VATICÍNIO escrita por Maramaldo


Capítulo 4
Terrorismo




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11 DE NOVEMBRO DE 2015; 23:30

Desde aquele momento em que Renan falou sobre mensagens do futuro, eu não parei de pensar nisso. Será que isso é possível? Será que eu mesmo estava me mandando mensagens?

Ao criar uma coisa dessas, nós certamente mudaríamos o mundo, e não simplesmente ganharíamos uma premiação na faculdade. Estava com medo do que iriamos fazer, mas a vontade de tentar e seguir em frente com essa ideia maluca era muito maior.

Renan, claro, falou comigo e com Paulo durante esses dias sobre os benefícios que isso nos traria, mas até Paulo, que era tão seguro nas tomadas de decisões, estava com um pé atrás do que podia acontecer.

Sinceramente, ainda não acredito que poderemos conseguir isso. E se tudo falhar, e no final acabarmos apenas perdendo tempo? Não ganharíamos a premiação do projeto. Mas uma parte de mim, a parte que quer mudar o mundo, me diz para seguir em frente.

Tenho medo dessa parte.

12 DE NOVEMBRO DE 2015; 06:37

Assim que acordei, fui direto para debaixo do chuveiro.

Apesar do grande embaralho na minha mente, consegui dormir tranquilamente após receber uma mensagem de Aline. Quando vi o nome dela, pensei nas possibilidades de que aquilo fosse algum tipo de convite para dormir na sua casa, e então fiquei alguns minutos olhando para o celular e imaginando toda a cena. Não vou dizer exatamente no que eu pensei, pois até mesmo eu não acredito que pensei uma coisa dessas, mas enfim...

Abri a mensagem e fiquei feliz em saber que Layane tinha recebido alta no hospital, e que já estava em casa.

Quando saí do banheiro, e fui para o meu quarto me arrumar, vi meu celular tocar após receber uma nova mensagem. Segui em direção à cama, enxugando meu cabelo molhado, e o peguei.

Está brincando?— Pensei assim que li a mensagem.

Fiquei vendo a frase “NUMERO DESCONHECIDO”, sem reação.

10:28

— O importante é que não sou eu que estou me enviando mensagens – falei.

— Você não tem certeza – disse Renan.

— Se eu me mandasse mensagem, meu nome ou meu número apareceria no remetente, pois já o cadastrei. Mas ainda continua aparecendo “NUMERO DESCONHECIDO”, o que significa que não sou eu.

— Pode ser algum erro no nosso aplicativo.

— Você está falando do aplicativo que ainda não criamos? – Perguntou Paulo.

— Sim – respondeu. – Pode ser algum erro. Por isso aparece a frase “NUMERO DESCONHECIDO” e a mensagem não é clara. Talvez nosso aplicativo esteja apenas em fase de teste, ou algo assim.

— Cara, você é maluco – falei.

— Mas qual é a mensagem? – Perguntou Paulo.

— A mensagem é: A5R1F1A3N1C1; já matei minha cabeça tentando decifrar. Você trouxe aquele decodificador? – Perguntei ao Renan.

— Sim – respondeu. – Melhorei e passei para o meu celular.

Passei novamente a mensagem que eu havia recebido e ele digitou. Depois de alguns segundos, o decodificador nos deu uma única palavra e algumas combinações de números.

— Como estamos procurando por datas, o melhorei de forma que encontrasse datas possíveis e destacasse a que estaria mais próxima do dia atual. A mensagem é: FRANCA 13/11/15.

— Treze é amanhã – disse Paulo. – O que vai acontecer na França amanhã?

— Provavelmente não será uma coisa boa – respondi.

— E como você sabe?

— Quando foi que essas mensagens nos alertaram quando uma coisa boa vai acontecer?

— Eu não entendo como poderemos evitar algo na França – disse Renan. – Ou como poderíamos evitar algo em Mariana. O carro tudo bem, poderíamos fazer alguma coisa para evitar o... – ele olhou para os lados e começou a cochichar – Evitar o acidente de Layane.

— Talvez a pessoa que está mandando essas mensagens só queira que acreditemos nela – disse Paulo.

22:19

Estava apreensivo.

O que será que vai acontecer amanhã?

Talvez Paulo tenha razão. A pessoa que está mandando essas mensagens não quer que a gente impeça algo, e sim que acreditemos nela. Mas por que? Pra quê? Porque é tão importante que acreditemos? Porque eu tenho que acreditar?

Será mesmo que... Não, isso é loucura. Não tem como eu mesmo me mandar mensagens. Essa foi a possibilidade mais inútil que encontramos para tudo o que está acontecendo, porém a que mais faz sentido.

Meu celular vibrou, e abri a mensagem no WhatsApp.

 

Aline : oi

 

Eu tenho que excluir esse coração do nome de Aline antes que alguém veja.

 

Oi.

Aline : está tudo bem com você?

Sim, está. Porque?

Aline : você anda meio estranho ultimamente

 

Ela andou reparando em mim?

ELA ANDOU REPARANDO EM MIM, E ESTÁ PREOCUPADA?

Acho que vou ter um ataque cardíaco.

Calma... Respira... Respira...

 

Só estou preocupado com o projeto que temos que fazer.

Aline : ah, sim!

E como você está?

Aline : na verdade nem sei explicar como estou

Aline : com aquele acidente de Lay... O final do semestre...

Aline : preciso esquecer um pouco tudo isso, entende?

Entendo. Bom, se você quiser... Nós podemos sair amanhã.

Não estou acreditando no que acabei de escrever.

Aline : e pra onde iriamos?

Podemos ir ao cinema. Ou ir àquela praça... Lá é bem legal.

Aline : É sim.

Nada.

Nada.

Aline : vamos na praça então. Acho que preciso respirar um pouco.

Certo. Então vou te buscar às 19 horas. Tudo bem pra você?

Aline : tudo

Aline : vou te esperar

Aline : já estou indo dormir

Aline : boa noite, Estevan

Boa noite. Tenha bons sonhos.

 

Fiquei meia hora olhando a pequena conversa que tivemos. Foi tão curta, porém objetiva. Mas nada disso importava, pois amanhã eu teria um encontro com Aline.

Queria dizer ao Paulo e ao Renan, mas não estava afim de ficar ouvindo eles me perturbando.

13 DE NOVEMBRO DE 2015; 17:34

— Não aguento mais ficar vendo os noticiários – disse Renan. – Vamos assistir um filme, alguma série... Garanto que será muito mais interessante.

— Bem que essa pessoa anônima poderia mandar os horários – disse Paulo.

— Concordo – disse, enquanto olhava para o relógio.

— Alguma coisa aí, Paulo? – Perguntou Renan.

— Nada – respondeu. – Estou em vários sites, nas páginas de notícias internacionais, e não há nada sobre a França.

— Certo... E quando é que começaremos a criar nosso projeto?

— Você fala do aplicativo que manda mensagens para o passado?

— Sim, é claro. – Silêncio. – Está bem... Nesses últimos dias eu deixei de lado algumas das minhas tarefas importantes para criar uma base do nosso projeto – ele começou a vasculhar sua mochila.

— E uma dessas tarefas importantes foi deixar de se masturbar com a revista debaixo da sua cama?

Ele tirou alguns papeis da mochila, e respondeu:

— Tecnicamente... Mas isso não importa. O que importa agora é que talvez eu não esteja tão louco quanto vocês pensam que estou.

Aproximei-me dos papeis que ele espalhava na mesa de centro da sala.

— Há uma possibilidade de realmente criarmos um aplicativo que manda mensagens para o passado – disse enquanto espalhava os papeis.

Olhei para os papeis, tentando achar algum sentido.

— E isso vai dar certo? – Perguntei.

— Talvez – respondeu.

— Finalmente você encontrou algo de útil para sua mão – disse Paulo. – Deixa eu ver esses papeis – ele pegou alguns.

Olhei todos os cálculos, as variáveis... Era quase perfeito.

— E quando podemos começar? – Perguntou Renan.

Olhei para Paulo e ele me olhou.

— Não me olha, cara – disse ele. – Você é o líder do grupo.

— Não fizemos uma votação – falei.

— Eu também voto em você como líder – disse Renan, levantando a mão direita.

Olhei para os papeis novamente.

— Posso levar isso pra casa? – Perguntei ao Renan. – Quero analisa-los melhor.

— Pode – respondeu quase de imediato.

Olhei para o relógio.

— Certo. Amanhã darei alguma resposta para vocês. E... – respirei fundo – Eu tenho que ir.

— Mas dissemos que ficaríamos o dia todo vendo os noticiários – disse Paulo.

— Eu sei. É que acabou surgindo um compromisso, e eu não posso faltar.

— Que compromisso? – Perguntou Renan.

— Vocês sabem que vocês são como irmãos para mim – desviei da pergunta, enquanto ia em direção à porta. – Vocês dois. – Abri a porta. – Então... Qualquer coisa que aparecer nos noticiários vocês me mandem uma mensagem.

— Mas você... – começou Renan.

— Tchau – fechei a porta antes que ele completasse a pergunta.

20:21

A conversa fluía, como águas de uma cachoeira.

Fazia mais de uma hora que havíamos chegado na praça, e começamos a conversar. No início foi meio constrangedor pra nós dois, então apenas ficamos olhando as estrelas no céu.

— Está de brincadeira? – Ela riu.

— Não. É sério – comecei a rir. – Caí de cara na água e quase me afoguei.

Ela riu alto.

— Por favor, diz que alguém filmou isso.

— Felizmente não.

Nós dois ficamos rindo.

— E você. Fale algo constrangedor em público no qual você tenha passado. Sei que vai ser meio difícil, mas...

— Meio difícil o que?

— Sei lá... Você não parecer ser uma daquelas pessoas atrapalhadas.

— Não?

— Não.

— Então está bem, sr. Atrapalhado, saiba que tenho algumas histórias. Algumas que eu queria muito esquecer.

— Então conte.

— Vamos ver... – ela fez uma cara pensativa. – Bom, teve uma vez que eu estava ouvindo música enquanto corria – ela começou a rir –, e então, de alguma forma, me atrapalhei com os fones de ouvido e caí. Todo mundo ficou me olhando.

Fiquei olhando seriamente pra ela enquanto ria.

— O que foi? – Perguntou ela.

— Essa é a história mais sem graça que eu já ouvi – e comecei a rir.

— Ah, não! Teve graça sim – protestou.

Meu celular vibrou, e então abri a mensagem no WhatsApp que havia chegado.

 

Paulo: você precisa vim pra cá

Paulo: AGORA

O que houve?

Paulo: a França está sendo atacada

Renan: está em todos os jornais

Atacada por quem?

Paulo: por terroristas

Renan: cara, não sei se fico admirado ou se fico com medo dessas mensagens

Daqui a pouco eu chego aí

 

Bloqueei meu celular e o coloquei no bolso.

— O que houve? – Perguntou Aline.

— Eu preciso ir – falei, meio triste.

Na verdade eu não estava afim de ir embora. Queria ficar ali a vida toda, ao lado dela, mas isso o que está acontecendo está mudando completamente minha vida. Minha cabeça está completamente confusa.

— Tudo bem – disse ela.

21:13

Estacionei meu carro em frente à casa dela, mas ao invés de espera-la descer e entrar em casa, a acompanhei até a porta.

— Está entregue – falei.

— Obrigada.

— Como eu já disse: você me agradece demais.

Ela abaixou a cabeça e deu um pequeno sorriso.

— Espero que possamos conversar mais vezes – disse ela, enfim.

— Eu também espero.

— É... Eu... Eu vou entrar.

Seu jeito parecia um pouco nervoso, tanto quanto eu.

— Aline – chamei.

Antes de abrir a porta da sua casa, ela se virou para me olhar.

Então fiz algo que nunca pensei que faria: roubar um beijo dela.

E ficamos ali, nos beijando, como se não existisse mais nada além de nós dois.


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