VATICÍNIO escrita por Maramaldo


Capítulo 3
Números




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08 DE NOVEMBRO DE 2015; 00:12

Assim que cheguei no local do acidente e vi toda a situação, me aproximei de Aline e chamei a ambulância. Quando a mesma chegou, Layane foi levada ao hospital. Clara ficou em sua casa, tentando acalmar a todos e vendo o tamanho do estrago que o apagão e o tumulto havia causado, e Aline foi na ambulância com Layane.

Sem pensar duas vezes, entrei no meu carro – com Paulo e Renan –, e fui ao hospital também.

Agora estávamos na sala de espera, junto com a família de Layane.

— Não podemos contar isso pra ninguém – falei.

— E quem iria acreditar na gente? – Perguntou Paulo.

— Podíamos ganhar dinheiro com isso – disse Renan. – “As mensagens que preveem o futuro!” – ele colocou ênfase na frase.

— Não vai ter mais mensagem – falei.

— Porquê?

— Meu celular caiu na piscina, no momento da confusão – respondi. – Vou comprar um outro amanhã.

— Que merda – falou Paulo. – Agora nunca vamos descobrir quem estava te enviando essas mensagens.

Queria poder falar para eles sobre o número que havia aparecido. E sobre os quatro últimos números que até agora não saíram da minha cabeça. 3881. Mas de nada adiantava agora.

— Já está tarde – disse Renan.

— Também já vou – disse Paulo. – Você vem?

— Vou ficar mais um pouco – respondi.

— Mas você é nossa carona – disse Renan.

— Eu pago um taxi – disse Paulo a Renan, e logo em seguida olhando pra mim. – Vê se não demora muito. Você precisa descansar. Sua cara está péssima.

— Ele nunca teve uma cara boa – disse Renan.

— Isso é verdade – concordou Paulo.

— Vão embora, antes que eu saia chutando vocês daqui – falei, sorrindo.

Assim que eles saíram, Aline entrou na sala de espera. Me levantei e fui sentar ao seu lado. Seu rosto estava um pouco vermelho, talvez por ter chorado demais.

— Oi – falei.

Ela levantou o rosto, me olhou, e abaixou novamente.

— Oi – respondeu.

— Sinto muito por tudo o que houve.

— Não foi culpa sua. – Ela levantou o rosto e olhou nos meus olhos. – Obrigada por ligar para a ambulância.

— Só achei que era o certo a fazer.

— Aline, querida – chamou a mãe de Layane. – Você pode ir pra casa descansar. Nós ficaremos aqui.

— Não. Eu quero ficar.

— Você parece cansada – continuou a mãe de Layane. – Qualquer coisa nós ligaremos pra você. Agora você precisa de uma boa noite de sono.

— Ela tem razão – falei.

Aline olhou para a mãe de Layane e em seguida para mim, e assentiu.

— Tudo bem, eu vou.

— Posso te dar uma carona, se você quiser – me ofereci.

Ela assentiu.

00:54

Estacionei meu carro e olhei para o relógio.

— Já está tarde – disse Aline.

— É. Está.

— Novamente, muito obrigada por ter acompanhado eu e Layane. Você e seus amigos foram de grande ajuda e um grande apoio.

— E novamente eu digo que apenas fiz o certo.

Silêncio.

Ela ficou me olhando por alguns segundos e logo em seguida olhou para sua casa.

— Obrigada pela carona.

— Você não precisa ficar me agradecendo por tudo, sabia? – Sorri. – Foi um prazer te acompanhar.

— Está certo – ela sorriu. – Tchau.

— Tchau.

Fiquei a olhando o tempo todo: saindo do carro; caminhando até a porta da sua casa; acenando para mim uma última vez; abrindo a porta, e entrando. Não vou mentir que eu esperava um beijo daqueles de cinema... Daqueles que a garota agradece a carona antes de sair do carro. Sou idiota mesmo.

09 DE NOVEMBRO DE 2015; 10:31

— Ah, vão se... – comecei.

— Aline, meu amor, vem me dar um beijinho – disse Renan, fechando os olhos, fazendo bico e beijando o vento.

Paulo começou a rir, mas eu não via graça.

— Temos que nos concentrar no nosso projeto – falei, sério.

— Não fique chateado, ela está na sua, acredite – disse Renan.

— Onde estão os formulários? – Perguntou Paulo.

Renan abriu a mochila e tirou vários papeis de dentro dela.

— Estão aqui – disse ele.

Peguei um dos formulários e analisei cada pergunta que elaboramos ontem.

— Ah, está aqui o chip de celular que você me pediu – disse Renan, me entregando.

— Valeu.

— Quando você vai comprar um celular novo? – Perguntou Paulo.

— Hoje, assim que sair daqui – respondi.

15:05

Passamos boa parte da manhã fazendo pesquisas com outros alunos. No final havíamos respondido cerca de 80% dos formulários, o que já era uma boa notícia. O próximo passo seria analisar todos os dados estatisticamente, e coloca-los ao nosso favor.

Após almoçar em casa, fui a uma loja comprar um novo celular. Assim que escolhi um, depois de horas vendo qual sairia num melhor custo benefício, fui para a casa de Paulo, para darmos início às análises de dados.

Na boa, isso tudo é muito chato.

— Pensei que você não vinha – disse Paulo ao abrir a porta.

— Foi mal – entrei.

— Eu e Renan já começamos com as análises. Estamos colocando em uma planilha.

Andamos até a sala de estar.

Ao me sentar em uma das poltronas, tirei a caixa do meu novo celular da mochila e comecei todo aquele processo de quando se tem um aparelho novo. Após terminar, cadastrei o chip que Renan havia comprado e esperei a notificação de qual seria meu novo número.

— Como estamos? – Perguntei.

— Meus dedos já estão ficando cansados – disse Renan, que estava sentado no sofá e colocando os dados na planilha.

— Me passa o notebook, deixa que eu digito.

Ele digitou um último dado passado pelo Paulo, e me deu o notebook.

— Deixa eu ver seu novo celular – disse Renan.

Entreguei meu celular a ele e comecei a digitar o que Paulo falava.

— Tão novo – Renan olhava para o celular. – É uma pena que acabará com sua inocência assim que Estevan te encher de vídeos pornográficos. - Paulo e eu rimos. – Olha, chegou uma mensagem.

— Deve ser o meu novo número.

— Atenção para o novo número do Estevan – disse ele em voz alta.

Não estava dando a mínima para isso, pois sei que com o tempo eu arquivaria em algum lugar da minha memória, mas os quatro últimos números ditos por Renan chamou a minha atenção.

— Espera. – Parei de digitar. – Quais são os quatro últimos números?

— 3.8.8.1 – respondeu.

Deixei o notebook em cima da mesa de centro, peguei meu celular e olhei os números. Não pode ser. Pode apenas ser coincidência, mas, depois dos fatos ocorridos nos dias anteriores, eu não andava acreditando em destino ou algo parecido.

— O que foi? – Perguntou Paulo.

Sentei novamente na poltrona, ainda olhando os números.

— Na festa, antes do acidente, recebi novamente a mensagem que nos alertava sobre o carro – comecei. – Mas ao invés de “NUMERO DESCONHECIDO” – fiz as aspas com o dedo –, apareceu por alguns segundos o número do remetente. Não tive tempo de gravar o número completo, então apenas gravei os quatro últimos números: 3881.

— Você não está dizendo que o número que você acabou de cadastrar te mandou mensagem, não é? – Perguntou Paulo.

— Eu não sei – respondi. – Mas é muita coincidência.

— Espera – Renan se levantou do sofá. – Você recebeu uma mensagem sobre o desastre em Mariana antes de acontecer. E recebeu uma mensagem sobre o atropelamento de Layane antes de acontecer. Hoje sabemos que tudo o que foi nos alertado é fato. E se, de alguma forma, alguém está nos enviando mensagens do futuro? Nesse caso, você.

— Você está dizendo que o meu eu do futuro está me mandando mensagens?

— Tem uma explicação melhor?

— Mas por que eu escreveria letras e números embaralhados? Porque o meu eu do futuro simplesmente não manda uma mensagem clara do que vai acontecer?

— Não sei. Mas... – Ele olhou para os formulários. – Pensem bem. Estamos criando um aplicativo de comunicação. E se criarmos um que manda mensagens para o passado.

— Isso não é possível – disse Paulo.

— Como não? Nós já criamos o aplicativo, e a prova disso são as mensagens que o Estevan recebeu.

Olhei para Paulo, confuso.

De certa forma o argumento de Renan fazia sentido.

— Galera, não precisamos mais preencher dados de pesquisa – continuou Renan. – Está aí nosso projeto. Iremos criar um aplicativo que manda mensagens para o passado.


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