Acordo com a luz do sol que bate em meu rosto.Bocejo algumas vezes enquanto visto minha cama e arrumo meu cabelo.Os guardas me trazem uma bandeja com água,pão e maçãs.São vermelhas e parecem ter sido colhidas do pomar em frente ao castelo.Apesar de ser tentador não toco em nada.

Uma hora se passa até que sou levada para o meu julgamento.Apesar de ser pirata,nunca fui julgada antes.Mas esses Reis parecem ser bonzinhos.Pelo menos,acho que eles não vão mandar me enforcar para servir de exemplo.

Sou jogada de forma brusca em uma cadeira.A sala em que estou é iluminada por archotes e tem pesadas cortinas de veludo vermelho.Não vejo materiais de tortura,o que me deixa ainda mais calma.Tem cinco cadeiras imponentes bem na minha frente.Não são tronos devidos a sua forma e tamanho.

Eles não me amarram novamente por tanto jogo minhas pernas por um dos encosto da cadeira e tiro o capuz passando a mão pelo meu cabelo com duas pequenas tranças em cada lado.Parecia ainda mais desrespeitosa e tive que me esforçar muito para não sorrir.

A porta da sala de abre e os Reis,Rainha se sentam nas cadeiras e o Príncipe em pé ao lado dos garotos.

—A senhorita está sendo acusada de traição contra a coroa.-diz um homem engomadinho lendo um pergaminho.-Será jugada pelo Rei Caspian,Rei Pedro,Rei Edmundo,Rainha Suzana,Rainha Lúcia e o Príncipe Eustáquio.

—Se retirem.-diz Caspian com autoridade.-Iremos falar com a prisioneira sozinha.

Relutantes,os guardas saem.Isso é bom,mas percebo que todos eles se encontram armados.Minhas armas estão em cima de uma mesa bem embaixo de uma figura de um grande leão.

—Já sabe suas acusações,agora se defenda.-diz Suzana.

—Não tenho do que me defender.Vocês levaram um dos meus e eu vim resgata-lo.

—O garoto estava junto com os anões.-diz Edmundo.-É um fugitivo que deve ser punido.

—Ele não estava com os anões.-digo com a voz calma como se fala-se com uma criança.-Estava comigo.Por acaso ele estava no lugar errado e na hora errada.Mas vocês não se importaram em perguntar isso a ele,não é ?

—Nos trate com mais respeito.-vocifera Suzana.-É majestade para você e se sente como uma dama.

—Não sou uma dama.-dou de ombros.-E nem uma prisioneira.Sou muito mais do que vocês podem imaginar.

—O que significa as palavras que você disse ontem ?-pergunta Lúcia com curiosidade transparente em suas voz.

Sinto uma simpatia pela garotinha.Ela parece ser a que tem mais cérebro entre esse idiotas.

—Eu sou uma pirata e os piratas não traem seus capitães, nem seus companheiros.

—Piratas em Nárnia ?-diz Caspian nervoso.-Quantos são ?

—Acha mesmo que informarei qualquer coisa sobre a tripulação ? Não ouviu o que acabei de dizer ?

—O que vieram fazer aqui ?-pergunta Pedro.

Pedro parece puxar meus olhos de encontro aos seus.Percebo que eles são de um azul muito bonito e não posso evitar de pensar no mar quando olho para eles.Parece haver quilômetros e quilômetros de pensamentos e segredos dentro deles.

—Não sei.-respondo sinceramente.-Não era para estarmos aqui.Estamos viajando para a China quando viemos parar aqui.

Os seis se olham,aparentemente nervosos.

—Nos leve ao navio.-ordena Caspian.

—Nunca.

—Então,traga sua tripulação aqui.

—E porque eu faria isso ?-pergunto em tom de deboche.

—Temos escutado rumores de uma guerra a semanas.-responde Caspian.-O meu professor leu em um livro antigo sobre piratas vindos em um navio voador que nos ajudariam a vencer o novo perigo.

—Ah então vocês não querem me matar ou prender ?-me levanto.-Interessante.

—Podemos mata-la se for o seu desejo.-diz Eustáquio.

—Acho que não.-dou uma pequena risada.-Parece que precisam de mim.Mas acho que não é certo confiar em um pirata.Ainda mais se for uma mulher.Ainda mais se for eu.

—E quem é você ?-pergunta Lúcia.

—Descubra se puder,bonitinha.-pisco para ela.-Posso ir,agora ?

—Você não saíra daqui até que concorde em nos ajudar.

Suspiro irritada.

—O que eu vou ganhar com isso ?

—Ouro.

—Já tenho mais ouro do que consigo carregar.

—Se nos ajudar pode pedir qualquer coisa que estiver ao nosso alcance.-Caspian diz desesperado.

Um sorriso,que espero não ser tão maldoso quanto penso,brota em meus lábios.Qualquer coisa de uma terra mágica.Nem consigo imaginar quantos objetos enfeitiçados e poções devem ter aqui.

—Eu aceito.

—Chame a tripulação.Ofereceremos quartos e comida a todos.
—Minhas armas primeiro.-exijo.

—Você é tão arrogante !-diz Suzana cruzando os braços.-Não passa de um marujo.

—Se quer saber - digo enquanto guardo as armas nos lugares adequados.-Eu sou a capitã.

Chego ao navio nadando e muito cansada pelo esforço.Ouço um grito e uma das rampas é descida.Me jogo em cima,cuspindo um pouco de água.Sou puxada para fora e enrolada em cobertores.Demora alguns minutos para me aquecer e contar tudo que aconteceu enquanto fiquei presa.

A tripulação não se opõe e sei que tenho o apoio deles.Enquanto pego algumas das minhas roupas,penso em como tudo está confuso desde de que chegamos em Nárnia.Nada nesse lugar faz sentido o que me deixa bastante irritada.Odeio não saber ou não compreender as coisas a minha volta.

Nos dividimos em botes e não demoramos a chegar na praia.Um grupo de soldados nos espera ficando levemente impressionado com a quantidade de mulheres.

Na regra da humanidade,mulheres não podem ficar em navios e muito menos serem piratas.Mas como já disse,não somos piratas tradicionais.
Eles nos guiam por uma trilha até o castelo.Percebo que há mais guardas nas muralhas e nos corredores.Alguns dos piratas riem e eu os acompanho.Chegamos a sala do trono onde os Reis já nos esperam.Nenhum de nos faz menção de se curvar.

—Achei que não seriam tão limpos.-cochicha Suzana.

—E nem tão bonitos.-Lúcia cochicha de volta.-Caspian fez bem.

—Sejam bem-vindos !-Caspian se levanta do seu trono.-Os garotos ficaram no segundo andar da ala leste e as meninas no segundo andar da ala oeste.Lúcia,Suzana mostre as garotas onde irão ficar.

Suzana e Lúcia sobem uma escadaria enorme e nos levam por um corredor com janelas espaçosas que mostram o jardim.

—Como vocês são cinco,vão ficar duas em cada quarto e a capitã ficará sozinha.-Lúcia diz gentilmente.-Quais são seus nomes ?

—Chloe.

—Isabela.

—Chelsea.

—Dayse.

Lúcia olha para mim.Poucas pessoas sabem o meu verdadeiro nome.Costumo esconde-lo para que nenhum caçador de pirata do nosso mundo me encontre,mas acho que não tem problema contar para eles.Afinal,não parece que eles vão sair daqui tão cedo.

—Alice.

Lúcia para e abre uma porta e sorri me convidando a entrar.Suzana chama as meninas com a mão,que me olham significativamente antes de irem.

O quarto em que vou ficar é melhor que qualquer um que já tenha ficado.Tem uma cama de casal com várias almoçadas.Todos os moveis são de mármore branco,assim como o piso.Tem duas mesinhas perto das portas com grandes jarros vazios.Uma mesa com uma cadeira revestida de veludo.Um guarda roupa enorme e uma outra porta,muito menor,que deve ser o banheiro.Além de ter uma porta de vidro que leva para a sacada.

—Espero que esteja a sua altura.

—Está muito além da minha altura.Somos piratas e não príncipes.

—É divertido ?-Lúcia se senta na cama.

—Depende.É sempre uma aventura após a outra.Temos que ser ágeis e bem inteligentes.Nunca esteve em uma aventura ?

—Sim.Mas faz tempo que estamos fora de Nárnia.Ás vezes,acho que não sou boa o bastante.

—Só se é bom,quando se esforça.Você se esforça ?-ergo as sobrancelhas.

—Pedro e Edmundo acham que sou criança.Que não posso estar em uma batalha.Que sou frágil.

—Você é frágil Lúcia.-ela me olha cheia de tristeza e decepção.-Mas não do jeito que eles imaginam.Se quiser acreditar,eu já fui assim.E olhe pra mim.Sou melhor que qualquer guarda nesse castelo.

—Pode me ajudar ?-Lúcia suplica.-Por favor.

—Claro.Mas seus irmãos não podem saber.

—Eles não iram.-confirma Lúcia se levantando e indo em direção a porta.-E pode me chamar de Lú.

Balanço a cabeça com um esboço de sorriso.

—E Alice - Lú diz com a mão na maçaneta.- temos um banquete á noite para vocês.

—O que ?-pergunto surpresa.