se fria.

(...)

A mesa da cozinha, Rick sentou-se para tomar o café da manhã ao lado do seu tio e da babá. Segurava uma revistinha em quadrinho do Superman. Desde o dia que encontrou um baú com coisas escondidas do pai na infância, Rick esqueceu até dos seus amigos para ficar trancafiado no quarto para ler e brincar sozinho pelo menos no começo da manhã.

Esther aproximou-se da mesa servindo o sobrinho com leite quente, pretzel com salsicha branca e mostarda doce como um café tradicional do estado da Bavaria.

— Está gostando desse quadrinho? Fique sabendo que era o favorito do seu pai. Lia todo dia.

— É o meu também. Ele é muito forte e sempre está lá para as pessoas e salvar elas quando a gente precisa dele. Igual o meu pai. – Ele parou um tempo a leitura e bebericou o leite mordendo um pouco do pretzel junto a salsicha, deixando a mostarda de lado.

— Você ama demais o papai, não é? – Ela sorriu ajeitando o cabelo do menino. – E a sua mãe?

Albert que até então parecia invisível a mesa, abaixou o jornal deixando só os olhos espiando por de trás querendo saber onde a mulher queria por trás daquela pergunta.

Rick ficou calado por um momento como se pensasse o que responder.

— Eu não sei.

— Como não sabe, querido?

— Ela... Ela é diferente do papai. Ela parece que não liga para mim e nunca, nunca mesmo brinca comigo ou fica em casa. E ela não me ama. Os filhos da tia Eve disse o porquê de a mamãe do porquinho ficar brava quando eu o peguei. Porque todas as mães protegem seus filhotes e cuida deles enquanto o pai sai para caçar, é ela que alimenta ele e sempre está lá que nem a tia Eve faz, mas minha mãe não é assim. O meu pai que sempre brinca comigo e sempre tá lá quando quero e preciso. Ela não me beija se não peço e nem abraça, não ouve o que falo, não olha os presentes que faço na escola e dou para ela. Nunca disse que me amava. Só disse que nunca me desejou e que se arrependia de ter aceitado ter um filho. Eu não sei o que eu fiz para ela.

Aquela confissão tão triste e inocente fizera Esther e Albert se sobressaltarem pela surpresa que foi ouvir da boca de uma criança saber que realmente a mãe não o ama. Rick era muito pequeno, mas muito perceptível, articulava muito bem. Extremamente observador e que precisava de uma mãe para cuidar.

— Você não fez nada e não há nada de errado com você. – Sentou-se do lado dele, passando o braço em volta do corpo miúdo. – Eu quero que esqueça o que ela te falou. Você não precisa ficar com ela se não quiser. Porque sempre estaremos aqui para te proteger que nem a mamãe porquinho. Por que eu te amo muito, ouviu meu lindo? E ela não vai encostar mais um dedo em você.

Rick levantou os olhinhos azuis e mirou a tia.

— Posso morar aqui para sempre? Eu, você, o tio Albert e o papai? – Seus olhos encheram-se de esperanças.

— Claro que pode meu anjo, o tempo que quiser e sempre que quiser. – Esther sorriu bondosa destacando ainda mais as bochechas rosadas da qual seu sobrinho neto puxou. – As portas das nossas casas estão sempre abertas para os dois.

— Não é para visitar tia, é para morar para sempre. – Rick fincou as sobrancelhas.

— Pode também e eu vou ficar muitíssimo feliz. – Ela o apertou mais.

— Então eu vou ligar para o papai e avisar.

— Claro filho, vai lá – Ela passou a mão no cabelo dele, levantando deixando ele a vontade.

Rick saiu em grande velocidade para o telefone da sala e discou rapidamente para Inglaterra exatamente como o pai lhe ensinou como ligar, realizando uma ligação internacional. A euforia foi tanta que ele esqueceu completamente que aquele horário seu pai estaria no trabalho e não em casa e ele não esperava quem fosse atender era a última pessoa com quem gostaria de falar.

— Alô?

Ele prendeu a respiração ao ouvir a voz da sua mãe do outro lado, ficando estático.

— O que foi lindo? – Sua tia aproximou-se.

Rapidamente Rick bateu com força o telefone desligando brutamente a ligação.

Paola teve a certeza que ouvira a voz da tia do Richard através da linha, raciocinando que seu filho ligou para falar com pai, mas não quis falar com ela. Correu até o escritório do marido, e buscou a agenda que ele guardava na primeira gaveta de sua mesa com os telefones anotados, e ligou de volta até a fazenda, e para seu desgosto não era seu filho.

— Pronto!

— Quero falar com meu filho. – Disse prepotente e sem rodeio, com entonação da voz deixando claro que não queria falar com ela.

— Ah! Você lembrou que tem um filho?

— Não te interessa do que lembro ou não. Eu quero falar com o meu filho. E se não me deixar falar, quando o Richard ligar para ele, eu vou falar com o Rick de qualquer jeito.

— Ele não quer falar com você e eu também não quero que ele fale. – Dizendo aquilo ela desligou.

— Hija de la puta. – Com a cara de poucos amigos e um olhar fulminante, ela jogou o telefone com raiva.

Muitas horas depois, Richard se aconchegou em sua cama após um dia de trabalho. Era incrível que sua vida estava saindo exatamente o oposto do que ele sonhou. Uma esposa fria que não comparecia a noite com ele, seu filho passando as férias longe deles e ele enfornado no trabalho para preencher a mente e não pensar na sua mulher.

Parecia tão distante aqueles dias mágicos quando saíram juntos a primeira vez, quando fizeram amor tão intensamente e ao receber a notícia que ia ser pai.

Talvez fosse destino seu não ser correspondido no amor. Eve após dois anos de namoro o abandonou por outro e agora Paola o abandonava sentimentalmente.

Ele suspirou olhando para o teto. A única coisa naquele instante que poderia aliviar o estresse era ouvir a vozinha do seu filho. Ele esticou o braço para alcançar o telefone sem fio e logo sua aparência cansada foi substituída por um brilho nos olhos.

Seu filho dava cor ao seu mundo preto e branco e acalentava os dias frios.

— Papai hoje nós ficamos perto da lagoa e adivinha o que pegamos? – Rick estava tão eufórico atrás da linha, que mal respirava direito para falar. As pausas eram muito breves.

— O que? – Perguntou mostrando curiosidade. Ele precisava aparentar interesse.

Não que não se interessava por tudo o que acontecia na vida do seu pequeno, mas não queria deixar o filho triste por saber que ele mesmo estava triste.

— Rãs. Rãs gordas e gosmentas.

Pai e filho estavam tão concentrados em seu dialogo que não perceberam o movimento de uma terceira linha do outro lado.

Com todo cuidado, e uma enorme destreza, Paola segurou a extensão do telefone, buscando ouvir a vozinha do filho para aliviar a saudade de alguma forma. A única maneira que conseguiria ficar mais próxima a ele.

— A gente pegou três, a tia Esther disse que eu poderia cria-las em cativeiro, mas eu disse que não. E que viver preso é muito ruim e elas tem que ficar na casa delas.

— Exatamente isso filho, cada um tem seu lugar de viver.

Paola sorriu só de escutar a voz e contar feliz sobre o dia dele. Ele tinha a vozinha mais linda que ela poderia ouvir em vida. Se largou na cadeira do escritório prestando atenção em cada historia que seu pequeno contava animadamente.

— Por exemplo o meu. Eu liguei para você hoje de manhã, mas esqueci que você estava trabalhando. Eu disse a tia Esther que a gente poderia morar aqui para sempre papai. Eu, você, a tia Esther e o tio Albert. Eu gosto daqui.

— Morar Richard? – O moreno perguntou com a voz falha engasgando com o próprio ar.

A reação da loira não fora diferente, Paola ouviu tudo em silencio, mas com um quase ataque epilético só de pensar que o filho gostaria de ficar longe dela. Só de pensar que ele não sentiria sua falta, aquilo a magoava.

Ela manteve o auto controle para não se revelar no telefone.

— É pai, morar. Eu poderia brincar aqui com os meninos e estudar em casa. E aos finais de semana a gente fica junto. Porque no meio da semana a tia Esther já fica comigo cuidando e tem a minha babá e o Tio Albert me ensina as coisas da fazenda.

Um calafrio subiu da ponta do pé até a cabeça pelo corpo da Paola. Ela estava gelando com tontura, por pouco não desmaiando. Magoada em saber que a pessoa mais importante do mundo queria se afastar, ao mesmo tempo sua raiva por si mesma era enorme. Era somente sua culpa.

— Mas filho, o papai tem que cuidar da empresa aqui. – Richard com sua enorme compreensão explicou.

— Então vem aos finais de semana como fez agora, mas papai eu gostei de ficar aqui. Aí não tem ninguém para brincar e você só me leva ao parque ou cinema no fim de semana e aqui tem diversão toda hora, e a tia Esther faz sempre doces e bolos e eu ajudo com o leite da vaquinha e ela na cozinha.

Paola abafou o telefone com a mão xingando a sogra. Parecia que a tia estupida sempre se metia em seu caminho. Fazia de tudo para que o marido voltasse a sanidade, divorciasse dela e voltasse com a Eve. Para completar o circo de estupidez, sempre fazia a cabeça do seu filho contra.

— Você está gostando muito daí não é, filhote?

— Muito. É tudo tão legal e a tia Eve é boazinha. Quando fui lá ela disse que ia me dar um presente antes que eu fosse embora para não esquecer deles.

O moreno engoliu em seco. Era preocupante em saber que seu filho se dava bem com a sua ex namorada. Mal sabia ele que a sua esposa ouvia tudo aquilo quase pilhada de ódio.

Paola tinha que o quanto antes estragar os planos do próprio filho. Ela pouco ouviu sobre o nome da ex-namorada do seu marido, mas sabia bem que aquela aproximação com o Rick era obra dos tios do Richard. Ele mesmo havia lhe confessado que eles nunca se conformaram que os dois nunca casaram.

E o medo que o próprio marido caísse nas garças da ex após tanto tempo afastados ainda estava vivo. Podia não demonstrar isso, mas era uma pessoa exageradamente ciumenta. A ponto de ser obsessiva. Richard que nem se atrevesse a trai-la ou troca-la.

— Pai... Agora vou desligar. Tenho que dormir para levantar cedo que o tio Albert vai me levar do outro lado da cidade para trazer uma cabra e eu disse que quero ir junto para ver. – Ele acenou para tia que já estava preparado para ir para cama. – Ele disse que eu poderia até trazer um carneirinho.

— Tudo bem filho. Durma bem. Já estou com saudades. Boa noite pequeno. – Ele desligou o telefone.

— Richard! Filho. – Paola chamou pelo telefone, mas Rick já tinha desligado. – Eu disse aquilo porque eu estava com raiva, não quer dizer que eu não te ame. – Declarou na esperança que ele a escutasse.

Porem Rick desligou sem nem ao menos ouvir que era amado.

— Porque não disse que estava aí antes? – Richard perguntou a esposa.

— Eu estava ouvindo vocês, estava esperando terminarem, não queria atrapalhar os dois. Ele estava tão lindo conversando. Esqueça tudo Richard.

O moreno desligou o telefone e desceu até o escritório falar com ela pessoalmente e a encontrou encostada contra a mesa com o olhar visivelmente distante. Estava bonita absorta em seus próprios pensamentos. O moreno nunca a vira daquele jeito. Parecia tão frágil e confusa. Ali ele pôde sentir que ela estava arrependida de todo coração.

— Poderia ter se manifestado antes. Ele precisa sentir sua participação na vida dele. – Falou chamando atenção da loira que até então não notara sua presença.

— Eu ia atrapalhar. – Ela andou elegantemente até ele com a camisola de seda branca. – Vocês parecem que se divertiram esse fim de semana.

— Sim... bastante. – Seus olhos vaguearam para o para o vão do par de seios volumosos. Um comichão passou por dentro da calça do moreno.

— E aqui não se divertem tanto. –  Era uma afirmação e não uma pergunta. O tom de voz era melancólico.

— Nos divertimos sim, mas lá o Rick fica solto, tem meninos da idade dele. Ele pode brincar ao ar livre. Melhor do que ficar em frente a tv. Gosto de que tenha uma infância normal e saudável.

Ele sentou no sofá perto da estante de livros e a puxou para sentar no colo dele.

 - Ele não quer mais ficar aqui comigo. – Ela abaixou os olhos avelã tristes olhando para os olhos azuis dele. – Quer ficar lá.

— Quer. Mas eu entendo, quando tinha idade dele e ia para fazenda também não queria mais ir embora.

— Ele está feliz lá. – A loira insistiu olhando a janela onde caia a chuva. – Não quero que pense que estou sendo egoísta. Gosto de ver meu filho feliz, mas ele parece muito mais feliz lá do que se estivesse aqui do meu lado.

— Ele é feliz aqui, mas qual criança não gosta de brincar? E as férias justamente é para ser assim. Um período de felicidade.

— Mas ele não quer voltar de lá Richard. – Suas mãos apertaram o ombro do marido. – Ele quer ficar lá pra sempre, com você e seus tios. E quando voltar só vai pensar em ir pra lá.

— Normal. – Ele deu de ombros – Ele só está eufórico.

— Não, não é... Richard ele está feliz na fazenda e lá ele tem pessoas para brincar. Você sabe que não tenho paciência para brincar. Eu só quero que ele continue feliz e que passe os fins de semana aqui pelo menos, porque senão eu vou morrer de saudades.

Ele apertou a cintura fina da mulher que deitou a cabeça em seu ombro.

— Eu acho que não entendi direito. Você concorda que ele vá morar lá e venha passar os fins de semana aqui?

Ela gemeu diante de possibilidade de ficarem longe. De saber que Esther envenenaria seu bebe contra ela. Mas o que ela queria é fazer o seu precioso bem feliz custe o que custasse.

— Quais são as chances de ele ficar tão feliz assim aqui? Nenhuma. E a culpa é minha.

Olhou para o teto respirando fundo e soltando o ar de uma vez. Seu coração estava tão angustiado.

— Muitas chances. Mas a mãe dele se nega a ficar com ele e dar atenção. – Ele subiu as mãos da cintura dela um pouco mais ficando louco de tesão com ela naquela camisola.

Estavam semanas distantes, qualquer toque o levava a loucura.

— Eu não sei brincar.

— Mas descontar a raiva aprende em questões de segundos. – Paola olhou para ele magoada diante da confissão que o marido não soube guardar para si.

— Me ensina a me controlar então.

— Isso não é algo que eu tenha que te ensinar. Se você não pensa nem no bem-estar do Rick, não sou eu que tenho que pensar por você.

A loira notou que seu marido estava realmente de fato mais duro com ela.

— Eu estou pensando, eu quero ele feliz, Richard.

— Eu também quero, mas nunca abriria mão dele. E jamais levantaria a mão para ele, não daquela forma.

— Eu não estou abrindo, só que eu não sei brincar e lá ele tem brincadeiras todos os dias, animais que ele tanto gosta. Aqui comigo ele sofreria muito – Ela se ajeitou mais no colo dele abraçando pelo pescoço. – Isso não é abrir mão é querer dar o melhor.

O silencio reinou por longos minutos. Era desconfortável que estivessem discutindo aquele tipo de assunto. Paola se tornou distante, seu filho não queria a sua mãe e estava a quilômetros de distancia de casa. Um temor subiu pelo corpo do Richard, e seus pensamentos voaram para um futuro que talvez não tivesse os três juntos. As coisas fugiam de seu controle.

— Eu o amo, quero que ele se divirta e eu nunca o vi tão feliz aqui.

Richard sorriu segurando a mão dela beijando delicadamente sentindo a maciez que era e com este toque tão familiar com a saudade batendo em como era bom sentir os toques em seu corpo fazendo caricias. Semanas que estavam longe um do outro sem uma única noite de amor.

— Então diga isso a ele quando voltar. – Foi a única coisa que conseguira responder, até porque se insistisse mais estava arriscado a afasta-la.

— E quando ele voltará? Ele não quer nem falar comigo, amor.

— Ele está triste, ainda acha que você não o ama, suas palavras foram duras. Ele está com medo porque doeu de verdade nele.

— É... foram duras sim. Foi na hora da raiva e eu consegui fazer ele não me querer na vida dele.

Richard pensou ter visto uma lagrima, mas ao puxar o rosto dela para si pelo queixo viu que estava limpo. Paola era sempre tão fria as vezes. No lugar dela ele estaria com o coração sangrando, pensou.

— Assim como pensa que você não o quer na sua vida. -  A encarava estático – Paola, ele é só uma criança.

— Eu não sei agir como mãe. Eu sou péssima, Richard. Não tenho talento. Acho que a maternidade não foi feita para mim. – Focou em um ponto qualquer do chão do escritório com vergonha de sua própria atitude.

— Porque nunca fica com ele? Isso é tão simples, querida. Sua saída ao shopping é mais importante?

Ela suspirou levantando do colo do marido andando pelo escritório se abraçando dando as costas ao marido como se algo a afligisse. E estava de fato. O medo.

— Não, mas me mantem longe. – Confessou.

— Porquê? Porque isso, Paola? – Ele levantou também, e suavemente com as mãos segurou seus braços com ela de costas. – Porque eu e o Rick temos que pagar por algo do seu passado?

Aquilo pegou a loira de surpresa, mas não deixou isso transparecer por seus olhos. Era muito boa em esconder sentimentos e até segredos nos momentos certos.

— Para que eu não erre mais e para vocês não irem embora.

—  E você não acha que errou agora?

Era tão confuso para o moreno entender as coisas que sua esposa falava. Eram coisas sem nexo. Por qual real motivo ela deveria se fechar?

— É claro que eu errei. – Ela elevou a voz enquanto ele mantinha a calma.

— Você fazendo isso erra mais que se estivesse presente com ele e comigo. Você está o afastando de você.

Paola se virou encarando olhos azuis e penetrantes. Ele parecia que a avaliava cada parte do seu corpo buscando ler respostas em cada movimento.

— Eu tenho tanto medo. – Ela sussurrou com a rosto transfigurado de dor.

— Se tem devia parar com essa atitude e ficar com ele, cuidar dele. Você só diz que tem medo, mas não faz nada para mudar isso.

— Se eu me aproximar vocês vão embora. Eu sei que vai ser assim.

Depois de anos de casamento ela já deveria ter deixado o passado no passado. Que seja lá o que tinha acontecido com ela não tinha mais importância. E que ele estaria com ela em todos os momentos, bons e ruins e jamais a abandonaria.

— Não devia pensar assim, só porque aconteceu isso com você uma ou duas vezes significa que será toda vez! Você está se prendendo demais ao passado para alguém que diz que quer esquecer. Eu e o Rick somos seu presente e futuro.

— E quantas vezes eu tenho que me machucar para perceber que será sempre assim? Cinco? Seis? Não Richard, eu não quero arriscar. – disse trincando os dentes.

— Eu prometi que cuidaria de você, que nunca a machucaria. Fiz essa promessa diante de várias pessoas em nosso casamento e diante de Deus. – Agachou de frente para ela segurando novamente suas mãos entre as delas. – Amor eu te amo.

Paola sentiu borboletas na barriga. Seu marido era perfeito, carinhoso e merecia a melhor esposa do mundo, que não era ela. Era romântico e atencioso.

Fechou os olhos para não ter que o encarar. Sentia vergonha de saber que o traia quando ele se mostrava um verdadeiro rei.

— Eu não estou colocando em prova seu amor Richard, mas é minha última chance. Três já é demais. Eu vim para cá decidida a seguir minha vida sozinha, mas você apareceu. Não estava em meus planos. – Ela suspirou, pois prometeu a si mesmo que jamais se apaixonaria novamente, e agora amava loucamente o homem mais lindo do mundo. – Não quero ficar olhando para o nada uma quarta vez.

O moreno abaixou a cabeça decepcionado. Nada do que fazia ou dizia surtia efeito.

Paola levantou o queixo dele lhe dando um selinho. Richard aproveitou a deixa lhe dando um beijo de verdade levantando do chão erguendo a loira pela cintura. Ele a girou no colo arrancando um sorriso da mulher a sua frente.

Subiu para o quarto deles depositando sua mulher na cama com cuidado e cariciou o rosto dela, olhando fundo em seus olhos tirando uma mexa do cabelo.

— Não quero arriscar você e o Rick, não aguentaria deixar isso aqui para trás. – Ela acariciou o rosto masculino admirando ele inteiro.

— Não precisa. Não deve. – Voltou a beija-la ficando por cima, mas ela o empurrou quebrando o beijo.

— Se eu me aproximar isso vai acontecer. Eu sinto. E eu não quero que isso aconteça. – Seus dedos passearam pelo pescoço.

— Amor, isso não vai. – Suas mãos apertaram a cintura dela puxando para si. Os olhos vaguearam para o corpo magro e delicado em baixo dele, e foi preciso muito autocontrole para não rasgar aquela camisola que definiam sua silhueta.

— Eu posso tentar Richard, mas se eu sentir que estão se afastando eu vou me fechar de novo. Você sabe disso, não sabe?

— Confia em mim, não vai. – Ele inclinou beijando seu pescoço tentando fazê-la se calar e ter a certeza que enquanto ainda estivesse em seus braços tudo estaria bem.

Ela fechou os olhos delirando com os beijos. Estava totalmente vulnerável. Um simples toque dele fazia seu corpo estremecer e incendiar. Ele tinha um enorme poder sobre ela tanto do seu corpo como do seu coração.

— Eu vou tentar. – A voz saiu rouca e falha.

Ele se afastou por um instante tentando se controlar o máximo. Acariciou seu belo rosto feminino.

Como teve a sorte de casar com uma mulher linda? Ele jamais saberia. Aqueles olhos avelãs o hipnotizava, o corpo maravilhoso e o jeito sexy que era seu natural o fazia subir pelas paredes. Ela não forçava nada, tudo era exatamente natural. Como sua forma de andar, falar e até seus gestos era pura luxuria.

Por ele faziam amor todo dos dias, 365 dias do ano. De manhã de tarde a noite até não terem mais forças para nada.

Eles se combinavam tão bem juntos, seus corpos se encaixavam perfeitamente. Richard podia ver que sua esposa não fingia quando estavam no seu momento de prazer. Mas com ela tudo era tão complicado.

— Promete nunca mais bater nele? – Ele olhava desde seus olhos avelã até os lábios carnudos e vermelhos que mesmo sem batom já tinha o efeito da vermelhidão da maquiagem.

— Prometo. – Sorriu triste.

— Nem dizer aquelas coisas? Coisas que vá deixa-lo triste ou que faça acreditar que você não o ama?

—  Não, eu não vou, Richard. Eu me arrependi de verdade.

Ele jogou o corpo para o lado sentando na cama vendo ela se ajeitar e fazer o mesmo. Eles se olharam e Richard sorriu.

— Me alegra em ouvir dizer isso. – Suas mãos acariciaram os braços dela.

— Ele é o meu maior presente que você já me deu. Na verdade, o maior que já recebi em toda minha vida. Nada, mas nada mesmo já se comparou pelo que sinto por Rick.

Paola apoiou a mão no peito musculoso e cabeludo. Mesmo que falar sobre sentimentos fosse difícil, falar sobre o filho ainda era mais simples por se tratar de uma criança. Mas era quase impossível demonstrar aqueles sentimentos.

— Essa fala é minha. – Sorriu torto para ela.

— Me empresta essa fala então? Obrigada. – Ela lhe deu um selinho quando ele confirmou.

— Eu te amo. – Declarou em seguida lhe dando beijos apaixonados e a torturando com beijos em seu colo e barriga fazendo a gemer e delirar com o mais leve toque.

Mãos femininas e delicadas puxaram as mãos masculinas para tocar em seus seios e virilha. Queria sentir mais do homem a sua frente, sem barreiras que pudesse impedir de se amarem mais um pouco naquela noite.

— Calma, eu ainda estou degustando. – Ele riu pela pressa dela.

— Fala como se nunca tivesse provado. – Respondeu com desejo na voz.

Não sabia como conseguia se controlar tendo ele como marido dormindo ao seu lado na cama, pois era irresistível. A voz grave e forte, sorriso sexy, mãos fortes e um peito viril. E o pacote principal dentro da calça que a levava a loucura.

— Hoje eu não provei. – Um sorriso maroto surgiu na face dele

— E eu mudo de gosto por acaso? – Uma sobrancelha levantou questionadora.

— A verdade é que nunca fico saciável tendo você como minha esposa. – Ele a puxou mais para perto de si fazendo-a sentir a rigidez no meio de suas pernas deixando as mãos grandes em seu bumbum.

Aquele gesto totalmente espontâneo fizera a loira soltar um gemido involuntário.

— Deixo você tão sozinho, não é? – Ela acariciou o peito forte dele ao mesmo tempo mordia o lábio segurando um forte desejo. – Desculpa.

— Sei respeitar seus momentos. – Respondeu inflando mais ainda o peito.

— E os seus, meu amor? Onde eles ficam? – Ela dedilhou os lábios dele admirando cada detalhe do seu rosto que nunca fazia quando estavam juntos. – Às vezes você pode insistir.

— Não quero algo forçado. É muito bom ter você espontaneamente nos meus braços.

Paola aproximou-se mais seus rostos. Estavam tão próximos que um podia sentir a respiração do outro - E agora o que você quer? – Ela falou com os lábios quase colados aos dele, com a voz rouca e sensual.

— Quero que fique comigo porque me ama. Mesmo que não queira fazer amor agora. Mas quero te sentir perto, sentir que está totalmente nisso.

Eles trocaram olhares envolvendo um no braço do outro.

— Sinto saudades desses momentos. – Richard confessou.

— Saudade de mim? – Perguntou perto do ouvido dele mordendo a orelha.

Aquele gesto arrepiou o corpo do moreno.

— Sempre. Você está distante há alguns anos.

— Você sente mesmo minha falta?

— Todos os dias. – Ele deliciou-se com as caricias dela. – Hoje vai querer passar a noite comigo?

Ela só confirmou com a cabeça sem forças para pronunciar em voz alta.

— E amanhã? – Essa era a maior dúvida que o perturbava. Sempre o hoje estava tudo bem, mas o amanhã era outra mulher.

— Talvez.

A carranca que ele fez fizera Paola notar a área de perigo que estava pisando. Poucas coisas tiravam seu marido do eixo e ultimamente ela estava brincando com uma linha muito tênue e delicada que se chamava paciência.

— Estou brincando. – Ela puxou a mão dele para si. – Eu quero ficar com você todos os dias, só que acho que vai enjoar de mim, e um dia vou acordar e não encontrarei vocês em casa mais.

Tentar voltar atrás com as palavras parecia não ser suficiente. Ela já havia respondido o que ele não queria ouvir.

— Eu sinto que não é só isso. Há algo em você diferente. Eu não sinto como se fosse minha... Só minha!

Ela sentou-se abruptamente. Um choque subiu pelo corpo com medo. Richard desconfiava que ela tinha mais alguém e isso não era nada bom. Deixar ele descobrir Lorenzo seria um total desastre e aí sim ela nunca mais veria seu filho e marido.

— Você acha isso? – Esforçou-se para controlar a voz e não abaixar o olhar deixando qualquer dúvida ali.

— É o que eu sinto, o que você me passa, tudo mudou entre a gente. – A voz subiu um pouco.

— Realmente tudo mudou... – Ela sentou de frente para ele em seu colo com cada perna passando por seu corpo apoiando as mãos nos ombros largos. – Tem uma coisa dentro de mim que mudou, mas eu tenho medo dela. É ela que faz que eu me afaste. Mas eu sou a sua esposa e você é meu marido, não um dos meus maridos.

— Eu sou único para você? Nunca saiu com ninguém ou pensou nisso?

Porque aquilo o incomodava tanto a ponto de se sentir inseguro? Ele sabia que era sua esposa, mas ela era linda e não podia negar que chamava atenção com os outros homens e até mesmo com as mulheres. Paola gostava de se sentir sexy e chamar atenção de todos.

Algo dentro de si lhe incomodava. Mas poderia ser só uma desconfiança imatura. Mas as palavras da tia ainda lhe martelavam a cabeça.

A íris azul estava fixa na íris avelã, buscando qualquer vacilo, qualquer vestígio de mentira.

— A única coisa que eu penso é em me afastar, para não me machucar e nem machucar vocês.

— A pergunta não foi essa. – Rebateu inalterável.

Paola desceu os olhos para a mão do marido e estavam fechadas em punho. E ele apertava com tanta força que quase não tinha cor nela.

— Você está inseguro? – Ela levantou o queixo voltando a olhar ele.

— Você me deixa sozinho para fazer compras, se afasta de mim, dorme em hotéis e nunca atende o celular quando preciso. Você tem outra pessoa? – O coração do moreno batia descompassadamente com medo da resposta. Mas não batia tanto quanto da sua mulher em sua frente.

Paola agradeceu por ele não ter uma super audição.

— Outra pessoa com quem eu queira estar a noite, e passar o dia e outra pessoa que eu queira que esteja na minha cama de noite para abraça-lo? Sim, mas também me afasto dele, com medo de errar e agora ele está na Alemanha bem longe porque eu consegui cometer o maior erro da minha vida. – Abraçando o Richard e colocando o queixo na cabeça dele, ela afagou suas costas largas. – Não tem outro para o jeito que você pensou.

Eles ficaram assim por cinco minutos até Richard sorrir escondido as suas costas.

 - Eu fico aliviado e feliz de ouvir isso, que meu único competidor é meu filho, mas ainda assim não preciso competir com ele porque eu o amo tanto quanto te amo.

— E mesmo se existisse, ninguém chegaria aos seus pés, foi para você que eu disse sim.

Como conseguia ser tão cínica? Nem ela mesmo sabia. Os anos estavam piorando. Paola parecia mais fria com o tempo. Estava profissional em ignorar os sentimentos, mentiras e adultérios.

A cada dia que ela se afastava, é como se ela desse a lugar as trevas no seu coração.

Não só tinha Lorenzo como amante principal como também já dormira com outros homens que chamara sua atenção como seu personal trainer. Richard não merecia, mas era mais forte do que ela controlar a impulsividade em se manter fechada.

No momento a única saída era passar uma noite quente de sexo com o marido para manter a fachada de boa esposa e fiel.

AEROPORTO – LONDRES

O aeroporto de Heathrow estava cheio. Famílias, jovens, crianças, todo tipo de pessoas embarcava e desembarcava para uma viagem ou chegando em casa. Histórias que se faziam naquele lugar, assim como alguns anos atrás para Richard e Paola.

Rick apareceu no meio da multidão de mãos dada com a tia. Paola sorriu discretamente logo atrás do marido segurando em seu braço por ver seu pequeno se aproximar cada vez mais.

A loira estava vestindo um vestido longo de estampa florida, sandálias de salto agulha e óculos de sol acima da cabeça dando um todo charme ao look. Já o moreno com uma camiseta polo vermelha, jeans escuro e mocassim de couro vermelho.

Richard passou o braço em volta da esposa puxando para mais perto deles, andando pelo corredor, em direção oposta de quem desembarcava.

O casal caminhou pelo mesmo corredor do qual se conheceram, e agora faziam o mesmo trajeto inverso para ir acolher seu filho e dar boas-vindas. Paola pensou como o destino amava pregar peças. Ela deu uma boa olhada naquele aeroporto, e o mesmo sentimento que brotou quando pisou em Londres não se comparava ao mesmo sentimento que aquele lugar um dia lhe proporcionariam como naquele momento ao buscar seu filho. Agora o lugar todo tinha um quê especial.

Ao avistar o pai, Rick soltou-se de sua tia e correu para os braços do moreno que o recebeu de braços abertos agachado.

— Saudade do meu filhote. – Ele o abraçou apertado lhe dando um beijo.

Paola assistia a cena sorrindo parada atrás do marido olhando o filho esperando eles se abraçarem e chegar sua vez. Ele parecia mais crescido que da última vez que se viram. Apenas um mês se passou, e parecia que muita coisa aconteceu na sua ausência.

— Eu também estava com saudade, papai. Mas vou ser sincero, não queria voltar. Tava bom demais.

O mais velho riu da forma que o filho se expressou.  Rick arregalava os olhos igualmente a mãe.

— Eu sei que estava ótimo, mas sabe como que fica melhor? Ficar pouco tempo, parece que fica mais gostoso, porque quando você volta, volta mais animado. – Sorriu bagunçando os cabelos da sua mini cópia.

— Hallo! – Esther saudou aproximando junto com a babá que ficaram para trás quando Rick correu na frente.

— Em inglês tia. – Richard sorriu para ela ainda com o filho abraçado a ele. – Olá – Ele cumprimentou a babá.

— Pai eu trouxe suas coisas, não tem problema, né? – Confessou mostrando a mochila com coisas antigas, que pertenceram a infância de Richard. Eram coisas tão velhas, mas que deveriam ser interessantes para uma criança que não viveu nos anos 80.

— Claro que não.

Com cautela e desconfiança, Paola agachou próximo ao seu pequeno, sorrindo timidamente.

— Oi, filho.

Rick olhou bem para a mãe e depois para o pai. Esther transfigurou o rosto em uma careta em direção a nora/sobrinha. A opinião da Esther pouco lhe importava, mas do seu príncipe sim e muito. E ela estava morrendo de medo dele a rejeitar. Claro que tinha todo direito de não querer mais olhar em sua cara, mas era seu filho e isso doía mais do que tudo na vida.

— Filho, a mamãe estava com saudades de você. – Paola olhou para ele, aproximando a mão lhe fazendo um afago.

— Eu não tava, nenhum pouco. – Desviou-se dela.

Esther riu pelo nariz, mas apertou os lábios em uma cara debochada quando o Richard olhou e com uma cara de paisagem ela virou o rosto para o outro lado do aeroporto. A cara estava de puro deboche.

— Eu sei que eu fiz uma coisa que você não gostou. Mas deixa a mamãe te explicar. Ela disse foi na raiva. Aquelas coisas não deveriam ter sido ditas. – Aproximou-se bem de perto para que só o menino pudesse ouvir o seu sussurro. – Eu te amo, hijo.

A loira tremia dos pés a cabeça, seu maior medo era que seu filho não a amasse e rejeitasse sob aquela declaração. Seu medo era tanto que ela mesma queria sair correndo de lá antes que o filho fizesse.

Mas a reação dele foi apenas olhar para aquela que o gerou. O rosto estava imparcial, Paola não sabia o que estava passando na cabecinha dele.

— O que você tá falando, não é verdade. – Disse com voz chorosa querendo acreditar na mãe, mas estava magoado.

— É verdade sim. Eu só não sei demostrar isso porque eu tenho medo de te perder de que você veja o que eu sou e vá embora. E eu não quero que você vá embora!

— Você não liga para mim e disse que não me queria.

O corpo da loira tremia, e a sensação de gelo descer para boca do seu estomago invadia. Mas com a boa máscara que ela sempre vestia, conseguiu disfarçar as sensações e a aparência.

— Eu estava com medo quando descobri que estava gravida, morrendo de medo. Mas quando você já tava maiorzinho na minha barriga eu já sabia que eu te amava e muito. Adorava sentir você se mexer aqui dentro. – Ela segurou o seu filho pelos ombros, apertando levemente para passar a confiança que nem ela mesmo já sentia. – Desculpa o que disse aquele dia. Não é verdade.

— Eu não acredito em você e nunca vou acreditar. Preferia nunca ter voltado. – Ele cruzou os braços emburrado, com um bico idêntico da mãe.

Richard que já havia levantado, abaixou para ficar do mesmo nível do filho, trazendo ele para perto olhando nos olhos de sua mini cópia.

— Richard, não fala assim. Você magoa a sua mãe e ela tá tentando conversar. Te pediu desculpa.

— Eu te amo. – Confessou mais uma vez o soltando e levantou andando em direção ao banheiro mais próximo fazendo um enorme esforço para não chorar. O medo lhe consumindo por dentro. Parecia que tudo estava acontecendo novamente quando deixou os Estados Unidos por uma dolorosa paixão.

Dessa vez a sua paixão era o amor mais puro e genuíno que já teve na vida. Seu filho.

— Ela vai fazer tudo de novo, papai. Um dia ela fica legal e depois não. – Rick bateu o pé explicando.

— Mas não pode falar assim, do mesmo jeito que ela não pode falar assim com você. – Richard olhava sério e falava firme segurando os dois braços do menino para que ele não desviasse de direção.

— Ela não gosta de mim.

— Ela te ama. Você a ouviu.

— Se ela ama porque só está falando agora? Ela nunca tem tempo pra mim. – Respondeu ainda emburrado sem olhar na cara do pai.

— Sua mãe não é de falar os sentimentos para ninguém, mas não quer dizer que ela não sinta.

Esther que não perderia a oportunidade de falar umas boas verdades ao sobrinho, destilou veneno:

— Quando eram namorados fazia questão de gritar aos quatro ventos que te amava, sim, ama seu dinheiro. Sabia falar dos sentimentos quando era conveniente, depois que casou com você ela desaprendeu muitas coisas. – Esther resmungou, mas logo ficou calada depois do olhar irado do sobrinho mais velho.

— Mas ela só briga, quando a gente ama a gente não briga. - Rick sentou no banco mais próximo puxando a mão da babá que ouvia tudo atentamente.

— Às vezes eu brigo com sua mãe, mas não quer dizer que não a ame.

— Se ela me ama de verdade vai brincar comigo todo dia? Vai me abraçar e beijar? Aposto que não. – Com o bico ainda emburrado, cruzou os braços carrancudo.

Richard se esforçou ao máximo para não rir e dizer o quanto ele era parecido com a mãe. Na atual conjuntura que estava o humor do pequeno uma comparação feita daquela maneira provavelmente pioraria a situação.

— Eu tenho uma ideia melhor. Porque não perguntamos para ela? Para você ouvir da boca dela. A mamãe errou filho, mas o papai também erra as vezes. Não somos perfeitos.

— Mas você não grita comigo, me leva pra passear e cuida de mim.

— O papai sabe, mas isso foi outro erro de sua mãe, vem, vamos chamar ela, e conversar filhão.

O menino agarrou ainda mais na babá encostando o rosto em seu peito e abraçando, deixando claro a sua oposição, mas sabia que cedo ou tarde teria que obedecer.

— Richard filho, eu já vou – Esther arrumou a bolsa no ombro. – Vim somente para trazer nosso homenzinho.

— Tudo bem tia, até breve. Obrigado de todo coração por ter cuidado do meu filho. Fico imensamente grato por tudo.

— A tia vai sentir tanta saudade. – Abaixou para abraça-lo apertado.

— Eu também – Rick a abraçou em volta da cintura – Tia, vem me visitar sempre por favor e o tio Albert.

— Claro que vamos e no seu aniversário também. – Ela lhe de um beijo carinhoso – Te amo!

Ela levantou, arrumando a postura.

— Tchau querido – Deu um abraço no Richard – Deus tenha piedade de você e abra o olho.

— Tia por favor, não fala assim. – Ele elevou a mão as têmporas.

As coisas ficavam ainda mais estressante quando recebia bombardeio de ambos os lados.

— Ai, por favor, Richard. Só você não vê a cobra com quem dorme do lado, ou finge não ver, mas em fim.... Amo você também. Vou sentir saudade desse menino. – Ela passou a mão na cabeça dele olhando a babá. – Até mais.

— Até mais senhora Listing.

Rick e Richard se despediram da tia acenando a mão até ver ela sumir. Rick deu um passo a frente e virou para o pai levantando a cabeça.

— Nós vamos falar com a mamãe? – Perguntou com certo receio.

— Vamos garotão.

De mãos dadas eles atravessaram o aeroporto até o balcão de check-in. Com uma ordem, Richard avisou a babá que lhe esperassem no carro junto do motorista.

— Para onde a mamãe foi?

— Eu não sei filho. Então vamos chama-la pelo microfone, tudo bem? Vamos dar um jeito de encontrá-la.

Ambos se dirigiram ao balcão de informação e conversaram com um rapaz dali e explicaram a situação e que precisariam do microfone. O funcionário ficou receoso de início, mas ao ver a criança ali com o pai, ele deu passagem para que prosseguissem com a ideia.

Pessoas passavam olhando curiosas com a situação, mas continuam a andar em frente como bom ingleses discretos e educados que eram.

Rick posicionou-se tomando o microfone nas mãos:

Mamãe, onde você tá?

Não esqueça de informar o nome. – O funcionário falou.

Mas eu já te falei o meu nome, moço. É Richard. – Rick respondeu com toda inocência perto do microfone.

Richard gargalhou.

— Não filho. O nome da sua mãe.

— O nome da minha mãe é Paola. Mas você sabe pai, para que tá perguntando? – O pequeno o fitou confuso.

— Você precisa dizer o nome da sua mãe para ela saber que é você, filho. Fala assim: “Paola Listing, eu Richard Listing II estou te esperando no balcão de informações”.

Rick repetira exatamente as mesmas palavras e olhou em volta na esperança de ver a cabeleira de loiro escuro com franja e batom vermelho vindo na direção dele. O coração dele disparava enquanto os olhos varriam o aeroporto ansioso.

— Quer falar mais alguma coisa pra sua mãe pra todo mundo ouvir? – Richard colocou as mãos no bolso enquanto o incentivava.

Mamãe, se você tiver ouvindo quero que saiba que eu te amo também.

Paola parou de frente para saída onde se dirigia quando saiu do banheiro em choque ao ouvir seu filho. Seus olhos estavam enormes pela surpresa de ouvir que Rick a chamava para ir de encontro a ele e mais ainda, porque a amava mesmo depois da sua monstruosidade.

Não demora mamãe. – E devolvendo o microfone, Rick saiu pulando para um banco mais próximo para esperar. Ele abriu sua mochila e tirou um boneco do Superman brincando distraído.

Paola desviava das pessoas correndo pelos corredores ansiosa para chegar logo até onde os meninos da sua vida estavam.

Ela correu em direção ao balcão de informações e assim que o funcionário apontou para o lado a cabeça dela girou na direção informada e ela sorriu feliz e aliviada. Richard levantou balançando o ombro do filho.

Rick levantou o queixo e com um sorriso inocente ele correu para os braços da mãe que o aguardou de braços abertos abaixando para o recebe-lo.

Ela o apertou forte sentindo o cheirinho do filho fechando os olhos, e por pouco não chorou ali. Precisou de muito autocontrole.

 - Desculpa, mamãe.

— Você que tem que me desculpar, corazón – Ela afalava afagando os cabelos da nunca dele ainda abraçados.

— O que você disse é verdade? – Ele fechou os olhos inalando o perfume da mãe que sempre era puro requinte.

— Sim meu amor, é verdade.

— Então eu desculpo.

Ela o beijou deixando a sua famosa marca de batom como um carimbo. Por breves momentos ela se acalmou com o cheiro do filho. Ele era o único que lhe dava forças, mas também era sua maior fraqueza, pois o amor era imensurável e era também o seu mundo.

— Vamos para a casa, amor. – Decidiu após um tempo colados juntinhos.

— Vai ficar comigo hoje, mamãe? – Rick afastou-se um pouco dela, mas gostando de ter os braços em volto dele com o perfume dela impregnado na sua roupa agora.

Esses momentos eram tão escassos na vida do pequeno, que Paola conseguia ser uma completa estranha para ele. Uma estranha conhecida, que ele achava linda, e tinha ótimos afagos. Porem parecia alguém distante da família. Talvez uma tia, menos uma mãe. O vínculo deles era tão fraco que Paola jamais sentiu o famoso sexto sentido que todos dizem que uma mãe tem com sua prole e saber se algo está errado. Esse vínculo fora atribuído ao marido que estava em constante companhia do menino.

— Vou sim, filho. Vou passar esse fim de semana com vocês. – Suas mãos passearam por seu rostinho lhe dando um sorriso de boca fechada.

— Só o fim de semana? – Soltou um muxoxo.

— Vou ficar todas as tardes com você, e fazer esforço para não sair para comprar.

— Promete?

— Prometo.

Com um enorme esforço ela o pegou no colo, pois fazia muito tempo que não o fazia. Richard assistia aquela cena com um enorme orgulho. Por algum momento uma faísca de esperança nasceu no coração dele. Provavelmente após o corrido Paola teria visto a grande besteira que fizera e esforçaria mais para estar presente na vida dos dois.

Mirando a cena tão rara e ao mesmo tempo tão terna, Richard estava parado fitando as duas pessoas mais importante da sua vida. Era magico ver a interação de mãe e filho, pois isso nunca acontecia.

— Tá pesadinho garotão. – Paola falou divertida dando um cheiro no cangote do filho.

— Você que já está fraca, mamãe.

— Nem vem mocinho, o senhor não tem mais dois aninhos não. Nessa idade podia te levar para cima e para baixo no colo com um braço.

— Um dia eu que vou te carregar no colo. – Ele a abraçou dando um beijo em sua bochecha.

— Quero só ver. – Correspondeu dando um beijo apertado nele.

— Você vai ver, vou ficar maior que o papai e mais forte. Vou malhar todo dia.

E falando isso mostrou seus bracinhos incrivelmente magrinhos.

— Quero só ver o homão que vai ser. – Respondeu e voltou a olhar o marido indicando que já estava pronta para ir para casa.

— Papai já falou isso para ele, né garotão?

Rick sorriu ainda mais mostrando a janelinha que agora tinha ali. Aquela foi uma pequena surpresa para a sua mãe que segurou o seu queixo.

— Seu dente caiu, meu amor. Como foi isso?

— Eu caí. – Respondeu direto.

— E porque você caiu? – Uma sobrancelha ergueu desconfiada.

— É que a gente tava perseguindo um porquinho. – Rick justificou se defendendo. Ele olhou pra baixo com a carinha sapeca mexendo no colar dela que de uma forma pareceu interessante naquele momento.

— E aposto que você estava igual a este porquinho. – Seus dedos brincaram na barriga dele fazendo uma leve cocegas.

Richard gargalhou concordando pois se recordava bem da cena.

— Pior que ele estava mesmo.

— Foi só um pouquinho de lama – As bochechas do Rick ficaram vermelhas. Ele nunca conseguia falar algo legal com a mãe. Na verdade, nunca existiu diálogo entre os dois e Rick queria que fosse algo que desse orgulho a ela e não algo que envergonhasse. Era sua mãe, mas ainda era vergonhoso.

— Só lama já é o suficiente para estar que nem um porquinho, tenho dó de quem te deu banho. – Ela riu e Rick ficou ainda mais envergonhado.

— Foi o papai. – Ele escondeu o rosto com as duas mãos.

— Tenho dó do seu pai então. – Sorriu achando meigo o jeito dele.

— Nós tomamos juntos, querida. Pois ele também me sujou. – Richard disse divertido.

Caminharam pelo corredor do aeroporto. Paola colocou Rick no chão e caminharam na frente de mãos dadas, Richard vinha logo atrás carregando a mala do filho e ajudando a babá também com suas coisas. Paola parou um pouco para esperar que o moreno os alcançasse.

—E vocês dois se divertiram? – Ela notou que ambos sorriam.

— Demais. – Um falante Rick respondeu. – Eu quero passar as férias sempre lá.

— Se você quiser ir nas férias você pode ir filho. Não morar para sempre. – Paola respondeu enfatizando bem em não morar para sempre.

Richard os conduziu do lado de fora do aeroporto onde o motorista já os esperavam. Ele abriu a porta de trás para os dois entrarem. E a babá os seguiu de longe. O moreno avisou a mulher para tirar a semana de folga e assim pagou o taxi para ela até em casa.

Paola voltou a pôr seus óculos escuros e com os três já acomodados a caminho de carro Rick que sentava no meio dos dois se manifestou.

— Pai, você disse que ia pensar se eu podia morar para sempre lá. – Aquilo tirou a atenção do moreno que olhava a paisagem do lado de fora.

Puxou seu filho para sentar em seu colo olhando em seus olhos como sempre fazia quando dialogavam. Naquela fase era essencial que a criança sentisse que prestavam atenção nas coisas que elas diziam e que seus pais lhe dariam total atenção, e que melhor maneira existia olhando olho no olho? Richard sabia a dosagem sempre certa ao se dirigir com seu filho e o mesmo aceitava bem como ele ganhava um não.

 - E pensei. E vi que sentiria saudades e não poderia ficar longe de você, e optei em só deixar nas férias.

— Ah não – Ele fez um muxoxo e resmungou algo inaudível.

— Você quer deixar a mamãe, é? – A loira levantou uma sobrancelha fingindo ficar brava.

— É que lá dá para brincar mais do que aqui. – Rick olhou para os sapatos triste sem coragem de olhar para os pais. – E tem a tia Eve e os filhos dela.

Só de ouvir aquele nome que Paola conhecia muito bem, uma veia saltou da sua testa e o rosto tingiu o tom de rosa. Suas mãos se fecharam em um punho enquanto os dentes trincaram. Não era ciúmes, mas não aguentava ouvir o quanto Eve era boa da boca de Esther e agora ter que ver a admiração por aquela mulher que mesmo longe era vista por seu filho, lhe corria de ódio.

Como se colocassem você para ouvir um mesmo disco arranhado diversas vezes.

— Você já esqueceu o que te prometi de natal? – Richard colocou a mão sobro o ombro do menino.

— Não dá para comprar uma fazenda juntando só uma libra de cada vez, papai. – Sua voz estava carregada de tristeza. – Preciso de mais para comprar uma fazenda.

— Vai juntando sua mesada aos poucos e eu completo com o resto.

— Posso trabalhar com você? – Perguntou com brilho nos olhos e um sorriso inocente.

— Sempre. Mas depois que ir à escola e fizer seus deveres.

Depois da conversa o carro mergulhou em um profundo silencio. O casal olhava para janela que lhe pertencia do seu lado do carro. Assim que Rick bocejou encostando no pai para dormir, foi que os dois adultos se viraram para o mesmo lado.

— Cansado, filho? – Richard o segurou firme. Paola afagou os cabelos do pequeno.

— Só um pouco de sono. – Rick se esforçava para manter os olhos abertos. Pois amava trajetória de carro.

— Dorme um pouco meu amor. – Ela depositou um beijo na face rosada do filho, deixando sua marca de batom nele já a terceira vez.

A cena que se formou quem visse do lado de fora diria que nada mais era uma cena normal em família e o mais comum possível. Porém a os membros da família Listing sabiam bem que aquilo era ocasião rara. Logo em seguida o silencio se instalou desconfortante. Como se ninguém soubesse o que falar ou agir diante daquilo. Nunca que uma cena daquelas aconteciam frequentemente que esqueceram como se comportar como uma família.

— Não dá para deitar aqui. – Rick choramingou.

— Vem aqui – Paola o chamou com as mãos e bateu em suas coxas. – Senta aqui no meu colo.

— Mas você não gosta. – Cortou rapidamente a mãe. – Vai amassar sua roupa.

— Mas você está com sono, e vou abrir uma exceção, pode ser assim?

— Porque hoje tem exceção? – Perguntou coma sua vozinha inocente coçando os olhos e abrindo a boca num bocejo.

Aquele gesto derreteu o coração de gelo da Paola por alguns breves momentos.

— Pode ser mais vezes. – A loira falou sem pensar, achando que conseguiria ser carinhosa por mais vezes com seu príncipe. – Porém você agora tem exceção para sentar no meu colo sempre que quiser porque você é a exceção... todos os dias. – Completou no final da frase receosa.

Paola estava falando sem pensar na consequência do que aquilo traria. Prometer carinhos que nunca seriam cumpridos. Ela se deixou levar pela emoção daquele dia.

Rick pareceu receoso.

— Porque você está relutante?

— Porque eu sou sempre expulso do seu colo. – Ele fez uma carranca juntando as sobrancelhas que eram idênticas da Paola.

Naquele momento ela percebeu que o filho não era só o marido o tempo todo. Haviam coisas dela que projetaram no Rick.

— Dependendo do lugar não gosto de amassar o vestido e ficar feia.

— E agora porque você não tá com medo de amassar o vestido e ficar feia? – Rick levantou as sobrancelhas questionador.

— Porque estamos indo para casa e você está com sono. – Ela acariciou o queixo do filho onde encontrava-se o furinho que amava

— Filho vai lá. A mamãe quer ficar com você. – Richard inclinou Rick para frente da mãe, mas o menino o segurou firme. Precisava incentivar o pequeno, porque ali não sairia realmente nada. Não havia o vinculo mãe e filho, o grude que se espera de uma relação maternal. Rick estava envergonhado de demonstrar apego. Richard sabia que ele queria, mas estava com medo da rejeição mais uma vez e porque Paola parecia uma total estranha.

— Mas eu sempre durmo com você. – Os olhos azuis inocentes fitaram os olhos azuis do mais velho.

— Mas agora você vai dormir no colo da mamãe, filho. Pode apoiar as pernas no colo do papai.

— Vai lá filho.

Rick se desvencilhou de Richard e com todo cuidado sentou no colo da mãe extremamente reto e duro. Tinha medo de desagrada-la e ser culpado por estragar a roupa dela e ela o empurrar não o querendo ali.

Sutilmente Paola o deitou como um bebê, seus gestos eram nítidos que não havia habilidade maternal nenhuma. Os anos afastada fizera perder metade do que aprendera na fase bebê do Rick.

—  Pronto. – Ela o ninou.

— Porque está fazendo isso assim? – Questionou desconfortável no colo.

Richard colocou o dedo na boca e reprimiu uma risada que queria sair de qualquer jeito. A situação era triste, porem engraçada. Por sua sorte a barba escondia um sorriso repuxado nos lábios.

— Estou te deitando. Você está com sono, não gostou?

— Tá esquisito.

— Ele prefere sentado e a cabeça no peito, amor – Gentilmente Richard ajeitou exatamente a forma mais confortável que Rick gostava de ficar. - Ele já não é mais um bebe. Filho, mostra para sua mãe como você prefere.

Sentando e encostando a cabeça no ombro da mãe devagar extremamente receoso, Rick fechou os olhos.

— Gosta assim? – Paola perguntou gostando da sensação de ter sua cria próxima encostada nela, em seu peito.

O menino apenas fizera sinal positivo com a cabeça. Richard puxou as pernas do filho pra apoias em cima da sua coxa

— Se estiver confortável agora assim para você, pode dormir tranquilo filho. – Avisou ficando quieta para não incomodar ele.

Sem aviso ou permissão Richard pegou a mão da esposa e levou em volta do filho para que ela o abraçasse. De começo a loira ficara surpresa, mas logo entendeu o que era. Sorriu agradecida.

— Obrigada.

— Pelo o que? – Perguntou.

— Pela ajuda agora.

— É que ele gosta assim. – Seu braço masculino ficou em volta dos dois, deixando mãe e filho quentinhos e com a sensação de proteção.

— E você me ajudou a acertar o jeito.

— Nada que com a pratica e o convívio você não saiba – Sussurrou perto da orelha dela fazendo a mulher ao seu lado se arrepiar com o poder de uma voz masculina e hálito quente contra pele.

Paola fechou os olhos e descansou ao som dos Beatles que seu motorista colocara na rádio. Mal notara que sua guarda baixou com toda aquela confusão. Estava tão tranquila, o bem-estar que aqueles dois lhe proporcionavam era tão bom e queria aproveitar aquele instante como se fosse o último, porque de fato não sabia quando seria, mas com toda certeza aquelas férias tinham seus dias contados.

 


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