Tears in Heaven escrita por Maria Lua


Capítulo 6
Far far


Notas iniciais do capítulo

Olá! Esse é um capítulo de transição, mas TOTALMENTE necessário. Espero que gostem! A música do capítulo é Far Far, de Yael Naim.



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É claro que, desde acordar, as noites de sono de Olívia tem se reduzido. Já dormira tanto, estava tão animada com sua suposta "ressurreição" que só conseguia pensar em ver as ruas, as pessoas, descobrir as modas atuais, a arquitetura, e até ir para a escola... Ou faculdade. Estava confusa quanto ao que faria, mas queria sair, ver as coisas. Porém ainda não pode, afinal sequer sabia andar! Nas vezes que tentou erguer a coluna sentiu tremores e dores fortes, apesar de que cada dia a melhora era surpreendente. Sentia que logo iria se sustentar melhor.

Hoje, em especial, ela não pregou os olhos, apesar de ter que fingir fazê-lo. A Sra. Waldorf passou a noite com a filha, mas logo cedo saiu para trabalhar - ela havia parado de escrever para revistas para dedicar-se a um emprego no governo, que exigia muito mais esforço. Amélia havia dito que isso foi parte do sacrifício de sua mãe para manter as máquinas de Oliver ligadas. Elas duas viveram em uma casa menor, Mia em um colégio público, móveis penhorados, e mesmo assim sobreviveram. A culpa no coração da enferma era imensa.

Ambas tentavam tranquilizá-la sempre que dizia ter arruinado tudo. Os argumentos eram que ela fez tudo valer a pena ao acordar - o que não lhe parecia total verdade. Já ouvira diversas conversas sobre o aumento no custo de vida ao se tratar de alimentação, tratamento, e até mesmo futilidades e planejamento. As contas não pareciam estar fechando. Provavelmente iriam se mudar novamente, o que faria as duas garotas dividirem um beliche em uma casa menor ainda.

Em retorno ao enfoque do dia, o coração de Olívia estava a mil. Era, enfim, o dia que ligaria para Matt, e isso a deixava muito nervosa. Ela pensou a noite inteira sobre as prováveis mudanças dele, e sentia medo de tê-lo desapontado, afinal eles tinham planos. Não sabia mais se ele ainda iria querer ir de combe para Machu Picchu com ela, e, estranhamente, só conseguia enxergar essas mudanças até então.

Esperou pacientemente durante todo o dia a chegada de Amélia. Ela ligou para o hospital dizendo que ia se atrasar, mas que ia trazer uma surpresa para ela. Sorriu com a notícia, tentando exercitar as pernas enquanto aguardava. A sua maior vontade, agora, era aprender a andar para enfim sair do hospital. Ela soube por Sebastian que as modelos de hoje estão cada vez mais jovens, e até cogitou participar de desfiles. Ele disse que ela faria sucesso, o que a animou.

Quando Amélia enfim chegou, ela havia acabado de sair do banho - o que ela considerava a parte mais vergonhosa do dia. Ela odiava ter pelos - por toda parte - e alguém vê-los a fazia sentir pior ainda. Sua mãe disse que vai ajudar a tirá-los, ensinando a raspas, etc, e isso a deu medo. Parece doer, por mais necessário que fosse.

Amélia trouxe para ela algo parecido com uma bandeja envolvida em papel de presente. Abraçou a irmã e então sentou.

"É hoje!", exclamou animada, enfim sentindo felicidade da irmã em volta da situação.

"Encontrei uma coisa para você", entregou o presente, ajudando a desembalar. Olívia podia sentir, aos poucos, que era uma obra de arte. "Eu comentei com umas amigas sobre a sua história, sobre o Matt, e uma delas, a Amy, disse que o conhece. Fizeram um curso de artes juntos em Petersburg, e que hoje ele estudava e trabalhava com isso, que era assim que se mantinha. Acontece que ela comprou um dos quadros dele e mandou de presente para você. Disse que poderia gostar, e... Tcharam!"

Quando Oliver pôs os olhos no quadro não acreditou. Era extremamente lindo! Grande, bem colorido. Não se via orosto, mas tinha uma criancinha loira com as mãos esticadas em formato de concha. Nelas havia algumas azeitonas presas em palitos de dente. Azeitona no palito. Menina loira. Não podia ser apenas coincidência.

Acontece que Olívia significava azeitona em latim, e havia a personagem Olívia Palito que era tão magra quanto Oliver quando criança, o que acabou tornando-se piada entre eles dois. Por outro lado, Matt era chamado de Popeye e Dunga, ambos carecas, já que seu cabelo tinha corte militar quando criança.

Olívia virou seu olhar pasmado diretamente par Amélia. Ela sorria, vendo como aquilo tinha emocionado a irmã. Acontece que ela não havia entendido o significado da obra - e provavelmente nenhum outro comprador.

"Quer ligar para ele?", perguntou. O olhar da enferma alternava entre o telefone e o quadro por um tempo, enquanto ela admirava, também, a sua assinatura muito mais desenvolvida. O Matt não pintava quando criança, o que a fazia se perguntar quando ele havia começado.

A ansiedade dela falou mais alto que qualquer devaneio, a fazendo pegar o telefone e discar o número que, de tanto admirar, havia decorado. Discou durante um tempo, e então caixa postal. Desligou rápida e enfurecidamente, bufando enquanto sua franja caía sob os olhos.

Amélia também estava decepcionada. "Isso acontece. Nós tentamos de novo mais tarde, amanhã... O que não nos falta é tempo para você", falou enquanto mexia em seu cabelo.

"Eu sei, Mia, mas...", começou, com a voz mais desenvolvida que no dia anterior, mas fraca e dolorida da mesma forma. "Eu estava doida para falar com ele. Pensei nisso o dia todo. É frustrante!", cruzou os braços durante um segundo até escutar o soar bem alto do telefone. Depois de encarar assustada o aparelho, apressou-se para pegá-lo e colocar no ouvido. "Alô?!", falou bem alto e rápido.

"É... Oi, tudo bem? Desculpa, mas você ligou pra esse número agora?", uma voz bonita e masculina soou do outro lado. Era calma e familiar. Claro que era ele.

"Matt?", perguntou esperançosa. Amélia sorriu ao ver a empolgação da irmã.

"Sim, quem é?", sua voz estava um pouco constrangida.

"Sou eu, Olívia!", exclamou extremamente animada. Ficou ereta na maca de tanta alegria.

"Desculpe, Olívia de quê?", perguntou, ainda sem assimilar.

 

"Como assim Olívia de quê?! Azeitona, Dunga! É a Olívia Palito!"

Depois disso houve silêncio total, tanto na ligação quanto no quarto em que estava. Amélia havia entendido o significado do quadro.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, nunca escrevo notas finais, mas hoje trago um apelo. Eu vou participar de um Concurso Literário do RS e escrevi dois contos que, inclusive, publiquei aqui. Podem dar uma lida pra mim? Comentar o que devo mudar antes de enviar, até 18 de julho. Obrigada mesmo! É muito importante pra mim.
Link / https://fanfiction.com.br/historia/697125/Coletanea_memoravel/



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