Antes do nascer do sol,o exercito de Arthur e Airan já se encontra ao lado oposto das montanhas.Não ouvimos nenhum movimento.O que significa que os narnianos não chegaram ou estão bem escondidos se preparando.

Eu sei que assim que ganhar,não importa o acordo,vai haver guerra.Airan está cada vez mais nervosa com o irmão e tenho certeza que ela é quem vai dar o grito de guerra.Mas não estou preocupada com isso.

Exigi que meus marujos ficasem na linha de frente.Eles são os melhores guerreiros que já conheci e sei que eles dão conta do recado.Essa pode ser a primeira guerra que participamos,mas já enfrentamos batalhas muito piores e em locais mais arriscados que este.

Ouvimos uma trombeta e um grande exercito vestido de prata e vermelho é visto no topo da montanha.Eles descem com cuidado demorando quase dez minutos para chegar ao chão coberto por grama.

Airan cobre um pedaço do chão com gelo.É uma área quadrada e imagino que seja ali que devo duelar.

Arthur e sua pequena tropa vão ao encontro de um grupo que se aproxima.Duas garotas,quatro rapazes,dois sátiros e três centauros.Como Airan me instruiu vou bem atrás de Carson,um dos soldados mais altos e musculosos que já vi na vida.

—Arthur,filho de Jadis.-diz um garoto com os cabelos pretos que vão até os ombros.

—Caspian X.

—Devia ter imaginado que você estava por trás de tudo isso.

—Pare de enrolar,Caspian.Apresente o seu guerreiro.

Um garoto loiro com armadura subiu em cima do quadrado de gelo.Ele me parecia vagamente familiar mas não sabia aonde poderia te-lo visto.

—Apresente o seu guerreiro,Arthur.-o tal Caspian repetiu as falas.

Os soldados sorriam enquanto se afastavam para o lado.Andei calmamente até o bloco de gelo.

O garoto loiro parecia completamente chocado.Caspian estava furioso.Uma das garotas,acho que a mais nova,parecia a beira das lágrimas e a mais velha poderia desmaiar a qualquer momento.

—Alice ?-um garoto de cabelos negros perguntou.

Não sei como ele sabe meu nome mas isso não importa.

—O que fizeram com ela ?-grita o loiro.

—Você estava certo,Penvensie.Os olhos dela estavam diferentes.Mas era apenas o começo.

As palavas de Arthur não fazem sentindo mas não penso muito nelas.O meu objetivo principal é matar o loiro.

—Que comece o combate.-diz Arthur.

Todos se afastam um pouco do bloco e ficamos apenas eu e Pedro.

Retiro minhas espadas dos suportes que ficam nas costas e o exercito atrás de mim grita encorajando-me a continuar.Pedro morde o lábio inferior e retira sua espada da bainha sem muita convicção.

—Você não se lembra de mim Alice ?-ele pergunta.

—Deveria ?-respondo sarcástica.

Ele parece magoado mas não me abalo por isso.Invisto contra ele.Pedro bloqueei-a meu ataque mas parte dele parece não querer lutar.Melhor assim,mata-lo será ainda mais fácil e menos cansativo.

Em um movimento rápido,consigo bater o cabo da katana em sua testa.Pedro recua.O sangue começa a lhe cair sobre os olhos.Aproveito sua pequena distração e dou um chute em seu peito.Ele se desequilibra mas não cai no chão.Pedro me olha como se pedisse desculpas e me ataca fazendo um corte superficial no meu ante-braço.

A lâmina da katana bate em sua armadura quando tento cortar sua cabeça.Pedro se virou rapidamente.Ele bate o punho da espada na minha boca e imediatamente sinto o gosto de sangue.Cuspo tudo no chão e me abaixo para evitar um golpe.Uso o ombro para empurra-lo e apesar de ser mais pesado que eu ele finalmente cai no chão.

Pedro continua lutando enquanto tento ficar por cima dele.Piso com toda a força em cima do seu braço e ele solta um grito.Uso uma das espadas para prender o braço no chão com a ajuda da roupa que ele usa.Jogo sua outra espada para longe e fico em cima dele prendendo seu braço com uma das pernas e seu corpo com o meu.

—Acho que você não é tão bom assim,reizinho.

—Seria melhor se você não fosse a Alice.A garota que gritou comigo.

Uma imagem de Pedro em uma aldeia tentando me acalmar invade meus pensamentos.Fecho os olhos com força.Nada disso é real.Ele deve estar usando sua magia negra em mim.

—A garota que dançou comigo.

Outra imagem de Pedro em um salão cheio de pessoas aparece.Ele está sorrindo e posso ver Dayse e o garoto de cabelos negros logo atrás.

—Uma das poucas pessoas que me preocupo.

Dou um soco em seu maxilar para que ele cale a boca.

—Para de falar bobagens,nada disso aconteceu.

—Olhe nos meus olhos e diga que não se lembra de nada.

Contra a minha vontade e só para provar que ele está errado,olho em seus olhos.São azuis da cor do mar.Sinto algo borbulhar dentro de mim.Sim,agora tenho certeza que já vi esse garoto mas nada que ele diz parece ser real.

—Eu não me lembro.

Levanto a espada pronta para dar o golpe final quando um gongo soa.Olho para frente e vejo que o centauro de corpo de cavalo branco está sorrindo para mim.

O que está acontecendo ?

—Isso não foi combinado !-grita Arthur.

Ele parece furioso.

—Está nas leis,Arthur !-grita Caspian.-Agora,mande sua garota sair de cima do Grande Rei Pedro.

Cerro os dentes furiosa enquanto retiro minha espada do braço de Pedro.

—Você não terá tanta sorte na próxima.

Desço do quadrado e vou em direção a Arthur.

—Você está bem ?-ele pergunta.

—Sim.Nada de grave por aqui.-digo.-O que aconteceu ?

—Nas leis antigas cada guerreiro tem direito a uma pausa.Pode ser a qualquer momento e eles a utilizaram agora.Basta deixar a vida dele por um fio que eles não terão como te impedir de corta-lo.

—Certo.-Arthur começa a se afastar.-Arthur ?

Ele se vira.

—Sim ?

—É possível que eu já tenha encontrado esse garoto antes ?

Seu rosto se torna sem expressão.Ele parece estar pensando mas não sei ao certo.

—Não.Você nunca encontrou o Rei Pedro.

Balanço a cabeça e ele se afasta.Carson se aproxima com Dayse e Dylan ao seu encalço.Eles cuidam dos poucos ferimentos que tenho.E me dão água.Bebo tudo em apenas um gole e refaço o meu ajeitado rabo-de-cavalo.

—Hora de voltar.-Carson avisa quando vê Pedro me esperando.

Volto para o gelo e novamente os dois exércitos dão gritos nos incentivando.O que me deixa um pouco assustada é que Pedro não tem nenhum ferimento a vista.Ainda á um pouco de sangue em seu rosto mas nenhum sinal do corte.

Giro as espadas nas mãos pronta para a batalha final.Dessa vez Pedro não vai escapar.

—Não precisa ser assim.-ele diz.

—Converse menos e lute mais.-digo antes de investir contra ele.

Pedro defende o meu ataque e avança tentando me atingir.Tenho que atingir Pedro,mas como posso fazer isso se sua armadura cobre a maior parte do seu corpo ? Tenho que ser mais esperta que ele.Pelo que sei,toda e qualquer armadura tem uma falha.

Pedro continuou investindo.Ele parecia mais determinado em me matar agora.

Senti a lamina da espada passar em meu rosto fazendo um corte na bochecha.Depois,outro corte na coxa e um no ombro.O sangue começou a manchar a minha roupa.

—É covarde demais para me matar de uma vez ?-disse enquanto me esquivava de mais um golpe.

A cada movimento que fazia,os cortes pareciam aumentar me causando dores horríveis. Mas eu não iria parar.Prometi a Arthur que venceria e é isso que vou fazer.Mesmo que custe a minha vida,eu vou acabar com esse garoto.

Pedro conseguiu me empurrar e cai no chão batendo a cabeça.Uma das minhas espadas caiu á mais de um metro para a minha direita.Tentei me defender enquanto pensava em um jeito de voltar a ficar de pé.

Estou sem armadura e se Pedro conseguir me paralisar,vou morrer na hora.

—Atacar !-ouço o grito de Airan e o barulho do exercito se deslocando.

—O que ?-Pedro olha para a frente e consigo me levantar.

Não entendo porque Airan fez isso mas estou feliz por não morrer agora.Bato a espada na lateral da cabeça de Pedro e ele cambaleia para o lado quase caindo no chão.Pego a minha outra espada e ataco.Pedro não é rápido o bastante e consigo fazer um corte em sua perna.

Tenho uma vaga noção da guerra ao meu redor.Escuto as espadas se chocando,os gritos e os corpos caindo.

Pedro tem os olhos azuis em chamas.Sinto a raiva e o ódio emanando do seu corpo.

Me afasto um pouco e luto contra um centauro.

Não sei exatamente quanto tempo se passou mas o número de corpos subiu bastante.Meu corpo reclama de cansaço mas não posso parar.Parar significa a minha morte.

Desvio de um golpe de um fauno e corto a garganta de um humano que iria me atacar pelas costas.Abaixo-me no exato momento em que a espada de dois faunos se chocam acima de mim.Passo uma rasteira nos dois e alojo as espadas no peito deles.

Senti a lâmina fria de uma espada perfurando a minha barriga.O sangue subiu pela minha garganta e comecei a tossir.As espadas escorregaram das minhas mãos e cai de joelhos.

Lutei para respirar mas meus pulmões pareciam ter perdido a habilidade de me trazer oxigênio.Tombei para o lado com os braços esticados para cima da cabeça.Tive um vislumbre de alguém se abaixando ao meu lado mas meus olhos estavam se fechando rápido demais para que eu pudesse saber quem era.