VATICÍNIO escrita por Maramaldo
05 DE NOVEMBRO DE 2015; 22:49
— Isso é loucura – disse Paulo. – Deve ser só coincidência.
— Coincidência ontem eu receber uma mensagem com o nome Mariana e data de hoje, e hoje acontecer um desastre na cidade de Mariana? – Perguntei, não acreditando nas minhas próprias palavras.
— Que horas você recebeu essa mensagem? – Perguntou Renan.
— Primeiro eu tinha recebido ontem pela manhã, mas achei que fosse besteira, então apaguei. Mas depois recebi a mesma mensagem ontem à tarde, quando estávamos pensando em nosso projeto – respondi.
— E você acha que alguém te mandou essa mensagem para que você pudesse fazer alguma coisa quanto ao rompimento da barragem? – Perguntou Paulo, com desdém.
— Eu não sei – respondi, enquanto olhava as imagens que eram transmitidas na televisão.
— Você tem que mostrar isso pra polícia – disse Renan.
— E dizer o que? – Perguntei. – “Olha seu policial, eu recebi uma mensagem ontem dizendo que a barragem em Mariana ia se romper”? Obrigado, mas não estou afim de ser preso.
— Ele está certo – disse Paulo à Renan. – Não podemos falar sobre isso pra ninguém. Como eu disse, isso pode ser apenas coincidência.
06 DE NOVEMBRO DE 2015; 09:31
— Estevan – Cochichou Renan, para que o professor não ouvisse.
— Fala.
— Que horas vai ser a festa na casa de Clara, amanhã?
— Não sei, mas estou pensando em irmos depois das nove da noite – respondi.
— Cara, lá vai estar cheio de gatinhas. Estava pensando: será que fico sério a festa inteira, dando uma de difícil, sabe? Ou se já chego conversando com todo mundo...
— Só seja você mesmo – o interrompi.
— Você já pensou em suas primeiras palavras com a Aline durante a festa?
— Não, eu não pensei.
— Então você admite que sente alguma coisa por ela?
Respirei fundo.
— Mesmo que eu sentisse, você acha que ela daria a mínima pra mim?
— É, você tem razão. Você é feio demais.
— Valeu – disse, quando na verdade eu queria dar um cascudo na cabeça dele.
— Renan, você poderia nos responder? – Perguntou o professor.
Renan arregalou os olhos para mim e depois ficou olhando para o professor.
— É... Eu... – começou ele.
— Vamos deixar de conversa e prestar atenção na aula – disse o professor. – Como eu estava explicando, o...
10:28
— Temos que fazer um gráfico baseado nos dados de nossa pesquisa de ontem – disse Paulo. – Assim podemos visualizar melhor.
— E quanto a pesquisa de campo? – Perguntei.
— Podemos formular as perguntas hoje à tarde – respondeu.
— Porque não relaxamos um pouco? – Perguntou Renan. – Quatro dias atrás não tínhamos ideia de como seria nosso projeto, e hoje já fizemos uma pequena parte dele. Vamos comemorar, vamos sair, relaxar um pouco. Hoje é sexta-feira, amanhã teremos a festa na casa de Clara...
— Você tem razão, preciso descansar um pouco – disse Paulo.
— O que seria de vocês sem mim? – Perguntou Renan.
— Beleza – falei. – Mas para onde nós vamos?
— Estava pensando em comprar alguma roupa para ir à festa amanhã – respondeu Renan.
— E eu preciso comprar uma calça nova, já que um infeliz grudou chiclete na minha da última vez que saímos – disse Paulo, olhando diretamente para Renan.
— Foi muito engraçado. – Renan e eu começamos a rir alto enquanto Paulo enfezava a cara.
— Oi – disse Aline, que chegou de repente. Renan e eu paramos de rir no mesmo instante e ficamos a olhando. – Oi, novamente.
— Ah, oi – falei rapidamente. Acho que rápido demais.
— Vim aqui entregar as senhas para a festa – disse ela, entregando nossas senhas. – Só pode entrar na festa se estiverem com elas, então não as percam.
— Pode deixar – disse Paulo.
— Certo – ela olhou para mim e riu. – Bom, tenho mais senhas para entregar. Vejo vocês amanhã. Tchau – e saiu.
Fiquei olhando ela se distanciar. Seus longos cabelos escuros balançavam de um lado para o outro com seus movimentos.
— Se Renan já parou de me zuar, e Estevan de ficar babando pela Aline, podemos decidir para onde vamos – disse Paulo.
18:01
No fim acabamos decidindo ir ao shopping.
Lá podemos encontrar roupas, filme, e o principal: comida.
— Da para você decidir logo o que vai comprar? – Perguntou Paulo. – O filme está quase começando.
— Paulo, se você fosse mulher, qual dessas... – começou Renan.
— Melhor nem continuar a pergunta – interrompeu.
— Acho que vou levar essa – disse, olhando para a camisa branca.
— Finalmente – falei.
— Ou será melhor essa? – Perguntou Renan.
— Cara, decide logo! – Disse Paulo, irritado.
— Certo, vou levar essa mesmo – disse, escolhendo em fim a camisa branca.
Assim que efetuou o pagamento, corremos para o cinema, pois o filme começaria dentro de alguns minutos.
19:10
A sala do cinema estava um pouco escura.
Renan e Paulo estavam ao meu lado, concentrados no filme e comendo a pipoca no balde que estava sobre minhas pernas.
— Eu não faria isso se fosse ele – disse Renan, sobre o cara do filme.
— Cara, você não cala a boca? – Perguntou Paulo.
— Às vezes eu me calo – respondeu, com a boca cheia de pipoca.
Meu celular vibrou.
Normalmente eu veria a mensagem assim que o filme acabasse, mas a história não estava me chamando a atenção – e eu não estava afim de ver a discussão de relacionamento entre Paulo e Renan. Então, assim que desbloqueei meu celular, abri a mensagem de texto:
1A0O5R1C7R1
Rapidamente copiei a mensagem, colei no bloco de notas e separei as letras dos números.
AORCR 105171
O que essa mensagem quer dizer?
07 DE NOVEMBRO DE 2015; 11:31
Fiquei até tarde da noite tentando saber o que “AORCR 105171” significava.
Não havia falado nada para Paulo e Renan sobre essa nova mensagem do “NUMERO DESCONHECIDO”, pois pensei que eu mesmo poderia saber o que era. Mas estava engado.
Entrei no nosso grupo do WhatsApp, e comecei a falar com eles.
Vocês estão aí?
Renan: acabei de acordar
Renan: o que foi?
Ontem, quando estávamos no cinema, chegou mais uma mensagem pra mim.
Paulo: que mensagem?
Daquele número desconhecido.
Paulo: e o que ela quer dizer?
Renan: isso é meio estranho
Ainda não sei. Vou mandar pra vocês...
1A0O5R1C7R1
Separei as letras dos números, como da última vez, e ficou assim:
AORCR 105171
Renan: você já tem alguma ideia do que isso significa??
Não.
Paulo: Já tentou mudar as ordens das letras e dos números?
Não. Até porque não deu certo da última vez.
Paulo: mas da última vez você transformou os números em letras.
Renan: só um minuto
Renan: coloquei em um decodificador que criei
Renan: a palavra foi fácil, mas a data é um pouco mais difícil, pois teve vários resultados
Renan: como da última vez a mensagem falou sobre um dia próximo
Renan: então a data mais próxima é a de hoje
Renan: CARRO 071115
Paulo: um carro?
A última mensagem foi sobre um grande desastre. O que será que vai acontecer hoje?
Paulo: a pergunta é
Paulo: quem está te mandando essas mensagens?
21:15
— Eu fiquei até ainda pouco assistindo o jornal para ver se falava alguma coisa sobre qualquer carro, mas não teve nada – disse Paulo.
— O que for acontecer hoje, nós vamos saber – falei, sem tirar a atenção da pista.
— Relaxem um pouco – disse Renan, que estava no banco de trás. – Estamos indo para uma festa. Vamos nos animar.
— Como você pode estar relaxado, se o Estevan recebeu uma mensagem dizendo que aconteceria alguma coisa com um carro e estamos dentro de um? – Perguntou Paulo.
— Valeu, Paulo – falei. – Nem estava pensando nisso. Mas agora que você falou...
— Foi mal – disse ele.
21:26
Renan ficou falando a viagem inteira.
Assim que chegamos na casa de Clara e descemos do carro, fiquei mais relaxado.
— FEESTA! – Gritou Renan. – É isso aí!
Podia ouvir a música eletrônica que tocava dentro da casa.
— Suas senhas – disse um cara que estava na porta.
Entregamos nossas senhas e entramos.
Havia várias pessoas em todos os lugares. Diria que Clara havia convidado a faculdade inteira pra essa festa. O ambiente estava todo decorado, com luzes por todos os lugares, deixando tudo bem iluminado.
— Chegaram agora? – Perguntou Layane, enquanto se aproximava.
Assenti.
Renan ficou ao lado dela, próximo até demais.
— Bom, sejam bem vindos – ela olhou para Renan como se perguntasse “O que acha que você está fazendo?”. – Tem comida na área da cozinha e bebidas na sala e no quintal. Vocês também podem encontrar churrasco ao lado da piscina, caso queiram. E... Fiquem à vontade. Espero que se divirtam – ela sorriu.
— Obrigado – disse Paulo.
Ela saiu do nosso lado e foi até um casal que havia acabado de chegar também.
— Acho que estou apaixonado – disse Renan, sem tirar os olhos de Layane.
— Vamos para o quintal – disse Paulo, o empurrando.
Segui os dois.
O quintal também estava completamente iluminado, com luzes por todos os lugares. Tinha algumas pessoas na piscina e tinha uns caras ao lado da churrasqueira. Outros estavam espalhados, conversando.
— E aí, caras – falou Lucas, que se aproximou de repente.
— E aí – respondemos todos quase ao mesmo tempo.
Carol, sua namorada, e Camila estavam ao seu lado.
— Como está o projeto de vocês? – Perguntou ele.
— Estamos no começo, mas vamos conseguir – respondi.
— A gente já está quase finalizando o nosso. Espero que vocês consigam terminar à tempo.
— Vamos conseguir!
— Sei que vão – disse com desdém, e saiu.
— Qual o problema desse cara? – Perguntou Paulo, assim que Lucas se distanciou.
— Temos que fazer um belo projeto, só para esfregar na cara dele – disse Renan.
Peguei meu celular para ver as horas. 21:55. E aproveitei para ver algumas mensagens no WhatsApp que haviam chegado.
— É só você ligar naquela tomada ali, ao lado das luzes, perto da piscina – ouvi uma garota dizer.
Quando voltei a tela inicial, meu celular vibrou com uma mensagem que havia chegado. Era a mesma mensagem de ontem à noite, porém, por alguns segundos, havia aparecido um número. Mas assim que abri a mensagem, no remetente estava “NUMERO DESCONHECIDO”.
Andei lentamente, enquanto abria o bloco de notas e digitava os quatro últimos números que havia lembrado: 3881. De quem seria esse número?
— CUIDADO! – Ouvi alguém gritar.
Então houve uma pequena explosão, e os fios das luzes que iluminavam o lugar começaram a pegar fogo.
— SAIAM DA PISCINA! – Gritou Pammela, uma amiga da faculdade.
Uma das tomadas caiu dentro da água, mas por sorte todos já haviam saído. A churrasqueira caiu, queimando o pé de algumas pessoas. Algumas pessoas começaram a gritar. Houve outra explosão, e tudo ficou escuro.
— Estevan? – Ouvi a voz de Paulo.
Assim que me virei, alguém me empurrou. Tentei me apoiar em algo para não cair na piscina e morrer eletrocutado, mas meu celular acabou escorregando da minha mão e caiu dentro d’água.
Ouvimos o som de pneus e logo em seguida algumas pessoas gritaram.
Paulo pegou meu braço.
— Vamos! – Disse ele.
Corremos em direção a saída.
Ao sairmos da casa de Clara, vimos que todo o lugar estava escuro, exceto pela luz de um carro que estava parado no meio da rua. Várias pessoas estavam aglomeradas, observando algo. Me aproximei lentamente, abrindo caminho entre as pessoas.
— O que aconteceu? – Perguntou Renan.
— CHAMEM A AMBULÂNCIA! – Ouvi alguém gritar, parecia com a voz de Aline.
Ao me aproximar, vi Aline debruçada sobre o corpo de Layane, que estava no chão coberto de sangue. Olhei para o carro parado, e logo em seguida olhei para Paulo e Renan.
— CHAMEM A AMBULÂNCIA! – Aline gritou novamente.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!