Invisível aos olhos escrita por Flávia Monte


Capítulo 36
Capítulo 36


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora, boa leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/691065/chapter/36

—⟰-

— Você é burro ou o quê? – O grito me acorda, e faz meu coração bater muito forte. Olho para baixo e vejo que Tom também despertou. – Tem idéia que horas são? Você está sendo um imbecil por sair agora, só por que aquela garotinha te chamou! É por isso que te disse para desistir de dar aulas para essa menina.

A voz de Dylan parece tão próxima, mas quando chego ao corredor, consigo avistá-lo. Na sala, olhando em direção à porta principal, Dylan está de calça comprida e sem blusa, apontando o dedo para alguém. Eu não estou com muito sono, nem cansada, por conta das circuntancias atuais, eu não estava conseguindo dormir direirto.

— De certa forma sou o responsável... – A voz é bem mais baixa, e se eu não tivesse a escutado hoje, não perceberia que é Caleb. Além de estar supercalmo, parece não ligar para o fato de o seu irmão gêmeo estar pirando. Escuto passos lentos, mas continuo não o vendo. - Não posso simplesmente ignorá-la.

— Por quê? Por que não, Cal?

Dylan anda mais um pouco e o perco de vista. Tom caminha até a porta, onde estou e dá uma olhadinha lá para baixo. Segurando da minha blusa, ele me puxa um pouco para dentro. Como se dissese para eu não me meter. Vejo sua mão passar por seus olhos, como se o menino não quisesse se esforçar para acordar. Percebo que seus olhos parecem assustados com o meu braço, mas eu apenas dou de ombros.

— É por isso que ela não larga do teu pé, idiota! É só ela mandar uma mensagem, ou te ligar, que você corre para atender todas as vontades dela.

— Ela não tem mais ninguém que atenda as suas vontades. – Dou mais alguns passos pelo corredor me apoiando no corrimão, para conseguir ver algum dos gêmeos. Não faço barulho algum, mas sinto que se eu chegar um pouco mais perto, eles podem me notar. - Além disso, nós conhecemos bem a solidão de não ter os pais por perto. – A voz ainda é alta, como se não ligasse para o fato da mãe estar no quarto ao lado dele.

— Ei, vocês! É madrugada, vocês estão fazendo muito barulho! – A voz é de Amon, ele está na minha frente, gritando perto da escada. Brevemente, seu olhar fica em mim. Muito breve, mesmo. Já que, logo em seguida, Amon pula o corrimão e pousa com um barulho estrondoso no chão. – O que já falei com vocês dois sobre isso. Querem discutir, vão lá para fora!

O loiro olha para o lado, onde acho que está Caleb, e então cruza os braços.

— O que houve?

— Quero sair, posso? – A pergunta do mais novo é realmente chocante. Para mim. Não esperaria que Caleb fosse pedir permissão ao Amon, sem ao menos ser irônico.

Passo pelo quarto de Matthew e parece estar bem tranquilo do outro lado. Tendo proteção quanto aos barulhos, fica fácil se esquecer do mundo aqui fora. Acho que se a casa pegasse fogo, ele não perceberia. Desço as escadas devagar e em silêncio. Tento não ficar a vista de nenhum dos gêmeos, para não atrapalhar. Esforço-me, principalmente, para ficar longe dos olhos de Dylan.

— Vai. Mas, sejá lá o que você quer fazer, não chame atenção.

Consigo ver Caleb concordando, e então escuto a porta principal fechar. Amon vai para a cozinha, e eu dou a volta para retornar ao quarto. Subo alguns degraus antes de escutar um ruido. Como se tossise, mas daquele jeito forçado.

— Me desculpa. – Digo quando os olhos de Dylan param nos meus. – Eu não pretendia escutar.

— Então, o que fazia em silêncio, observando a cena? – Sua voz está bem mais calma do que antes, como se não ligasse mais. Só que não é isso que seus olhos me mostram. Dylan para de andar em minha direção e depois olha para o irmão, na cozinha. – Cade a sua cópia?

— Gostaria que eu chamasse Caleb de cópia? – Dylan volta com o olhar para mim, mas não me responde. – Então, pare. O cara que está atrás de mim, me encontrou.  Depois do que aconteceu no nosso jantar. Gae foi atingida por alguma coisa que ele lançou contra nós duas, e pelo o que entendi, não poderia vir para cá... Se não ele a seguiria. E nós morreriamos. Quando digo nós, quero dizer apenas sobre Gae e eu. Não querendo ligar vocês a isso.

— Você fala isso como se fosse algo normal. Natural. Algo costumeiro. – Ele fala baixo e dá alguns passos em direção a escada, onde estou. Eu recuo um pouco, lembrando-me do restaurante.

— Não é assim. Esses eventos surreais estão causando não só um efeito colateral na minha vida, mas também um impacto na sociedade. – Digo baixo, lembrando que Amon está aqui perto e pode ouvir até mesmo as batidas do meu coração. Eu acredito que seria algo que Said me diria, se pudesse. — Eu... Eu preciso ficar por aqui um pouco mais. Depois eu vou embora.

— Matt não terminou de te curar. – Dylan dá mais um passo, e sobe no primero degrau da escada. Ainda me olhando com aqueles terriveis olhos verdes, o garoto anda um pouco mais em minha direção. – Não adianta você querer se livrar dessa família. Você já está aqui.

Tento subir as escadas, para chegar ao corredor e voltar ao quarto de Tom. Quando estou para dar o meu primeiro passo, Dylan segura o meu pulso, que não está machucado, e me prende contra a parede. Olho para os lados, e Amon não parece estar vendo.

— A vida tem o sentido que você definir para ela, Cass. Se você desistir agora, o que acha que acontecerá?

— Eu não disse que vou desistir. – Olho para o lado esquerdo, como se assim pudesse ver o lugar onde o Caleb estava. – Quem é a garota que vocês estavam falando? Eu não pensaria nunca no seu irmão ajudando alguém.

— Por quê? Por ele ser um demônio? – Dylan sorri perto demais de mim.

— Não. Por ser seu gêmeo. – Ele afrouxa um pouco a mão que me segura, e, logo em seguida, me preciona ainda mais contra a parede. Parece ter percebido meu machucado, mas não fala nada. Em seus olhos vejo um pouco de culpa. Eu acho.

— Como você havia dito antes, não somos iguais. Não é por que eu odeio humanos, que o Caleb também precise sentir o mesmo. – Do jeito que seus olhos piscam para mim, parece que é exatamente assim que Dylan acha que deveria ser.

— Não entendo por que nos odeia. – Coloco a mão machucada em sua camisa, e o empurro um pouco para trás. Ele morde o lábio inferior, olhando para meu movimento. Só de pensar onde seu corpo passou essa noite, não quero estar tão perto de você. — O que os humanos te fizeram?

— Um humano conquistou meu pai, e o fez trair a Pamela. Sendo assim, não o vejo desde então. – O corpo de Dylan não parece muito irritado, mas seus olhos... Esses, sim, poderiam matar alguém. – Não que isso seja da sua conta.

— Nem todos os humanos são iguais! E isso poderia ter acontecido com outro demônio, ou demônia... Ou sei lá... Essa família é tão misturada...

Dylan me solta e dá um passo para trás. Segurando no corrimão, ele se apoia e respira. Como se até agora não ouvesse pensado que precisava de ar. Toco em seu ombro e vejo o canto dos seus olhos, se virando ligeiramente para mim.

— Você não quer me intimidar, nem me conquistar. – Pela forma que atacou a garçonete. – Então, não tem problema se abrir comigo, Dylan.

Ele puxa o celular do bolso, e então parece ver as horas.

— Temos aula amanhã. Não que eu ligue muito para isso. – Ele dá de ombros. – Antes do jantar, venha para o meu quarto.

Isso parece mais uma ordem do que uma idéia. Afinal, por que acabo escolhendo me importar com ele? Olho para cima e vejo as portas onde os gêmeos dormem. Nunca entrei no quarto de nenhum dos dois.

— Qual das portas é a do seu quarto? – Chego ao corredor, mas Dylan continua parado na escada. Como se fosse a algum lugar.

Depois de se espreguisar e parar de olhar para o meu pulso machucado, Dylan sorri para mim.

— Aquela que não for a do meu irmão. – Seu sorriso é um enigma. E seus olhos parecem estar se divertindo. Como se aquilo fosse outro joguinho. – Nossos quartos são diferentes por dentro. Só que ninguém sabe de quem é qual, por que nem imaginam o que passa por nossa mente. Sendo assim, depois quero sua avaliação do meu quarto.

E com isso, ele dá a volta e parece ir se encontrar com Amon, que está fazendo um barulho um pouco alto enquanto come alguma coisa, na cozinha. Ando pelo corredor, e percebo que Matthew realmente nem saiu do quarto. Menos mal. Não queria esbarrar com ele agora. Vou até o quarto de Tom e o vejo rolando na cama. Acho que ele está acordado. Me debrusso sobre ele e beijo sua testa. Tom coloca a mão na minha e me puxa para debaixo do edredom.

— Não confie nos meus irmãos.

— Por que está falando isso, Tommy? – O abraço, e ele parece se ajeitar em mim. – São seus irmãos... Você está com ciumes ou algo assim?

— Eu escutei os gêmeos conversando sobre o jantar. – Fico quieta, enquanto Tom parece desconfortável. – Você sabia que ele ia fazer isso outra vez, e deu uma nova chance. Você pode até pensar que isso foi bondade sua, Cassie. Só que, na realidade, foi apenas estupidez.

Quando Tom diz isso, a imagem de Dylan sugando a vida da garota perto da árvore me vem a mente. Ele não pediu desculpas por aquilo. E quando escolhi ir ao restaurante foi para não acontecer de novo. Talvez Dylan deva ter percebido isso. Talvez, só talvez, ele saiba o quanto me irritou aquela noite. A mesma noite que eu pensei que era possível ter algo nele que meu preconceito não acreditava.

— Você pensa demais para uma criança, Tommy. – Passo a mão em seus cabelos negros e sinto o cheiro de shampoo que ainda perciste ali. – Agora que está no Jardim, deveria passar seu tempo com pensamentos mais infantis.

— Você é lenta demais para uma adolescente, Cassie. – Ele olha para cima, me fazendo ver o buraco negro que são seus olhos. – Agora que estou aprendendo de verdade como são as outras pessoas fora dessa casa, poderei ter certeza sobre o que eu sinto.

— O que você quer dizer com isso?

Ele fecha os olhos, e finge dormir. Sem me responder, o menino passa o braço por minha barriga e passa a respirar mais lentamente. Como se realmente não devesse me dar a resposta. Suspiro e olho para o teto.

Desculpa-me, Tommy. Mas agora tenho coisas mais importantes para lidar do que seu ciumes infantil pelo Dylan. Gae está machucada, e eu preciso arranjar um jeito de viajar para o outro lado para vê-la. Sem contar que estou sem qualquer segurança no momento. Preciso de mais treino com Amon. E mesmo que não seja tão importante meus pensamentos sobre o relacionamento da Prime com o senhor Stuart, essa confução faz parte da minha antiga vida. E não posso simplesmente descartá-la agora.

—⟰-


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentários são bem vindos



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Invisível aos olhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.