A Sombra do Pistoleiro escrita por Danilo Alex


Capítulo 21
3 e 10 para Dark Horse


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!


Depois de escapar da cadeia com a ajuda dos amigos, Enrico ficará sabendo de um pequeno contratempo em seu caminho. Que contratempo será esse? Que desafios aguardam nosso jovem pistoleiro mexicano nesse capítulo?
Descobriremos a seguir. Espero que gostem!

Quero agradecer muito aos meus queridos amigos que sempre me acompanham aqui e comentam, e a todos aqueles que tem acompanhado e favoritado a história, mesmo sem deixar um review para me dizer um olá. rsrs Sejam muito bem vindos!

Esse capítulo quero dedicar especialmente à minha amiga sumida Jéssica, porque tenho certeza que ela vai entender a referência explícita no título kkk, e ao meu grande e querido amigo Matheus Braga, que fez uma recomendação linda para A Sombra do Pistoleiro, e me acompanha desde o princípio fielmente, comentando em cada capítulo, me dizendo o que tem achado de cada passo dado por Enrico De La Cruz. Originalmente, esse capítulo não existia na história; resolvi escrever para homenagear o Matheus, que é aficionado por todos os meios de transportes existentes, pelo visto! kkkk. Sabe qual a melhor parte, Matheusão? O capítulo ficou tão grande que eu tive que dividir em duas partes.

Espero sinceramente que gostem!

Boa leitura!!!!



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Não tinham cavalgado nem uma centena de metros quando Davis se virou na sela para encarar o amigo:

— Detesto ser um estraga-prazeres, garoto. Infelizmente acho que sua vingança vai ter que esperar um pouco mais.

Enrico voltou-se na sela também e não disse nada, apenas olhou interrogativamente para o companheiro, esperando que ele continuasse.

Davis sofreou a montaria, um belo garanhão de pelo negro azulado, e Enrico o imitou, fazendo Muchacho frear. O americano aspirou fundo a brisa gelada da noite estrelada, deixou o olhar vagar pelo firmamento escuro por um breve instante, por fim pousando seus olhos cristalinamente azuis naquele a quem considerava seu irmão mais jovem:

— Não me odeie, Enrico. Sei que Brave City está muito perto agora, e se pudéssemos, realmente cavalgaríamos direto para lá, a fim de botar Francisco Herrera dentro de uma vala bem funda. Com certeza faremos isso. Mas esse ainda não é o momento.

— Deixe de rodeios, pelo amor de Deus, homem! — impacientou-se o jovem De La Cruz do alto de seu alazão. — Se tem algo a dizer, apenas diga.

Em qualquer outra ocasião Peter Davis teria rido do afobamento do amigo. Todavia, esse não foi o caso. Inclinando-se para frente na sela, moveu o corpo em direção ao mexicano, como se estivesse prestes a revelar algo muito importante. E logo Enrico veria que realmente estava:

— Enquanto Lauren, Mike e eu cavalgávamos para Mason a fim de encontrar você, nas cidades em que passamos uma notícia estava alvoroçando os homens mais ambiciosos. Onde quer que chegávamos, pairava o boato de que um fazendeiro muito rico de Utah estava recrutando homens habilidosos no gatilho para compor um tropa de guarda-costas. A quantia oferecida era tentadora, e enquanto molhávamos a garganta no saloon, não foram dois ou três candidatos de coldre baixo preso na coxa que vi se levantar de imediato para sair tão logo ouviu essa notícia. Ou seja, Francisco Herrera sabe que os assassinos que ele mandou para acabar com você falharam miseravelmente. Ele sabe que você está chegando e quer cercar-se de toda proteção possível. Em um posto comercial de Whitaker Falls, quase chegando a Mason, onde paramos com o intuito de comprar munição e feno para os cavalos, ouvimos uns tipos muito suspeitos sussurrando uns para os outros que estavam ali à espera do comboio de 3 e 10 h para Dark Horse que, como você certamente já ouviu falar, é uma cidade grande, ponto de referência para ladrões, jogadores e pistoleiros. Pelo que entendi, um tal Colton Slater, capacho de Herrera, acompanhado de uma dezena de assassinos contratados, embarcou nesse trem que deve chegar a Dark Horse amanhã, perto de meio-dia. Lá, Slater vai conseguir arrebanhar todos os ases do gatilho que precisar. Agora mesmo, nesse exato momento, Herrera deve estar confortavelmente instalado em seu casarão em Brave City, rodeado por pelo menos trinta pistoleiros armados até os dentes e dispostos a tudo por dinheiro, capazes até mesmo de vender a própria mãe. Pode ter certeza de que seu antigo padrasto vai ficar onde está. Não irá a lugar nenhum, porque se sente protegido. Se aquele trem chegar a Dark Horse, quando Slater voltar com um exército de pistoleiros, não teremos a menor chance de realizar sua vingança porque, por melhores que sejamos na pontaria, ainda somos apenas dois. Herrera estará inatingível, definitivamente fora de nosso alcance.

— Estou entendendo o que quer dizer. Só não compreendo como acha que vamos conseguir alcançar esse trem antes que chegue a seu destino. Nossos cavalos são rápidos, mas uma locomotiva é uma locomotiva, meu amigo. — comentou Enrico com uma ponta de desânimo.

— Tenha um pouco mais de fé, rapaz.

— Falou como meu pai agora. — sorriu o mexicano ao lembrar-se de Padre Emanuel.

Com um meio sorriso, Davis prosseguiu:

— Nessas paragens me sinto em casa, Enrico. Quando era garoto, ajudei meu pai a conduzir rebanhos por essas bandas. Conheço aqui tudo quase tão bem quanto os índios. O comboio de 3 e 10 para Dark Horse terá que tomar uma rota alternativa, porque as linhas do caminho mais curto, a leste, estão em manutenção. O maquinista precisará dar uma grande volta, contornando as Rochosas, o que o atrasará por várias horas, ainda que esteja viajando a todo vapor. Conheço um caminho por entre os desfiladeiros, cruzando as montanhas, que nos servirá como atalho, conduzindo-nos a um ponto por onde o trem deve passar amanhã cedo, por volta de nove horas. O lugar é uma imensa planície, conhecida como Pradaria dos Cavalos, devido à imensa quantidade de equinos selvagens que a habitam. Nesse descampado, onde a vegetação é escassa e quase não há árvores, daremos um jeito de nos esconder o melhor possível e aguardaremos. Assim que o trem chegar a essa planície, teremos cerca de duas milhas (pouco mais de três quilômetros*) para dar um jeito de interceptá-lo e garantir que Slater e seus capangas não desembarquem em Dark Horse. Depois disso, a locomotiva entra em declive acentuado, o que devido ao peso, dobra sua velocidade e anula nossas possibilidades de alcançá-la. Seria o fim da linha para nós. Dali para frente é descida até o Vale do Rio Vermelho. Só teremos uma chance, e isso é tudo que precisamos.

— Falar é mais fácil que fazer, Davis. — replicou Enrico ainda meio incrédulo — Enquanto você expunha sua ideia, fiz as contas aqui de cabeça. Para chegar a esse ponto na planície, teríamos que cobrir cerca de dezenove milhas (aproximadamente trinta quilômetros*) até amanhã cedo. Isso significaria cavalgar a noite toda, sem descanso, forçando as montarias que, se estiverem exaustas, perderão terreno muito rapidamente durante a perseguição e ficaremos para trás.  Tem de haver outro modo.

— Não há. Se Herrera conquista seu exército de pistoleiros de aluguel, é o fim para nós. Acredite em minhas palavras quando digo que deve ter um pouco mais de fé, vaqueiro. Confie em mim e em suas habilidades de cavaleiro. Não disse que seria fácil. No entanto, é possível sim. Muchacho sempre foi um batalhador por natureza. E meu amigo Nightmare aqui — explicou Davis indicando o garanhão negro que montava — Ganhei em um disputado jogo de pôquer. Corre mais do que o vento, e tem uma resistência de ferro. Eles dão conta do recado.

— Muito bem. Você me convenceu. — declarou Enrico finalmente — Que estamos esperando? Não temos tempo a perder.

Sem mais dizer, giraram seus magníficos cavalos, pondo-se a galope no mesmo instante.

Curvados sobre as selas, cavalgando lado a lado, não disseram nada por um bom tempo. Sequer se olharam. Conduziam suas montarias concentradamente, mantendo uma velocidade alta ainda que respeitando os limites de cada cavalo.

Os cascos de seus animais batiam forte no chão, espalhando areia e levantando poeira. A distância encurtava e a noite, cheia de seus sons característicos, passava voando por eles. Horas foram carregadas com o vento. Os cavalos suavam e resfolegavam embaixo de seus donos, que se mantinham silenciosos e imóveis, como se feitos de pedra.

Percorreram trilhas entre as montanhas. Contornaram desfiladeiros. Tomaram atalhos. Ignoraram o cansaço e focaram-se na missão.

Quando o sol se levantou no horizonte laranja-avermelhado, os dois cavaleiros obstinados perceberam o quanto o panorama havia mudado. O deserto ficara para trás e um vasto descampado se descortinava a perder de vista diante de seus olhos, independentemente da direção em que olhassem. Reduziram a marcha quando finalmente alcançaram a Pradaria dos Cavalos, depois de cavalgarem por oito exaustivas e ininterruptas horas.

Como o lugar era realmente bem aberto e totalmente desprovido de árvores, se esconder ali seria algo quase impossível para cavaleiros comuns. Mas não para Peter Davis e Enrico De La Cruz.

Davis indicou um ponto próximo de onde a linha descrevia uma curva, em um local menos difícil de alcançar o trem quando ele passasse. Afastaram-se aproximadamente cento e cinquenta passos e olharam ao redor. Embora a vegetação local fosse esparsa, viam-se alguns arbustos maiores que se elevavam irregularmente da relva; avistaram uma aglomeração deles que poderiam servir como esconderijo para um homem e ali se acomodaram. Deitaram-se no chão atrás dos arbustos e fizeram os cavalos imitá-los, o que não foi nada difícil devido ao cansaço das montarias. Os animais, deitados de lado na relva e ocultos pelos arbustos, resguardados de um observador relativamente atento e próximo, tinham seus focinhos envoltos pelas mãos dos donos, que os comprimiam para evitar que relinchassem, denunciando assim sua localização caso houvesse algum inimigo nas redondezas. Cautela nunca é demais.

Os rapazes, muito cansados, aproveitaram o breve momento deitados a fim de descansar. Tomaram longos goles de água de seus cantis e franziram a sobrancelha ante o sol ardente das oito e meia.

Puseram-se a esperar. Ouviram ao longe o relinchar dos cavalos selvagens e, vez ou outra percebiam as perdizes agitando os arbustos nas proximidades ou correndo desengonçadas pela planície. Ouviam o gemido do vento e contemplavam bandos de pássaros barulhentos cruzando o céu anil daquela manhã que, ao chegar, trazia consigo um tom decisivo.

O tempo pareceu se arrastar. A espera começou a conduzi-los a um estado sólido de inquietação. Estavam quase acreditando que tinham se atrasado, quando um apito agudo e solitário soou ao longe. O chão da pradaria pôs-se a tremer como se pisoteado por uma numerosa manada em fuga, e os trilhos vibraram rangendo dolorosamente, anunciando a aproximação do pesado comboio.

Novo apito, dessa vez um pouco mais alto. Levantando minimamente a cabeça, os rapazes viram não muito longe o volume negro e metálico da locomotiva, que avançava pesadamente em sua direção, bufando como um animal cansado. Ante sua aproximação, um bando de búfalos se dispersou assustado, logo sumindo-se na vastidão da pradaria.

Antes da fundação das primeiras cidades dessa parte de Utah, aquele território pertencia à grande nação indígena dos Navajos. Esse era um dos maiores fatos causadores de conflitos entre nativos e homens brancos: os caras pálidas removiam os peles-vermelhas de suas próprias terras, limitando-os a lugares chamados de “reservas indígenas”, locais com terra pouco produtiva, fontes aquíferas de péssima qualidade, o que comprometia a pesca e subsistência, e campos de caça reduzidos. Para vigilância dos índios, erigiam ainda ameaçadores Fortes da cavalaria nos limites das reservas.  Como se a situação não fosse ruim o bastante, o “homem civilizado” ainda construía linhas pela quais passava com seu “Cavalo de Ferro” barulhento e malcheiroso dentro dos campos de caça dos nativos, afugentando para longe suas presas já escassas, como era o caso dos búfalos. Então, quando os indígenas se revoltavam contra essa situação desmoralizante, ainda eram chamados de “selvagens” e tratados com hostilidade.

Ainda agachados atrás dos arbustos, mantendo seus cavalos ocultos pela relva, os dois atiradores emboscados recarregaram suas armas e preparam-se.

O comboio estava bem perto agora.


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Notas finais do capítulo

E ai, gente? Que acharam? Sei que esse foi mais um capítulo de transição, mais para preparar a gente para o que vem em seguida, mas como disse nas notas iniciais, eu pretendia colocar tudo em somente um capítulo; porém, ficaria muito extenso, bem acima de quatro mil palavras, que é o recomendado pelo Nyah! Então fiz essa divisão, espero que não se importem. Tão importante quanto o trem em si é esse tipo de viagem a galope, vencendo as intempéries e todos os tipos de terrenos. Também é uma parte importante das histórias western.
Deixa seu review aí pra mim por favor, dizendo o que gostou e o que não, para eu poder melhorar como contador de histórias.
Compre o tíquete para embarcar, porque semana que vem tem mais!

Forte abraço, cowboys e cowgirls!!!!



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