Aprendendo a Mentir escrita por Starsky


Capítulo 31
Capítulo 30 — Parabéns, Scorpius Malfoy! Você é um garoto popular!


Notas iniciais do capítulo

Seis meses. SEIS MESES! E eu senti tanta saudade de AaM e de vocês. De verdade! Muita coisa aconteceu nesses últimos seis meses, e vocês provavelmente nem se lembram direito a que pé a história parou kkk. Mas, como sempre, eu volto. E eu voltei! Nesse meu restinho de férias e de criatividade de escrita (que, oh céus, tá muito enferrujada!). Espero que não queiram me matar muto kkk e que gostem da leitura. É de todo coração ♥ porque nossa história está entrando no final dela. Juro que um dia ela acaba kkkkk.
Boa leitura!



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Capítulo 30

Parabéns, Scorpius Malfoy! Você é um garoto popular!

 

Scorpius

 

— Então, quando ela subir, vão todos gritar “surpresa”, está certo? — Alice Longbottom sussurrava com um sorriso enorme em sua boca cor de rosa. — Ótimo. Agora é só esperar…

Scorpius e Albus trocaram olhares de dor naquele momento. Estavam agachados há tanto tempo com as ameaças de que Lily estava chegando que já nem conseguiam sentir as pernas direito. Não deviam ser os únicos naquela situação. Roxanne gemia sem parar com as pernas tremendo. Hugo se apoiava numa cadeira. Samuel Thomas e Priya Patil tentavam segurar um no outro. E nem mesmo Teddy Lupin se salvava! Revirava os olhos de cansaço por estar se apertando contra a parede para não ficar no raio de visão da entrada.

Já era dia 9 de Dezembro, e Harry Potter finalmente trouxe Lily Luna Potter de volta! O objetivo daquele sofrimento todo era uma surpresa pelo seu retorno a Hogwarts, mas ninguém foi permitido falar com ela além de Albus e James. Hugo mandou Albus sair correndo depois que deu "oi". E ele correu! Escondeu-se na Torre de Astronomia com Scorpius e todos os outros convidados: Alice, Nate, Rose, Priya, Samuel, Teddy, Roxanne, Fred II, Lorcan, Lysander e Molly Weasley. Pelo que Roxanne disse, faltava ainda uma prima deles que não foi, Lucy Weasley.

Havia uma grande faixa flutuante no teto com um "Bem-Vinda" escrita em letras garrafais, cintilantes e douradas. O professor Lupin enfeitiçou copinhos para encherem com suco de abóbora e morango sozinhos e ainda organizou uma mesa com salgadinhos e com um bolo de chocolate branco. Estava tudo perfeito, com exceção das 6 ameaças de que Lily estava chegando na última meia hora. Estavam todos exaustos.

— Ela está vindo. Ela está vindo. — Alice sacudiu  os braços e voltou para sua posição de ataque debaixo da mesa.

Scorp suspirou ainda mais cansado. O ombro ainda doía, e o braço direito estava seguro por uma tipoia para não se machucar mais com movimentos bruscos. O que significava que nem podia se apoiar com ele.

— Se essa for mais um palpite errado, eu juro que...

— Shhh — chicou Albus. — Confia que vai dar certo.

— Defendendo sua namorada, Potter? — provocou o maior apenas para receber olhares fuzilantes do amigo. — Ah, esqueci que você ainda não pediu perdão rastejando...

Os dois se empurraram com os cotovelos e sorriram um para o outro. 

O retorno de Lily Luna significava algo bom! Tudo estava voltando ao normal! Ou quase tudo. Os dois sonserinos não tiveram tempo para comentar sobre a confusão do dia anterior com Roxie e Rose, pois as duas foram direto para o salão comunal da Grifinória e não deram notícia até aquela manhã. Comentaram muito menos com Nate Parkinson, que passou a noite conversando com Kilik e Benjen na área da poltrona de Rei dele. Scorp ficou o resto da noite tentando explicar o plano para Albus, e os dois dormiram no meio da conversa na cama do Potter.

A festa de boas-vindas era a oportunidade perfeita para rirem um pouco sobre os acontecimentos da tarde passada. Ao menos Albus já riu. Passou a noite toda cutucando Scorpius sobre mais detalhes do plano e bolando alternativas para fechar os buracos que Rose Weasley deixou abertos. Para ele, a mente tenebrosa de sua prima não era páreo para a sua de sonserino esperto.

— SURPRESA!

O garoto Malfoy tomou um susto. Estava quase afogando nos pensamentos e não viu quando James apareceu com Lily Luna no topo das escadas e todos gritaram, pulando com apitos.

— Surpresa! — gritou ele com um segundo de diferença dos outros.

Lily estava tão vermelha quanto seus cabelos! A maioria dos presentes riu por isso, a minoria riu pelo atraso de Scorp. Alguns até soltaram "awn" em coro quando a viram ruborizada. Porém, bastou Lily olhar para Scorpius com sua “surpresa” lenta que um sorriso brotou em sua boca de forma abobada.

— Dez pontos para a Grifinória! — berrou Albus, correndo para abraçar a irmã. — Seja bem-vinda de volta, Potter!

Teddy correu também com risadas e com os cabelos mudando de cor. Alice foi depois. Todos correram. Todos a abraçaram em conjunto e com ternura. Scorpius ficou observando a cena de fora com um sorriso na cara sem saber se ia abraçá-la também ou se deixava para depois, quando os mais importantes já tivessem lhe dado todo carinho. 

Para sua surpresa, após ter sido sufocada no abraço de Alice e de ter sido erguida pelos braços de Teddy, Lily foi na direção de Scorpius e o abraçou no peito com tudo de si. A diferença de tamanho dos dois fez com que ele a envolvesse e ainda colocasse a cabeça sobre a dela. 

Lily Luna tinha cheiro de flor de campo, um perfume muito suave e gentil, como ela. Devia ser o shampoo que usava, talvez até um cheiro natural. Era graça! Era doçura! O rapaz achou o máximo que agora podia chamá-la de sua amiga.

— Estou muito feliz que esteja de volta — exclamou sem largá-la.

Não pode ver, mas algo lhe disse que Lily sorriu naquele momento. Seu abraço apertou de um jeito gostoso, tipo um ursinho próprio para acalmar os ânimos.

— Obrigada pelas cartas. Fiquei menos sozinha com você me respondendo.

— Você nunca esteve sozinha, Lily — sussurrou, apertando-a ainda mais com seu único braço funcional. O objetivo dele era trazer calor e aconchego, algo que pudesse falar mais do que ele conseguia. — Por um momento, achei que seus pais iam ter medo de te trazer de volta.

— Por um momento, achei que eu não fosse mesmo voltar.

Ela afundou o rosto no peito do rapaz. Não dava para saber se os outros viam aquela situação, mas era a mais sincera que poderiam ter juntos.

— O importante é que está aqui. — Ele sorriu de todo coração sem mesmo perceber. — As coisas vão ficar melhores, e nós todos vamos fazer parte disso, viu?

Soltaram-se devagar, dando espaço para que os outros fossem cumprimentá-la. Priya Patil correu e quase a derrubou, por exemplo. Da mesma forma, o irmão mais velho de Roxanne a agarrou pela cintura e quase fez com que erguesse vôo. Scorpius nem percebeu, mas fazia parte do cenário. O sentimento maior era de alívio. Em suas cartas, ela tinha medo de ser taxada como a garota que teve problemas em seu retorno. Aquela festa era o que a menina Potter precisava para se sentir acolhida.

Era isso!

— Você parece estar morrendo de satisfação.

Rose colocou-se devagar ao lado de Scorpius, segurando o próprio corpo como se estivesse com frio, mesmo estando vestida com um grande casaco de lã marfim.

— Só estou feliz que ela está bem. Foram dias muito preocupantes.

Ela assentiu com a cabeça, deixando os olhos castanhos fixos nos contínuos cumprimentos de Lily com os outros.

— Eu sei, acabamos ficando todos envolvidos — falou a ruiva com um suave suspiro. — Mamãe me enviou uma carta pedindo até que eu ajudasse Lily Luna com as matérias da escola que ela perdeu nessa semana longe de casa. Mas acho que você já cobriu essa parte.

— Dei todos os meus resumos do ano passado para seu irmão e Alice colocarem na caixinha que fizeram para ela. — Scorpius sorriu e apontou com a cabeça para o pacote colorido e grande sobre a mesa com os salgadinhos. James Sirius estava atracado neles, colocando furiosamente vários na boca. Era até engraçado de assistir. — As provas antes do recesso de natal estão se aproximando, então vai ser bom pra ajudá-la. Não sou de me vangloriar, porém consigo fazer anotações muito organizadas.

Rose o encarou e deu um riso alegre, desses de balançar os ombros e fazer até dança com as sobrancelhas, fazendo-o rir também.

— Dá pra acreditar que já estamos em Dezembro? — Ela se aproximou um pouco dele e o empurrou de levinho com o encostar no seu braço esquerdo. — Setembro, Outubro, Novembro, Dezembro… Você realmente passou de zero à esquerda para um dos sonserinos mais admirados nessa escola. Anda com a turma do Nate Parkinson, consegue controlar minimamente uma vassoura, entrou em uma briga e no clube do Slug, tornou-se um dos melhores amigos de Lily Luna Potter, conquistou a amizade de Roxanne Weasley, encontrou paz com James Sirius Potter, é admirado pela Lufa-Lufa quase toda e ainda conseguiu firmar mais ainda sua amizade com o Albus. Parabéns, Scorpius Malfoy, você é um garoto popular.

Ele franziu as sobrancelhas, achando graça de tudo aquilo vindo de uma vez pela boca de Rose. Quando ela falava desse jeito, realmente parecia muita coisa. E era muita coisa! Scorpius olhou para o teto quase meditando sobre aquilo. 

Muito tempo se passou desde que recebera a carta de seu pai falando sobre a festa do Ministério de ano novo, e a lembrança de sua conversa com Albus o fez rir. 

Foi um plano muito idiota desde o início: chantagear Rose Weasley para conseguir popularidade.

Tudo que ele queria era que as pessoas não o vissem apenas como um reflexo do seu sobrenome. Olhou em volta e percebeu isso se concretizando. O sobrenome "Malfoy" não importava naquele momento. Na verdade, o sobrenome de ninguém importava. Nate estava rindo num canto com Roxanne, James discutia com Albus e Lorcan com movimentos de braços para todos os lados, Teddy conversava com os amigos dos meninos, Lysander comia sozinho, Fred II agarrava Lily sem soltá-la e Alice fingia escutar o que Hugo lhe falava enquanto espreitava de longe Albus.

— Eu nunca sonharia em ser a pessoa que sou hoje se não fosse por você — disse ele rapidamente, movendo-se para ficar frente a frente com Rose. — Você é incrível, Rose.

Talvez ela não tivesse percebido, porém Scorpius viu seu rosto pigmentar-se em vermelho nas bochechas. Ficava um misto de fofa e coisinha engraçada quando corada.

— Acho que isso significa apenas uma coisa — retrucou Rose, retorcendo o nariz e pestanejando como se estivesse criando coragem. — Nosso trato finalmente acabou.

O trato. Scorpius se pegou pressionando o maxilar um tanto quanto perdido no que deveria falar naquele momento. Ou melhor, sabia que ela tinha alguma coisa escondida por trás da afirmação. 

O problema era: o quê?

— É verdade. Você tem o mapa, e eu acho que consigo não ser flagrado na mentira para os meus pais. — Ele sorriu e ergueu os ombros, colocando as mãos no bolso da calça. — Se bem que, a essa altura, eu nem lembro mais do intuito da mentira.

— Ah, é mesmo? Por que só agora?

Scorpius meneou com a cabeça meio sem jeito.

— Bom, quando você apanha de James Sirius, de Émile Duchannes, de vôos de vassoura e até mesmo do seu melhor amigo, Albus Potter, as coisas meio que mudam de figura. — Os dois olharam um para a cara do outro e soltaram risadas pelo nariz. — Engraçado, eu só não apanhei formalmente de você. Apesar de todas as surras serem sua culpa.

Rose lhe ofereceu a língua em resposta. 

— Ha-ha-ha, muito engraçadinho. Fique à vontade para dar sua cara aos meus tabefes agora mesmo.

— Mas, falando sério, essa bagunça toda que nós criamos trouxe coisas muito boas.

Novamente, silêncio e olhos. Por um instante, até mesmo as mãos de Scorpius começaram a suar. A melhor coisa que veio desde o dia em que a viram roubando a prova de Herbologia foi…

— Eu tenho algo a confessar, Scorpius. — Rose murmurou rápido. Parecia que estava tentando mudar o assunto. Ele só balançou a cabeça como se dissesse para ela continuar, o que a fez respirar fundo. — Você é uma pessoa melhor do que eu. E isso dói menos do que eu imaginei que doeria admitir...

Desta vez, o riso foi unicamente dele.

— Quem é você e o que fez com Rose Granger-Weasley? — disse animado sem desmanchar o sorriso.

— Não caçoe de mim, isso é algo sincero da minha parte.

— Eu não estou caçoando, eu estou só…

Um olhar de Rose mais sério na sua direção, e ele se calou. O que ela queria dizer era definitivamente importante.

— Ontem, durante todo o plano, eu apenas xingava todo mundo em pensamento, sabe? Se você acha que as coisas que eu falei eram duras, nem imagina o que se passava na minha cabeça. — Deu de ombros, quase acreditando na própria inocência. — Só que, com o seu desmaio... Eu estava realmente preocupada, e a minha vontade era de arrancar os olhos daqueles caras com uma faca de patê sem fio.

Lentamente, Scorpius mediu os centímetros do rosto da garota, tentando decifrar o que a expressão dela queria dizer. Falava muito, piscava muito, mexia muito, respirava muito. Parecia que aquele era o jeito mais sincero que Rose tinha de se expressar.

— O meu ponto — continuou ela — é que eu realmente te admirei quando soube que você encarou aqueles caras mesmo sem poder fazer magia. Não foi a primeira vez em que te vi agindo de forma incrível. Irresponsável, mas ainda assim incrível. Quer dizer, teve toda a história da Lily, o piano, o quadrisolo e basicamente toda sua capacidade de ser quase tão inteligente quanto eu. Quase!

— Alguém tem que manter sua competitividade acesa. — A boca de Scorpius curvou-se num sorriso sem precisar mostrar os dentes. — Nunca achei que fosse receber elogios assim de você.

Então, ela passou o olhar ao redor deles, segurou o braço de Scorpius e apontou para perto do parapeito da Torre de Astronomia. Ficaram do lado de fora enquanto andavam para fora do alcance dos olhos de quem estava perto da mesa de salgadinhos. Na pequena sacada, o vento era mais forte, mas a visão de nuvens claras do fim de tarde se estendia bela pelo horizonte.

— Lembra de quando você disse que eu era como fogo? — A voz de Rose soou um pouco mais sóbria que antes. 

Enquanto ela se recostava no parapeito, Scorpius apenas digeriu a lembrança do fatídico dia em que em que deu combustível para o ego inflado da garota. Ah, também foi o dia em que se viu completamente apaixonado por ela. Mas quem está contando isso?

— E eu ainda acho. — Balançou a cabeça um bocado desconcertado. — Destrutiva, porém iluminadora.

Outro sorriso de Rose. Scorpius quase derreteu.

— Pois eu tenho uma novidade para você! — exclamou ela, ajeitando a postura em pé com os ombros para trás e uma pose segura de si mesma. — Você, Scorpius Hyperon Malfoy, é como água. Água porque tenta mudar sua forma e porque quer caber nos moldes dos outros. Água porque pode surpreender quando colocada a uma pressão diferente. Água porque pode criar rios e mares, e só precisa se esforçar um pouco pra isso. — Rose uniu as sobrancelhas sem graça, mas não parou. — Água porque pode até sufocar nessa sua cara lavada e sem graça de menino bonzinho que usa roupa com cheiro forte de amaciante e tem traumas demais. Scorpius é água porque consegue unir as pessoas. Mas principalmente porque, como o ser vivo não pode viver sem água, acho difícil que qualquer uma dessas pessoas que você conquistou vá conseguir viver sem você daqui pra frente.

O Expresso Hogwarts poderia correr a 500 km/h ou até a 1.000 km/h, no entanto nunca chegaria aos pés da velocidade com a qual o espírito de Scorpius foi atropelado com tantas palavras sobre ele vindo de uma vez. As pessoas não lhe diziam essas coisas, não para ele, que era um Malfoy, um sonserino e um cara que, antigamente, poderia ser atormentado diariamente e todo corpo de alunos passaria sem notar se perdeu um dente ou se parou de ir às aulas porque morreu.

Aí, veio Albus. Aí, veio Roxanne, Nate, Lily… Aí, ele não estava sozinho. Estava com ela. E, para sua surpresa, sentia que ela estava com ele também. Se eram fogo e água, Scorpius realmente não ligava. Estava em choque porque percebeu o quão próximo aquele discurso o tornou de si mesmo.

— Eu não acredito que você falou essas coisas — sibilou, ainda em choque. — Rose, eu…

— Não vá se achando. Roxanne que mandou — admitiu finalmente, rindo e arregaçando as mangas da camisa para cima dos cotovelos. — Eu cheguei a sair do Salão Comunal da Grifinória armada com a varinha para caçar Émile Duchannes e os outros imbecis! Roxie me parou e nós tivemos uma loooonga conversa ontem depois da quase chacina de sonserinos. Chegamos à conclusão de que era importante eu dizer essas coisas para você, sabe?

— Roxie te mandou me chamar de água porque eu te chamei de fogo? É isso?

Rose negou com a cabeça ligeiro.

— Não, não! A comparação foi minha. Roxie não é tão criativa assim! — Eis que puxou o ar para dentro do peito com pesar. — Roxanne me convenceu que era importante eu te dizer o que você significava para mim antes que…

A voz dela cessou. Ficou parada, encarando o olhar de Scorpius como se algum pensamento tivesse lhe travado a ação.

— Rose?

— Scorpius — chamou-o novamente. Ele até franziu o cenho ao mirar sua feição determinada sem a menor ideia do que sairia de sua boca, especialmente por Rose puxar o ar como se estivesse com falta dele. — Jasper vem para o Natal de Slughorn.

Um segundo.

Dois segundos.

Malfoy não percebeu que havia sido atingido. Ficou parado, encarando-a. Juntou as sobrancelhas e umedeceu os lábios. Até mesmo repetiu a frase em sua mente para se certificar de que havia escutado direito. 

“Jasper vem para o Natal de Slughorn”. 

Jasper Wood. Jasper, o ex-namorado de Rose. Jasper, o cara que tinha todos os olhos da garota de quem Scorpius gostava. Jasper, a pessoa que era incrivelmente adorada em Hogwarts. Aquele Jasper.

Três segundos.

Quatro segundos.

Cinco segundos.

— Legal.

Rose instantaneamente fechou a cara. Oh-oh. Resposta errada.

— Legal? — repetiu ela. — Você acha legal que Jasper está vindo para Hogwarts?

— É, legal. — Deu de ombros, permanecendo no erro. — Você sempre fala como ele é um cara legal. Eu não deveria achar legal?

Resposta mais errada ainda, e ele sabia! Só não conseguia parar de falar!

— Eu não sei, Scorpius, você deveria? — Rose parou de falar e revirou os olhos. — Legal pra você também.

Ela cruzou os braços e virou a cara. Por que tinha que levar sempre tudo para o mais profundo pessoal? Parecia criança birrenta. 

— Rose, é só que… Eu não sei o que te responder — falou com um riso desacreditado de si mesmo. — Isso é algo bom? Digo, para a gente?

— Como é que eu vou saber? — Os olhos dela o cortaram como raios. — Foi você quem chegou falando que sabia o que havia entre a gente. Quer fazer o favor de completar o raciocínio pra eu pensar no que fazer quando Jasper estiver aqui?

A boca de Scorpius abriu, mas nada saiu dela. Estava sem reação alguma, raciocinando como se engrenagens rodassem no interior de sua cabeça. 

— Eu vou te fazer uma pergunta que você provavelmente não vai gostar. Provavelmente, eu também não vou gostar da resposta, mas acho que, cedo ou tarde, ia ter que perguntar de qualquer jeito.

Rose pestanejou sem saber o que fazer. Ele também não sabia. Estava agindo por impulso, sentindo o peito acelerado e mais perguntas se formando em sua mente.

— Scorpius, eu não sei o que está acontecendo. — A garota apontou para eles dois e umedeceu os lábios. — Só que ao mesmo tempo que eu quero acabar com essa dúvida, parte de mim tem medo de que não vai dar certo descobrir o que é isso.  — Apontou para o espaço entre os dois. — É confuso, eu sei, mas…

— Eu entendi — respondeu ele devagar. Scorpius olhou para os garotos dentro da torre e deu um passo para trás da parede, que não deixava que os vissem, puxando Rose consigo. — Olha, Rose, nós dois entendemos que isso aqui é alguma coisa, não entendemos?

Ela o olhava fixamente. Suas mãos foram até o corpo do rapaz e passaram por seu tronco, envolvendo-o num abraço firme. A cabeça ruiva dela se encostou no seu peito, e Scorpius desejou do fundo de sua alma que o coração parasse de acelerar tanto com ela bem ali, escutando.

— Seu peito tá acelerado — comentou ela, fazendo-o rir e fechar o abraço com a mão não imobilizada. — Podemos esquecer essa conversa agora e deixá-la para depois, se quiser.

Não podia deixar para depois. Se o fizesse, as chances de perdê-la eram maiores.

Então, Scorpius tirou o último fôlego de coragem para perguntar o que estava engasgado desde o dia em que beijou aquela mulher:

— Rose, você ainda sente algo pelo Jasper?

Foi como se o mundo tivesse ficado em silêncio de repente. Scorp olhou para o topo da cabeça de Rose, esperando que ela se afastasse e desse alguma resposta evasiva ou mesmo ficasse com raiva. Eram as reações esperadas, claro! Por isso, a tensão cresceu ao perceber que ela sequer se movia.

— Rose?

O abraço apertou antes de ela soltá-lo, fitando seus olhos firmemente.

— Honestamente — murmurou ainda fixa nele, estava determinada — eu achei que iria... ter sentimentos por Jasper a vida inteira. Havia prometido a mim mesma isso. Até que você…

Rose parou outra vez.

Por mais que quisesse escutar a voz dela dizendo as palavras que sua cabeça repetia mais e mais, não podia pedir além daquilo. Sabia que se pedisse mais, ela iria explodir e sair de perto com raiva, como sempre fez.

Parecia que finalmente estava aprendendo a lidar com Rose Weasley.

— Não precisa me dizer isso agora — falou devagar, pousando um beijo no topo da cabeça dela. — Eu também não vou dizer nada além disso.

Os olhares se cruzaram por mais um instante. Ela não estava derretida e nem emocionada, estava com o mesmo fogo determinado em seu olhar. Media Scorpius em detalhes, dava para sentir quase seu rosto pinicar com o fato de ela encará-lo.

Subitamente, Rose desviou o olhar para vigiar o caminho vazio que dava para dentro da Torre de Astronomia.

— Ninguém pode nos ver aqui — sussurrou mais para si mesma que para Scorpius. Tornou a olhar para ele e sorriu. — Por enquanto, não posso dizer que o esqueci, mas, também por enquanto, essa é minha resposta sobre nós…

As mãos da garota seguraram a camisa escura que Scorpius vestia, e ela esticou-se um pouco na ponta dos pés, aproximando o rosto dele. Beijou os lábios de Scorp antes de fechar os próprios olhos. Scorpius fechou-os em seguida, suspirando com o beijo entre eles.

Foi rápido. Durou o tempo de uma respiração, mas o suficiente para dizer mais que todas as palavras até ali. As bocas desprenderam-se devagar, e ele sorriu sem mostrar os dentes. Rose também, em resposta. Desceu da ponta dos pés e retirou as mãos do rapaz para se apoiar com as costas na parede, achando graça da cara boba que ele tinha, provavelmente.

— Um brinde a Jasper Wood se ele continuar me fazendo ganhar beijos assim. — Eles dois riram juntos com a afirmação. — Agora tenho que dar uma de Rose Weasley e bolar um plano para passá-lo para trás.

Para a surpresa dele, o clima ficou mais leve.

— Sinto lhe dizer, mas meus tios sempre estão no Natal do Slug. Talvez isso dificulte um pouco — respondeu Rose com as sobrancelhas ruivas erguidas. — O nosso jeito meio subjetivo e não dito dificulta tudo, na verdade.

— Rose Weasley, no dia em que eu disser para você como me sinto e as minhas intenções, você não vai ter dúvidas. Não vai ser subjetivo. — Ele olhou para cima meio desacreditado de si mesmo, dando um passo para trás antes de voltar a olhar para ela. — Até lá, a gente pode continuar do jeito que está.

— Com vários pontos de interrogação?

Havia graça na voz dela. Estava tão sem chão quanto ele.

— E se comparando a coisas inanimadas, como fogo e água.

— Quer dizer que nós estamos numa espécie de…

— Interlúdio — interrompeu-a, balançando a cabeça positivamente. Rose repetiu o movimento, de acordo. Interlúdio era uma boa descrição para o que estava acontecendo ali.

— O que não significa que você não pode me beijar de novo.

O estômago dele se revirou com a afirmação. Os dois ficaram vermelhos.

— Eu irei — murmurou, permitindo-se olhar uma última vez para o corredor e vendo que ninguém os via — no Natal do Slug.

Rose franziu o cenho de imediato, dizendo rápida:

— Perde um pouco da graça quando você anuncia, Scorpius. Eu não vou te beijar no Natal do Slug! — Percebeu que falou mais alto do que deveria e cresceu os olhos indignada.

Passou por ele com seus passos apressados. Ele riu. Estava esperançoso demais para não ver aquilo como piada. Ficou parado, assistindo enquanto Rose voltava para dentro da Torre de Astronomia no seu andar rápido e louco para não cair outra vez. Quis puxá-la de volta, porém aceitou o fato de que as coisas estavam bem.

Ele era páreo para Jasper Wood! Isso era algo que seu “eu” de três meses atrás jamais pensaria ser possível. Quer dizer, lembrava nitidamente todos os elogios que ela tecia ao cara. O primeiro beijo deles veio depois de uma discussão por conta de Jasper Wood. Quem ligava?! Scorpius não ligava! Parecia que Jasper Wood era um fantasma, alguém que não podia atingir o que só tendia a crescer. Por um momento, ele estava com um pensamento certo:

“Scorpius Malfoy, você é responsável por sua própria felicidade com aquela garota”.

— Scorpius! — A voz de Roxanne o tirou das próprias ideias com ela surgindo de dentro da Torre às pressas. Logo após vinha Albus com Lily agarrada ao seu braço.

Coisa boa não era.

— Ela te contou, não foi?! — Albus praticamente atropelou Scorp. 

— Scorpius! — Roxanne tornou a gritar. — Ela te contou sobre o Jasper não foi?

Os três ficaram de frente para o mais alto com os olhos crescidos. Ele só ficou parado. Estátua. Sem reação.

— Foi…

Albus soltou um grunhido antes de dizer:

— Roxanne acabou de nos dizer. E aí? Como você ficou? Abalado?

— Assustado? — Lily questionou ligeiro.

— Intimidado? — Albus tentou.

— Enciumado? — Roxie franziu a testa, meneando a cabeça.

Eram tantas perguntas uma seguida da outra, que ele só riu com um balançar de ombros. 

— Eu tô bem, gente — respondeu suavemente. — Perguntei se ela ainda sentia algo por ele. Só isso.

Por um momento, aquela parecia ter sido a última resposta esperada pelos três. Ficaram em silêncio por alguns segundos, até Roxanne e Lily se entreolharem com cara de confusas. Mas Albus não. Albus não ligava para o escândalo.

— Ahn?! — berrou, levantando as mãos. — Por que você perguntaria algo do tipo?! Que tipo de pessoa é você? Suicida? Queria levar um fora logo assim de cara?! Sem mesmo tentar?!

Lily colocou a mão sobre o ombro do irmão, que sacudiu a cabeça, fumaçando.

— Se Jasper Wood significa alguma coisa ainda na cabeça dela, eu não posso...

— Ah não, meu amigo. — Outra vez, Albus ergueu os braços, só que olhando para as duas garotas como se procurasse apoio. Ela não se mexeram, o que fez o Potter levar as mãos aos braços de Scorpius, encarando-o seriamente. — Foda-se Jasper Wood!

A cara que Lily fez com a afirmação de Albus foi de puro choque.

— Albus, não é bem assim que…

— Isso, foda-se Jasper Wood! — Roxanne a interrompeu, colocando as mãos na cintura fina. — Eu gosto de você e Rose juntos. É isso! Nunca fui muito com a cara do Jasper mesmo, ainda mais depois da confusão da Grindy com Madeline Nott. Sabe quem vai nos apoiar? Nate. Nate com certeza vai!

Scorpius estava completamente confuso. Ele estava bem. Não estava ansioso, não estava nervoso, estava… Okay, agora estava começando a ficar um pouco atônito com o fato de os três amigos estarem preocupados. 

— Eu deveria estar preocupado com o fato de Jasper Wood estar vindo? — questionou, mas Albus e Roxanne não lhe deram atenção. Foi só Lily Luna que segurou sua mão, sorrindo calmamente.

 — Está sentindo isso que eu estou sentindo, Roxanne?! — Albus gritou completamente sem noção.

Lily franziu o cenho e deu uma fungada para o alto.

— Alguém soltou um…

— Isso tem cheiro do “Clube de Resolução de Problemas” — berrou Albus, recebendo uma cotovelada de Roxanne nas costelas.

— Temos doze dias antes do Natal do Slug. — Ela sorriu e bateu levemente a mão espalmada no ombro de Scorpius. — Podemos não ser Rose Weasley, mas até lá vamos criar um plano para unir nosso casal. Todos de acordo?

Scorpius os observou conversando uns com os outros. Albus, Roxanne e Lily pareciam animados, cuidadosos e cheios de ideias. Eles riam, rosnavam e até mesmo imitavam a pose de Rose na conversa. Mas o Malfoy ficou quieto, encarando o desenrolar daquilo com a lembrança do que Rose falou sobre ele ser como água. Que água une as pessoas.

E ele tinha amigos maravilhosos.

O lado bom do seu tamanho era como os braços eram enormes. Abriu os dois, até o imobilizado, e trouxe Albus, Roxanne e Lily Luna para perto de si, abraçando-os como se abraçasse seu mundo quase inteiro.

— Por que eu tenho a sensação de que vai sobrar, de novo, pra mim? — Suspirou, sorrindo. — Eu amo vocês.


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Notas finais do capítulo

Eu queria dizer que esse capítulo me fez surtar e reescrevê-lo várias vezes nesses últimos meses. Nem tenho desculpa o suficiente além de "a vida acontece" para ter me separado tanto tempo de AaM. Tô na torcida que não tenham desistido de mim ainda!!!
O que acharam da ideia de "água e fogo" do Scorp e da Rose? hahaha. Desde o dia em que eu escrevi que Rose era fogo, sempre quis colocar que Scorpius era como água, vento ou areia. Tentei várias analogias até essa finalmente parecer bonita o suficiente. E queria dizer que eu amo o Albus ♥ estou feliz demais que ele voltou a ser a criaturinha diabólica de sempre, assim como a Lily cheia de cuidados e a Roxanne sendo icônica.
Enfim! Esperando para saber o que acharam e torcendo que não me matem kkkk. Eu amo vocês ♥ ♥



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