Dangerous escrita por Karina A de Souza


Capítulo 57
A Tal Amiga Indiana




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—E todos aqueles que partem, às vezes permanecem. Nos nossos corações, nossos entes queridos nunca se vão...
Abaixei a cabeça, tentando não chorar. Red, ao meu lado, colocou a mão no meu ombro.
Era o enterro de Demetri. O russo contido, mas alegre e cheio de truques estava morto. Quis acreditar que era outra tentativa de se tornar um “empregado fantasma”, mas não era. Era real.
Os únicos ali eram Red, Dembe, uma mulher que eu nunca vi antes, Ressler e eu. Um pequeno grupo, que sentia a perda de Demetri Kozlovsky. Talvez o padre tivesse razão. Ele permaneceria com a gente, sempre. Assim como Adrian, Daniel, Paul, Ivan e Luke continuavam comigo.
Ress teve uma emergência, Martin (se recusando a sair do cargo) o chamou, mas me deixou de fora. Queria me ver longe, mas não ia durar muito tempo ali. Donald foi, mas continuei ali, prometendo que em breve voltaria ao trabalho.
O caixão foi baixado. Terra começou a ser jogada por cima. Me virei, querendo ter em mente outra imagem do meu amigo russo. Red e Dembe estavam conversando em voz baixa. A mulher misteriosa se aproximou, usava um vestido longo, e o cabelo preso numa trança que passava da cintura. Os traços eram indianos. Talvez fosse ela a amiga indiana que havia ensinado alguns truques à Demetri.
—Posso perguntar quem é você?-Ela perguntou, colocando uma mexa solta atrás da orelha.
—Jenna. Amiga... Amiga de Demetri. E você?
—Esposa dele. –Me segurei para não parecer muito chocada.
—Esposa? Demetri... Não me disse que era casado.
—Ah, aposto que não. –Deu um pequeno sorriso. –Preciso ir. Obrigada por comparecer. –Acenou com a cabeça e se foi. Red ocupou o lugar dela na minha frente.
—Quando ia me dizer que Demetri era casado?
—Aquela era a adorável esposa dele?-Perguntou, olhando-a entrar num táxi e partir. –Fazia anos que eu não a via. Mudou muito.
—Por que não me disse que Demetri tinha uma esposa?
—Por que não achei relevante.
—Ah, não achou?
—Demetri e Maya se separaram faz anos. Ele só não se divorciou dela no papel porque para todos, já estava morto.
—Tem certeza disso?
—Por que toda essa preocupação? Acha que ele estava apenas te usando?
—Você praticamente me jogou no colo dele, agora venho saber que era casado? Eu devia te esganar!
—Jenna...
—Por favor, não. Acabamos de enterrar Demetri, não quero discutir. –Meu celular vibrou, o tirei do bolso. Uma mensagem de Keen. –Tenho que voltar ao trabalho.
—Martin, aquele imbecil, ainda está ocupando o lugar de Cooper?
—É. Meera já pode voltar, mas ele se recusa a sair. Disse que ela devia se colocar no lugar dela, que veio da CIA, e devia voltar pra CIA quando tudo acabar. Juro que não sei como ela não o socou. Espera, era com ele que você discutiu quando tentei fugir da prisão, não é?
—Ele mesmo. Não vai durar ali dentro. Meera vai voltar a substituir Cooper. Ninguém vai aguentar Martin por mais que alguns dias, pelo menos não de novo.
—Ele já fez isso antes?
—Já. É por isso que sei que ele vai sair dali rapidinho. Isso eu garanto. –Dembe se aproximou, entregando um celular a Red.
—É bom te ver de novo, Dembe.
—Não se engane, meu amigo. Ela só está dizendo isso porque não queria mais ser minha segurança.
—Falando nisso, ainda espero meu pagamento.
—Vai esperar sentada, Mhoritz. É preciso trabalhar um ano completo antes que receber alguma coisa. –Revirei os olhos.
—Preciso ir.
—Me avise se precisar de algo.
—Aviso, sim. Obrigada.
***
—Jenna, Martin está esperando o relatório. –Ergui a cabeça, confusa. Ressler estava na porta.
—Meu pai quer o que?
—O que?
—Hã?
—O que tem seu pai?-Pisquei algumas vezes, meu cérebro estava muito lento.
—Quem? Ah, droga. Desculpa, estava distraída. Meu pai, quer dizer, meu falso pai se chamava Martin, lembra?
—Certo. Mas o Martin que quer o relatório está bem vivo e zangado. Seu relatório está pronto?-Olhei para os diversos papéis e pastas em cima da minha mesa.
—Hum... Não. Não sei. –Procurei pelo relatório. –Acho que não fiz ainda. –Bufei. Donald se sentou na minha frente.
—Você está bem?
—Estou, só... Com a cabeça longe daqui.
—É Demetri, não é?
—Ress...
—Entendo. Vocês eram amigos.
—Ele morreu faz três dias e eu não consigo pensar em outra coisa que não seja isso. Não posso me concentrar no trabalho desse jeito.
—Jen... Você precisa superar. Como fez com todas as outras coisas. Como fez com a morte de Daniel, Luke, Paul, Ivan e Adrian.
—E se eu não superei a morte deles, o que eu faço?
—Você tenta. E tenta até conseguir. –Assenti.
—Posso tentar. –Lizzy colocou a cabeça pra dentro da minha sala.
—Sério, Martin está pirando. –Avisou. –Seu relatório ainda não está pronto?
—Se ele quiser que esteja, tão rápido, então ele que faça. –Me levantei. –Não consigo fazer isso.
—Jen.
—Vou falar com a Friedman. Se eu tiver uma crise de choro, acham que ela me mandaria pra casa?
***
A Dra. Friedman me mandou pra casa, mas não precisei ter uma crise de choro. Ela reparou que algo estava muito errado assim que eu parei de falar e fiquei encarando um ponto fixo, a cabeça completamente longe da pequena, porém arrumada, sala dela. Martin não gostou nada, mas regras eram regras. Se a mulher dizia que eu não podia trabalhar, então ele não podia me obrigar.
“Desculpe se estou sendo rude, mas você não quer que a agente Mhoritz surte aqui dentro, quer?”, Ela atacou. Quis dar um abraço nela por isso. Funcionou. Martin não queria uma doida com um repentino desequilíbrio atirando em todo mundo.
Não sei por que achei que em casa ficaria melhor. Ali eu não tinha nada pra fazer e ficava me lembrando da morte de Demetri. A morte andava muito perto de mim ultimamente. Não parecia justo.
***
—Martin ainda está no comando?-Perguntei, parando na frente da mesa de Meera. Ela assentiu. –Você fazia melhor que ele. E olha que eu te achava uma tirana. –Riu.
—Vamos encontrar Cooper. Então Martin terá que sair.
—Esse cara é um porre. –Apontei para um porta-retratos. –São suas filhas?
—Sim.
—Parecem com você.
—Não sei como eram as coisas com Harold Cooper no comando, - Martin estava dizendo, enquanto se aproximava com Keen, que parecia querer esganá-lo. –mas as coisas vão mudar. Começando por você, agente Mhoritz. –Lizzy saiu de fininho, sumindo para sua sala.
—O que tem eu?
—Não segue regras. Mas vai começar a segui-las.
—Ah, eu vou?
—Vai. Como qualquer outro agente. Não é só porque foi uma Dangerous, que as regras não se aplicam a você.
—Sério? Eu podia jurar que não precisava seguir as regras. –Ok, eu estava provocando o substituto de Cooper e podia parar na rua. Mas esse Martin não ia mandar em mim.
—Mas precisa. Alguns dias atrás saiu em missão, sem ser autorizada.
—Se eu não tivesse feito isso, todos os meus colegas podiam estar mortos. Eu pelo menos fiz algo, e não fiquei sentada esperando que fizessem alguma coisa.
—Ainda quero saber como fez isso. O dispositivo que usou, de onde o tirou?
—Roubei da mesa de Aram, e deixei um bilhete. Ele me rastreou e achou todos os desaparecidos. Fim da história.
—Seu histórico nessa força tarefa está ficando cada vez pior, não demorará muito para ser demitida.
—Isso, faça isso pra ver se Reddington não desaparece de vez com a lista.
—A única exigência de Raymond Reddington é Elizabeth Keen. Posso demitir você.
—Tente. Estou ansiosa para ver o resultado. –Sorri. Martin se virou e voltou para sua sala.
—Você ficou maluca?-Ressler perguntou. Começamos a andar pra fora dali. –Martin está louco pra se livrar da nossa equipe.
—Ele faz isso pra ver, vai perder a lista e Red. - Parei antes de entrar na minha sala. Keen estava conversando com Aram no corredor. –Elizabeth.
—Sim?-Perguntou, se virando.
—Seu marido trabalha de que?
—Professor. –Assenti.
—E ele está bem? Parecia machucado quando o encontrei.
—Está bem, já se recuperou.
—Bom. –Entrei na minha sala, o cérebro fazendo uma pesquisa em seus domínios.
—Jen, o que foi isso?-Donald perguntou.
—Eu conheço Tom Keen de algum lugar, só preciso descobrir de onde.
—Você não vai esquecer isso, vai?
—Não. Não vou.
***
—Red, preciso de outro favor.
—Vou começar a cobrar, Mhoritz. –A voz veio entretida do outro lado da linha. –Quem quer matar agora?
—O cara que matou Demetri. Pode localizá-lo?
—Sabia que em algum momento ia me pedir isso. Sabe que é perigoso demais, não sabe? Você é uma agente federal, não pode fazer esse tipo de coisa.
—Olha quem fala. Vai me ajudar, ou não?
—Vou te mandar uma mensagem com o endereço de onde o coloquei. Esteja lá o mais rápido possível.
***
Dembe estava na porta do galpão, as mãos cruzadas na frente do corpo. Parecia apenas distraído, mas eu sabia que estava muito atento. Abriu a porta e me deixou passar, fechando-a atrás de mim.
O assassino de Demetri estava amarrado em uma cadeira, num círculo grande de luz, a cabeça baixa. Antes que eu chegasse até ele, uma figura familiar se colocou entre nós. Elizabeth.
—O que está fazendo aqui?-Perguntei.
—Não posso deixá-la fazer isso.
—Lizzy...
—É um crime, Jen, se eles a pegarem, você vai presa. E perde tudo.
—Talvez eu já tenha perdido tudo. Você vai aprender, Elizabeth, que nem tudo se resolve com a lei. Eu perdi muita coisa. Você acha que pode julgar, desse seu mundo perfeito, com uma vida perfeita, um casamento perfeito. Acha que tudo é assim. Mas não é. Um dia vai abrir os olhos, e ver que sua vida é um castelo de cartas que está desmoronando. E você não vai poder fazer nada sobre isso. Será tarde demais.
—Jenna...
Me esquivei dela, erguendo a arma e atirando. Um dia Elizabeth entenderia. Quando a perfeição do mundo dela escorresse, mostrando o mundo real, ela entenderia.
***
—Eu sei o que você fez, Jen. –Ressler disse, entrando na minha sala e fechando a porta. –Jenna...
—Ress, não. Por favor. Eu sei o que eu fiz, e não me arrependo disso.
—Espero que Reddington realmente esteja do seu lado. Ou um dia vão pegar você por isso.
—Eles não vão. Isso não vai acontecer.
—Tomara que tenha razão. –Se virou e saiu.


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