Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 37
Capítulo Trinta e Sete - Exilada


Notas iniciais do capítulo

Divirtam-se!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/690080/chapter/37

                Suzana olhou em volta daquele lugar de pedras e suspirou, caminhando duramente para até seu destino. As pedras estavam cobertas por um fino véu de gelo, passando uma sensação extremamente desagradável de frio.
                Era isso que o Vale Vermelho representava. Um lugar gélido e sem vida. Um usurpador de vidas.
               Seria uma agradável manhã, mesmo sob todo aquele gelo, se ela não estivesse se dirigindo para a casa de um dos grandes responsáveis por tudo de errado que estava acontecendo em sua vida nos últimos anos.
              Christopher sentiu o cheiro antes que a porta abrisse em um rompante e ele se visse alvo do olhar dela.
—Mas que inferno...? –Kyle se assustou, mas interrompeu o que dizia ao ver quem era.
              A mulher de negro cabelo longo estava como sempre, altiva e com um olhar de repulsa. O que fez Kyle rolar os olhos.
—Onde está minha filha? –Exigiu saber, encarando diretamente a Christopher.
—Não cumprimenta mais os velhos conhecidos, Suzana? –Osíris perguntou parando bem a sua costa.
             Christopher viu a mulher empinar o queixo e virar de frente para o Feiticeiro.
—Com quem falo ou deixo de falar é um problema meu, Osíris. –Retrucou.
—Não quando você chega até nós chamando tanta atenção, fazendo um escândalo e acusações. –Ele comentou de leve. –Sem falar que passou por minha casa e nem me cumprimentou, não é assim que as cosias funcionam, Suzi.
            Ela fuzilou o homem.
—Não me chame de Suzi. –Ordenou. –E esse cachorro imundo sempre quis a minha filha! –Ela praticamente rosnou ao direcionar um olhar furioso a Kyle. –É obvio que ele é culpado pelo sumiço dela.
—Então agora o Kyle é um cachorro imundo?
—Ele acobertou Christopher por todos esses anos! –Acusou.
—E você escondeu da sua filha que o pai estava vivo. –Kyle rebateu.
—Não ouse falar comigo dessa forma, moleque!
—Não sou moleque e não me importo que chegue falando de mim, mas tome cuidado com o que diz de meus subordinados. –Ele alertou.
            Os olhos cinza furiosos brilhavam como prata.
—Fique quieto, que não estou falando com você.
—Você está em meu território! –Ele rugiu. Era o alpha quem falava, não somente um jovem homem irritado. –Você foi banida do Vale, não tem o direito e nem o poder de me dizer como agir. –Kyle deu um passo à diante. –Você não é poderosa ao ponto de me dizer o que fazer, Suzana.
—Não suje meu nome nesse seu focinho imundo.
—Não ouse tentar me dar ordens quando você é somente uma exilada. –Revidou bruscamente. –Ou esqueceu que entregou alguns de nossos Lobos para os malditos Caçadores? Que traiu os Feiticeiros, sua própria espécie? Que renegou a todos nós quando o papaizinho pediu? Porque se você esqueceu, eu não esqueci, ninguém da Matilha conseguiu e nem vai. –Ameaçou. –E se eles começaram a esquecer, eu farei questão de recordar, quantas vezes forem necessárias.
             Suzana travou a mandíbula.
—Você...
—Nem tente voltar até o Vale Vermelho achando que será bem recebida. –Um rosnado reverberou por sua garganta. –Não ache que vir aqui com pose de alguém nobre fará eu ou os meus te olharem de forma diferente. Pelo contrário, eu só vou sentir mais raiva, porque vai ser bem mais fácil lembrar pra quem nos entregou e...
—Se acalme, Kyle. –Osíris sorriu com um certo afeto. –Lembre-se que apesar de ser exilada, ainda é mãe de Charlotte.
             Kyle fixou os olhos na mulher, mas nada disse. O nome Charlotte lhe despertou lembranças o suficiente para lhe calar.
—Onde está minha filha? –Ela se voltou para Christopher.
—Você demorou muito a procura-la, não acha? –Osíris questionou, ganhando sua atenção. –Ou tentou um de seus contatos antes de vir até nós?
            Christopher viu a mulher bufar.
—O que fiz não é da sua conta, Osíris.
—Você acaba de nos responder. –Kyle disse.
—Eu não disse nada, seu cachorro imundo!
—Você nos decepciona, Suzana. –Osíris comentou. –Sempre com seus jogos sujos e sua dupla lealdade.
—Eu não sou leal a vocês!
—Você, querendo ou não, já foi uma de nós.
—O problema é que ela nunca teve poder real pra isso. –Kyle debochou. –Esse ódio todo vem daí.
—Sempre fui muito boa, principalmente em controlar animais ferozes. –Ela sorriu impetuosamente. –Lembre-se que você só é forte de verdade na Lua Cheia, então é melhor ter cuidado ao andar na mata.
           Kyle sentiu a ameaça e ajustou a postura, fazendo todos perceberem o quão alto e altivo era. O que o próprio Christopher deixava de lada na metade do tempo, por conta da idade do rapaz, apenas 5 anos a mais que Charlotte.
—É melhor você ter cuidado com o que diz, porque eu ainda tô no meu território e se você não passar a Lua Cheia aqui, vai estar na estrada. –Ele sorriu faminto. –É um lugar ótimo pra uma caçada, você sabia?
           O ódio que um sentia pelo outro era mais que palpável, contudo Christopher somente os encarava, mergulhado em pensamentos.
—Acalme-se, ela não pode fazer nada, não aqui. –Osíris alertou. –A deixamos entrar aqui, sabemos do que ela é capaz e como.
—E por isso mandaram Amélia para ficar me vigiando? –Ela confrontou. –Por saber o que posso fazer?
—Amélia foi por vontade própria. –Deu de ombros. –E além do mais, só descobrimos que ela estava em Ventanis por conta de Christopher.
             Christopher omitiu muita coisa para Charlotte quando contou sobre sua mudança de vida e como chegara ao Vale Vermelho, pois já estivera no lugar antes de se tornar um Lobo, contudo sabia que se revelasse essa parte de sua vida tiraria a chance de Suzana se redimir com a própria filha. Não mentira ao falar de Judith, mas não lhe disse que ela somente esclareceu a ele que poderia viver lá como Lobo, era uma história antiga e que contava quem Suzana realmente era, coisa que ele viera a descobrir muitos anos mais tarde.
—Aquela Bruxa desgraçada deu aquele maldito colar pra minha filha e...
—Então foi assim que Charlotte obteve a esmeralda? –Osíris riu. –Nossa querida Amélia nunca decepciona, não é mesmo? Não é atoa que ela foi uma grande Anciã. –Ele sorriu. –E eu não acredito ela ficaria feliz com esse nome. Você sabe, assim como todo Feiticeiro, que o termo que usou é ofensivo.
            Christopher se apoiou na parede, vendo os olhos negros enfurecidos da mulher. Aquela fúria entusiasmada foi o que o encantou a primeira vez, quando ele a viu no grande salão dos Valle, discutindo política de igual para igual com um duque qualquer que estava ali de visita. Era estranho relembrar que Suzana tinha sangue nobre. Porém era mais estranho ainda recordar que ele nascera entre nobres e que fora criado para um soldado.
             O que a paixão não faz com um homem? O pensamento o divertiu por uma fração de segundos.
—Vocês trouxeram minha filha para esse maldito lugar e...
—Charlotte está a caminho, Suzana. –Christopher cortou, chamando atenção de todos e voltando ao presente. –Em breve ela estará aqui. –Os olhos verdes do homem brilharam. –Mas não pense que não contei a verdade pra ela. –Ele suspirou. –Infelizmente não toda, mas o necessário para que você tenha chance de preencher as lacunas.
—COMO SE ATREVE?
—Por tanto você deve aguardá-la, mas não aqui, não em minha casa. –Os olhos negros se arregalaram com a frieza do homem e com raiva por ele fingir não ouvi-la, mesmo que ela tenha gritado. –Tenho certeza que Osíris lhe dará um lugar para ficar na casa dele.
—Você...
—Quando Char estiver aqui, pedirei que levem você até a casa de Kyle e vocês poderão conversar.
—Então...
—Só não minta para a minha filha, Suzana. –Havia um aviso inconfundível na voz dele, algo que Suzana conhecia bem. –Porque se você não contar toda a verdade pra ela, eu contarei. –Eles se encararam. –E você sabe que será bem pior.
—Você me fez uma promessa. –Ela o recordou.
           Christopher deu um sorriso perigoso.
—Eu prometi que não iria atrás dela, mas veja só, Charlotte veio até aqui. –Ele deu de ombros. –Seu grande erro foi pensar que sempre iria conseguir restringir o mundo dela a Vila Ventanis, contudo Char sempre teve sede de conhecimento e curiosidade para descobrir o mundo. Você não iria conseguir mantê-la presa por muito tempo, Suzana. –Ele piscou lentamente. –Mas ainda assim devo os parabéns, perdi 5 anos da vida de minha filha graças aos seus esforços.
           Suzana abriu e fechou a boca, ficando sem palavras por um segundo.
—Você escolheu ficar sem sua filha. –Retrucou.
—É uma pena que você não consiga ver seus próprios erros e só saiba colocar a culpa deles em outras pessoas. –Ele respondeu. –Primeiro foi a Elite, depois eu, que nem entendia direito o que estava acontecendo quando você me fez jurar ficar longe de Charlotte e depois Kyle, que havia acabado de se tornar o Alpha e era tão imaturo quando viu nossa filha pela primeira vez e se encantou por ela. –Ele deu de ombros. –Talvez todos tenhamos parcelas de culpa, mas todos temos o mesmo tanto de culpa, ninguém a mais, ninguém a menos, só basta você aceitar a sua e assumi-la.
—Você não tem o direito de me dizer o que devo aceitar e o que...
—Vá com Osíris, tenho assuntos a resolver com meu Alpha. –A interrompeu.
—Como? –Ela ficou indignada.
—Nós teremos nossa conversa uma hora, mas não agora, não aqui e não antes de falarmos com Charlotte. –Ele afirmou. –E muito menos com plateia.
            Kyle viu a mulher dar meia volta e sair como um furacão da casa de Christopher, que não se mexeu de onde estava.
—Foi um reencontro e tanto. –Kyle falou, assim que Osíris saiu atrás de Suzana.
—Essa foi à parte fácil, Kyle. –Christopher o encarou. –A parte difícil será com a Char.
—Charlotte será um grande problema. –Concordou.
—Achei que você falasse que ela sempre é um grande problema. –Ele retrucou e Kyle sorriu um pouco.
—Sua filha não é a pessoa mais fácil que alguém pode conhecer.
—Não, não é. –Ele concordou. –Mas lembre-se que ainda é minha filha.
—Não se preocupe com isso. –Assegurou. –Tenho certeza que ela não vai ficar com o Alpha do pai dela. –Havia amargura na frase.
             Christopher sorriu abertamente.
—Eu pretendo ter certeza que isso não ocorra.
              Kyle suspirou.
—Você deveria ser mais amigável ao saber o que sinto por ela.
—Você não a ama realmente, só a vê como se fosse sua, um objeto apenas. –Rebateu. –Minha filha é uma força da natureza, Kyle, você bem sabe disso. –Ele caminhou até o sofá. –Ela jamais será de ninguém.
           Christopher encarou o fogo e ouviu o suspiro do companheiro.
            Kyle sabia que era verdade, Charlotte jamais se entregaria para alguém, ela era livre por essência, talvez nunca alguém a tivesse, mas isso não o impediria de tentar tê-la.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai? Curtiram?
Estou tentado cumprir minha promessa e não deixar atrasar os capítulos.
Deixem seus comentários.
Beijos e até o próximo capítulo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.