Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 36
Capítulo Trinta e Seis - Frieza


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sei, eu sei!
Estou terrivelmente atrasada com as postagens, mas não desistam de mim!
A faculdade está consumindo todo o meu tempo, mas eu não desisti da Char e espero que vocês também não. Então vamos ao que interessa.
Divirtam-se!



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             A neve caia pesada sobre as casas de pedra do Vale Vermelho. Charlotte suspirou e arrumou a capa grossa de couro ao seu redor, quando Simone colocou sobre sua capa vermelha, brincou que era couro de Lobo, contudo Char não a levou tão a sério, os pelos cinza eram macios e quentes o suficiente para que conseguisse chegar ao Vale naquela tempestade de gelo que se formava. O capuz lhe cobria o rosto, mas os olhos verdes ainda estavam à mostra e atentos a tudo ao redor.
            Char esfregou as mãos enluvadas uma na outra e respirou pesadamente, sentindo Alfred a sua costa, protetor e firme, exatamente como quando lhe dera o recado que estava a lhe trazer de volta ao Vale Vermelho.
            Enquanto atravessavam o Vale, Char percebeu que as ruas estavam vazias e as casas fechadas, como se fosse um lugar abandonado, contudo as lareiras ainda soltavam levemente a fumaça. As casas de pedra estavam cobertas pelos minúsculos cristais de gelo, as deixando esbranquiçadas.
—Não sei se prefiro isso aqui com a monotonia das pedras ou com a mesmice e frieza do gelo. –Comentou vagamente, ouvindo uma leve risada de Alfred e uma bufadela de Mark.
—Acho que nenhum é muito convidativo a primeira vista. –Alfred revidou, a fazendo dar um sorriso de canto.
—Nem a primeira, nem a segunda e nem a terceira. –Mark implicou.
—Pelo menos a comida é boa. –Char informou, encarando o ruivo por sob o ombro. –Não fique tão emburrado, Mark. –Ela lhe deu um sorriso. –Pense que ficar uns dias longe de Lauren lhe trará.
—Paz. –Ele disse, enfatizando um ar sonhador, o que a fez sorrir, embora não houvesse diversão real ali.
—E isso não é bom?
—Eu não tinha pensado por esse lado, pra falar a verdade. –Ele deu de ombros.
—Eu gosto de pensar positivo. –Ela sorriu novamente e olhou para frente. –Você se verá livre de Lauren e eu me verei livre dos velhotes.
—É um bom ponto de vista. –O ruivo concordou por fim.
           Charlotte conseguira apagar a chama incandescente de fúria que lhe dominara por mais da metade da viagem do Vilarejo ao Vale Vermelho, naquele momento eram somente brasas quase extintas, o que lhe deixava mais tranquila. Ainda recordava da ventania derrubando árvores ao redor do Vilarejo e da correria de pessoas se trancando em suas casas.
           Alfred a viu suspirar e ajustar a capa em seus ombros. Não seria algo fácil, mas Alfred bem sabia da necessidade de Charlotte passar por aquilo.
            Charlotte empurrou a porta pesada da casa de Christopher, ouvindo os passos pelo corredor.
—Vocês demoraram. –Christopher comentou, surgindo na sala, enquanto Mark trancava a porta. –E trouxeram o Mark junto. –Ele pareceu levemente confuso.
—Mark é a única criatura que me dou bem realmente naquele Vilarejo, que gosta de Alfred e não liga pra mim ou para o que faço. –A menina comentou, tirando a pesada capa, que caiu com um leve barulho no chão. –O que é bom o suficiente. –Concluiu, enquanto retirava a capa vermelha, que foi deixada no encosto do sofá.
—Achei que chegariam ontem. –Ele indicou o sofá próximo à lareira.
—Nós tivemos que prender Charlotte no dia que ela recebeu a noticia. –Mark informou. –Ela causou um pequeno estrago no Vilarejo. –Ele sorriu e se aconchegou no sofá. –Acho que Julian ainda está furioso com a árvore que caiu na casa dele. E isso nos atrasou um pouquinho.
—Não me faça lembrar disso. –A menina resmungou, se aconchegando a uma poltrona do outro lado da sala, em frente à lareira.
—Você derrubou uma árvore na casa do Julian? –Christopher questionou confuso.
—Não foi intencional. –Ela bufou.
—Ela se irritou e uma coisa levou a outra. –Alfred falou, indo para a cozinha.
           Christopher analisou a filha por alguns segundos e puxou uma cadeira da mesa, indo se juntar a menina.
           Char escutou o suspiro e resmungo de Mark, enquanto ele se erguia e seguia Alfred até a cozinha.
—Como estão as coisas?
—Não vou atear fogo a nenhuma feiticeira, se é o que quer saber. –Ela falou, encarando o fogo, mas sem o habitual bom humor.
—Char, ela...
—Não importa. –Ela mexeu no cabelo. –Irei resolver isso do meu jeito e ninguém irá se intrometer. –Ela o encarou. –Espero que você compreenda isso.
           Christopher suspirou e assentiu por fim.
—Só não faça nada de cabeça quente, você pode se arrepender mais tarde.
          Char deu um sorriso perigoso.
—Tive bastante tempo, enquanto atravessava esse gelo todo, para me acalmar, não se preocupe com o que irei fazer, Christopher.
           O homem fez careta, Char tinha falado como a Suzana por quem ele se apaixonara na juventude.
—Eu conto com isso.
           Char assentiu e notou a nova cicatriz esbranquiçada, mas bem visível, em sua bochecha esquerda.
—O que foi isso? –Ela questionou, mudando de assunto.
            Christopher levou a mão a bochecha e deu um sorriso de canto.
—Se eu disser que cai, você acredita? –Char não conseguiu evitar e sorriu.
—Não, eu não acredito. –Ela balançou negativamente a cabeça. –Não quando é o mesmo tipo de cicatriz que Alfred tem.
           O homem se ergueu sorrindo e deu uma palmadinha leve no ombro da menina.
—Que bom que seu julgamento é preciso.
          Char sorriu novamente e o viu ir para a cozinha. A menina desviou os olhos de volta ao fogo e as chamas se elevaram, dançando de acordo com sua vontade.
           Charlotte passara um longo tempo brincando com as labaredas, sem se importar com nada mais, precisava manter a calma que conquistara durante a viagem.
—Você sabe como isso vai acabar, não sabe? –Alfred questionou, vindo sentar ao se lado.
—Eu espero estar certa, Al.
—Só sairá do controle se você permitir, sabe disso. –Ela sentia o olhar dele em seu rosto.
          Alfred a viu se demorar olhando para as chamas, por fim o encarar, os olhos tão claros prendiam uma fúria que provavelmente se libertaria com um pequeno sopro.
—Talvez. –Ela respondeu. –Mas e se eu não conseguir? –Havia medo pela primeira vez nos olhos dela.
—Você vai.
—E se eu não conseguir, Alfred?
           Alfred não queria pensar nessa possibilidade.
           Char o viu segurar sua mão e pressionar, a encarando firme e abertamente.
—Eu vou parar você, de qualquer forma.
          Charlotte assimilou a promessa e assentiu por fim.
—Você sabe que não pode me parar, não de verdade.
           É tão estranho ver Charlotte com medo de si mesma. Ele pensou.
—Eu não preciso matar você pra lhe parar.
—Você percebeu que está me ameaçando, não é? –Mas ela sorriu.
—Você sabe que desde que nos conhecemos eu tenho vontade de te fazer ficar quieta e calada.
           A frase a fez rir baixinho, foi somente nesse momento que Alfred percebeu que o que dissera poderia ser mal interpretado.
—Tem muitas formas de fazer isso, Al. –Ela sorriu maldosamente. –Mas devo dizer que tenho uma especifica em mente e que somente ela me agrada. –Alfred a viu se erguer sorrindo, enquanto os passos e vozes de Mark e Christopher se aproximavam.
          O que ela dissera lhe provocou um arrepio pela espinha e um sorriso torto.
—Você provoca demais, mas só provoca. –Revidou, se erguendo também.
          Charlotte viu os dois homens pararem próximos a porta.
—Vamos acabar essa conversa quando tudo isso chegar ao fim, você sabe, não é mesmo? –Ela estava com um sorriso maldoso e olhar divertido que ele não via desde que a noticia chegara ao Vilarejo.
—Veremos, Chapeuzinho.
          Charlotte sorriu e pegou a capa vermelha.
—Vamos resolver isso de uma vez por todas. –Ela informou a Christopher. –Tenho uma aposta pra vencer.
          Christopher arqueou uma sobrancelha, encarando a menina e Alfred, ambos com sorrisos divertidos.
—Não vou nem perguntar. –Mark comentou abrindo a porta, enquanto via a menina colocar as luvas.
—É melhor para a sua saúde mental. –Alfred brincou pegando a capa pesada que estava no chão e entregando para Char, que sorria.
           Charlotte tentou, enquanto caminhava para a casa de Kyle, manter o bom humor que sua brincadeira com Alfred lhe trouxera. Ainda se divertia ao brincar com Alfred dessa forma e gostava daquele sorriso libertino que ele dava nessas horas.
            A casa de Kyle continuava do mesmo modo que ela recordava. A menina respirou fundo e girou a maçaneta da porta, vendo um vulto atravessar a sala rapidamente e logo o par de olhos negros a encarando.
—Char, querida... –A mulher ergueu os braços para abraça-la, mas parou ao notar o olhar da menina.
—Acho melhor não, mãe.
          Alfred viu o choque no rosto da mulher e o quão pálida ela ficou, dando um passo atrás.
         Apesar de toda a diferença entre as duas, Char nunca chamara sua mãe de forma tão fria e era isso que mais assustava Suzana.


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Notas finais do capítulo

Beijos e prometo que o próximo não irá demorar tanto quanto esse.

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