De Outro Mundo escrita por S Q


Capítulo 47
A Competição




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Os jovens ficaram se olhando, processando a informação por alguns instantes, como se não quisessem acreditar. Crumbs, alheio à esse sentimento, moveu sua própria varinha com força, em elipses. Da ponta dela saiu um raio que foi formando um complexo labirinto translúcido, com uma luz branca estupidamente brilhante, bem no centro.

— Vão! - disse o diretor, impaciente.

Todos permaneceram onde estavam, ainda embasbacados. Foram olhando devagar ao redor, até que notaram que suas roupas haviam sido transfiguradas em trajes de batalha. Justin foi o primeiro a sair do torpor. 

— Alex! 

A morena se virou para ele, confusa. 

— Fico feliz que a gente tenha começado a se acertar. - disse dando um sorriso sincero, bem bobinho, daqueles de apaixonado. - Mas me perdoa pelo o que eu vou fazer. - O sorriso desceu para uma expressão de de tristeza, depois, determinação.

No momento seguinte, Justin lançou uma rajada de vento com sua varinha, atordoando seus  três colegas aprendizes de feiticeiros.

— Desculpem, vocês também!- Gritou, e correndo, entrou nos limites do labirinto.

Alex olhou confusa para Crumbs. Ele disse com um leve sorriso:

— Justin compreendeu. E se eu fosse vocês corria logo atrás dele, pois o garoto já está vencendo a competição!

Com um sobressalto, Harper começou a empurrar o irmão para frente, correndo junto dele:

— Vai Max! É a competição de feiticeiros! Corre atrás do Justin, passa a perna nele, vença! - nesse momento, ela notou o olhar arregalado de Alex, por trás. — Com cuidado...

Alex permanecia confusa em seu lugar.

— Espera, por quê isso agora?! Feiticeiros no mundo inteiro estão desaparecendo! Não seria mais inteligente...

Crumbs colocou a mão nos ombros da garota, gentilmente.

— Alexandra, não há mais tempo para que vocês se tornem feiticeiros completos. Precisa ser agora. Ou não haverá alguém capaz de reverter o feitiço. Sem a ajuda da pedra fundamental, somente o herdeiro dos poderes de quem proferiu a magia apocalíptica pode revertê-la.

Ela ainda tinha algumas dúvidas, mas entendendo a urgência e real importância do acontecimento, apenas acenou afirmativamente com a cabeça e entrou correndo no labirinto. O restante ficava para depois.

Assim que adentrou no espaço, um raio verde veio voraz em seu rosto, fazendo-a cair de costas. Atordoada, observou a cena que se desenrolava: seus três amigos lutavam um contra o outro, por entre as barreiras invisíveis que lhes separavam. Se tivesse conhecido eles naquele momento, ia pensar que se odiavam. Cada um deles, enquanto disparava feitiços para trás, corria voraz, em direção à forte luz branca no outro lado dos caminhos tortuosos.

Quer dizer, Harper parecia estar mais dando cobertura para o irmão que lutando por si. Mas seguia em frente, de qualquer forma. Alex ficou surpresa pela eficiência com que a ruiva conjurava seus feitiços, mesmo tendo frequentado praticamente… nenhuma aula. Se ela quisesse, poderia ser uma bruxa altamente competente.

Pelo o que parecia, eles precisavam correr até o outro lado do labirinto com o auxílio dos seus poderes, podendo atravessar algumas das paredes, que mais pareciam hologramas que outra coisa. Então foi nisso que Alex se concentrou. Ela começou acelerar o passo, meio insegura do que fazer, mas foi avançando. Justin olhou de soslaio para ela. Com um sorriso maroto, lançou-lhe um raio que fez seus braços ficarem molengas. Não era perverso, mas atrasava o andar dela, pois cada vez que encostava os pés no chão, os membros se ondulavam loucamente, como duas gelecas esticadas. E assim, ela não conseguia enfeitiçar ninguém. As paredes do labirinto à sua frente foram ficando mais opacas. Ela se movimentava menos também. Foi percebendo que conforme as paredes ganhavam cor cinza, ficava completamente impossível passar através delas. Com raiva, Alex fechou os pulsos como podia e tentou conjurar um feitiço de rigidez. Deu certo, e ao mesmo tempo, as paredes se abriram. O uso de magia era o que fazia o caminho se abrir, literalmente. 

Alex resolveu dar o troco pela perda de tempo:

— Hey, nerd idiota! - gritou, acenando para Justin. O rapaz se virou rapidamente e não viu a poça de lama que ela conjurou bem na frente dele. Caiu com tudo ali.

Ela ficou rindo enquanto voltava a correr. Estava muito atrás dos outros, mesmo freando o avanço monstruoso de Justin. Pensava que precisava, ao menos, alcançar Harper. Tacou outra poça na frente da amiga. E de Max também, para ser equitativa. Os três ficaram sujos de lama e xingaram muito a colega baixinha. Alex não conseguiu deixar de rir enquanto passava a ruiva.

Harper, para não deixar barato, tocou uma nuvem de fuligem para cima de Alex. Isso prejudicou sua visão, mas não o bastante para que recuasse. Ela seguia firmemente em frente. Precisava alcançar o outro lado do labirinto, não somente pelos poderes, como também, por todos os feiticeiros, praticamente todos que aprendeu a amar.

“Feiticeiros não deveriam existir’?! Como fui ser tão estúpida de pensar nisso?!” - Ela gritava mentalmente. Queria ter percebido o quanto os amava antes de entrar naquela situação.

Acabou inevitavelmente pensando em seu pai. O homem que mais amara durante toda a vida. Foi por causa da magia que ele se afastou, mas pelo mesmo motivo havia retornado. Ela começou a sentir a garganta apertar ao imaginar que poderia nunca mais encontrá-lo por sua tolice. Uma sequência torturante de flashes passou em sua cabeça dos momentos bons que já teve com ele. Eram imagens desde quando Kelbo lhe levava de carro para escolinha até sua presença na última festa de aniversário. Vinha tudo de uma vez só, como um turbilhão. Até uma cena remota (Alex devia ter uns 6 anos quando aconteceu) em que ela tinha ido mostrar para os pais uma florzinha que plantara. Foi um dos poucos momentos em que viu a mãe orgulhosa. O pai, brincalhão, segurou no cabo da flor e fez como se tivesse sugado a planta, para a mesma aparecer em outro vaso que tinham em casa, um pouco mais para trás. Ela tinha achado muito engraçado e não entendeu porque Kelbo levara um tapa da esposa depois de fazer isso. Mas aos 16 ela entendia que era magia. 

E isso lhe deu uma ideia. 

Ao invés de seguir correndo, Alex parou. Reunindo toda sua concentração e seu amor, firmou os pés no chão de capim. Algumas plantas começaram a se agarrar no seu tornozelo e subirem por sua perna. Aos poucos, foi sendo afogada por trepadeiras até sumir, sugada para o chão. Apesar do nervoso, se segurou resoluta. Esperava que o feitiço funcionasse.

Na outra ponta do labirinto, eis que chão começou a rachar. De lá, numa rajada, começam a sair freneticamente galhos e raízes, como se estivessem explodindo. De dentro, sacudindo as folhas do cabelo saiu Alex. A 5 passos de tocar a grande singularidade de magia.

5 passos na frente de Justin.

 


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