Invisível aos olhos escrita por Flávia Monte


Capítulo 38
Capítulo 38


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!!



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— E então ele disse: não. Você não pode fazer esse tipo de ritual sozinha. E eu fiquei bem irritada com ele. Quem aquele cara pensa que é para dizer o que eu posso ou não fazer sozinha?

— Acho que ele é o líder da sua ceita. – Matthew dá de ombros e nota a minha presença na loja.

Eu não esperava que logo ele estaria aqui com a namorada. A livraria é aberta ao público, isso é um fato. E ele sempre está lendo um livro, mas por que hoje? Prime está segurando alguns dos livros que escolhi, enquanto lê a capa e o resumo que têm atrás. Quando percebe que parei de escolher novos livros, ela olha em minha direção. E vê que estou olhando para os meus pés.

— O que foi? – Ela sussura. – Eu disse que se você me ajudasse a escolher uma roupa eu compraria quantos livros você quisesse. Acredito que nessa loja enorme tenha mais de cinco livros que te interesem.

Tento olhá-lo com o canto de olho, enquanto o casal passa por trás de mim.

— O que faz aqui? – Ele é grosso. E eu pensava que iria simplesmente ignorar a minha presença.

— Calma, cara! Quem você pensa que é? – Prime fica entre nós dois, e vejo o olhar de Matthew por cima do ombro dela. 

— Relaxa, Prime. Eu o conheço. – Coloco a mão no ombro da minha amiga, e saio de trás dela. Olho para o moreno na minha frente e depois para a menina gótica ao seu lado. Acho que o nome dela era Deborah... Que bom que a menina-boneca não está aqui. – Estou comprando alguns livros. – Dou de ombros. – Não devia estar no clube de matemática do colégio?

Prime ri, fazendo com que tanto eu, quanto Matthew olhe para ela.

— Fala sério! Esse pirralho ainda está no colégio? – Concordo com a cabeça. – E como o conhece? Achei que você só falava com aquele outro tipo de cara. Tipo o loiro gostoso lá da sala.

Você tem que falar do Amon para o Matt? Tem certeza, Prime? Deborah parece tranquila. Nem parece querer me matar como da última vez que a vi. O garoto na minha frente cruza os braços.

— Eu não sou do tipo dela. Eu tenho cérebro. – Matthew pega aquele livro famoso de Dante Alighieri, Inferno, que está na minha mão. – Não acredito que você vai ler esse livro só agora... Na verdade, acredito sim. Você não terá capacidade de entender, devia colocá-lo de volta na estante. – Ele batuca no livro, querendo me esnobar, mas então sua namorada pega o livro da mão dele e me devolve.

— Estávamos indo lanchar aqui perto. Querem ir? – Ela sorri, e eu percebo a tatuagem que têm no pescoço. É um pentagrama. Juntando a conversa que ouvi mais isso... É possível que aquele fantasma esteja certo e ela seja uma bruxa. — Não se preocupa, Matt vai se comportar.

— Calma... Matt... – Prime olha para mim e eu concordo.

Por descobri o seu segredo, minha amiga me fez contar alguma coisa recente da minha vida que ela não sabia. E eu resolvi dizer que meu subrinho me beijou, a irmã da namorada dele viu e contou para a namorada dele. Por quê? Por que achei que isso a intreteria, e ela pararia de tentar descobrir o que aconteceu na biblioteca. Nunca pensaria que seria logo ele quem nós encontraríamos poucas horas depois. Prime, por favor! Fique quieta!

— Ele é um dos filhos do meu irmão, Prime. – Eu aponto para a menina gótica, com sua blusa e sua calça preta. Seu cabelo com mechas azuis, e seu canivete visivel preso na cintura. – Essa é Deborah, a namorada dele.

— Ah! Eu pensei que fosse aquele outro garoto. – Prime me olha, e eu só sei que está mentindo por que eu sei que ela sabe quem ele é. – O que você tinha... Você sabe. Mas é verdade, não poderia ser esse. – Ela o olha de cima a baixo. – O cabelo desse aqui é preto.

Prime dá de ombros, como se isso tivesse me salvado. Só que pelo jeito que Deborah reagiu, acho que as palavras foram péssimas!

— Sim! Adoraríamos ir lanchar com vocês. Depois daqui eu teria que voltar para casa mesmo. E Cass tem um encontro. – Ela dá de ombros. Por que você sempre traduz as coisas assim? Ter um treino de luta com Amon é literalmente ter um treino!— Bem que poderíamos comer alguma coisa antes!

— Bom. – Simples e curta, Deborah passa pela minha frente e vai ao caixa levando dois livros grossos. Assim que paga, nos espera. – Venha, Matt.

Com isso, percebo o garoto perto do caixa, olhando para mim e para Prime. Matthew se vira e anda até chegar perto da sua namorada. Ele devia ser um pouco mais carinhoso! Será que não percebe que ela não gosta de mim? Não doeria dar um beijo nela, ou ao menos abraçá-la. Esse ato de segurar a mão parece muito forçado! Colabore, Matt!

—⟰-

Achei que teríamos algum problema. Que a Deborah tivesse uma crize de ciumes ou algo que valesse a pena contar a Gaelle. No entanto, comemos em paz, convensamos tranquilamentes e o único defeito dessa ida a cafeteria foi Matthew sendo um grosso comigo. Nada muito diferente do usual. Entre o casal, estavam flores desabrochando. Acho que ele seguiu meu conselho e se resolveu com a namorada. Prime parecia intretida com o fato de descobrir que Matthew é meu subrinho e por último me perguntou se todos da minha família eram bonitos assim. Fiquei pensando o que ela faria se encontrasse com os gêmeos na faculdade.

Sinceramente, não acho os gêmeos mais bonitos que o Matthew. É que... Eles sabem usar sua beleza. Matthew é O inteligente e é assim que quer ser achado. Se for para se gabar, será sobre o cérebro. Já os outros dois, iriam tentar seduzir o pobre humano. Idependente da sexualidade. Amon também é lindo. Prime ainda não sabe que ele também é da minha família... Mas o atrativo de Amon é tão difícil de perceber... Ele sempre é tão indiferente... Que não chama muita atenção. Principalmente, por tentar passar despercebido no meu mundo, como me contou.

Pensando neles, percebo que não os conheço de verdade. Não sei suas comidas favoritas, muito menos como pensam. E sobre os pais deles... O que aconteceu? Sei que os ruivos não gostam muito do pai... Traição é uma coisa difícil de engulir. Mas e os outros? E o que aconteceu com a família do Matthew e do Tom, que existe no Outro Lado? Ninguém nunca falou a respeito...

Recebo um soco nas costelas e caio na areia do parquinho.

— Cass, presta atenção! Não temos muito tempo. Seu trabalho é daqui a pouco!

Amon está me treinando desde que sai de perto da Prime. Ele já me disse que visitou Gaelle e que ela está bem. Disse que ela contou que conheceu pessoas por lá, e nem dá para ver o machucado. Logo voltará para perto de mim.

As mechas loiras do homem em cima de mim estão parecendo platinadas, com o sol atrás delas. Amon me ajuda a levantar e dá alguns tapas leves na minha roupa para me deixar limpa. Ele coloca uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha e então volta a aplicar alguns golpes.

— Você é muito avoada, Cass. – Ele olha em volta, para o parque e quando percebe que não tem ninguém, me segura pelos ombros. – Você tem que ficar mais forte. Assim nunca matará a sua morte. – Amon fica quieto por poucos minutos e então dá um soco forte em meu ombro. Ao ponto deu duvidar se consigo ou não voltar a mexe-lo. - Eu consigo sentir o cheiro do seu medo. Sei que você não está bem, se você aceitar isso também, facilitará o treino.

Olho para a areia entre os meus dedos do pé e coloco a mão na minha barriga, bem onde Amon me acertou. Não quero precisar de Matt.Estico a minha mão para o loiro e ele a segura, retirando a minha dor.

— Sorri forçadamente é muito doloroso. Fingir estar bem na frente de meu irmão... Na frente da minha melhor amiga... Não sei mais quanto tempo eu aguento esconder o que estou sentindo. – Fecho os olhos com força, e controlo a minha respiração. A dor já foi quase toda embora. – E só em pensar que logo estarei morta... Talvez... Só talvez, eu realmente devesse deixar aquele cara me pegar... Isso deve ser o meu destino.

— O que define o seu destino não suas condições e sim as suas decisões. Ao menos é isso o que Pamela sempre diz para mim. Eu acho isso bem ridiculo saindo da boca dela, afinal... Ela pode controlar a vida de qualquer ser. – Amon dá de ombros, e solta a minha mão. Depois de dar alguns passos para trás, levanta os dois punhos, como se estivesse se preparando para voltar a lutar. – Ao menos o seu irmão a controla para que não mude a vida alheia. Nenhum outro cara conseguiu isso antes.

Não sei bem qual foi a parte que me fez ficar arrepiada, mas a imagem do meu irmão conseguindo controlar qualquer coisa é inaceitável na minha mente. Não me restam dúvidas de que foi Pam quem mexeu seus pauzinhos, para controlar-lhe a vida... Só que agora não adianta nada, por que eu sei que Billy está bem ligado a ela... E aos filhos.

Amon volta a ficar indiferente e distante, e voltamos a lutar. Não passa muito tempo, e ele me leva até meu apartamento e vai embora. Tomo banho e no espelho percebo uma linha azul cruzando as minhas costas. Não incomoda, nem dói... Mas é muito estranha. Coloco uma roupa quente, já que está ventando muito lá fora, e vou direto para o trabalho.

Mais um pouco e vou conseguir o dinheiro suficiente para viver no Canadá, de novo.

Minha roupa de garçonete é um cosplay, como costuma ser, só que dessa vez tem algo diferente. Além do vestido um pouco humilhante que uso a quase dois anos, a dona complementou a vestimenta fazendo-nos usar um tecido no cabelo. Uma tiara branca com babados, assim como o resto da fantasia. Por que não piorar a situação?

Meu corpo está bem dolorido, e eu não acho isso tão ruim. Sentir dor significa que ainda estou viva. Apesar de que não sei exatamente a minha condição.

No caminho para cá, percebi outros espiritos. Fantasmas e até alguns seres que eu os acharia bizarro. Se eu os visse na semana passada.

Os clientes que frequentam o Café, são costumeiros. Sempre estão por aqui, nas mesmas horas e até nas mesmas mesas. Para terem a mesma atendente, pela luz, pela temperatura, ou seja lá o motivo. No inicio achei muito estranho, mas trabalho é trabalho.

— Pedido da mesa dez, pronto.

Olho para trás e vejo a torta e os cafés que estão na bandeja. Minnie acena para mim, e eu retribuo o sorriso. Além dessa cozinheira há outra, no horário da manha. Eu também a conheço, pois já trabalhei no outro turno, mas tenho preferencia pelos doces da Minnie. Pego a bandeja e passo pela porta dupla, para sair da cozinha.

— Uma torta de frabueza e os dois cappuccinos cremosos, para o casal. – Sorrio para os dois homens na minha frente.

Demorei mais de um mês para perceber isso, o que foi uma tremenda vergonha. Sempre pensei que fossem irmãos. Talvez por ambos serem loiros de olhos claros... Não que isso seja desculpa.

— Obrigado, Cassie. – Diz o mais forte. – Aprecio muito a sua velocidade com os nossos pedidos.

— Bem, eu diria que a cozinheira que é rápida. Cassie só precisa entregar um papel. Não é nada demais. – O outro fala dando de ombros.

Apesar de um ter aparência forte e determinada, e o outro ter uma aparência frágil e doce, as suas almas parecem ter sido trocadas de lugar, já que suas personalidades são tão opostas. Cumprimento com a cabeça os dois, antes de ir para a próxima mesa, com três colegiais.

— O que vão querer hoje, meninas? - Cada uma está com um cardápio, e consigo perceber a indecição de todas. É a primeira vez que vejo duas delas. – A Li costuma pedir um chocolate quente e um cupcake, nesses dias frios. Poderiam ver nessa parte do cardápio, qual das imagens dos pequenos bolos vocês preferem...

— Eu vou querer esse aqui, Cassie. – Diz Li, apontando para um cupcake de M&M e Kitkat. – Já provei este, esse e aquele ali, e são deliciosos. – Ela aponta para as amigas, que abrem um sorriso ao ver os doces.

— Então, um chocolate quente com esse aqui, de morango. – Uma delas aponta para a foto da mini torta de morango com frutas vermelhas.

— E eu quero apenas dois donuts de chocolate branco, com coco ralado. – Fala a última.

Concordo com a cabeça, e anoto tudo no carderninho. Observo em volta, e não tem ninguém da minha área parecendo querer ajuda com algo. Vou para a cozinha e entrego o papel para a Minnie. Ela lê e depois passa a lingua nos lábios. Apesar de ser magrinha, a cozinheira sempre prova tudo o que é produzido aqui. E só continua no cardápio, se ela gostar.

Pego um copo no armários, separado para mim e escrito o meu nome, e coloco um pouco de água.

— Sabe, Min... As coisas parecem tão complicadas de vez em quando. – Coloco o copo na mesinha enquanto a observo fazendo o donuts. – Eu queria poder desistir disso e seguir em frente. – Digo pensando em Gaelle. Que apesar de estar melhor, se feriu por minha causa.

— E por que não faz isso então? – Ela parece bem concentrada, mas me responde mesmo assim. – Você não costuma ter muitos problemas, Cassie. Até seus descuidos quebrando alguns pratos, não são cobrados do seu salário... Se tiver alguma coisa é só seguir reto. É problema com o que? – Minnie me olha e levanta a sobrancelha. – Um homem?

— Hum... É. – Tecnicamente falando, Estratos é um homem. Um homem que quer me matar, de qualquer forma.

— Você não costuma ter esse tipo de problema, não é? – Eu concordo com a cabeça. – Você está assim por que quer que ele não fique tão perto, ou o problema é ele não ficar?

— Só quero distância daquele cara. – Dou de ombros e começo a lavar o meu copo.

— Se é assim, pare de vê-lo. Se você não ficar perto dele fisicamente, o sentimental vai embora. Em qualquer dos casos, a distância ajudaria. – A mulher coloca o coco ralado em cima do donuts e parece estar morrendo de vontade de pegar um pedaço. Como consegue ser tão magra?

— Meu oponente não parece dar essa opção.

E só de pensar naquela luz machucando a Gae... Se eu pudesse... Se eu pudesse fugir dele. Ou talvez... Se ele não quisesse mais me matar... Como ele pode ser tão frio, para agir dessa forma? Ele pode não ser humano, mas é um homem, não é? Não devia ter o mínimo de sensibilidade? Devia. Sem dúvidas nenhuma de que ele devia. Fecho os olhos por alguns segundos e consigo me lembrar das palavras de Amon. Será que eu consegueria matar a minha morte? Matar Estratos?

— Cassie!

Quando escuto o grito de Minnie, já é tarde. O prato com o donuts, que ela teve tanto trabalho em fazer, caiu no chão e quebrou. O donuts, por sorte, continuou em cima do prato, completamente intacto e sem tocar no chão. Mas... O resto do prato está estilhasado.

— Desculpa! Me desculpa! – Me agacho, e pego com cuidado onde o donuts está e coloco em cima da mesa. Minnie balança a cabeça, mas não responde. Segura o donuts com a suas mãos impecaveis e o troca de lugar. – Eu vou jogar isso aqui lá no lixo. E já varro...

— Eu varro isso aqui. Você pode acabar quebrando mais alguma coisa. Coloca tudo no saco de lixo e depois de entregar essa bandeja, leva o saco lá para fora. – Ela termina os pratos e coloca os chocolates quentes na caneca. – Sorte a sua de que a gerente foi embora mais cedo, por causa de um telefonema. – Minnie olha nos meus olhos e entendo que ela não quer o meu mal, mas já está farta deu quebrar as coisas na cozinha dela. - Vê se não demora, por que ainda são sete horas.

Sete horas... Isso significa mais uma hora usando essa roupa ridícula e tendo que sorrir, mesmo pensando na minha morte iminente. Beleza... Eu aguento.


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Notas finais do capítulo

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