Aprendendo a Mentir escrita por Starsky


Capítulo 30
Capítulo 29 — Missão Hogsmeade: Alguém salve o Albus!


Notas iniciais do capítulo

Eu sempre acho que vou desistir de AaM, mas tô sempre aqui de volta kkkkk OH GLÓRIA! Então, gente kk oh capítulo difícil de sair. Oh fic difícil de sair! Eu já sou uma pessoa procrastinadora, aí vou só me envolvendo com outros projetos diferentes vão sempre se metendo no meio (seja em off ou de fics e RPGs). O importante é que TANDAM! ESTOU DE VOLTA! Perdoem a alma que precisa de planners pra não meter os pés pelas mãos kkk esse ano finalizo AaM COM CERTEZA! AHHHH!
Boa leitura, lindos ♥ ♥



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Capítulo 29

Missão Hogsmeade: Alguém salve o Albus!

Rose

 

— A missão é simples. Nossa prioridade é agir de forma rápida, esperta, esforçada e sem hesitação. Ouviu, Malfoy? Sem hesitação, sem pensar duas vezes, sem gaguejar, sem choro.

Os olhos castanhos de Rose caíram nele ao som de trovão, fazendo-o se encolher entre os ombros.

— Grindy, já já vão estar te chamando de “general de todo o mal” — falou Roxanne com uma risada, trocando a perna que estava cruzada.

Rose não respondeu. Empinou o nariz e bateu na porta do vagão para chamar a atenção de todos que estavam ali. Talvez fosse também para fazer a ela mesma focar melhor. Estava completamente fora de órbita ultimamente.

Sentados nos bancos da cabine estavam Scorpius, Roxanne — até aí normal, né? Só que não — Nate Parkinson, Hugo e James Sirius. Como todas aquelas pessoas acabaram no mesmo lugar? Ela, Rose Granger-Weasley, era culpada por tamanha façanha. Na verdade, era A culpada! Aquela em que os outros colocavam a culpa! Porque ela mesma não admitia ser responsabilizada por algo que ficou além do seu controle.

Pra começar, o plano inicial era apenas entre ela, Roxanne e James. Com o retorno da amizade entre Scorpius e Albus, James… OLHE BEM! JAMES SIRIUS! Fez questão que o Malfoy se envolvesse na atual artimanha. Ele disse com todas as palavras que não deixaria mais seus irmãos desamparados por sua própria teimosia — alguém morreu e substituiu James Sirius, era a única explicação. Ele. Chamou. Scorpius. MALFOY. Para. Participar. Do. Plano. Isso depois de quase matá-lo na primeira aula de voo de vassoura. 

Scorpius caiu muito, tadinho. Começaram às 15h do dia anterior, quando a aula de James de DCAT acabou.  Rose assistiu todo o desastre de longe, sentada na grama enquanto lia seus resumos de História da Magia. Não que ela tenha conseguido passar muito tempo atenta às anotações... Na primeira queda de mais de dois metros que Scorpius teve, seu peito acelerou. Aquilo ia dar errado de forma inimaginável! O treino foi basicamente James com um apito fino e gritos como se fosse um treinador profissional, quase chutando a bunda de Scorpius para que ele se levantasse toda vez que beijava o chão.

“Eu não aguento mais!” gritou o Malfoy bem na décima queda.

“Então desista!” foi o que James respondeu. Scorpius subiu de novo na vassoura com uma expressão de ódio no rosto, ouvindo Albus e Roxanne rindo ao mesmo tempo em que devoravam um balde de pipoca. Passaram três horas nisso, mas não houve resultados muito bons. Ele ainda não conseguia domar uma vassoura.

Retornando ao plano… As coisas poderiam ter parado aí: Scorpius e o time maravilha! Mas não! Roxanne descobriu sobre Scorp ter sido convidado e disse que se iam abrir vagas para novos membros no “Clube de Resolução de Problemas”, precisavam do fundador obscuro por trás da ideia que supostamente era dela: Nate Parkinson. Como diabos esse cara se meteu na história? Rose nem queria saber. Tudo que precisava era acabar logo com o problema que Albus tinha causado e tentar voltar a focar 100% da sua energia física e mental em coisas como História da Magia, Aritmância e Poções. Basicamente tudo que envolvesse ser a pessoa com maior conhecimento de mundo na ponta da língua. Sua surpresa, porém, foi ter sido interceptada por seu irmão Hugo, que estava espionando a conversa entre ela, James e Roxanne no Salão Comunal da Grifinória.

Essa odisseia causou, de repente, todos juntos e misturados. 

Claro, sua primeira medida foi dizer a Scorpius que precisavam manter as aparências para Hugo e James. Não poderiam deixar passar nada que pudesse causar comentários para seus pais. 

— Eu entendi a parte de não hesitar, e as partes do gaguejar e do choro foram meio injustas — murmurou Scorpius de um jeito meio manhoso e dolorido — o que eu não entendi mesmo é a parte da sincronia.

Nate deu uma risada animada e expansiva, esticando os braços ao se espreguiçar.

— Fica tranquilo. Se eles saírem da Dedos de Mel pelo beco sul, acho que dá o tempo exato de chegarmos lá para o susto no meio do quarteirão.

— Ei, mas pra que lado fica o sul? — James cutucou Roxanne com o cotovelo.

O olhar de Nate foi para ele, que o encarou de volta em silêncio. Eram muitos inimigos mortais que já se beijaram por metro quadrado para Rose aguentar com a mesma sanidade de sempre. Quer dizer: Rose, Scorpius, James e Nate eram mais da metade do grupo reunido no vagão.

— Vamos lá, quarta e última vez que eu vou explicar o plano! — Rose rosnou e se agachou, abrindo o papel com o desenho mal-feito que deveria ser o mapa de Hogsmeade. — Hugo, você é o responsável por levar a Alice até a Dedos de Mel com a desculpa de que vão comprar algodão doce de fadas para recepcionar Lily, certo?

A menção do nome de Lily Luna fez uma sombra correr nos rostos de todos, que baixaram o olhar. Passaram-se seis dias desde que ela foi para casa. Na carta que respondeu Rose, disse que retornaria para Hogwarts no dia seguinte à visita a Hogsmeade. 

Era uma droga esse sentimento de impotência, especialmente depois de a Weasley ter se acovardado no dia em que ela e Scorpius encontraram Lily desmaiada. Nunca mais faria algo assim. Ainda que reputação e honra estivessem envolvidas. Nunca mais deixaria alguém para se favorecer. Ou melhor, para não se desfavorecer.

— Certo. — A voz anasalada de Hugo quebrou o silêncio mareado. — Alice está se esforçando em fazer uma caixa de lembranças para a Lil, então será bem fácil convencê-la disso.

— Hmmm, será se eu posso colocar um pacotinho de biscoitos junto nessa caixa, Hugo? — Roxie pulou no próprio lugar.

Scorpius sorriu, colocando o corpo mais para perto de Hugo.

— Eu também queria saber se podia colocar algumas varinhas de alcaçuz junto das minhas anotações para as provas de Dezembro do meu ano passado! Elas podem ajudá-la esses dias — exclamou ele.

— Vocês são as melhores pessoas do mundo. — Nate Parkinson riu, cruzando os braços. — Lily Luna tem muita sorte com amigos assim.

Rose ergueu as duas mãos e começou a estalar os dedos para que voltassem a lhe dar atenção. Estava lidando com um monte de amadores na arte do esquema secreto.

— Não querendo tirar o foco de Lily, mas vamos voltar a falar do Albus, okay? — resmungou, batendo no papel rapidamente. — Roxanne e eu estaremos esperando o sinal do James para quando os meninos estiverem na loja e o Parkinson com seus capangas estiverem prontos.

— Capangas? — Nate repetiu com as sobrancelhas arqueadas, fazendo Roxie rir pelo nariz.

— Isso soou mais sincero do que deveria, Ro… Weasley. — Scorpius parou quando quase a chamou pelo primeiro nome, e ela o fuzilou com o olhar. — Rotuladora Weasley, eu digo. Você é uma pessoa muito rotuladora, sabia disso?

Melhor. Bem melhor.

Com um suspiro, Rose continuou:

— James vai se responsabilizar por fazer a comunicação também com o Malfoy e Roxanne, que estarão segurando o Albus no Três Vassouras. Vai alertar os dois garotos que precisam ir para fora porque Teddy pediu que comprassem quatro caldeirões, e que ele está precisando de ajuda para levá-los. Malfoy dirá que sente muitas dores e por isso não entrará no embate final…

— O que não é de todo mentira. — Ele suspirou.

— E James será impedido por Roxanne, que precisará de ajuda para se mover depois de levar um pisão meu no seu maravilhoso pé.

Roxie piscou rapidamente com uma careta ao bufar:

— Ei, isso não estava nos planos iniciais!

Rose tirou do bolso um relógio redondo preso ao cós da calça jeans e mostrou a todos. Estava tão focada que aquilo desse certo que não admitiria deixar um ponto sem nó ou uma desculpa esfarrapada no meio do caminho. 

— Quanto mais sincronia melhor! — Ela exclamou ligeiro. — O caminho para a loja de caldeirões é simétrico ao caminho da Dedos de Mel para a loja de chá da Madame Puddifoot. Ambos passam pelo mesmo corredor, onde ocorrerá o ataque.

Todos ficaram em silêncio, apenas piscando. Eram um bando de imbecis.

Cof cof General de todo o mal cof cof. — Roxanne fingiu que tossia. — Cof cof Grindelwald perderia feio cof cof.

— Você está realmente empenhada — disse Hugo. — Acha que a Alice vai cair nessa? Ela se dá bem com todo mundo, fora que há grandes chances de dedurar para o tio Neville que uns caras septuanistas da Sonserina a atacaram.

— Gosto do jeito que o garoto pensa. — Nate Parkinson sorriu animado, cruzando os braços. — Porém, estamos preparados para isso. Gorros, camisas diferentes e um feitiço para alterar a voz devem ser suficientes.

Hugo não pareceu se convencer. Estufou o peito e imitou Nate, cruzando os braços enquanto o encarava.

— Eu só acho que ela é mais esperta do que vocês estão considerando — insistiu o ruivo. — Não adianta de nada criar o plano mais diabólico se ela não acreditar na farsa.

— Você é muito pessimista, Huguinho. — Rose revirou os olhos, batendo as pestanas. O diminutivo fazia o irmão geralmente implodir de raiva. — O fator emoção conta também. Alice vai estar tão ocupada em desespero que nem vai ligar para detalhes. Se ela não se desesperar, você começa a gritar feito um franguinho.

Foi a gota d'água para Hugo.

— Eu não vou gritar coisa nenhuma! Não sou homem de grit...

De imediato, James deu uma pisada forte no chão, jogando os braços pra cima de Hugo e urrando grosso e alto:

— BU!

Hugo não apenas soltou um chiado fino como também se jogou pra cima de Nate Parkinson, que o encarou de sobrancelhas juntas. Todos pararam um instante em silêncio até que Hugo Weasley pigarreasse e lentamente recobrasse a pose, voltando ao seu lugar enquanto inspirava profundo.

Após aquela demonstração de desespero, susto e quase permissão de urina nas calças, Rose ergueu uma mão para falar:

— Todos de acordo que Hugo vai gritar se Alice não se assustar?

— Sim! — Soaram em uníssono.

Devagar, ela retornou a encarar o mapa desenhado. Por mais que o cronograma estivesse bom, precisava ter um plano de contingência. Afinal, algo sempre estava dando errado nos últimos meses. Devia ser culpa de Scorpius, que era uma espécie de coelho-cobra-da-má-sorte.

Seus olhos não evitaram seguir na direção dele. Era complicado ficar naquela posição de fingir distância por conta do irmão dela. Parecia que tinham voltado à época em que se odiavam. E mesmo assim, com todo o fingimento, ele estava bem ali, rindo com Roxanne, mexendo no cabelo e ajeitando o casaco de moletom cinza. Ficava realmente muito bonito sem estar engomadinho nas vestes da escola, uma pena que perdia um pouco seu cheiro costumeiro de amaciante.

Ah, e o perfume de lama! Haha.

Rose quis rir sozinha, lembrando do acidente dos dois no lago. Entretanto, a boa e velha noção de espaço a impediu. Foco! Precisava ter foco!

— Continuando com o plano — falou ela, limpando a garganta. — Ao encontrarem Hugo e Alice, Parkinson e companhia vão implicar com eles por qualquer pequeno motivo. De preferência, digam que Hugo é uma versão piorada minha.

— Não posso ser pior do que algo que já é ruim! — Ele retrucou.

— Brigas familiares ficam pra depois, tudo bem? — Nate sorriu, assentindo. — Temos quanto tempo para importunar os dois?

Rose olhou para cima, raciocinando.

— Dois minutos. Em dois minutos, Malfoy e Albus vão chegar no beco. Roxanne e eu vamos nos certificar de que mais ninguém chegue perto de vocês além deles dois. Quando ele aparecer, deixem que Albus seja o “bam bam bam” heroizinho e que peça perdão de joelhos para Alice.

— Colocarei a ideia dos joelhos na cabeça dele antes de chegarmos no Três Vassouras. — Scorpius balançou a cabeça, recebendo duas batidinhas no ombro de Roxanne.

Os seis se encararam continuamente, assentindo uns para os outros. Estavam cientes de suas funções, agora bastava que chegasse a hora do show. Rose não podia estar mais orgulhosa de sua função como general.

— Hoje, Albus Severus Potter saiu de Hogwarts como um sonserinos maculado por suas péssimas atitudes. — Rose se levantou demoradamente, enrolando o papel com o desenho e guardando-o em seu bolso. — Porém, retornará como um herói. Conto com todos vocês.

 

.

 

Hogsmeade parecia ter sido tirada de um globo de neve da estante de Rose. Ainda que estivessem no início de Dezembro, a neve já caía volátil e descontinuamente sobre a vila. Um verdadeiro milagre. Lá, o Natal aparentava mais próximo do que realmente estava no calendário. E sempre que a garota caminhava pelas ruas estreitas e cheias de vida com estudantes e professores de Hogwarts, sentia um cheiro místico de inverno chegando e se derretia com ela dentro de suas roupas bem agasalhadas e das luvas de lã feitas por vovó Molly. Rose achava que a abertura para mais visitas ao vilarejo tinha sido uma estratégia perfeita da diretoria da escola pelo bem do comércio local.

Ao lado de Roxanne, porém, ela perambulava de um lado para o outro na frente do Três Vassouras, e o frio que antes era maravilhoso e delicioso, estava começando a queimar a ponta do seu nariz constantemente empinado.

— Já passou da hora do almoço. Por que eles demoram tanto?! — bufou, sacudindo os ombros para espantar o frio. — A gente já resolveu tanta coisa hoje, e eles ainda atrasam! Odeio gente que atrasa!

— Um ampliador de frequência sônica para minha vassoura, um mini-caldeirão de cobre novo, pãezinhos caramelados, bombinhas de areia vermelha, almoço… — Roxie dava “check” na lista que fizeram assim que desembarcaram da estação. — Já fizemos quase tudo da minha lista. Tem certeza de que não vai querer passar na livraria também? Você tá precisando de uma leitura mais leve ultimamente, querida.

Rose parou de frente para a prima, agarrada ao próprio corpo.

— Leituras leves são para românticos.

— Devo te lembrar que você é uma adolescente de vez em quando ou só deixo você acreditar que é um gênio do mal prestes a conquistar o mundo? — A menor riu, abraçando a prima. — Não se cobre tanto, Grindy. Depois dessa missão a gente bem que podia tomar só um chocolate quente e assistir primeiranistas treinando para entrar no clube de duelos.

Rose quase protestou, mas só de lembrar da cara que eles faziam nos treinos, deu um sorriso pouco inocente ao dizer:

— Você sempre sabe o que fazer pra me deixar feliz.

— Uhum, sei o quanto você gosta de vê-los caindo enquanto usam Flipendo e azarações básicas.

Apesar de miudinha, Roxanne era uma das poucas pessoas que se atrevia em abraçar Rose Weasley. Ela e Scorpius, na verdade. O interior da ruiva se embrulhou todo na menção que seus neurônios fizeram a ele. Estava começando a imaginar que a pressão que colocava em si mesma com os estudos estava sendo só para esquecer que queria terminar aquela maldita conversa do dia em que encontraram Lily Luna.

Ah, Lily…

— Ei, o Scorpius te falou? — Rose soltou Roxie para encará-la. — Lily volta amanhã para Hogwarts.

O sorriso dela se alargou enquanto assenta com a cabeça.

— Sim, ele e Albus estavam comentando que queriam fazer umas boas-vindas para ela na Torre de Astronomia! Parece que vão tentar com o Teddy alguma permissão especial e tudo.

O fato de sua prima estar retornando para a escola era um alívio para Rose. Na realidade, a carta que trocaram foi o maior dos alívios. A culpa por tê-la deixado sozinha para o próprio proveito somava à angústia que a Weasley deixava escapar toda em horas e mais horas na biblioteca. 

Desde que Lily foi para casa, Rose praticamente não teve contato com o mundo exterior à sua cabeça. Sua, geralmente, perfeita organização foi deixada de lado. Para piorar, até mesmo seu cabelo estava fora do lugar! Alisava-o com poções de mês em mês por causa da raiz crescer rápido demais. Já havia passado do tempo, e os cabelos naturalmente assanhados como de sua mãe estavam tomando forma. Por isso, já estava com ele preso numa trança… O que fazia o vento bater em seu pescoço mais frio que o normal.

No entanto, a maior distração de todas chegou no dia anterior. Uma carta veio pelo correio do jantar, e Rose estava se esforçando para não pensar nela demais. Só de pensar no nome do remetente, ela praticamente gritava em pensamento para mudá-lo.

— Me abraça e não me deixa passar frio! — Ela agarrou de novo Roxanne. — Depois eu ajudo vocês no que puder...

As duas riram juntas. Quem precisa do abraço de Scorpius quando se tem uma melhor amiga como A Pantera Weasley, Rainha do Quadribol?

Nossa! Tinha que falar desse apelido novo para ela depois.

O que, entretanto, a cabeça de Rose não notou foi que seu pensamento invocou não apenas a sombra, que ela viu se aproximar por cima do ombro de Roxanne, mas a voz e um sorriso feliz vindo de Scorpius Malfoy.

— Isso tudo é frio? — disse ele. Estava tão encolhido no próprio casaco preto quanto ela. — O que estão fazendo do lado de fora? Achei que a gente tinha combinado de se encontrar dentro mesmo.

— Rose, você tá tão pálida que parece que vai congelar!

Albus surgiu atrás de Scorpius.

—  E você parece menor, não caia na neve. Pode ser que não consiga sair nunca mais — rebateu Rose, encarando Scorpius em seguida. — Quanto a você! Se ficar mais magro, o vento vai te atravessar, sabia?

Roxanne não evitou soltar um riso pelo nariz.

— O que vai acontecer comigo então? Eu que sou pequena e magricela?

— Roxie, você nem anda na neve — falou Scorpius, rindo também. — Você flutua porque é um anjo.

Os dois bateram as mãos como cúmplices.

— Eu amo esse garoto! Oficialmente meu melhor amigo homem nessa escola!

— Ah é? — Albus retrucou, erguendo os punhos na direção da Weasley. — Vem brigar por ele comigo, sua ladra de melhores amigos.

Os dois bobões sem um pingo de noção de porte começaram a pular de um lado pro outro como se fossem trouxas pugilistas. Ou duas crianças mesmo.

— Vamos deixar os dois se matarem? — Rose riu, observando enquanto Roxanne batia no lado da cabeça de Albus. — Estão lutando pela sua falta de honra, sabia?

Seus olhos foram na direção do loiro, chocando-se contra os dele.

— Estão brigando porque gostam de brigar. A família de vocês têm uma mania muito louca de estar sempre à flor da pele.

Não retiraram os olhos, nem mesmo tentaram desviar. Quer dizer, não era como se Rose quisesse que ele retirasse. Pareciam magnéticos, os dele. No frio e no claro de Hogsmeade, estavam quase mais azuis e gentis que o normal.

— Isso é porque você nunca viu como as coisas são no Natal. Ali sim é banho de sangue. — Mordeu levemente o lábio inferior, imaginando que cena engraçada seria ver Scorp experimentando os chicletes surpresa que seu pai trazia para todos os netos de vovó Molly como tortura. Ia sofrer, mas com certeza ia dar boas risadas. — Vamos entrar? É melhor ficarmos ao menos aquecidos quando Hugo estiver com Alice na Dedos de Mel, e James der o sinal.

— Por falar no seu irmão, acha que conseguimos enganá-lo? — disse ele rapidamente, fazendo-a prestar atenção nas laterais da rua no intuito de se certificar de que não eram vistos. — No vagão, eu digo? Ele não pareceu suspeitar de nada.

— Hugo acha que você e eu competimos pelo mercado das colas. Ele é conspiratório demais para pensar em soluções simples para as coisas. — Rose achou graça, juntando as sobrancelhas. Não que aquilo que havia entre eles fosse simples, mas se falasse, talvez, acabaria acreditando. Ela e Hugo eram parecidos demais nesse problema com conspirações, mesmo que elas fossem do próprio destino. — Fiquei preocupada com James, na verdade. Não dá para saber o que ele sabe e o que não sabe.

Bastou a menção do nome de seu primo para ver o rosto de Scorpius se contorcer, e ele mexer no ombro em giros.

— Eu gostava mais do irmão do Albus quando ele me odiava — choramingou com clara dor expressa nos olhos e no franzir de testa. Definitivamente todo o treinamento foi sofrido. — Acho que ele só não liga para o fato de a gente... Você sabe

“Você sabe”, e ele parou. Você sabe o quê?! Rose rangeu os dentes. James sabia que eles eram amigos? Sabia que eles eram próximos demais para serem só amigos? Sabia que eles não eram próximos o suficiente para serem mais que amigos? Ou sabia algo que ela não sabia?

É… Sei...

Porque ela mesma não sabia. Ia se fingir de louca até onde pudesse. Era mais fácil do que entrar em conflito consigo mesma.

— Pois é, acho que seu segredo está a salvo com ele. — Scorpius sorriu por fim. — Até porque ele nos deve também um segredo. Estamos quites.

A afirmação não passou despercebida por Rose, pois ele estava se referindo ao beijo entre James Sirius e Nate. De fato, estava lhes devendo um favor. Não que ela tivesse descartado 100% a vontade de se vingar daquilo que o primo dissera sobre ser uma megera, porém certas verdades precisam ser engolidas a seco. Tudo bem. Aceitou o fato como uma espécie de troca de favores: não falaria sobre Nate e James, e ele não diria absolutamente nada sobre o que quer que estava acontecendo entre ela e o Malfoy.

Adentraram no Três Vassouras sem muita demora. Roxanne deu uns cascudos na cabeça de Albus, e ele parou de encher o saco com seus murmurinhos bobos. Rose insistiu que se sentassem próximos à porta e que pagassem logo no balcão pelas cervejas-amanteigadas que pediram. Não queria correr o risco de James aparecer pela porta e a conta atrapalhar o plano.

Porém, quanto mais os minutos passavam, mais impaciente ela se tornava. Os outros três não terminavam mil assuntos sobre a festa para Lily Luna, enquanto ela batia as pontas dos dedos na mesa, encarando o relógio.

Passaram meia hora e duas canecas de cerveja-amanteigada para dar o tempo em que a porta de entrada se abriu com alguém de interesse para Rose. Lá estava James Sirius, olhando com sua cara abobada para os cantos do pub à procura dos meninos. Demorou demais para vê-los, e Rose se questionou da mínima inteligência de seu primo por isso.

— Ei, Albus! — James veio na direção deles, erguendo o braço. Encarou os outros e pigarreou. PÉSSIMO ator. — Olá… Vocês… Albus, preciso da sua ajuda.

Albus Severus estava compenetrado na sua caneca, observando as espumas descendo dela quando o irmão se aproximou. Até mesmo fez uma careta quando ergueu o rosto.

— O que foi? Papai mandou você fazer alguma coisa?

— É o Teddy. Ele está na loja de caldeirões e pediu ajuda para levar os que comprou para a escola. — Sorriu o Potter, batendo os olhos. — Pode vir? Digo, agora?

A careta de Albus ficou mais azeda, e ele bocejou com preguiça, enquanto os outros três o encaravam impacientes. Rose ficou a ponto de levantá-lo pelo braço para ir lá! Droga, Albus Severus Potter!

Ahnm… É que eu tô com uma preguiça… — ronronou e encarou Scorpius. — E aí? Quer ir?

— Pode ser. — Ele fez o mesmo movimento dolorido de girar o ombro que mostrou para antes Rose. — Mas o treino de voo de vassoura me machucou de verdade, então não espere que eu carregue nada, Potter.

— Isso, isso! — Roxanne bateu no ombro dele para empurrá-lo para fora da cadeira. — Vão lá ajudar o Teddy!

Albus juntou as sobrancelhas e os encarou com abuso enquanto se levantava. Devia suspeitar que estavam estranhos, mas isso nem importava tanto assim. O verdadeiro foco era ele se ocupar com o salvamento de Alice em breve.

— Vai na frente que eu te encontro lá, tranquilo? Vou só tomar uma caneca de cerveja amanteigada. Sabem como é, aqui é estranhamente mais frio que em Hogwarts. — James sorrateiramente deu de costas e saiu de perto deles, caminhando na direção do bar.

Scorpius e Albus deram “tchauzinhos” também para as duas meninas e foram logo em seguida de James. Pela janela, elas observaram enquanto os dois garotos sonserinos se dirigiam até a pequena rua que culminava no local para o ataque. Perfeito!

— Ufa. Agora é só esperar acabarem o plano — falou a morena com um suspiro aliviado. — Eu estava já achando que ele não ia aceitar.

— Se demorasse mais um pouco, acho que poderiam até perder a janela do ataque. Ia ser problemático se outra pessoa salvasse Alice e acabasse desmascarando os caras. — James concordou com um balançar de cabeça, mas aquilo estava fora de cogitação para Rose.

— Se outra pessoa os visse implicando com Hugo e Alice, eles iam fugir e abortar o plano. Não corremos riscos desnecessários.

Os dois primos dela assentiram. Era muito bom bancar a mestre dos planos.

— Então é melhor terminarmos logo para ficarmos no beco vigiando, certo? — Roxanne sorriu, erguendo sua caneca de cerveja amanteigada com apenas dois dedos. Rose fez o mesmo e as duas brindaram, acabando suas bebidas em dois goles.

— Vamos logo.

James se ergueu quase num pulo com Roxanne ao seu encalço, dando tempo suficiente para que Rose se juntasse a eles. Ainda bem a cerveja amanteigada era calorosa, ajudou-as a ter força de vontade para voltar ao frio lá de fora. Precisavam manter o…

Espera.

De repente, do outro lado da janela, Alice Longbottom caminhava calmamente com algumas sacolas de guloseimas da Dedos de Mel em um braço e um olhar distraído refletido no rosto. Ela estava lá, amarrando os cabelos numa liga do lado de fora do Três Vassouras como se nada estivesse acontecendo.

— Vocês estão vendo o que eu estou vendo?! — Rose ficou sem ar, já segurando as sacolas de compras dela e de Roxie para se levantar.

— O plano deu errado — completou James Sirius.

Os três grifinórios correram para a porta numa velocidade que nem mesmo eles provavelmente sabiam que tinham. Alice nem mesmo sentiu que eles estavam indo na sua direção, parecia tão distraída que o encontro dos três a cercando foi um completo choque para seus grandes olhos azuis.

Afinal, o que ela estava fazendo ali?! Era para estar choramingando ou pelo menos torcendo que Hugo não molhasse as calças de medo de Nate Parkinson!

— Alice! — Roxanne se apressou. — O que está fazendo aqui?!

Foi quando Hugo apareceu correndo na direção de todos, parando ao se bater contra o ombro da Longbottom, que piscou algumas vezes sem entender o que estava acontecendo.

— Ei, isso doeu! — Os olhos dela, redondos como bolas de sinuca, caíram em Hugo primeiro, indo na direção dos outros logo depois. — O que houve? Vocês estão me encarando que nem um Sinistro.

SINISTRO?! Sinistra ia ficar Rose Granger-Weasley se o inútil do seu irmão não abrisse a boca para explicar o motivo de eles não estarem no beco de frente para a Dedos de Mel.

— Hugo, quer explicar o que está acontecendo?!

James deu um passo para frente, tentando entender o que estava acontecendo.

— Achei que tinha visto vocês dois entrarem no beco.

— E eles claramente não estão no beco! — Rose interrompeu o primo, batendo o cotovelo no seu braço.

— Eu tô vendo! Ai! Que saco! — Ele gemeu.

Roxanne empurrou tanto James quanto Rose para o lado de uma vez.

— Hugo, o que aconteceu com o plano?!

— Émile Duchannes e uns outros caras do sétimo ano estão brigando com Nate Parkinson e os caras da Sonserina! — Hugo gritou de uma vez. Fitou Rose e apontou na direção do beco. — Mudamos de caminho porque eles estavam lá assim que entramos!

Alice franziu o cenho para o garoto Weasley.

— De que plano ela está falando?

Rose colocou ambas as mãos na testa. Se Alice e Hugo saíram do beco em que aconteceria o falso ataque por conta de uma briga dos caras do sétimo ano — logo dos amigos de James! Isso significava que os meninos tinham seguido na direção do caos. 

— Oh, não. — A ruiva se virou na direção da entrada do beco. — Albus e Scorpius.

Não pensou, nem mesmo tentou organizar na própria mente o que faria. Manipulada pelo instinto, Rose deu dois passos com as sacolas batendo em sua perna. Quatro passos. Seis. Oito. De repente, estava correndo, e James estava ao seu lado. Percorreram alguns metros, ignorando completamente qualquer grito que vinha de Roxanne ou de Hugo até chegarem na entrada da pequena ruazinha que ficava entre dois prédios de três andares. Era tortuoso e, acima de tudo, muito longo. Dava duas curvas para chegar ao final e cruzar o bloco para o outro lado. 

Ela deixou James para trás na corrida, dobrando a primeira e a segunda vez até que, finalmente, seu corpo paralisou na cena em que Luke Flint segurava Albus contra a parede úmida. Atrás deles, os dois amigos de Nate estavam presos um contra o outro, provavelmente petrificados por sua inércia de movimentos, de rosto e de expressão. Nate era socado no estômago por Jordan Memoire da Grifinória, enquanto Émile assistia a cena com os braços cruzados.

No entanto, o seu verdadeiro interesse em estar de espectadora na briga não apareceu em seu campo de visão de primeira. 

Scorpius não estava ali.

— Ei! — A voz de James surgiu grosseira atrás dela. Enquanto Rose estava parada sem saber onde estava Scorpius Malfoy, o primo Potter mais velho passava dela e empurrava Luke Flint com a mão no seu colarinho. — Que porra vocês acham que estão fazendo?!

Émile e Jordan pararam com Nate, que caiu no chão sem emitir som algum. Devia também estar preso por algum feitiço, assim como os outros dois garotos.

— Olha só quem resolveu aparecer na hora da diversão! — exclamou o lufano, sorrindo para James. — Pegamos o trio de perdedores do “Rei” com um Petrificus Totalus enquanto estávamos longe dos olhos da McGonagall e…

Émile parou de falar quando o punho de James Sirius Potter derrubou Luke Flint como um machado derruba uma árvore de 100 anos. Só deu tempo de Roxanne, Hugo e Alice chegarem ao lado de Rose, assistindo enquanto os irmãos Potter se erguiam lado a lado.

— Você tá bem? — murmurou o mais velho, passando as mãos nos ombros de Albus, que apenas assentiu com um movimento de cabeça.

— Tô bem, tô bem. — Ele gemeu devagar. — Sabe, é preciso mais do que brutamontes com 17 anos e liberdade para praticar magia fora da escola para me derrubar.

Rose deu alguns passos para frente dos garotos, encarando Luke Flint como quem iria chutá-lo nas bolas ou dissecá-lo com seus olhos cheios de chamas. O susto dele foi tanto que até mesmo saiu se arrastando no chão na direção dos outros caras: Émile, Jordan e mais três.

E nada de Scorpius Malfoy!

— Que droga foi essa, James? — Émile ficou pasmo, sacando a varinha de imediato. — Achei que ia curtir a brincadeira. São os seus inimigos.

— Brincadeira? — Rose Weasley cruzou os braços, mas os olhos não pararam de vasculhar os cantos da ruela. Onde diabos estava Scorp?! — Vocês estavam surrando o irmão do cara e ainda chamam isso de brincadeira?

— Pode deixar, Rose, que agora sim vai virar brincadeira. — James soltou Albus e começou a retirar lentamente a própria varinha do bolso da jaqueta, apontando-a para os outros. — É melhor largarem o Nate antes que eu faça um estrago que vai alertar até o último fio de cabelo de gato da McGonagall.

Meio segundo de tensão se passou até que um raio de luz jorrasse pela ponta da varinha do Potter com um grito rápido que ele deu de “Expeliarmus”. A varinha de Émile voou para cima rapidamente, e o cara deu três passos para trás. Rose não deixou por menos e aproveitou a deixa para submergir a mão na sacola de compras e retirar as bombinhas de areia vermelha. Lançou uma com força na direção dos outros garotos, vendo-a explodir em fumaça rubra, que ocupou quase todo o espaço.

— Use Reparifors para tirá-los da petrificação! — exclamou a ruiva para o primo. Se ele era o único entre eles que podia usar magia, era bom que fizesse direito.

James correu na direção dos amigos do Parkinson que estavam mais próximos e recitou o encantamento de cura, fazendo com que eles segundo após segundo tornassem a realizar o movimento das mãos. Foi tempo o suficiente para que um jato de magia rápido viesse na direção dele e o jogasse para trás. Foi um Flipendo descarado e ousado vindo do escuro. Porém, agora eles já tinham mais dois com magia no time.

— Kilik, você já pensou que um dia James Potter nos ajudaria? — Benjen girou o ombro direito enquanto a mão esquerda se armava com a varinha.

— Será se o Nate vai passar a coroa depois desse resgate? — O outro riu e estendeu o braço com a varinha na direção dos caras. — Alarte Ascendare!

O feitiço foi na direção da fumaça vermelha sem dissipá-la, mas acertou em cheio Jordan Memoire, que voou para o alto num grito desesperado, caindo no telhado do prédio.

Rose estava tão irada que, primeiramente, seu plano deu errado e, em segundo lugar, não podia dar a surra que aqueles caras mereciam com uma varinha e toda sua lista de feitiços organizados na cabeça em ordem alfabética e ordem de efetividade. E não há nada pior que uma Rose com raiva o suficiente para matar pessoas e atirar seus ossos para dragões escoceses.

— Venha comigo — disse firmemente para o amigo de Nate Parkinson, Benjen, puxando-o pela manga da camisa. Não deu tempo de ele sequer refutar o chamado. Foi arrastado pela Weasley. — Me dê cobertura.

Ela andou, como a dona do mundo que era, para dentro da fumaça. Não que pudesse ver muita coisa através dela. Estava guiada pelo próprio ódio que lhe retorcia a espinha e a fazia ranger os dentes. Seguiu reto quase farejando as presas, sabendo que acharia um dos imbecis se fosse nessa direção. E assim aconteceu…

— Émile — rosnou a garota ao bater os olhos no lufano de cabelos cor de areia. — Onde está Scorpius?!

— Rose?!

Ela apontou Émile para Benjen, fazendo o sonserino lançar um feitiço contra o rapaz rapidamente:

Muffliato!

Émile caiu no chão com um gemido agonizante, tampando os ouvidos com força. O feitiço proferido tinha efeito de encher os ouvidos do alvo de um som terrível enquanto o usuário que o lançou permanecesse conectado.

De repente, Albus e Roxanne surgiram numa corrida atrapalhada ao lado dos dois. Rose apenas acenou a mão para Benjen, e o rapaz parou. Émile a olhou com bufadas, ainda segurando os ouvidos. Sua expressão mostrava apenas dor e raiva direcionada a Rose. Ela não ligou. Agachou-se com seu próprio encarar de raiva, assumindo que a culpa era dele. E apenas ele sofreria se dependesse dela.

— Não adianta me olhar desse jeito — falou ela com asco. — Você mexeu com eles porque quis. Essas são apenas algumas consequências.

— Rose Weasley...

O som de um grito a alguns metros deles foi escutado, assim como um brilho colorido na fumaça. Eis que esta começava a se dissipar ao redor dos garotos, mostrando o cenário do beco com Kilik Virgil guardando sua varinha e os outros dois garotos que estavam do lado de Émile Duchannes caídos no chão.

— Eu vou lá ajudar o Nate — murmurou Benjen para a ruiva, que assentiu com a cabeça.

— Acabou a festinha e a brincadeira ridícula, Émile. — Rose debochou, batendo sua mão na testa do cara. — Ouse mexer com as pessoas que eu gosto mais uma vez e haverá consequências bem piores. Agora, você está na minha lista negra.

Ele apenas ergueu o olhar para ver o riso moleque de Albus e a pose de força de Roxanne. James chegou logo em seguida mancando, mas com os olhos esverdeados furiosos. Do outro lado, Kilik e Benjen apoiavam Nate Parkinson, ainda zonzo da petrificação.

No entanto, a maior surpresa veio no final.

Em meio a todos eles, Alice Longbottom se aproximou com passos lentos e delicados quase sem barulhos. Cruzou os Potter e as Weasley a tempo de ficar frente a frente com o lufano. Ela sorriu. E cerrou o punho, socando a cara de Émile Duchannes com força e exatidão bem no meio da fuça!

Todos entraram em estado de choque ao ver a cena, especialmente quando o garoto caiu no chão com mais gritos e um nariz ensanguentado.

Alice se levantou, passou a mão nos cabelos para jogá-los para trás e falou com sua voz fina e belo tom:

— Nunca mais toque no Albus.

Ela girou os calcanhares e deu de cara com ele ainda em sua expressão ríspida. Ergueu o queixo e saiu andando na direção de Hugo como se nada tivesse acontecido. Rose ficou perplexa. Pior que ela, só mesmo Albus que estava de olhos arregalados e queixo caído, tudo ao mesmo tempo, encarando-a enquanto ela puxava o ruivo para irem embora dali.

— Quando foi que ela deixou de odiar o Albus? — murmurou a ruiva para James, que deu de ombros. — Isso quer dizer que meu plano era inútil?

— Essa foi… Completamente inesperada. — Roxanne soltou uma risada rápida antes de olhar para Albus Severus. — Você viu o que acabou de acontecer? Ela defendeu a sua honra inexistente.

Rose precisou sacudir a cabeça para tirar aquela imagem a sua mente. Não demorou para que Émile se arrastasse para longe com os olhos furiosos e loucos por retaliação da retaliação. Tanto ele quanto os outros caras que estavam consigo fugiram rapidamente com os rabos entre as pernas.

Ai ai, mais um dia de resgate para acabar com gente correndo dela com olhar de medo e com desejo de vingança.

— Você está bem? — exclamou Albus para James. O mais velho apenas concordou sem muitas palavras. 

Os olhos dele estavam além de Albus, e Rose viu isso. Iam quase correndo na direção de Nate Parkinson. Que o fitava de volta. Intensamente.

— E o plano furou! — Kilik deu uma risada um tanto quanto infame antes de ele e os outros dois sonserinos ficarem frente a frente com o resto do time. — Mas acho que devemos agradecer pelo salvamento. Você é bem corajosa para alguém que não pode usar magia fora da escola, Rose Weasley.

Ela sorriu sem mostrar os dentes. Não estava feliz com aquilo. Quer dizer, ela realmente dava a cara a tapas em uma briga, no entanto desejava lá no fundo que tudo tivesse dado certo sem intercorrências.

— Plano? Que plano? — Albus soou confuso, e os outros riram baixinho.

— Obrigado, Weasley — falou Nate, segurando o próprio abdômen com um gemido dolorido. — Foi um bom plano mesmo. A réplica ao problema inesperado foi ainda melhor.

Albus urrou para o alto ainda mais indignado.

— Eu vou repetir: de que plano vocês estão falando?! 

Eis que James Sirius mancou até Nate sem prerrogativas. Olhou-o de cima a baixo e ainda encarou o local que ele segurava. O Parkinson nada falou, parecia estar esperando que o Potter agisse de alguma forma. Parecia orgulhoso demais, na verdade! Carrancudo e frio.

— Você vai ficar bem? — questionou ele com a voz calma. — Madame Rosmerta sabe feitiços de cura. Se formos até ela, não precisaremos dar explicações para McGona…

— Eu estou bem, James. — Nate o interrompeu e sorriu, quebrando a própria expressão séria. — Obrigado. De verdade. Você não precisava ter brigado por nós três também.

— Não briguei por vocês três — respondeu rápido. E os dois se fitaram num silêncio rápido. Parecia que conversavam por pensamento. — Eu odiaria ficar sem você, cara de Grindylow.

O sorriso de Nate Parkinson cresceu, e ele estendeu a mão. James a apertou com satisfação sem tamanha, erguendo o rosto com um sorriso do mesmo tamanho.

— E eu sem você, Verme-Cego. — O sonserino deu-lhe uma piscadela antes de soltarem as mãos.

Os dois amigos sonserinos dele se entreolharam rapidamente, e a cara de surpresa de Albus se estendeu também para Roxanne. Rose, no entanto, sabia que alguma coisa tinha entre aqueles dois, ela mesma os flagrou com Scorpius algumas semanas antes.

— Certo, agora a pergunta que não quer calar — disse ela antes de pigarrear — onde está o Scorpius?!

Albus formou um “O” com a boca e saiu correndo para perto de onde Nate Parkinson havia sido petrificado. O grupo do resgate o observou sem entender, porém todos seguiram seus passos mais devagar. Havia uma porta de madeira muito velha numa das paredes. O garoto parou na frente dela e puxou-a pelo trinco com muito esforço, permitindo que um corpo grande e magro de Scorpius Malfoy caísse apagado no chão.

O coração de Rose foi quase à boca com a cena. Tanto ela quanto Roxanne se abaixaram e o viraram de barriga para cima exasperadas.

— A briga começou porque eles queriam meter o pau no Nate e nos outros. — Albus também se abaixou devagarzinho ao lado do amigo. — Scorpius se meteu e foi acertado no ombro. Jordan Memoire acertou ele com um Estupefaça e o jogou aqui dentro como se fosse um saco de batatas. Acho que ele está bem, mas bateu o ombro com força. Vai acordar todo dolorido.

Scorpius estava lá, de olhos fechados como um quase-morto. Não estava, claro, morto! Porém, do fundo de seu âmago, Rose quis correr atrás dos imbecis outra vez. Talvez o fizesse quando chegassem a Hogwarts, e ela pudesse usar magia para prendê-los pelas cuecas no topo da Torre da Grifinória. 

A lateral do rosto de Scorpp estava machucada com escoriações feias. Isso fora um rasgo no casaco em seu ombro. Por que tinha que sofrer tanto, Malfoy? E nem foi pelas mãos dela! Argh!

— Alguém pode usar “Rennervate”, pelas barbas de Merlin?! — Rose revirou os olhos para o grupo de septuanistas inúteis que tinha carregado para aquela missão estúpida.

Nate Parkinson pigarreou e se abaixou para perto do loiro também, retirando sua varinha do bolso da calça. Moveu-a num amplo círculo ao enfeitiçar Scorpius com um murmúrio cuidadoso no uso de “Rennervate”, do jeito que ela mandou.

O Malfoy abriu os olhos rapidamente como se tivesse tomado um susto, puxando o ar num pulo para se sentar. Foi tão brusco que assustou Albus.

— O-o-o que?! — gaguejou ele, pestanejando ao ver os outros ao seu redor. — O que aconteceu?!

Ele olhou para todos, todos, antes de encarar Rose. E quando os olhos dos dois se encontraram, ela o leu na cor clara do azul dos seus. Estava assustado, mas estava bem. Scorpius Malfoy estava bem. Depois de vários minutos, finalmente Rose Weasley conseguiu respirar direito.

— Scorp, que susto que você nos deu! — Roxie passou a mão no cabelo dele. — Está tudo bem com você?!

— Cara, você perdeu a batalha das batalhas! Para sua sorte, eu me lembro de tudo com nitidez e memória de alta qualidade. — Albus riu, balançando a cabeça. — Como está seu ombro?

Scorpius ainda estava meio atordoado, tanto que nem respondeu de imediato, só colocou a mão no ombro direito e fez uma careta sem graça. Foi necessário Kilik e Benjen dando apoio para que ele se levantasse direito. Nem mesmo conseguia mexer o braço.

— Alguém pode dizer pro Chapéu Seletor que ele errou em colocar Scorpius Malfoy na Sonserina? Esse moleque devia estar na Grifinória! — Kilik quase comemorava. Parecia que tinham todos saído da guerra. — Foi raça! Foi coragem! Foi bravura! Eu deveria repetir o ano para ficar no mesmo ano que vocês, garotos.

— Você vai acabar repetindo mesmo, idiota. — Benjen resmungou e ajeitou Scorpius em pé. — Quer que chamemos alguém para cuidar do seu ombro?

Ele negou com a cabeça.

— Não precisa. Acho que dá para esperar chegar em Hogwarts e pedir que a Sra. Longbottom faça um curativo...

— Deixe de bobagem. — James resmungou e pôs as mãos nos bolsos da calça. — Vamos todos atrás de Madame Rosmerta. Pedimos que ela veja se vocês estão bem mesmo e ainda tomamos uma cerveja amanteigada. Eu pago.

Uma rápida comemoração por parte de Roxanne e Kilik foi escutada. Nate e Benjen só ergueram as sobrancelhas de surpresa. Albus, também riu e comemorou com uma dancinha, começando a andar na frente de todos enquanto falava:

— Aí lá vocês vão me contar que plano era esse, né?!

James bateu no ombro do irmão e continuou a andar com ele.

O “Clube de Resolução de Problemas” de repente estava andando junto como se nada tivesse acontecido. Só Rose que ficou para trás, olhando para eles enquanto se distanciavam. Não importava se havia sido ela a responsável pelo salvamento, foi a ideia dela que fez com que todos se machucassem. Se não tivesse surgido com uma coisa tão elaborada, não estariam no lugar errado na hora errada.

O machucado de Nate Parkinson era sua culpa. Pior, os machucados de Scorpius estavam na sua conta.

Rose suspirou profundamente, abraçando o próprio corpo. A vontade que tinha era de chorar. Pior, era de gritar consigo mesma! Só Scorpius e Roxanne que viraram o rosto juntos e a viram parada, retornando para perto da garota com seus sorrisos gigantes.

— Eu já estou indo… — falou a ruiva, já sentindo as narinas em estado de alerta.

— O que foi? Ficou chateada que o plano não deu certo? — Scorpius murmurou, aproximando o rosto do dela. Suas mãos a tocaram e desfizeram o abraço que Rose tinha se prendido, deixando-a exposta. — Podemos fazer outros planos depois. Ainda tem provas para roubar, aulas para animar e pessoas para assustar.

Rose sorriu sem mostrar os dentes e se acovardou quase que instantaneamente. Era um sorriso de mentira, e Scorpius não podia ver através dele. Ela, no entanto, via o rosto dele. Via o machucado e sua boca curvando-se num sorriso solene. Não adiantava, o rapaz sempre seria uma pessoa muito melhor e muito mais forte que ela jamais poderia tentar cogitar se tornar. Era incrível! Não tinha a menor chance numa briga com septuanistas com magia e ainda assim tentou ajudar Nate Parkinson. Poderia até mesmo tê-la culpado, como já fez antes! Não fez. Estava sorrindo para ela, perguntando se estava tudo bem e ainda mais se oferecendo para cuidar da mágoa que Rose tinha medo de transparecer.

O coração acelerou com aquele olhar. O estômago embrulhou. Queria abraçá-lo. Queria brigar que ele se expôs daquele jeito, que poderia machucar bem mais do que o ombro e o rosto. Queria várias coisas que não tinha força de fazer. Só conseguia mirar sua face e imaginar que, se estivessem sozinhos, iria beijá-lo.

— É, eu fiquei mesmo chateada. Mas agora está tudo bem. Vai na frente para Madame Rosmerta ver seu machucado antes do machucado do Parkinson, Scorp.

Ele segurou a mão da garota e a trouxe para perto de si, beijando-lhe os ossinhos dos dedos. Então, virou-se e quase correu na direção de Albus como a grande girafa que era.

Por sorte ou por azar, Roxanne não saiu de perto tão facilmente. 

— Não minta para mim — disse baixo, provavelmente para Scorpius não escutar.

— Eu não minto.

— É, você edita. — Ela via claramente através de Rose. Era algo irracional. — O que está passando pela sua cabeça, Rose?

Os olhos escuros de Rose Weasley se direcionaram para a prima. Esteve tão absorta em fazer com que tudo desse certo para ocupar a mente que nem mesmo se tocou do quanto estava se importando com a segurança de Scorpius Malfoy. Ele não era indestrutível e nem um gênio das trevas. Scorpius era bom! Era bom de coração, de espírito e de sorrisos. Ela estava tão imersa nele que não sabia como colocar para fora a única coisa que poderia acabar com aquele clima.

— Roxanne, algo ruim vai acontecer — sibilou, vendo se os garotos estavam longe o suficiente para terminar de falar. Estavam. E era isso que Rose temia: a distância que poderia vir por culpa de uma única carta. — Jasper está vindo para Hogwarts. Ele me mandou uma carta com um presente, falou um monte de coisa como na época em que ainda estávamos namorado. Disse que sente saudades de mim. Ele vem para o Natal de Slughorn me ver.

A outra Weasley não teve reação imediata. Entreabriu os lábios e olhou também se os caras estavam afastados antes de tornar a encarar Rose.

— Grindy, seja sincera. Por que você está sofrendo com essa notícia? — questionou suavemente. — Até poucas semanas atrás estava falando o quanto Jasper era incrível e aquele monte de baboseira. Por que ele voltar é algo ruim?

— Porque estou gostando de Scorpius Malfoy. — Rose arfou e enfiou o rosto no meio das mãos. — Eu estou apaixonada por Scorpius Malfoy e não sei o que fazer com isso.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi GIGA, mas foi de muitas emoções haha.
Desculpa por não ter respondido os comentários, gente. Eu sou pior que a Rose na vergonha me deixando parada kkk. Podem jogar pedras, eu aceito as consequências da minha cara de pau em ser uma péssima autora. No entanto, espero que tenham gostado do capítulo ♥ ♥ eram muitos personagens, mas eu me diverti imaginando cada um deles, especialmente a cara da Rose de frustração com a descoberta de seus sentimentos hahaha.
No próximo capítulo, Lily volta ♥ vai ser muito muito amorzinho. Espero por vocês lá! Beijinhoooos no coração!



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