A Sombra do Pistoleiro escrita por Danilo Alex


Capítulo 8
Adeus, pai.


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Segue mais um trecho da aventura do Enrico para vocês.


Tenho uma sugestão: Esse capítulo é legal de ser lido ouvindo essa música aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=f8D7MLsNAb8


Espero que gostem!

Boa leitura!!!



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No dia seguinte Enrico foi ter com o dono do rancho para pedir demissão.

Depois do que acontecera, o rapaz compreendeu que não havia mais clima para permanecer ali. Além disso, sentia-se finalmente preparado para sua missão.

Percebeu que chegara o momento de partir e procurar aqueles homens responsáveis por todos os seus anos de sofrimento.

Enrico foi se despedir dos amigos e se comoveu com o pesar de todos. Não sabia ser tão querido pelos vaqueiros.

— Os três pistoleiros estão presos em Piedras Negras por ora, mas serão transferidos em breve para a prisão estadual mais próxima. – explicou Davis ao amigo mexicano – Me parece que é para a prisão de Amarillo, no Texas. Eles eram procurados também nos Estados Unidos.

Enrico assentiu com um breve movimento de cabeça e perguntou:

— E quanto a Bob Indian?

— Não entendo a compaixão que sente por aquele tipo. – falou Davis, com dureza – Mas não se preocupe, o índio ficará bem. O médico está tratando do joelho dele. Segundo o xerife, assim que ele se recuperar, vai também para trás das grades, fazer companhia aos parceiros. Talvez um tempo de molho na prisão o ajude a por as ideias no lugar.

— É. Talvez. – Enrico deu de ombros antes de dizer simplesmente: — Melhor assim.

Os dois homens se calaram por alguns instantes.

— Estou partindo para a minha missão, meu amigo. – disse Enrico, quebrando subitamente o silêncio incômodo – Gostaria que voltássemos a nos ver algum dia.

— Isso é bem possível rapaz. Esse mundo pequeno em que vivemos dá muitas voltas, só que a gente cai sempre no mesmo lugar, e esbarra nas mesmas pessoas. – Peter Davis tentava sorrir ao dizer essas palavras, porém, lá no seu íntimo experimentava uma tristeza imensa por ter chegado o momento de se separar de Enrico. Afeiçoara-se ao rapaz de tal maneira, que já não o via como amigo, mas como o irmão mais novo que Deus não lhe dera.

— Espere aqui. – pediu o americano, correndo até o barracão.

Intrigado com aquilo, Enrico passou a se despedir individualmente dos vaqueiros, os quais tinham formado uma fila especialmente para cumprimentá-lo. Acabara de se despedir do último vaqueiro quando Davis apareceu com um ar misterioso. Trazia um embrulho: algo comprido enrolado em várias folhas de jornal. Num primeiro momento parecia uma vassoura.

— Tinha comprado um presente da cidade para você, Enrico. Não imaginava que a oportunidade para te entregá-lo surgisse tão depressa.

Curioso, o jovem De La Cruz apanhou com ambas as mãos o embrulho que Davis lhe estendia. Sopesou-o nas palmas, tentando adivinhar o conteúdo. Era algo grande, comprido e pesado.

— Não seria melhor abrir? – riu o americano.

Enrico sorriu ao acenar em concordância.

Rasgou o embrulho bem feito e seus olhos se arregalaram ao contemplarem o poderoso rifle que apareceu, o sol delineando o formato do cano duplo escuro.

— Mas é um Winchester 73, o último modelo! Essa arma produz um disparo capaz de lançar uma bala cento e cinqüenta metros adiante com arrepiante precisão!

— Sim, é um belo canhão de mãos. – o vaqueiro ria-se da perplexidade de Enrico – Vejo que você se tornou um especialista no assunto.

— Davis, seu louco! Deve ter custado uma fortuna...

— Ora, pare com isso, Enrico. Nem tudo se pode resolver com os Colts. Espero que o meu presente o ajude em sua missão.

— Ajudará com certeza. Muito obrigado.

Fitaram-se sem saber realmente se algum dia a vida os reuniria novamente.

— Enrico De La Cruz, desejo que você tenha sorte em sua perigosa jornada.

— Obrigado, Peter Davis. A sorte que você me deseja é muito bem- vinda. Vou precisar muito dela.

Apertaram-se as mãos com vigor.

— Adeus. – balbuciou Enrico.

— Até logo. – corrigiu Davis.

O jovem De La Cruz guardou o rifle no estojo atravessado na sela de Muchacho. Apoiando o pé sobre o estribo, voou para o alto de seu animal. Acomodado sobre a sela, olhou de relance para Peter Davis.

Nenhum dos dois homens disse nada. As palavras não eram mais necessárias.

Num gesto repentino, Enrico deu um tapa de leve no pescoço de seu cavalo, que se lançou velozmente para frente.

Os olhos profundamente azuis de Peter Davis acompanharam Enrico De La Cruz enquanto o jovem galopava para Piedras Negras.

Instantes depois ele perdeu Enrico de vista. O cavaleiro e sua montaria se transformaram em um ponto minúsculo na planície amarelada, se confundindo com a paisagem agreste.

 Vinte minutos mais tarde, Enrico estava de pé diante da igreja, olhando nos olhos do padre Emanuel Antônio. Chegava o momento mais difícil, o de se despedir do homem a quem amava como um pai.

O sacerdote ouviu em silêncio a decisão de garoto. Depois, deu um longo suspiro.

Estava triste. Não surpreso. Sabia que aquele dia chegaria, era inevitável, questão de tempo.

Sim, estava triste. Sonhava muitas coisas para Enrico. Queria enviar o rapaz para o Leste dos Estados Unidos, a fim de que freqüentasse alguma boa Universidade. Queria que seu “filho” tivesse uma vida normal: estudasse, trabalhasse, se casasse e constituísse uma família.

No entanto, seus sonhos se desmancharam como um castelo de cartas. Os fantasmas do passado perseguiam Enrico e isso levou embora os sonhos de padre Emanuel como se fossem poeira ao vento.

— Pai, não se preocupe. Eu voltarei logo. Você verá. – murmurou Enrico.

O padre disse devagar, como se sentisse um grande cansaço:

— Assim espero. Gostaria de vê-lo de novo um dia, Enrico. E vivo, de preferência.

O padre sorriu; era um sorriso muito triste.

— Você verá. – garantiu Enrico e tentou brincar – Homem, onde está sua fé?

— Ela diminuiu, Enrico. Nunca pude convencer você a abandonar sua vingança.

— Deus sabe que você tentou, pai. A culpa não é sua. Você fez sua parte. Mas não posso desistir. Não há uma única noite em que eu não tenha pesadelos, onde sempre vejo minha pobre mãe morrer. A alma dela parece não encontrar paz, eu tenho que vingá-la. – o garoto olhou os olhos do padre. – Nunca poderei buscar o céu enquanto o inferno me perseguir, pai. E meu inferno está nas sombras do meu passado.

O reverendo não disse nada. A voz de Enrico tremia quando conseguiu perguntar:

— Onde... Onde ele está, pai?

— Quem, filho? – o religioso sabia do que se tratava. Optou por se manter neutro.

— Ele... Francisco Herrera. – Enrico não gostava de mencionar esse nome, sentia enorme mal-estar quando o pronunciava.

Padre Emanuel o olhou com intensidade e depois, esboçando um gesto vago com a mão, respondeu aparentando indiferença:

— Foi para os Estados Unidos.

— Sim, mas para onde? Qual parte dos Estados Unidos? Aquele país é imenso.

Um pesado silêncio foi a resposta.

— É inútil, pai. Sabe que não irá salvar a vida daquele covarde se não cooperar comigo. Eu obterei meios de descobrir. O máximo que o senhor fará é me atrasar um pouco.

Mesmo assim o silêncio se manteve. Enrico preferiu não insistir mais e, para mudar de assunto, entregou um embrulho ao padre.

— É seu presente de aniversário. – explicou – Como não estarei aqui, vou entregá-lo adiantado. Comprei na cidade aquele livro que o senhor tanto queria ler. Espero que goste, pai. Feliz aniversário.

Padre Emanuel sentiu um aperto na garganta. Depois de muitos anos, aquela seria a primeira vez que não comemorariam a data juntos. Enrico estaria ausente.

O rapaz abraçou carinhosamente aquele que fora seu segundo pai nessa vida.

A seguir, afastando-se um pouco, beijou a mão do sacerdote e pediu:

— Sua benção, padre.

Sorrindo, o bom homem traçou o sinal da cruz na testa do jovem e disse em voz alta:

— Deus o abençoe, meu filho. Que fique bem claro que estou abençoando você, e não o que está prestes a fazer.

Enrico sorriu também.

— Sei disso. – falou simplesmente. — Não se preocupe.

Montou Muchacho com agilidade e rapidez. Daí, do alto de seu cavalo, lançou um olhar para a sela, checando se estava tudo ali: as armas, a munição, os alforjes com dinheiro e comida, os cantis de água. Sim, estava tudo ali.

O sol do meio-dia ardia na pele, brilhando acima de suas cabeças. Por esse motivo, Enrico abaixou um pouco a aba do chapéu ao virar-se para olhar padre Emanuel.

Talvez fosse a última vez que se vissem.

— Adeus, pai. – balbuciou o De La Cruz, imediatamente lembrando-se do que Davis dissera e corrigindo-se em seguida – Quero dizer: Até logo, pai.

 Padre Emanuel sorrindo tristemente, apenas acenou com a cabeça. Estava emocionado demais para poder falar qualquer coisa.

Vira aquele rapaz crescer e convivera com ele. Ensinara e aprendera diversas coisas com o mesmo. Agora o via partir para uma missão perigosa, suicida. E o pior de tudo isso era não poder dizer ou fazer nada para impedir essa loucura.

Inesperadamente Enrico sacudiu as rédeas.

Muchacho entendeu que era hora de partir e disparou para frente, avançando velozmente rumo à saída de Piedras Negras.

Enrico De La Cruz, montando seu belo alazão, sumiu-se na distância, sob o olhar atento e aflito do pai.

Enquanto partia, sentira uma grande e crescente angústia em seu peito. Mesmo assim, não olhou para trás nenhuma vez.

Sabia que seria pior se o fizesse.

Padre Emanuel viu seu filho desaparecer de suas vistas, oculto por uma densa e amarela nuvem de poeira.

— Mas que raio de menino teimoso! – foi só o que o sacerdote conseguiu exclamar, enxugando o pranto com a manga da batina escura. 


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Notas finais do capítulo

O que será que o destino reserva para Enrico Aguilar De La Cruz agora que ele se separou de seus amigos e tutores?
Terá ele êxito em sua missão?
Encontro vocês aqui para continuarmos descobrindo isso no próximo capítulo.
Se puder, deixa um review por favor! Desde já, agradeço!

Abraços!!!!



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