Tears in Heaven escrita por Maria Lua


Capítulo 7
More than words


Notas iniciais do capítulo

Olá! Postei rapidinho porque uma leitora nova pediu ♥ Espero que gostem! A música do capítulo é More than words, de Extreme.



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Fez-se silêncio total. Olívia sorria imensuravelmente enquanto machucava seud dedos e orelha ao apertar o telefone contra o ouvido. Amélia estava praticamente tremendo em sua frente, tendo se aproximado para tentar escutar o que vinha em seguida. Já o Matt... O coitado sequer sabia o que pensar. Não tinha certeza se acreditava, se tinha escutado direito, se não estava confundindo, delirando. Ele estava apenas chocado do outro lado da linha. 

"Matt?", Oliver o chamou atenção. Demorou alguns segundos para ele realmente escutar as palavras da velha amiga. 

"Desculpa, você disse... Olívia? Olívia Waldorf?", sua voz soava trêmula. A enferma sentiu muito arrependimento por ter telefonado ao invés de aparecer em sua porta. Olhou para Amélia, ambas de olhos arregalados e garganta travada. Sussurrou para a irmã sair e, relutante, ela obedeceu. 

"Matt, eu sei, deve estar confuso, mas sou eu! Nem sei o que dizer... É tanta coisa! Quer dizer, não para mim, já que dormi, mas... Falar dói tanto! Quero tanto que minha garganta volte ao normal!", começou a tagarelar até ser cortada. 

"Oliver? Se for uma piada, não tem graça." 

"Não é piada! Isso que estou falando... É que eu...", embolou-se com as palavras ao perceber que não sabia como explicar para ele uma situação que sequer lhe foi explicada direito. "Eu... Ah, eu liguei para sua mãe, pedi o número... Você é pintor? Aliás, esquece, isso não é importante. O que aconteceu com você? Eu estava doida para poder te ligar e descobrir o que tem feito. Por favor, me diz. Me faz ficar de boca fechada." 

"Calma, calma. Oliver!", ele gargalhava do outro lado da linha. Aliviado e emocionado começou a andar por todo o cômodo que estava, seu ar faltando no pulmão. "Oliver! Você acordou! Quando... Como? O que aconteceu? Foram dez anos!" 

"Dez anos, seis meses e..." 

"Vinte e oito dias", completou-lhe, seguro do que dizia. Ainda se escutava seu arfar pela chamada. 

"Isso...", ficou surpresa por ele  saber o suposto tempo exato da coma, apesar dele não saber o dia que realmente acordou. Quando Oliver percebeu, estava enrolando mechas de cabelo na ponta dos dedos. Parou instantaneamente para recompor-se. "Eu acordei... Tem umas semanas. É tudo tão difícil, Matt. É como se o acidente tivesse acontecido há alguns dias. Não percebi o tempo que dormi. Eu... Onde você está? Pode me ver?", falou rapidamente. 

"Oli, eu não consigo acreditar!", ele ria com o tom alto. A garota não sabia, mas ele chorava. "Você!  Você está mesmo falando comigo! A sua voz está tão diferente... Como está? Em que cidade? Meu Deus, Olívia Waldorf!", Oliver o ouvia rir altíssimo, muito agitado. Porém, o que realmente ele sentia era um mistério para ela. Alívio imenso por não tê-la matado, alegria infinita por ela estar bem novamente e desejo imenso de abraçá-la como nunca o fez antes. Durante todos esses anos o Matt precisou mais da Oli do que qualquer pessoa no mundo já precisou de outra. 

"Eu estou em Richmod, hospital regional. Amélia me disse que é bem perto de Petersburg. Por favor, conversa comigo. Como está? Ainda é careca? O que houve com Dunga enquanto estive fora?", ela gargalhou ao perceber que estava, enfim e realmente, falando com ele. Com o Matt, seu melhor amigo. Houve um silêncio constrangedor que a fez calar-se por uns segundos. 

"Não, não... Agora eu tenho cabelo. Mais do que queria, aliás. E... Eu fiquei por aí... Oliver, a sua mãe sabe que está me ligando? E a Amélia?", perguntou receoso. 

"A Amélia sim, a minha mãe ainda não. Mas sei que ela não vai se importar. Na verdade ela vai gostar, até porque você é meu único amigo restante. Eu queria te ver!", insistiu entre tosses incansáveis. Bebeu água, o que a fez sentir grande alívio. Algo que a deixou curiosa e abismada foi essa situação entre sua mãe e o Matt. Algo tinha que ter acontecido a mais, e ela não compreendia. 

"Eu também, Oli... Caramba, dez anos e meio. Eu passei algumas vezes no hospital para te ver, alguns anos atrás. Você continuava com o mesmo rosto. Mudou alguma coisa de lá para cá? Acho que nós tínhamos doze, treze anos na última vez. É, isso mesmo. Treze", ele falava ao tentar imaginá-la nesse exato momento. A esse ponto ele estava sentado no chão, encostado na parede. Seus joelhos lhe serviam de colo e seu punho abraçava seu queixo para manter-se de pé.  

"Você vinha aqui?! Então com certeza viu o que aconteceu comigo. É assustador.", falou. 

"O quê?! O que aconteceu?", perguntou já angustiado. 

"Eu tenho peitos grandes, Matthew! Enormes e bem redondos. Acredita nisso? E são super pesados, é bem difícil tomar banho. Com certeza você nunca viu nada como isso em sua vida. É surpreendente", falou em tom de brincadeira, sentindo uma verdadeira gargalhada vir do outro lado. 

"Você... É impressionante. Não mudou nada mesmo." 

Silêncio. 

"É porque ainda sou eu. A mesma de umas semanas atrás, no lago.", sua voz era suave e contente. "Não sei se você esqueceu, Matt, mas eu ainda me lembro de tudo. Nada mudou para mim. Eu quero te ver..." 

Foi então interrompida bruscamente por uma Amélia entrando no quarto. Ela aproximou-se apressada, sussurrando "mamãe" várias vezes, mas Olívia não entendeu sua agitação. Foi então que a Sra. Waldorf entrou no quarto, fazendo Amélia lamentar. 

"Oi filhas. Oli, tudo bem? Com quem está falando?", ela disse ao largar a sua bolsa na poltrona e se aproximar. Beijou as duas testas delicadamente. 

"Você não vai acreditar. É o Matt!", falou. O garoto do outro lado da linha começou a repetir várias vezes "não, não, não". A Sra. Waldorf, que, de início, esteve pasmada, pegou o telefone de sua mão rapidamente. "Ei!" 

"Matthew, como conseguiu esse número?", ela falou, iniciando uma conversa com ele. "Não me interessa, você sabe que eu não permiti nada disso antes e não vou permitir depois. Ainda mais agora! Eu sei de todo o seu alívio, garoto, é compreensível, mas é só. Não! Me escute você. Agora que já tem notícias dela já pode voltar para sua arte, sua vida, sua paz de espírito e deixar a minha filha em paz. Você teve dez anos muito melhores do que merecia, e agora é a vez dela de ter mais uns sessenta, setenta anos sossegados, o que só vai ser possível quando seu nome não existir mais em nosso mundo. Adeus", ela desligou violentamente. 

Olívia simplesmente não confiou em seus ouvidos e olhos. Sua mãe jamais faria tamanha grosseria com ninguém, pelo que a conhece, muito menos o Matt, que sempre foi muito próximo de sua família. Ela o Matt! Ela amava o Matt! Não pode simplesmente culpá-lo por algo que ela fez. Sua mãe é uma boa pessoa, por que estava tão amargurada? Olívia estava bem. Isso deveria bastar para ela se sentir em paz. 

"Mãe, o que você... Por que você...", começou quando foi interrompida. 

"Amélia, eu estou muito decepcionada com você. Eu te disse que ela não tinha permissão para falar com ele, e você ainda entrega o número! Daqui para frente vou deixar outro enfermeiro supervisionando a Olívia", falou voltando-se para a enferma. "Espero que tenha entendido e aprendido. Quero que você tenha as melhores coisas da vida, filha, mas só se você  nunca mais for atrás desse rapaz. Ele é problema." 

E foi embora, batendo todas as portas que encontrou no caminho.


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