Dangerous escrita por Karina A de Souza


Capítulo 56
Roleta Russa




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—Dembe definitivamente tem que voltar logo. –Comentei, sentada no banco de trás, ao lado de Red.
—Já quer se livrar de mim, Mhoritz?-Demetri perguntou, me espiando pelo espelho.
—Não. É que eu não aguento mais bancar a segurança particular. Eu podia estar socando a cara de uns criminosos.
—Não podia, não. –Red disse. –Tem que andar na linha, ou o diretor vai te colocar na rua.
—Disso eu não duvido. Eles me odeiam... –O carro freou com tudo. Sem cinto, eu bati o rosto no banco do carona, o que me deixou um pouco desnorteada.
Demetri gritou, então logo depois ouvi tiros. Abri a porta e escorreguei pra fora, puxando a arma. Quando fui gritar pra Red ficar atrás de mim, ele não estava mais lá.
—Reddington!-Gritei. Dois homens o estavam levando para outro carro, ele estava algemado e com uma venda.
Tentei atirar no homem, mas um pequeno exército estava fazendo a cobertura deles. Demetri estava ao meu lado, atirando e tentando ficar longe da mira deles.
—Eles estão o sequestrando!
—Apenas atire, Jen!-Gritou. Era tarde, os homens entraram no carro e saíram cantando pneu. Havíamos perdido Reddington.
—Merda! O que a gente faz?-Sem resposta. –Demetri?-Me virei, o russo estava caído no chão. Me joguei ao lado dele, largando a arma. Ele havia levado um tiro no peito. –Demetri, não, não. Preciso de você, não me pode deixar sozinha.
—Jen...
—Por favor. Temos que encontrar Reddington. Demetri... –Apertou minha mão.
—Você... Consegue... Sem mim.
—Demetri. –O aperto na minha mão sumiu, e o olhar no rosto do russo se apagou. Estava morto. –Demetri! Não pode me deixar agora! Eu preciso de ajuda! Demetri! Por favor, você também não... Demetri...
***
—Jenna, onde você estava?-Meera perguntou. –Isso é sangue na sua blusa?-Olhei pra mim mesma, confusa. Não havia visto a mancha.
—Não é meu. Demetri... Demetri está morto. Reddington foi levado.
—Preciso que você e Keen verifiquem esse endereço. –Me estendeu um pedaço de papel. –Acha que pode fazer isso?
—Estou bem. Só preciso me manter em movimento. –Ela assentiu e se aproximou de Aram, passando algumas ordens. Keen se aproximou, me entregando um casaco comum com FBI escrito na parte de trás.
—Acho que precisa disso. –Avisou.
—Obrigada.
—Pode ficar aqui, se quiser.
—Não. Eu realmente tenho que fazer algo, ou vou surtar. – Fomos para o elevador. –O que aconteceu agora? Sobre o que é o caso?
—Ressler foi sequestrado, algumas horas antes de Red ser levado. –Me virei pra ela, ignorando as portas já abertas do elevador.
—O que?
—Jenna...
—Devia ter me dito antes.
—Ainda vai ficar no caso?
—Óbvio que sim. –Saí, entregando o endereço à Keen. –Só pra garantir, você dirige. Ou vou bater no primeiro poste que aparecer.
***
—Agentes federais, estamos entrando!–Fez um gesto com a cabeça, chutei a porta e entrei primeiro, arma em mãos.
—Não sei por que ainda avisam. Sério, assim os criminosos sabem que estamos aqui e fogem.
—Protocolos, Jenna. –Revirei os olhos.
Nos separamos, vasculhando os cômodos atrás de alguém que pudesse estar por ali. Não achamos nada. Eu estava numa lavanderia pequena quando ouvi Keen gritar meu nome. Saí em disparada, pronta para atirar.
—O que foi?-Perguntei.
—Olha o que eu achei. –Empurrou uma folha na minha direção, segurando-a com uma luva dobrada.
—É uma lista.
—Eu sei.
—Mas que merda.

“Raymond Reddington
Donald Ressler
Jenna Mhoritz
Elizabeth Keen
Meera Malik
Harold Cooper

O último nome estava bem rabiscado. Cooper tinha desaparecido faz tempo, acho que a pessoa que fez a lista não tinha conhecimento disso.
—Red e Ressler já sumiram. –Lizzy disse, guardando a lista num saquinho transparente. –Somos as próximas, e Meera também.
—Temos que voltar ao esconderijo, agora.
***
—Você não vem?-Perguntei, saindo do carro. Elizabeth me entregou a lista que encontramos.
—Tom me mandou uma mensagem, preciso ir. Volto assim que puder.
—Ligue assim que chegar em casa, preciso saber se não foi pega também.
—Pode deixar.
Quando saí do elevador, pouco depois, sabia que alguma coisa muito grave tinha acontecido. Era como se um formigueiro tivesse sido pisoteado. Me aproximei de Aram, que parecia nervoso e agitado, e murmurava alguma coisa, mexendo no computador.
—Quem vai dar as ordens agora? Isso, tragam o Martin de novo, aquele tirano...
—Aram?-Chamei, ele deu um pulo, claramente assustado.
—Caramba, agente Mhoritz! Não faça mais isso
—Ok. –Tentei não rir. Tínhamos um problema em mãos. –O que houve agora?
—A agente Malik foi sequestrada também.
—Que? Ai, droga. –Entreguei a lista pra ele. –Keen e eu somos as próximas.
—Onde acharam isso?
—Na casa pra onde Meera nos mandou. Parece que estamos sendo caçados. –Um homem saiu do elevador, gritando ordens para alguns agentes atrás dele. –Quem é esse doido?
—Martin. Vai substituir Meera. Ele queria o cargo desde que o agente Cooper desapareceu.
—Não quero ninguém desautorizado saindo desse esconderijo. –Ele dizia, passando por nós. Subiu para a sala de Meera, apressado.
—Parece que vou desobedecer a primeira ordem do novo diretor assistente substituto. –Murmurei.
—O que você vai fazer?-Aram perguntou, preocupado.
—Encontrar Keen antes que seja tarde. Ela foi pra casa. E se Meera foi pega, ela é a próxima.
—Mas você também está na lista.
—Eu sei. Mas eu sempre gostei de missões suicidas. –Comecei a me afastar.
—Agente Mhoritz!
—Nos vemos, Aram.
***
A porta estava meio aberta. Isso era um mau sinal. Keen não atendeu quando eu liguei. Também era um mau sinal. Com a arma em mãos, eu entrei na casa, atenta a qualquer som suspeito.
—Lizzy?-Chamei. –Você está aí?-Entrei na sala. Havia móveis jogados e algumas coisas quebradas. No meio da bagunça, havia um homem caído, um corte na sobrancelha esquerda. Ele pareceu surpreso quando me viu, e chocado, mas com certeza havia me ouvido entrar. Apontei a arma pra ele. –Quem é você?-Demorou a responder.
—Tom Keen.
—Ah, certo. –Abaixei a arma, olhando em volta. –O que houve aqui?
—Levaram minha esposa. Elizabeth.
—Droga. –Era tarde demais.
—Quem é você?-Piscou, ajeitando os óculos e sentando.
—Jenna Mhoritz, trabalho com a sua esposa. Preciso que venha comigo, agora. –Eu não podia passar muito tempo ali. Se haviam localizado Lizzy na casa dela, não demorariam a me achar na rua.
—Espera, pra onde...
—Para o esconderijo do FBI. Não é seguro pra você aqui. Preciso que venha comigo. –Tom se levantou, usando o sofá como apoio. Ele era familiar. O que era estranho. Lizzy nunca mostrou uma foto do marido, e não havia nenhuma na sala dela. De onde eu o conhecia então?
—Certo. Posso pelo menos pegar alguma coisa...
—É necessário sair agora. Também estão atrás de mim, quanto mais tempo demorarmos...
—Tudo bem, tudo bem. Vamos.
***
—Agente Mhoritz, eu acho que fui claro quando disse que ninguém sem autorização deveria...
—Elizabeth Keen foi sequestrada. Esse aqui... –Puxei Tom para frente, tentando não derrubá-lo. Ele parecia machucado. –É o marido dela. Uma testemunha do que houve. –Martin fez cara feia, mas decidiu que era melhor me ouvir. Esperto.
—Vou levar o senhor Keen para o interrogatório. Enquanto isso, sugiro que se sente em sua sala, e espere por novas ordens.
—Sim, senhor. –Saiu, pedindo para Tom acompanhá-lo. –Idiota, quem vê acha que vou obedecer.
—Ei. –Aram chamou, acenando. Me aproximei da mesa dele.
—Que?
—Keen foi pega?
—Sim. Só sobra eu.
—Se ficar aqui, eles não vão pegá-la.
—Isso se eu ficar. –Compressão, demorou, mas passou pelo rosto dele.
—Não, não, não. Você não pode sair.
—Eu tenho um plano.
—O agente Ressler disse que seus planos são suicidas.
—E são, geralmente. Esse é, inclusive.
—O que vai fazer agora?
—Vou sair e deixá-los me pegar.
—E como isso vai ajudar?
—Tem outro daquele mini dispositivo rastreável?
—Como aquele que roubou da minha mesa?-Sorri.
—Exatamente. Aram, eu preciso da sua ajuda. Só tenho você da minha equipe aqui. Somos uma dupla agora. Eu vou sair, e você vai me rastrear. Quando me levarem para onde mantém os outros, você avisa Martin e os faz ir atrás de nós.
—É perigoso.
—Eu sei. Mas alguém precisa fazer isso. Pode me ajudar?-Suspirou, então pegou uma caixinha pequena em uma gaveta.
—Eu posso ser suspenso por isso.
—Se acontecer, eu te pago uma cerveja. –Sorriu.
—Nunca torci tanto por uma suspensão. –Me entregou o dispositivo. –Só não deixe Martin pegar você.
—Ah, ele não vai. Hoje, só me pega quem eu quero que me pegue.
—Boa sorte.
***
Tinha três caras me seguindo. Eu sabia disso por que dei algumas voltas, parando em vitrines de lojas femininas, e eles fizeram o mesmo. Um deles tinha um longo arranhão recente no pescoço. Com certeza uma das minhas colegas sequestradas havia feito aquilo. Pelo menos elas não foram sem lutar.
Entrei em uma ruazinha estreita, entre duas lojas. Os homens me seguiram. Fingi não ouvir eles se aproximarem, e não resisti quando enfiaram um saco na minha cabeça e prenderam minhas mãos.
Quando pude ver de novo, eu estava sentada em um círculo, com Ressler, Keen, Red e Meera. Todos com os braços presos para trás.
—Ótimo. Agora podemos começar a brincadeira. –Um homem disse, entrando no círculo e girando para ver todos nós. –Já que todos chegaram, vou me apresentar. Podem me chamar de Lúcinder.
—Lúcinder?-Repeti. –Não quis dizer “Lúcifer”?
—Não, querida, sou pior que ele. –Deixei uma risada escapar, Ressler me olhou de forma repreensiva.
—Desculpa, não me aguentei. Então, Lúcinder, comece sua brincadeira.
—Que bom que ganhei permissão. –Saiu do círculo. –Alguém sabe me dizer o que tenho aqui?-Ergueu uma arma. Todos nos mantivemos em silêncio. Red e eu éramos os únicos que encarávamos o homem diretamente. –Ninguém? É uma arma. Há apenas uma bala. Cinco tiros. Alguém sabe o nome da brincadeira?
—Roleta Russa.
—Ponto para a agente Mhoritz. –Sorriu. –Vamos lá, hora de começar.
Apontou a arma para a cabeça de Ressler. A arma fez um “clique”, mas nenhuma bala saiu e estourou os miolos de Donald. O próximo foi Red. Ele sequer parecia preocupado.
—Precisa disso tudo, Lúcinder?-Perguntou. –Você vai matar os outros quatro no final, ambos sabemos disso.
—Assim tem mais graça, Raymond. –Atirou. Nada saiu. O barulho da arma estava começando a me deixar nervosa. Havia apenas três de nós agora, e uma bala.
Lúcinder mirou em Meera. Nada. Era a vez de Keen. Lizzy fechou os olhos com força. Red agora parecia preocupado. Duas de nós. Uma bala. Era ela, ou eu.
—Tic tac. Será que a cabeça da agente Keen vai ser estourada com uma bala?
—Lúcinder!-Red começou. –Pare com isso agora mes... – Fechei os olhos ao ver o dedo no gatilho. O homem atirou.
Nada. Nenhum estouro. Keen abriu os olhos e olhou pra mim, a cabeça baixa. Apenas uma de nós. Uma bala. Era eu.
A arma encostou na parte de trás da minha cabeça. Me mantive de olhos abertos. Não ia fechar os olhos para o mundo, não até ser obrigada a isso. Também me recusei a chorar. Reações de desespero divertiam homens como o que me tinha na mira.
—Diga adeus, agente Mhoritz.
As vozes de Red, Keen, Meera e Ressler pareciam distantes. A arma empurrou minha cabeça, até eu encarar o chão.
Um disparo. Tudo silenciou.
Por pouco tempo.
—Estão todos bem?-Um homem perguntou, soltando cada um de nós. Ergui a cabeça, olhando em volta. Agentes do FBI entraram. Lúcinder estava caído atrás de mim, morto.
***
—Não acredito que quase levou um tiro. –Ressler disse. Encostei o algodão no corte que ele tinha na testa. Havia lutado, e muito, antes de ser levado pelos homens de Lúcinder.
—Nem eu. –Murmurei. Os Keen estavam na minha linha de visão. Lizzy havia se separado do grupo quando chegamos e abraçou o marido, sem soltar mais.
—Jen, o que foi?-Donald virou meu rosto, me fazendo olhar pra ele.
—Tenho uma sensação estranha, só isso. Acho que conheço Tom Keen de algum lugar.
—Talvez já tenha visto uma foto dele, no escritório de Lizzy.
—Não. Não acho que seja isso. –Me sentei, abrindo o zíper do casaco. Estava começando a esquentar.
—Espera, você se machucou?
—Esse sangue não é meu.
—É de quem?
—Demetri. Demetri está morto.


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