Aprendendo a Mentir escrita por Starsky


Capítulo 16
Capítulo 15 — Um coração nascido para correr.


Notas iniciais do capítulo

RÁ! Eu voltei! Além de cedo foi com um capítulo delicioso de muitas palavras kk. Mas, acreditem, ele vale à pena ser lido. MAS ANTES! Queria agradecer à mais nova e lindíssima recomendação da fic! SIIIM! Ela foi recomendada mais uma veeeeez! Então obrigaaaaada, Silena Black stoll (u/733292/), esse capítulo é dedicado a você com muito muito muito amor! Sério, fiquei muito feliz com a recomendação hahaha, quase morro de babar aqui.
E, sem mais delongas, vamos ao capítulo! Só queria dizer que ele foi basicamente inspirado na música "Keep Me Crazy" da banda Sheppard. Sério, é muuuito a cara da Rose e do Scorpius! Estou muito muito apaixonada por ela e por como ela se encaixa no enredo de Aprendendo a Mentir. Inclusive, ela está na playlist da fic! Mas, caso você não queria pegar a lista, eu inseri o link com ela no ponto final do título do capítulo haha, vale a pena ler escutando.
Então, boa leitura a todos!



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Capítulo 15

Um coração nascido para correr.

Scorpius Malfoy

 

O Dia das Bruxas era geralmente comemorado com muita intensidade pelo castelo. Costumava ter enfeites com morcegos vivos e abóboras maiores que o normal flutuando de cima para baixo no salão. Todo canto tinha luzes, e todas as luzes tinham rostos macabros dançando em piruetas bonitas. Não era à toa a paixão louca de Albus por aquele dia. E aparentemente de Roxanne também...

— Melhor dia DA VIDA! — gritou ela na hora do almoço, pulando em cima do pescoço de Scorpius no meio do pátio, onde ele e Albus provavam a nova experiência culinária que Astoria Malfoy mandou no correio. — McGonagall contratou nada menos que os Selvagens a Procura de Dragões para tocar no jantar. E hoje tem o tão prometido jogo Parkinson vs. Potter!

Então, jogou-se na grama ao lado dos dois, esparramando os cabelos cacheados no verde. Albus, porém, cruzou os braços com ciúmes do seu dia.

— Hmpf, quadrisolo não é nada comparado a… — O Potter olhou para Scorpius nervoso. — Aquele negócio entre quadros e botas. Ou você voa ou você torce pregado no chão. Brincar com goles, balaços e pomos na terra é chaaaato.

— Diga por si só — murmurou ela. — Todo Dia das Bruxas o sétimo ano joga quadrisolo! O de hoje vai ser iradíssimo porque o seu irmão e o Nate são inimigos juramentados, espera só para ano que vem quando formos nós.

Scorp e Albus se entreolharam rapidamente.

— Albus, você ouviu o mesmo que eu? Ela disse “o Nate”, nada de sobrenome. Isso é romanticamente suspeito. — Riu o loiro, não deixando de imaginar como Kilik e Benjen ficariam frustrados se soubessem daquilo. — Sabe, Roxy, eu posso até falar com ele se você quiser…

Albus sorriu diabolicamente.

— Hmmm, Roxanne Parkinson. Será se o tio George aceitaria esse amor?

— Vocês garotos são bem românticos, né? — Ela ergueu o tronco e deu de ombros. — Então, vamos assistir ao jogo mais tarde juntos ou o que?

— Claro que vamos — disse Scorpius com um sorriso verdadeiramente animado.

Como de praxe, Albus passou a tarde inteira organizando as traquinagens em comemoração ao Halloween. No ano anterior, o episódio do quadro da Virgem de Tintagel ficou notório entre os alunos, até mesmo Sir Nicholas Quase Sem Cabeça comentou que havia ficado tão surpreso que esquecera que era seu aniversário de morte. Dessa vez, ele e Albus decidiram dividir a importância do dia entre si para não ficar feio pra ninguém. Sir Nicholas faria uma festa entre os fantasmas e outros amigos íntimos durante a noite, e Albus poderia fazer o que ele mais sabia fazer na tarde.

Sequestraram o quadro outra vez, apenas para desafiar a segurança da Diretora McGonagall. Só que o mais engraçado foi que precisaram correr com ele debaixo do braço, ambos se esforçando desesperadamente porque a moldura tinha quase três metros de largura. "Esconderam-no" nas masmorras da Sonserina, pendurando-o no teto juntamente com outros sete quadros aleatórios das paredes do castelo.

Exagero ou não, entre quatro e cinco da tarde, todos os morcegos espalhados no teto do Salão Principal tinham papel higiênico preso em suas asas (a parte mais difícil foi capturar de um por um), as gárgulas dos corredores estavam pintadas com sorrisos alaranjados e todos evitavam andar sozinhos nos corredores porque o Barão Sangrento surgia entre as armaduras de pedra com baldes de sangue falso, claramente feitos por Scorpius chantageado pelo garoto Potter.

Não satisfeito, Albus ainda enfeitiçou algumas cordas que achou no porão! Elas seguravam alguns alunos do segundo e do terceiro ano em pilastras e faziam cócegas neles durante alguns segundos. Os do primeiro ano eram geralmente poupados, como se fosse o último ano da vida deles em que pudessem respirar como pessoas sem sofrer nas mãos do sonserino mais velho.

Mas com a chegada da noite e dos suspiros de McGonagall para cada magia que ela teve que desfazer (e alunas molhadas de sangue falso que ela teve que acalmar), o castelo pareceu se encher de alegria. As pessoas dificilmente notavam, mas aquela mania idiota de criar planos infalíveis de infernizar o Dia das Bruxas era quase que uma desculpa para animar os estudantes. E funcionava! Durante toda a tarde e início de noite, as pessoas comentavam o que viram e o que sofreram.

Scorpius sabia que o causador de todo o alvoroço era o fato de Albus não escutar a vozinha da consciência. Como sempre, para a alegria da nação.

—... depois do jogo, nós devolvemos o quadro e fugimos para o dormitório. Ei, quer parar de bocejar? — Albus finalizou a explicação da última façanha do dia no caminho para o Salão Principal, mas todo e cada bocejo de Scorpius era repreendido.

— Eu não dormi bem ontem, e você não me deixou em paz hoje — murmurou o loiro, coçando o olho direito. — Acho que vou furar com a Roxanne para poder dormir um pouco.

— Nem pense nisso — resmungou o Potter quando dobraram no último corredor. — Sem você e Roxanne, Lily vai querer me fazer ficar com ela para uma torcida de irmãos idiota. E onde Lily está, plantada ao seu lado fica Alice Longbottom.

O portão do Salão estava aberto, dando vazão ao ambiente cheio de música e conversas. Nenhum elfo da cozinha poupava esforços no que se tratava daquela data comemorativa! O banquete certamente estaria maravilhoso.

Scorpius e Albus caminharam rápido até a mesa da Sonserina, sentando-se entre um grupo de garotas do sexto ano que gostavam do Potter e uns meninos do quinto. Fariam a competição de quem conseguia comer uma coxa de peru mais rápido, então a posição ao lado de meninas era certamente um fracasso.

Não demorou praticamente nada até que McGonagall se levantasse no centro da mesa dos professores, fazendo toda e qualquer conversa cessar. Ao seu lado estavam os professores Vector, Firenze, Akilah, Lupin...

— Sejam bem-vindos a mais um dia festivo — disse ela em alto e bom tom. McGonagall era a professora mais admirada por Scorpius. Não só tinha seus oitenta e sabe-se lá quantos anos, mas também continuava sóbria e forte como diretora da escola, como heroína de guerra, como marco feminino do mundo bruxo e como professora quando podia. Ela o via como qualquer outro aluno, principalmente na hora de punir pelas enrascadas que ele se metia com Albus. Costumava dizer a eles que um era um problema e uma bênção para o outro. — O Halloween surgiu há vários anos como forma de deboche das artimanhas e famigeradas tradições bruxas. Os trouxas, porém, mal sabiam da força que este dia trouxe a nós. E, como já disse o sábio Merlin: “A magia é um caminho tão belo e desconhecido quanto a escuridão da noite. Felizes são os bruxos que nela resplandecem.” — Ela geralmente fazia esses discursos nos jantares mais especiais. Em todos eles, havia aplausos e assobios de alunos e professores, acalmados apenas quando McGonagall erguia uma mão e comentava sobre a comida. — Como sabem, o banquete de hoje foi incrivelmente preparado para o agrado de todos vocês, jovens bruxos e bruxas de nossa amada Hogwarts. Então, divirtam-se e tenham um pouco de cuidado com ossos nos pastéis de pato. Estes estão particularmente duros está noite. Bom apetite!

A comida surgiu diante dos olhos de Scorpius, preenchendo toda extensa mesa da Sonserina com fartura. Se um dia ele se casasse, com certeza contrataria os elfos do castelo para o buffet.

— Atacar? — disse Albus com um sorriso de ponta a outra.

— Estou bem atrás de você, Potter — respondeu Scorp.

Os dois caíram em cima da comida como se o mundo fosse acabar ali. Foram pratos de rodelas de cebola empanada, geleias de pimenta gritante e asa de galinha com mel. Quando finalmente os pratos da coxa de peru chegaram, estavam tão cheios que tiveram que adiar o desafio para o ano que vem.

— Albus, você esteve incrível ontem — falou uma das garotas ao lado do rapaz. — Com certeza vai continuar como capitão do time no ano que vem.

O Potter soltou um riso espesso, passando um braço por cima do ombro dela.

— Não posso afirmar nada, Dani. Ainda tem o resto do ano e mais duas partidas para vencer. Mas se eles me quiserem… 10 pontos para a Sonserina, eu acho!

As outras que estavam com ela riram em coro. Scorpius não ligava que estivesse de fora do assunto para falar a verdade. Achava meio bobo como elas perturbavam e provocavam Albus, e depois ficavam fazendo chame quando ele tentava beijá-las. Uma delas, porém, encarava Scorpius discretamente entre as amigas. Quando ele a olhou, seu rosto ruborizou, e ela gaguejou algo para a que estava mais próxima.

Foi a primeira vez que alguém reagiu daquele jeito com ele. Até porque era assim que as meninas paqueravam e suspiravam por Albus.

— Malfoy!

Seus pensamentos foram interrompidos. Não muito longe, a menos de quinze pessoas de distância, Benjen acenava com ambos os braços. Ao seu lado estavam Nate, Kilik e Madeline Nott. Claro, ela tinha que estar ali! Justo no Halloween! Justo no mesmo dia em que Scorpius e Rose… Sacudiu a cabeça loira para afastar o pensamento de Rose e do que havia acontecido naquela manhã, logo após ter dito aquilo sobre fogo. Tinha que esquecer a reação dela. Precisava esquecer!

— Vem sentar com a gente! — Benjen berrou novamente.

— Valeu, mas eu tô aqui com o Albus! — Scorpius apontou para o amigo agarrado em braços femininos.

Nate encarou Madeline, que negava freneticamente com a cabeça, puxando-a pelo braço para se levantar.

— Ei, eles estão… — Albus murmurou.

— Vindo pra cá. — Scorpius entrou em pânico.

Subitamente, a corte de Nate Parkinson se levantou de onde estava e afastou os garotos do quinto ano e as meninas bobinhas, sentando-se ao lado e na frente da dupla de sonserinos. E toda a mesa da Sonserina os encarava, como se aquilo fosse uma ilusão.

— Ótimo, agora ninguém pode escapar — disse Nate com um sorriso de orelha a orelha que mudava de Madeline para Scorpius. — Madeline, você conhece o Malfoy, não conhece? Scorpius, quero que conheça Maddie oficialmente e sem tapas por você ter cabelo de menina.

Madeline o encarou sem graça. Ela tinha olhos escuros, como seus cabelos, altos e assanhados. Era definitivamente bela, de um jeito até intimidador para alguém como o Malfoy.

— Me desculpa por ter sido idiota com você — disse ela para quebrar o silêncio, estendendo a mão para o garoto.

Scorpius balançou a cabeça, rindo de nervoso ao apertar a mão dela.

— Ah, tudo bem. Isso foi há, o quê? Cinco anos? — Sentiu uma pontada na costela. Era Albus lhe cutucando. — As coisas, ahn, mudam...

— Para algumas pessoas, se tiverem sorte — murmurou Madeline.

Benjen espalmou as mãos de satisfação.

— E aí, quem vai assistir o nosso jogo mais tarde? — Ele riu pra si mesmo e bateu no ombro de Kilik, que lhe lançou um olhar mortal.

— Nate, se eu torcer o braço do Benjen, você pode jurar pra mim que ele não vai poder jogar? — rosnou com a cara fechada.

Nate, porém, sorriu e negou com a cabeça.

— Enquanto ele puder bater ou ser batido, ele vai jogar. — Então, virou-se para Scorpius e Albus. — Vocês vão, não vão?

— Claro! E se você jogar bem, aguarde minha convocação para o time da Sonserina na manhã da segunda — disse Albus, cruzando os braços.

— Convocação essa que provavelmente eu vou redigir, aposto. — Scorpius brincou, empurrando o amigo.

— Quem mandou ser melhor com as palavras que eu, nerdão?

Madeline deu um risinho. Não havia notado antes, mas a Nott era uma moça bastante feminina. Ela sentava de pernas cruzadas, usava maquiagem nos olhos e tinha os lábios ligeiramente vermelhos. Claro, seus olhos ainda davam aquele susto quando encaravam, mas, dessa vez, estavam apenas cuidadosos e um tanto chamativos.

— Você é tão nerdão assim? — Benjen coçou a cabeça intrigado.

As bochechas do loiro formigaram.

— B-bom, se você considera alguém que gosta de bibliotecas nerdão, então nem tenho como me defender…

Kilik tirou o rosto de Benjen do meio, suspirando ao falar:

— Seja nerdão. É melhor do que ser como esse besta quadrada aqui. Não é, Nate?

— Depois da poltrona de rei, a mesa sete da biblioteca é como santuário particular para mim — disse ele, pegando um copo de suco.

Albus retorceu a cara, mas nada disse para os outros sonserinos.

Continuaram jantando lado a lado, mais escutando Benjen e Kilik discutindo entre sido do que trocando ideias ou competindo na velocidade da ingestão das sobras. Madeline era até engraçada. Ela e Nate comentaram que se conheceram antes mesmo de chegarem a Hogwarts, por isso se tratavam como irmãos, um tentando tomar de conta do outro, ainda que geralmente sem sucesso, de acordo com eles. Scorpius não tinha irmãos. Suas únicas referências para isso eram o relacionamento de sua mãe com tia Daphne e de Albus com James e Lily, ambas completamente diferentes! Astoria e Daphne eram parceiras, implacáveis e divertidas juntas. Albus não se entendia com James e se afastava de Lily como podia. “Irmandade” era um conceito estranho de sangue, então talvez fizesse mais sentido se fosse entre amigos.

Nesse sentido, Albus deveria ser seu irmão. Nate bem que tinha razão em falar sobre a amizade dos dois...

Naaate! Está na hora! — Madeline berrou exasperada, olhando para o relógio em seu pulso.

Ele pulou do banco, puxando os amigos pela gola das camisas.

— Até mais tarde, garotos — falou para Scorp e Albus.

Os dois levantaram uma mão para acenar, quando Madeline também ficou de pé, amarrando os cabelos num rabo de cavalo desarrumado.

— Vai com eles, Madeline? — Scorpius murmurou.

— Eu vou jogar, bobinho. Torça por mim. — Ela soltou um risinho, enquanto os outros rapazes sumiam pelo corredor. — Ah, e pode me chamar de Maddie. Eu prefiro…

Então, correu ao encalço de Nate Parkinson. Se ela iria jogar, as coisas seriam ainda mais interessantes que o Malfoy imaginava.

— Essa garota me dá arrepios — disse Scorpius, sacudindo os ombros.

— Bom, ao menos ela é gata. — Albus fez um bico pensativo.

Terminaram o mais rápido possível o que restava do banquete. Muitos alunos já tinham saído do Salão, o que acabaria sendo um problema para a dupla na hora de encontrar um lugar para sentar.

Quadrisolo era uma variante de quadribol jogada sem vassouras e criada pelos alunos de Hogwarts há quase uma década. Pelo que diziam as histórias, os criadores o fizeram para matar o tempo e não imaginaram que seria passado ano após ano nas noites de Halloween. As regras eram simples: times de 7 jogadores, duas argolas flutuantes para cada campo com cerca de 2m de suspensão, um pomo que não voasse a mais de 2,5 metros de altura e uma proibição clara do uso de magia. Um tanto semelhante ao jogo original, só que mais bárbaro. E todos amavam.

Quando Scorpius e Albus chegaram no pátio, os melhores lugares já tinham sido pegos, e James e Nate se encaravam no meio do gramado de mangas arregaçadas e olhares desafiadores.

— Hoje é um dia memorável! Finalmente verei uma cobra chorar — provocou James.

— Qual é, Potter — riu o Parkinson — vai dizer que já esqueceu de como eu chorei de rir quando quebrei o seu nariz no meio do corredor? Foi ano passado, estou certo?

Aqueles dois iriam se matar. O que não era exatamente uma surpresa. Surpresa mesmo foi Scorpius passar pelos bancos próximos à sala de Transfiguração e ver os professores discutindo entre si sobre o jogo.

— Então ficamos Slughorn, Aurora e eu no Parkinson — disse o Professor Akilah para os professores Longbottom e Lupin, anotando algo num bloquinho. — E Neville, Binns e Firenze no Potter. Falta você, Teddy.

— Se eu não apostar no James, vou ter sérios problemas com meu padrinho. — Riu Lupin, apontando para o bloco de papel que Akilah escrevia violentamente, quando de repente tomou um susto com o que leu. — Ei! McGonagall apostou em alguém?

— Ela e a minha mulher apostaram — disse Neville Longbottom — que metade de cada time vai parar na enfermaria antes do fim do jogo.

O queixo do Professor Lupin caiu, fazendo seu cabelo folhear o tom de azul para um mais claro.

— Isso é permitido?! Muda a minha aposta, então!

Akilah e Longbottom riram, começando a discutir entre si sobre o jogo que viria. Aquilo provavelmente era bullying do corpo discente com o professor mais novo. Pobre Lupin...

— Albus! Scorpius!

A mão do Potter puxou o braço de Scorpius de uma vez. Quando ele viu, Roxanne acenava abertamente num banco de pedra com dois lugares vazios do seu lado esquerdo. Do lado direito, porém, estava Rose de braços e pernas cruzados e uma cara entediada que fez o Malfoy estremecer.

— Ei, como vocês conseguiram lugares tão bons? — resmungou Albus, despencando ao lado da morena. — Eu e o Scorp estamos procurando já tem um tempo.

Eram realmente bons lugares, bem de frente para o campo improvisado. Mesmo assim, vários alunos do sexto ano estavam sentados na grama perto delas, como Lorcan Scamander, Samuel Thomas, Priya Patil, Hannah Eastwood, entre outros.

— Eu arrastei a Rose o mais cedo que consegui — disse Roxy, batendo no ombro da prima. — Mas agora que vocês chegaram, já posso ir pegar um pedaço de bolo de pêra com cobertura de caramelo.

— Não me diga que você não comeram nem mesmo um pedaço! — bufou o Potter.

— E é exatamente por isso que você vem comigo! — Roxanne pendeu a cabeça violentamente, indicando o caminho. — Agora, Albus. Comigo.

— Mas eu acabei de me sentar! Leva o Scorpius no meu lugar. — Albus franziu a testa, fazendo com que ela revirasse os olhos e o agarrasse pelo braço. — Ei, o que está fazendo?!

— Fica quieto e vem, gênio — rosnou antes de encarar Scorpius e Rose para dizer com o sorriso mais falso que conseguiu produzir na sua cara de pau: — Vocês dois, não saiam daí! Guardem nossos lugares, que eu volto num instante! Não saiam daí!

Antes mesmo que o garoto pudesse dizer algo, Albus e Roxanne foram embora, deixando-o sozinho com a cara emburrada de Rose.

Aquela tinha sido definitivamente a pior encenação que ele já tinha visto para deixar duas pessoas sozinhas.

E agora?! O que eu faço?! Scorpius choramingou em pensamento. Roxanne tinha feito aquilo de propósito! Devia saber do que aconteceu na biblioteca… Droga! Ele até tentou ver como Rose estava de canto de olho, mas, ao dar de cara com seu espírito sombrio, endireitou-se. Nunca iria esquecer aquela manhã. Seria humanamente impossível, por mais que de fato precisasse ser apagado da sua mente.

“Rose é fogo”. ARGH! Não podia ter ficado quieto? Quem fala esse tipo de coisa?! Fez um discurso inteiro sem mais nem menos e tinha certeza de que ela iria rir da sua cara. Ele mesmo riria! Se as condições fossem comuns e não estivessem sozinhos, talvez ela tivesse gargalhado até!

Mas não. Quando encarou o rosto de Rose após terminar a última frase com “o mundo parece um lugar meio sem graça”, foi tomado pelo desespero, pois uma lágrima escorreu dos olhos dela. Sim, uma lágrima. Uma gotícula de água formada pelo seu olho castanho e tempestuoso. Uma única lágrima! E seu nariz estava subitamente vermelho como o cabelo, e os lábios pressionados entre si com angústia. E uma lágrima acabou com toda a estrutura de Scorpius!

R-r-rose?! Você está bem? Está passando bem?! Foi a única coisa que ele conseguiu dizer. Só que ela deu um sorriso, desses espontâneos tentando secar mais lágrimas que surgiam rapidamente, uma após a outra. E ria baixo e praticamente sem som, enquanto organizava seus livros às pressas. Scorpius não disse nada. Rose quebrou o silêncio engasgado apenas no instante em que se levantou, dizendo em claro e bom tom: Obrigada.

E sumiu.

— Mais cedo foi bem inesperado para mim.

Scorpius sentiu o rosto pinicar com a interrupção da lembrança. Rose mordia o próprio lábio tão travada quanto ele, fitando-o de volta.

— Eu não deveria ter dito aquilo. Me meti na sua vida sem ser chamado, não foi? — Ele coçou a própria nuca, sentindo o corpo de Rose se aproximar do seu. Isso era perigoso… — M-me desculpa.

— Ah, foi bem metido mesmo. Mas no fim das contas, foi eu quem perguntou, então tenho que agradecer — disse ela, levantando o rosto para próximo de Scorpius. Mas agradecer? Ele não tinha magoado aquela garota? Encarou-a a fundo, tomando um susto. Rose sorria com leveza nos olhos. — E aí? Posso retribuir o favor?

Scorpius engoliu a seco.

— Eihn?

Devagar, ela se endireitou ao seu lado, cruzando os braços com sua pompa padrão.

A GOLES ENTROU EM CAMPO E O POMO ESTÁ NO AR!

Houve um grito, e o jogo de Nate e James começou.

— O que você disse para mim foi, bom, algo que eu estava precisando ouvir. E já faz algum tempo desde que alguém não me diz coisas tão boas e tão realistas. — Ela encarou o campo, observando a matança começar. — Ninguém nunca me comparou a fogo. Cheguei à conclusão de que quero fazer o mesmo por você, Scorpius. Quero ver você também pegar fogo.

Subitamente, Albus caiu ao lado de Scorpius com os braços cheios de bolo de pera, gritando:

— O queeee?! Já começou?!

Roxanne surgiu do outro lado, imprensando o Malfoy e Rose juntos no meio do banco. Os dois se encararam em silêncio, como aquilo que Rose falava fosse alguma espécie de segredo entre eles. Só que enquanto o silêncio reinava entre eles, o peito de Scorpius se debatia no interior dele.

O que acabou de acontecer? Perguntou-se em pensamento, esforçando o próprio rosto a olhar para o jogo.

James e Nate eram artilheiros. Os times mesclavam bem todas as casas, tanto em campo quanto nas reservas. Reservas essas que vez ou outra diminuíam. O primeiro jogador contundido foi do Time Nate que dividiu uma goles contra um corvino do Time James. Os dois caíram, mas só um levantou. Depois teve um cara da Grifinória que levou um balaço na barriga, cortesia de Benjen.

— Esse jogo está mais violento do que eu lembrava — murmurou Scorpius para Albus, que comia desesperadamente sem dar mais bola.

Então, a juíza - uma septuanista da Corvinal - apitou milagrosamente uma falta. Madeline entrou em campo no lugar do goleiro do Time Nate, recebendo assobios de muita gente enquanto ela se posicionava frente ao gol. Um cara do Time James atirou a goles, que foi pega sem muito problema por um salto da Nott… Maddie, como ela pediu que Scorpius chamasse.

A platéia aplaudia com urros, provavelmente mais pela expressão divertida e ousada que ela fez para James do que pela própria defesa. E depois que passou a goles para uma garota do seu time, Madeline encarou Scorpius diretamente, acenando com os dedinhos.

De repente, Roxanne empurrou Scorpius, Albus e Rose. Um balaço passou bem no meio deles numa velocidade espantosa! Com certeza teria levado ao menos algum crânio quebrado para a enfermaria. Scorpius encarou o campo e viu mais uma dupla sair se arrastando.

Eles definitivamente estavam mais empenhados em se matar do que em ganhar. Mas James e Nate continuavam firmes e fortes na frente de cada time.

Houve uma jogada em que o Potter correu com a goles em seu braço de encontro ao Parkinson, que também corria. Todos acharam que eles iriam se chocar! Porém, Nate passou a mão por debaixo da proteção de James, arrancando a goles com facilidade num giro e seguindo com sua corrida. Foi uma jogada espetacular. Só que aí o grifinório pulou em cima dele depois. A goles foi parar longe, e os dois se ergueram correndo como se aquilo não fosse nada.

Não demorou muito para o placar atingir um empate. Estava 110 a 110 quando a juíza declarou um tempo, exasperada porque todos caíam de cansaço. Menos James e Nate, claro. A estamina deles era pulsionada pela rivalidade. Ela chamou os dois ao centro para uma conversa, dando um minuto de respiração para os jogadores e para a torcida.

— Está assustador — disse Priya Patil, sentada no chão com Samuel Thomas, para Rose. — Sério, por que os professores não param tudo? Ano passado não foi tão cruel assim.

— Ano passado, uma menina saiu com o braço quebrado — exclamou Roxanne, misteriosamente animada, seguida por um riso de Albus.

— Quando for a nossa vez, eu vou quebrar a cara de todos que aparecerem na minha frente! Pode esperar!

— Isso é tão antidesportivo — retrucou Priya.

Foi quando Scorpius tossiu, apontando para o campo.

— Bom, talvez nem precise esperar tanto. Olha ali na frente.

Quando perceberam, James coçava a cabeça, claramente incomodado. As pessoas que estavam em pé no seu time eram ele, Emilé Duchannes, Caroline Falconie e Darius Gallangher. Do outro lado não estava muito diferente, sobrando Nate, Maddie e dois caras da Lufa-Lufa.

— Ainda faltam dez minutos de jogo. Ou eu declaro um empate, ou vocês encontram novos jogadores. Não dá pra continuar do jeito que está! — A juíza sentenciou rudemente, dando a eles dois minutos para pensarem no que fazer.

— Eu não vou empatar com você — rosnou James.

— E eu não vou perder para você — completou Nate.

Os dois ficaram de costas um para o outro, analisando a platéia. Não havia ninguém, ao menos ninguém do sétimo ano que conseguisse se desparalizar de medo do jogo, e isso Scorpius já tinha contado bem. Em menos de um segundo, Roxanne chegou à mesma conclusão e já arregaçava as mangas da camisa e do moletom.

— Não me diga que… — gaguejou o Potter.

— Não tem ninguém do sétimo ano hábil para eles colocarem — cantarolou ela, prendendo os cabelos cacheados neles mesmos. — Sabe o que isso quer dizer? Se não quiserem perder, o sexto ano vai ser a única saída para os dez minutos finais!

Parecia que ela tinha dito palavras mágicas, porque Albus instantaneamente começou a dobrar a bainha da própria calça, ajeitar o colete de lã e tirar os sapatos. E quadrisolo era chato, não era? Aham...

Dito e feito. James e Nate se encararam e assentiram um para o outro com claro contragosto, permitindo que a juíza dissesse abertamente:

— Ainda temos dez minutos de jogo. Alguém do sexto ano quer…

Ela sequer terminou a frase. Albus e Roxanne se levantaram num salto e correram para perto dos dois ao centro.

— Vem, Scorp! — gritou o Potter mais novo com uma risada. Nem em sombra de pensamento que ele iria para aquela matança em forma de esporte. — Vem logo, seu molenga!

Scorpius sentiu alguns olhares sobre si. O próprio Nate o encarou, esperando que se mexesse de alguma forma. E então, Madeline o encarou também. Mas o pior de tudo foi quando Rose o encarou. Droga, não podia ter uma semana de sossego sem apanhar naquela escola bendita?! Sabe-se lá que forças da naturezas fizeram com que ele se levantasse. Quando percebeu, estava plantado ao lado de Albus e Roxanne, completamente arrependido de não ter ficado na cama durante aquele dia inteiro.

Lorcan Scamander e Luke Flint também apareceram por perto. Mas quando os dois capitães tiraram na moeda quem escolhia qual jogador primeiro, James comemorou com a mão na direção de Albus.

— Nãoooo! James, você está acabando com a minha formação dos sonhos Al-Scor-Rox — resmungou Albus, indo para o lado do irmão.

— Roxanne Weasley é minha então — disse Nate, batendo a mão na dela.

— Ahn, então eu quero o Lorcan. — James resmungou.

Faltava Luke Flint e Scorpius. E na humilde opinião do Malfoy, Nate tinha juízo suficiente para chamar o Flint e ganhar o jogo. Uma pena que estava errado.

— Malfoy, vem!

Num suspiro, caminhou lentamente para o lado de Nate. Queria que ele ganhasse, mas sabia que com a sua presença, o time estava desfalcado.

— Sinto muito, acho que iremos perder por minha causa.

Para sua surpresa, o Parkinson sorriu, tocando levemente no seu ombro.

— Eu prefiro perder com você no meu time a deixar que o James te maltrate no time dele — murmurou, cruzando os braços em seguida. Definitivamente, Nate Parkinson era um cara legal.

— Então eu fico com o Flint — disse James, antes de erguer as sobrancelhas. — Calma, falta um.

Scorpius já tinha em mente que tudo daria errado e que o resto da partida seria desgraçada para Nate. Porém, ele não imaginava que as coisas pudessem piorar até o momento em que o último jogador do sexto ano apareceu para fechar o time.

Até porque a pessoa que surgiu não foi ninguém menos que a ruiva mais cheia de atitude que o universo fora capaz de criar, andando em suas saias de pregas no joelho e parando na frente da juíza com as mãos na cintura e um olhar desafiador.

— Rose Weasley? — Nate franziu a testa num sorriso desacreditado antes de encarar Madeline Nott, cujo rosto começava a ficar vermelho. — Isso vai ser no mínimo interessante. Quer jogar em qual posição?

— Batedora — disse ela, piscando para James logo em seguida, que tremeu os ombros, como se tivesse sido percorrido por um calafrio. — Não se preocupe, primo. Coloque suas bolas fora do meu caminho que eu prometo deixá-las ilesas.

Os tacos foram entregues, assim como a goles para os artilheiros, estando Lorcan e Roxanne nas posições de frente. Todo o sexto ano torceu mais animado, talvez mais do que antes, quando só jogadores do sétimo estavam em campo. E no instante que a juíza apitou, cada músculo de Scorpius tremeu.

—  Vai! — Roxanne gritou, saindo na frente e pulando pelas laterais de Lorcan e Flint.

James até tentou interceptá-la, mas a Weasley fez um passe para trás, jogando a goles por cima do ombro para Nate, como se tivessem feito aquilo a vida toda. Lorcan veio logo em seguida, pulando e agarrando o sonserino. A goles voltou a ser jogada entre James e a moça da Sonserina do seu time.

Scorpius vinha atrás de todos. Era difícil pensar em correr atrás deles. Até porque mesmo que os alcançasse, não sabia o que fazer para pegar a bola, e Roxanne estava mais do que brilhante na parceria com Nate. Pensou em chamar Albus e pedir socorro, mas ele estava ocupado demais correndo de um lado para o outro e saltando atrás do pomo. Que pulos ele precisou dar! Albus era um verdadeiro nanico, e 2 metros era demais.

— Cuidado!

Scorpius foi empurrado no chão pelo ombro, vendo Rose surgir na sua frente e jogando um balaço para longe. Levantou-se às pressas, enquanto ela bufava.

— Sério, como você consegue jogar tão tranquilamente? — Ele suspirou, batendo nas vestes. — E de saia ainda por cima!

— Eu faço os melhores feitiços que existem de saia. Nada mais justo que fazer o mesmo com a variante de um esporte primitivo como quadribol — exclamou Rose, assoprando uma mecha de seu cabelo em seguida. — Basta uma boa vontade assassina e um pouco de pernas pra que te quero.

Scorpius soltou uma risada alta.

— Acho que posso usar as pernas. A saia e a vontade assassina deixo pra você. — Ele pôs a mão na nuca e torceu o rosto. — Mas diga, por que infernos você entrou nesse jogo? Não odeia quadribol?

— Você também, mas isso não te impediu de vir pela brincadeira.

Ela indicou a direção para o campo de batalha, e o garoto assentiu a tempo de ver Albus subindo nas costas de Flint para tentar agarrar o pomo. Só que desse jeito ficavam bem lento, então foi uma tentativa bem falha.

— Tempo! — gritou Nate, seguido de um apito da juíza.

Ele acenou para o time, chamando-os em uma roda com os braços por cima dos ombros. Rose e Madeline se encararam de lados opostos e se recusaram a dar os braços para os outros.

— Faltam menos de três minutos. Temos que pensar em uma estratégia para a última jogada — disse Nate, balançando o rosto para os outros. — Sugestões?

— Joga a goles de longe! É mais fácil que arquitetar uma jogada — exclamou um dos lufanos.

— E se todos procurassem pelo pomo? — disse outro.

— Deveríamos usar o Scorpius numa manobra de isca.

Todos os olhos se voltaram para a pessoa que soltou a última frase. E lá estava, belamente, Rose com cara de que iria ser responsável pela morte de Scorpius.

— Ah, fica quieta “Só Tem Pose” Weasley. Você lá entende nada do esporte — rosnou Maddie com um revirar de olhos.

— Sinto lhe decepcionar, Loucaline, mas meu entendimento é hereditário. Ao menos eu estou fazendo algo além de ficar parada na frente do gol!

— Ei, vocês duas. Em silêncio, agora — disse Nate com firmeza. Ambas ainda se encararam, fazendo Scorpius sentir na pele o ódio mútuo delas. — O que você estava dizendo sobre usar o Malfoy?

— Ele não tocou na bola nenhuma vez — disse Rose sem tirar os olhos de Maddie. — Se conseguirmos distrair os outros e passar a bola para ele, tenho certeza de que ele fará o ponto final.

Scorpius não evitou engolir a seco quando o time o fitou.

— N-não acho que seja uma boa ideia.

— Mas ainda assim é nossa única jogada — falou Roxanne. — Nós te damos cobertura, então você tem que correr como se fosse a última corrida da sua vida. Tudo bem?

Em momentos como aquele, ser o Scorpius Invisível Malfoy era bom. Nunca que teria sido chamado para algo assim, fora que JAMAIS aceitaria. Entretanto, desde que selou o acordo com o diabo ao tentar chantagear Rose Weasley, as coisas ficaram de ponta cabeça. Ser o principal jogador num movimento do jogo de quadrisolo era uma prova concreta disso. Mas, agora, os olhos de todos iam na sua direção e contavam com ele em silêncio. Roxanne apertava seu ombro, ao passo que Nate balançava a cabeça para lhe dar força. E se Madeline tivesse realmente uma queda por ele, aquele era o momento perfeito para se vangloriar da atenção e conquistá-la. Porém, Scorpius não procurou consolo e confiança em nenhum deles.

— Você — murmurou ele, fitando diretamente os olhos de Rose — acha que eu consigo?

Ela balançou a cabeça, segura como sempre.

— Então está decidido! — Exclamou Nate, batendo duas palmas. — Vamos fazer o Time James comer poeira.

Todos os sete urraram e dispersaram. O time de James também se prostrou em posição de ataque, ficando Albus com um riso animado mais atrás de todos. Scorpius, porém, só pensava nas variáveis de erro daquela brincadeira sem noção. Tudo que tinha ganho com os lufanos e com os sonserinos até ali acabaria sem demora.

— Vai dar certo — disse Rose ao seu lado.

— Eu queria poder pensar assim. — Ele sacudiu a cabeça, tentando afastar o pensamento negativo de que iria se esparramar no chão e arruinar tudo. Foi quando sentiu a mão de Rose tocar a sua, enquanto ela o encarava.

Encarava. Encarava, mas parecia que o esmurrava no peito apenas com o toque e com os olhos, crescentes a cada milésimo de instante que ela apenas o encarava.

— Você sempre pode usar um pouco de fogo.

Quando a juíza apitou e jogou a goles para cima, Scorpius não se moveu de imediato. Foi preciso que ele sacudisse a cabeça para ver todos correndo na sua frente e para seguir os passos de Roxanne como haviam combinado.

Pode usar um pouco de fogo. Ela realmente disse aquilo? Ela, Rose...

Lorcan Scamander foi o primeiro a pegar a goles. Um balaço veloz, porém, voou na sua direção com força suficiente para quebrar-lhe o braço. Foi defendido pelo batedor do time James, ao passo que driblou um dos lufanos do time Nate. Só que o capitão estava a sua espreita logo atrás, derrubando-o com um empurrão de ombro assustadoramente forte. Mas não chegou nem a perder tempo pegando a goles, Roxanne foi ligeira e furtiva, correndo mais veloz que os outros com ela em seu braço. Luke Flint tentou pará-la juntamente a James, mas tomaram um susto no instante em que outro balaço apareceu no meio deles.

Desta vez, Rose surgiu detrás da prima, erguendo seu taco numa meia lua de baixo para cima bem na frente de James Sirius. Todos achavam que ela ia acertar seus países baixos! E talvez até ele próprio tenha pensado isso. Tanto que no instante em que a balaço foi jogado para cima pela batida dela, o grifinório soltou todo ar preso no peito, quase chorando!

— Bu! — berrou ela com uma risada deveras maligna.

Luke voltou a correr atrás de Roxanne, marcando-a como possível, mas James ainda precisou de um tempo para se reconstituir.

— Você é maluca — falou, arfando com as mãos nos joelho.

Rose não deu a mínima. Perto de “megera”, “maluca” era quase um elogio.

Então, o jogo praticamente estava parado. Tanto Nate quanto Roxie, as verdadeiras estrelas, estavam marcados por um ou mais de um adversário. Albus também fazia parte da formação deles de marcar, enquanto o lufano apanhador do Time Nate procurava desesperadamente pelo pomo sem o menor sucesso. E o tempo corria!

— Um minuto! — gritou alguém da platéia do jogo.

Era a última jogada então. Roxanne sorriu, passando entre o braço de Lorcan e o de Luke na direção das argolas do próprio gol. Madeline a esperava, recebendo a goles numa jogada alta. Então, as duas correram juntas e lado a lado, passando a goles uma para a outra sempre que um dos dois marcadores tentava se aproximar mais. Nate permanecia marcado por James, ao passo que o outro jogador do time ia na direção das duas.

— Isso é suicídio! Tiraram a goleira das argolas! — berrou outra pessoa.

Quando as duas foram interpretadas pelo batedor do Time James também, pararam de imediato e jogaram a bola alta para a lateral. Não havia ninguém, então todos certamente acharam que era uma jogada desesperada para não deixar a bola ficar com o time adversário.

Estavam enganados, claro.

Quando Scorpius surgiu do nada, erguendo os longos braços magros para capturar a goles num salto, houve comoção geral em gritos e urros! Ele estava sozinho!

— CORRE, SCORPIUS! CORRE! — gritou Roxanne.

Um pouco de pernas pra que te quero. Um pouco de fôlego. Um pouco de entusiasmo e uma vontade sem medidas de ganhar! Ele não se lembrava de ter se sentido tão engraçado quanto naquele momento em que corria com todo seu fôlego de explosão.  Nem mesmo Albus poderia prever aquilo! Scorpius correu sem mesmo sentir o chão, ficando cara a cara com o goleiro na sua última tentativa. Não só sua, do seu time! E uma das vantagens de nunca mostrar sua verdadeira força era surpreender quando ela surgia! Ele já não era o Malfoy invisível. Armou a goles no braço e mirou numa das argolas, puxando ar com rapidez. O goleiro deles, Émile Duchannes, desesperou-se! Ele não sabia do que Scorpius era capaz.

Só que o Malfoy sabia de suas habilidades. Ele entendia perfeitamente que nunca seria capaz de acertar a argola sem que Émile defendesse. E todos acharam que ele realmente jogaria a goles. Porém, ao lançar o corpo de uma vez, ele enganou a todos, fazendo com que até mesmo o goleiro se jogasse na direção da argola em que ele mirava. Scorpius manteve a goles presa em seu braço, girando o corpo e recompondo-se no instante em que Émile caiu no chão.

AHHHHHHHHHHHHHHH!

Scorpius simplesmente correu com a goles na mão em direção à argola vazia e enterrou a bola no seu buraco!

Só que alto e desengonçado como era, a surpresa fez com que ele perdesse o chão e se pendurasse nela, caindo para trás de uma vez com as costas batendo na grama.

Nada viu, só foi capaz de escutar o apito da juíza e:

— FIM DE JOGO! Com 120 pontos, o Time Parkinson é o vencedor!

Espera, eu faço parte do Time Parkinson… pensou Scorpius, sentindo apenas o peito tremer e o coração bater em desespero. Aquilo era desespero? Não, não era. Era o som de batimentos vencedores misturado aos gritos, assobios e comemorações que soavam ao seu redor.

Roxanne foi a primeira a surgir na frente dele. Erguendo seu tronco para abraçá-lo. Também vieram Nate e Benjen abaixando para bater no seu ombro como forma de parabenizá-lo. A Sonserina surgiu em massa, rodeando-o de congratulações e dizeres que variavam entre:

— Malfoy arma secreta!

— Scorpius, isso foi épico!

— Eu não sabia que você era capaz! Parabéns, cara!

Até mesmo Madeline Nott sentou ao seu lado, envolvendo-o num abraço apertado em seu pescoço.

— Foi incrível! — Ela o soltou e estalou um beijo em sua bochecha antes de se levantar para abraçar Nate Parkinson.

Mas Scorpius não soube o que dizer ou responder. Quer dizer, a estrela de tudo sempre foi Albus, não era comum que ninguém além de sua mãe comemorasse algo que ele atingiu. E, de repente, havia uma festa ao seu redor. Tudo bem que só a jogada final fora sua, mas ele tinha feito parte daquilo! Com Roxanne, Nate e…

Rose.

Ela surgiu na sua frente num raio de luz com a testa franzida e um sorriso engraçado, sentando-se com as pernas juntas e um taco de batedora sobre as coxas.

— O que está fazendo ainda sentado aí?

Scorpius pestanejou um tanto incrédulo com ela bem ali. Encarou-a com o peito ainda acelerado, ou talvez mais pelo susto de vê-la. Aí, sorriu sem conseguir se segurar.

— Nós ganhamos — disse sem jeito.

— Lógico. Eu sou uma estrategista nata, até mesmo em um jogo ridículo como quadrisolo — falou ela, dando de ombros. — Você fez bem. Gostei ainda mais do grito na última corrida.

Ele bateu a mão no próprio rosto, certamente vermelho. A porcaria do seu peito não parava de retumbar!

— Acho que tenho que te agradecer por isso, então — murmurou, retirando a mão para fitar os olhos castanhos de Rose. Seu sorriso não conseguia ficar maior do que aquilo, e tudo por causa daquela garota ruiva idiota. Porque ela surgiu em campo, sugeriu a jogada e confiou nele. — Obrigado por ter me incentivado, Rose. Se não tivesse entrado em campo, eu não teria feito o que fiz, por mais ridículo que tenha sido. — Não teria! Definitivamente não teria! Confiança não era a única coisa que ela havia dado a ele, e isso era tão claro! Tão óbvio! Devia ser culpa do peito acelerado que não conseguia escutar a sua própria vozinha da razão que dizia em ecos como podia ser incrível olhar para aqueles olhos castanhos, sentir o calor do seu sorriso e ouvir o arranhar da sua risada. — Rose, você deu calor a um coração que nasceu para correr.

Então, agarrou uma das mãos de Rose, pequena e delicada, levando-a ao seu próprio peito, que pulava sem ritmo e nem compasso. Tum tum. Tum tum. Não tiraram os olhos um do outro, e com certeza isso tirava ainda mais a calma que ele já poderia ter alcançado. Mas não queria.

Quer dizer, não era como se aquela sensação lhe fosse estranha. Bastava olhar para o rosto dela para saber que não era algo novo. Não… A falta de ar, o nervosismo e o aperto tinham uma causa. E a causa estava na sua frente.

— Eu disse que iria retribuir, não disse? Acho que você não percebeu, mas Scorpius Malfoy também pode ser fogo.

Rose lentamente retirou a mão do toque de Scorpius, levantando-se com uma batida na saia para correr na direção de Roxanne e Samuel Thomas, que riam entre outros grifinórios. Os olhos azuis do Malfoy a acompanharam, perdendo-se com ela entre os alunos de Hogwarts.

Até aquele momento não tinha percebido, mas tanto seu olhar, que ela encarou, quanto o seu peito, que ela tocou, tinham ido embora. Rose os carregou consigo, deixando Scorpius com uma única certeza em mente:

Estava incompreensivelmente e desesperadamente se apaixonando por ninguém menos que Rose Weasley. Havia sido queimado, afinal.

— Ai, que droga… — Riu para si mesmo por ser a única coisa capaz de fazer naquele instante. — Eu tô muito lascado…


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Notas finais do capítulo

Alguém quer fazer a honra dos gritos de aleluia? Okay, eu faço: ALELUIA! ALELUIA VOCÊ PERCEBEU, SCORP! ALELUIA!
Bom, eu nem tenho cabeça e nem coração para descrever esse capítulo além de que meu coração se aperta em ver meu filho admitindo o que sente haha. Sério, até me falta estrutura. Então contem-me tuuuudo o que vocês sentiram para que eu possa me expressar também e da melhor forma possível hahahaha.
E mais uma coisa! Queria dizer que estou chorando o tempo todo com a repercussão da fic! São 35 favoritos, 233 acompanhamento e mais de 12300 visualizações (metade delas minhas, mas tudo bem kkk). VOCÊS SÃO MUITO LINDOS! Obrigada por existirem!
Nos vemos no próximo capítulo que é lindamente narrado na visão da Rosie: "A estante de Slug".
PS: não se esqueçam de dizer se acharam a música parecida com nossos amados Scorpius e Rosie!