VATICÍNIO escrita por Maramaldo
Notas iniciais do capítulo
Penúltimo Capítulo
16 DE NOVEMBRO DE 2015; 13:11
Eu acreditava.
Paulo nos disse que essas mensagens teriam o propósito de nos fazer acreditar. Pois bem, eu acredito. E apesar de que uma boa parte de mim não queria crer, eu acreditava. Se esse era o propósito de tudo isso, então gostaria que tudo parasse.
— Talvez não seja nada demais – disse Renan.
— Nada demais? – Perguntei. – O desastre em Mariana, o acidente de Layane, o ataque terrorista... Nada demais?
— Cara, vocês não vão acreditar – começou Paulo, ao abrir a porta. – Eu estava no supermercado, e então... – ele parou no meio do caminho, trazendo várias sacolas, e ficou nos encarando. – Aconteceu alguma coisa?
— O Estevan recebeu mais uma mensagem – respondeu Renan.
Paulo se aproximou e deixou as sacolas no chão.
— Aline? – Perguntou ele ao ver o nome dela no celular de Renan.
— Temos mais ou menos 108 horas até acontecer, seja lá o que for – disse Renan.
Silêncio.
— Renan está certo – falei. – E temos que fazer alguma coisa.
— Fazer o que? – Perguntou Paulo. – Como podemos evitar algo que nem sabemos o que vai acontecer?
23:30
Isso tudo era uma tortura.
Como conseguirei dormir, comer, raciocinar, viver; sabendo que acontecerá alguma coisa com Aline em alguns dias? Acabei de falar com ela ao telefone, tentando disfarçar minha preocupação, e o som de sua voz me tranquilizava e me deixava nervoso ao mesmo tempo.
O pior de tudo é que eu a amava, mas não poderia dizer isso a ela – não tão cedo.
Depois de ficarmos pensando um pouco sobre o que tinha acabado de acontecer, Renan perguntou se ainda continuaríamos com o projeto, mas naquele momento minha cabeça estava em outro lugar e não pude responder, então apenas pedi para que me deixassem sozinho e pensar um pouco. Não precisei pedir desculpas, pois eles são meus amigos e me entenderiam.
Pelo menos eu achava que me entenderiam, já que de certa forma eles ainda não sabem que eu e Aline estamos juntos. Mas agora, com o silencio da noite e minha mente trabalhando, poderia responder àquela pergunta. E sim, eu acho que deveríamos continuar com o projeto.
Quando se tem a oportunidade de salvar alguém que você ama, você não pensa nas consequências, apenas na obsessão em salvá-la. Isso soa meio egoísta, eu sei, mas não sei o que poderá acontecer futuramente. E se de alguma forma falhar, quero ter a certeza de que poderei mudar o passado e, consequentemente, minha realidade.
17 DE NOVEMBRO DE 2015; 10:02
Na verdade não sabia explicar exatamente qual foi a reação de Renan ao dizer que faríamos o aplicativo.
— Cara, finalmente você está pensando – disse ele, sorrindo. – Poderia te dar um beijo agora, mas isso acabaria com minha popularidade.
— Como se você tivesse alguma – disse Paulo, também sorrindo.
— Saiba que quase todas as garotas daqui me desejam – disse enquanto acenava para duas garotas que passavam por nós, que fizeram uma cara estranha ao vê-lo.
— Certo... – Comecei. – Trouxe a base do projeto que o Renan desenvolveu – coloquei os papeis na mesa.
— Deixa eu dar uma olhada nisso – disse Paulo, pegando alguns dos papeis.
— Temos poucos dias para fazer isso funcionar – disse Renan.
— Isso vai ser um pouco complicado – Paulo falou enquanto olhava os papeis. – Basicamente isto é quase uma máquina, e não um aplicativo. É como se o aplicativo precisasse de algo muito poderoso que o alimentasse, para poder então funcionar.
— Você por acaso já viu alguma máquina do tempo que já tenha sido criada? – Perguntou Renan. – Esse projeto é apenas um protótipo de algo nunca inventado, que pode ou não dar certo.
— Tem que dar certo – falei.
— E onde vamos conseguir esses materiais? – Perguntou Paulo.
— Vamos dar um jeito. Como você pode ver nas alterações que fiz, substituí alguns materiais por outros que podemos encontrar com mais facilidade.
— São muitas coisas e muito pouco tempo – continuou ele. – E ainda não entendi qual a relação da criação deste aplicativo com o que vai acontecer no sábado.
Olhei para Renan e ele me encarava, esperando alguma resposta.
— É que... Bom, se eu chegar a falhar e acontecer alguma coisa com ela, quero ter a certeza de que poderei mudar o passado e salvá-la seja lá do que for.
Eles ficaram me encarando, provavelmente sem saber o que falar.
— Então temos que começar a fazer isso o mais rápido possível – disse Paulo. – E espero que na sua casa tenha bastante café, pois iremos passar as próximas noites acordados.
14:32
— Trouxe as compras que eu fiz ontem no supermercado – disse Paulo.
— Beleza. Vamos nos preparar, pois temos muita coisa pra fazer – falei.
Ele levou as sacolas até a cozinha e voltou alguns minutos depois para a sala. Renan e eu estávamos colocando os móveis nos cantos, para termos mais espaço.
— Cadê aquele quadro, para colocarmos os papeis do projeto nele? – Perguntou Paulo.
— Ah, está no meu quarto, atrás do guarda-roupa – respondi.
Enquanto carregávamos a mesa de centro para um dos cantos da sala, Paulo apareceu com o quadro, pegou os papeis do projeto que estava na minha mochila e o colocou em ordem para analisarmos melhor. Minutos depois tínhamos bastante espaço e mentes vazias, que não faziam ideia por onde começar.
— Precisamos dos materiais – falei.
— Verdade – disse Renan. – Só pensamos no café, energético e comida.
— A maioria desses materiais podemos encontrar numa loja de ferragens – disse Paulo, olhando os papeis. – Outros temos aqui mesmo.
— Então vamos comprar – peguei a chave do carro. – Só tira uma foto do projeto, pra gente ter certeza de que não esquecemos nada.
Renan pegou o celular dele para tirar a foto, enquanto Paulo e eu íamos em direção à porta.
— Pessoal, me esperem! – Gritou Renan. – Afinal, vocês têm dinheiro para comprar os materiais? É que estou meio sem grana.
15:22
Chegando na loja de ferragens, pegamos um dos carrinhos e começamos a andar pelos corredores.
— Você tem furadeira em casa? – Perguntou Paulo.
— Tenho, mas não tenho parafusos – falei. – Também vamos precisar de uma máquina de solda e alguns cabos elétricos.
— Renan, me mostra a foto do projeto – disse Paulo.
Renan tirou o celular do bolso, abriu a galeria de fotos e entregou o celular à Paulo. Me aproximei para ver.
— Era pra você uma foto do projeto, e não uma selfie com ele – falei.
— Não posso perder a oportunidade de mostrar minha beleza.
— Certo... – Paulo deu zoom no projeto. – Precisamos de algumas placas eletrônicas também. De preferência, algumas à mais caso queimem, assim como os cabos.
Meu celular vibrou, e rapidamente o peguei.
Aline ♥: oi
Esqueci de tirar o coração.
— Outra mensagem? – Perguntou Renan.
— Sim – respondi. – Digo, não. Não! É outra coisa.
Me afastei um pouco para responder.
oi
Aline ♥: você está bem?
Estou.
Porque?
Aline ♥: é que desde aquele dia você se afastou um pouco.
Ah
É que estou focado no projeto da faculdade
Desculpe se me ausentei
Aline ♥: tudo bem, eu entendo.
Aline ♥: e você vai estar ocupado nesse final de semana?
Aline ♥: estava pensando em sairmos no sábado
Sábado?
Você tem certeza?
Aline ♥: porque não teria?
Nada. É que eu estava pensando em ficarmos na minha casa, apenas descansando.
Aline ♥: você sabe muito bem que você e eu não somos bons em preparar encontros rsrs
Aline ♥: mas tudo bem
Essa era uma boa forma de protege-la. Se ela ficasse apenas na minha casa, comigo, talvez não aconteceria nada do que estaria predestinado a acontecer com ela.
Te espero sábado em casa.
Aline ♥: só não se afasta muito, por favor.
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