Ela passara um bom tempo sem ver os post-its de novo. Não se perguntava o porquê disso, porque, sejamos sinceros, o mais provável era que ela nem se lembrasse mais daqueles papeizinhos coloridos que, por uma vez, encantaram seu dia.

A aquariana andava pela avenida à noite, de cabeça erguida, sentindo o cheiro adocicado das damas-da-noite plantadas ao redor das calçadas. Ela gostava do cheiro, recordava-se das balas de tutti-fruti que o pai lhe dava quando ainda sentia que ocupava um lugar especial naquele peito. Doía pensar nele e no quão especial aquela relação já fora um dia, mas ela nunca admitiria isso para ninguém. Nem para ela mesma.

Uma borboleta amarela passou pela garota, dando piruetas no ar. Ela, como uma boa aquariana, perseguiu o inseto até que este pousasse vagarosamente em um arbusto ali perto. Não era uma borboleta. Como um déjà vu, ela se lembrou das mensagens que trocara com alguém desconhecido por pequenos pedaços de papéis auto-colantes.

"Eu não quero ser mais louco que você, nem te superar. (...) Então não aguento te esperar, guarde o beijo pra depois, quando eu te procurar." lia-se em um garrancho horroroso, escrito com uma caneta vermelha que se destava no fundo amarelo-ovo.

Ela riu. Riu porque conhecia aquela música, e era péssima. Riu porque a letra era digna de uma criança de 6 anos que não conhecia cadernos de caligrafia. Riu, enfim, por ter amado aquilo, principalmente pelos dois motivos citados acima.

Era fato que, finalmente, o escorpiano ganhara a atenção da aquariana.