Invisível aos olhos escrita por Flávia Monte


Capítulo 37
Capítulo 37




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— Objetivo: Estudar. Obstáculo: Estudar.

Estamos na praça, perto da árvore onde estava aquela fantasma sabado passado. Nas quintas-feiras nós costumamos não ter aulas com tempos seguidos. Isso facilita que eu ensine a Prime matérias mais complicadas. E isso até me ajuda a estudar. Principalmente agora que ando sem tempo para minha vida normal.

 - É assim mesmo, Prime. Você não é diferente do resto da sociedade. – Pego o caderno que ela está apenas encarando e vejo as perguntas que o senhor Stuart passou na sexta passada. Amanhã temos que ter isso tudo pronto.

— É verdade. Quem gostaria de uma matéria ridicula como aquela? Não é como se eu fosse precisar disso para o futuro!

— Prime, nós precisamos de literatura desde a Criação. Literatura foi a forma de a sociedade passar as informações para os seus descendentes. É muito eficaz e... - Eu não sei como perguntar sobre o que eu vi ontem... Prime sempre reage assim quando é algo relacinonado ao professor.

— Ué? Não viemos do barro? – Da forma como a minha amiga diz isso, faz parecer que era esse o assunto.

— De acordo com Gênesis, Deus formou o homem do barro e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem passou a viver. – Devolvo-lhe o caderno, e ela fica olhando para a página em branco.

— Mas... Espera! E aquela história toda sobre virmos da costela de Davi?

— Davi? – Rio, mas ela apenas passa a olhar para o céu. A sombra que a árvore faz, me lembra como a Hinata ficava escondida aqui... E que aquilo foi muito trágico. Por que Said teve que a destruir assim... Não existe outra forma?

— É! Eu me lembro do meu pai falar que nós viemos da costela desse cara, e por isso os homens são mais “puros” que as mulheres. E mais coisas machistas horríveis! – Sempre me esqueço de que Prime é muito feminista ao ponto de se incomodar com essas coisas. Eu normalmente ignoro esse tipo de comentário que o pai dela faz.

— A costela é de quem, Prime?

— Davi! – Ela para e pensa, depois me olha um pouco corada. – Adão! Costela de Adão! Foi isso que eu disse! Você escutou errado. Falando em errado, por que não foi me visitar no hospital? Que destruição aquele seu amigo fez na biblioteca, hein! Quando ele veio me visitar fiquei com tanto medo que disse nem o conhecer! Mas que badboy dos deuses que surgiu para você!

Calma! Said disse mesmo algo sobre ela não o reconhecer. Então, quer dizer que ela mentiu... E sabe de tudo o que ocorreu?

— É claro que ele nem suspeitou de mim! Afinal, as aulas de teatro da faculdade estão me trazendo ótimos resultados! Eu só queria entender como aquilo tudo explodiu? Será que não reparei em alguma coisa? E aquele grito? Assustador, minha irmã ficou tão preocupada que não saiu do meu lado no hospital. Por algum motivo ela achou que foi por eu andar com as pessoas erradas. – Assim que percebe o meu olhar, Prime sorri. – Relaxa, morena. Não precisa se preocupar. Seu segredo está seguro comigo.

— E qual é o meu segredo, Prime?

Ela olha para o caderno em branco e dá de ombros.

— Eu sei que você tem. Ainda estou em busca dos detalhes. – Minha amiga volta a olhar para mim, apontando para meu peito com uma caneta. – E também sei que aquele gato de cabelo estranho está nessa com você. Seja lá o que você se meteu, posso ir junto?

Sorrio de lado e olho ao redor. Tem poucas pessoas na praça.

— Preciso te perguntar uma coisa. – Ela concorda com a cabeça e fecha o caderno. Como se estivesse cansada de estudar. Se por acaso tivesse estudado alguma coisa... — Onde você estava ontem depois das aulas? Fui te procurar, mas você não estava na sala...

Ela olha para o celular e depois o segura firme. Prime não consegue desfarçar um sorriso, e então ela tenta ficar séria. E toda aquela aula de teatro que disse ter, não parece ter valido.

— Estava com o peguete da vez? – Pergunto, colocando o resto do meu material na mochila e olhando as horas. Faltava pouco para a última aula, antes de irmos passear no shopping aqui perto.

— É... Talvez. – Minha amiga realmente tenta não parecer tão feliz. Começa a fazer uma trança com metade de seu cabelo castanho claro. Ah... Para mim, essa tonalidade já é loiro. Ela tenta parecer concentra, mas sei que não estar.

— Bem, contando que esse cara seja como você e não seja sério. – Dou de ombros, mas a olho com o canto dos olhos. Ela morde a boca daquele jeito que quer dizer que está fazendo merda. — E também não seja um mentiroso, por que numa relação é melhor que apenas um seja assim. Já que você já é... – Continuo a observando e Prime cruza os braços.

— Seja direta, Cass. – Ela pega bebe o café, como se o que eu fosse falar não tivesse interessa algum à ela.

— Eu te vi. Ontem a tarde. Sei sobre o senhor Sutart. Só não entendo. – Tento me virar para ela, sentando em cima de uma das minhas pernas. Prime parece engascar com o café e tosse um pouco. – Ele é o noivo da sua irmã.

— Cass...

— Eles vão se casar mês que vêm, Prime! Por que você está tentando estragar o casamento da sua irmã?

— O Leon me ama. – Esse é o primeiro nome do senhor Stuart? — Ele vai terminar com a Reese! Nós vamos ficar juntos assim que eu terminar a faculdade e...

— O que você está dizendo é loucura! – Tento acalmar minha mente, para eu não dizer merda a minha melhor amiga. – Eles namoram a anos! O professor não vai te escolher! Prime... Um namorado perfeito não bebe, não se esquece, não mente, não engana...

— E não existe. – Ela me interrompe, levantando a mão. - Não tente me entender. – Prime se levanta e coloca a mochila no ombro. – O máximo que seus olhos permitem enxergar é a margem, e não a profundidade do rio.

Começo a andar, ao seu lado, em direção a próxima aula. Tentando entender o que passa em sua mente. A quanto tempo ela está nisso? E todos os outros rapazes que ficava? Tenho certeza que existe algum melhor...

— Cass, você não vai conseguir me entender até passar pelo o que passei. Eu estive sozinha por muito tempo, então encontrei uma pessoa que de inicio pareceu comum como todas as outras. Então, eu comecei uma conversa comum, com aquela pessoa comum. E um dia percebi que o Leon, que parecia uma pessoa comum, não é tão comum assim.

— Prime, recentimente passei por algumas mudanças que você nem faz idéia! E realmente estou tentando entender o que passa na sua cabeça. Você está certa em dizer que eu não passei pelo que você passou. Sei como os seus pais são e tudo mais, mas o senhor Stuart... Ele e a sua irmã...

— Sem ele meus dias ficam comuns, Cass. Eu sei que estou um pouco fudida. Mas estou apaixonada. – Ela dá de ombros, assim que entramos no corredor.

Os corredores estão mais vazios que o normal, mas isso deve estar acontecendo por que já estamos atrasadas para a aula. Subimos para o segundo andar, e eu percebo um trosso estranho no této. Parece uma estrela do mar azul. Ele me encara, mas eu só passo reto. É apenas um ser do Outro Lado...

— Eu não consigo mais tirá-lo da minha cabeça. Tudo o que eu quero é a companhia dele. Só isso, Cass. Saber o dia dele, e se ele pensa em mim como penso nele...

Isso é mais do que só a companhia! Prime, escute o que sai pela sua boca!

— Não me entenda mal, o amor é lindo, e cheio de maravilhas. Não estou sendo irônica. Todas essas magias que todo mundo fala... Deve existir alguma verdade. Mas só para aqueles que são correspondidos. Isso sim é bonito de se ver. Então, pare de se iludir com o nosso professor, e não atrapalhe o casamento que eles terão.

— Eu guardei segredo por tanto tempo. Acreditava que assim que você soubesse me ajudaria nisso, me daria apoio. – Prime olha por cima do ombro, para mim. Ela parece realmente magoada com a forma que agi. Mas é ela quem está errada nessa história!— Achei que seria uma verdadeira amiga, Cass.

— É isso que eu gosto em você, amiga. Sua falta de realidade, sua espontaneidade, sua falta de modos, seu jeitinho de exagerar em tudo. E isso é o que eu acho bonito em uma pessoa. Ainda mais agora... Você cosumava viver sua vida, aceitar os seus limites. Pelo amor de Deus, Prime, você é você! Não precisa de um cara para ser feliz. Ainda mais o senhor Stuart, que pelo visto, não presta!

— Alguém me disse que se existe uma chance com alguém que ame, deve-se tentar. – Ela passa pela porta da sala e senta no lugar de sempre, ao meu lado. – Eu achei que quem me disse isso, agiria diferente...

Olho por cima do ombro e vejo Amon no canto da sala, com fones de ouvidos. Assim que me vê, o loiro balança a cabeça e seus olhos azuis são tapados pelo cabelo. Treino mais tarde? Ele fala sem usar a voz e eu concordo com a cabeça.

— Você vai correr atrás dele. Dessa forma, Prime? – Volto a olhá-la.

— Correr atrás de alguém não é feio, Cass. – Prime apoia o rosto na mão, e olha pela janela. – Seria feio se você tivesse a pessoa que você ama em suas mãos e a tratasse mal ao ponto de perdê-la.

Acho que já li algo parecido em algum lugar, mas a forma em que Prime diz altera todo o significado! É feio sim uma garota roubar o noivo da irmã. E do jeito que ela diz sobre tratar mal... Tenho certeza que ela está falando de Reese. Sendo que, apesar da raiva interna na família, Reese nunca me deu um motivo para suspeitar do seu amor por Prime.

— Prime, eu...

— Não vou fingir um equilibrio que eu não tenho, Cass. Eai, vai ser minha amiga e me apioar?

Abaixo os olhos e sinto a sua mão segurar a minha. Ainda tem alguns arranhões do incidente da biblioteca. Olho para os seus olhos castanhos e seguro a minha respiração.

— Sim. – E quando tudo der errado, vou estar aqui para te ajudar.

— Ótimo! Porque tenho que comprar uma roupa nova para ir ao encontro que vou ter com o Leon final de semana! – Prime parece animada, e isso só me dá dor no coração e um nó no estomago. Não que eu saiba muito sobre o que é o amor, mas já vi muitas amigas sofrerem pela perda de um.

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Notas finais do capítulo

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