Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 34
Capítulo Trinta e Quatro - Espada Bela Como o Sol


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.
Divirtam-se!



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           Charlotte recordava de ter adormecido momentos após ser levada a uma casa pequena que fora oferecida a ela, Alfred e Christopher, que parecia muito a vontade em meio aos demais habitantes do Vilarejo. Lembrava-se de deitar na cama macia, depois de trocar algumas poucas palavras com Alfred, que dormia no chão de seu quarto, ambos desconfiados demais para permitirem ser separados em um lugar totalmente desconhecido.
         Char acordou com o forte barulho de chuva e a cabeça a ponto de explodir, as palavras dos Anciãos ainda lhe rondando a mente repetidamente. Ela sentou na cama, fechou os olhos e apertou as têmporas com força, tentando manter o controle de seus sentimentos.
—Você está bem? –Alfred quis saber, sentando no chão.
         Charlotte abriu os olhos e o encarou, o rapaz estava sentado no centro de um tapete marrom no meio do quarto, ele parecia estar acordado há bastante tempo.
—Você não devia estar dormindo? –Ela devolveu.
—Igualmente. –Alfred deu um leve sorriso.
—Acho que a chuva me acordou. –Deu de ombros.
—Você tá pensando no que eles disseram, não é? –Char o encarou.
         Se os Anciãos estivessem certos, o que ela sabia estarem, não podia dizer ter se surpreendido por completo com sua ligação com Alfred.
—Um pouco. –Prendeu o cabelo em um coque frouxo. –Sei lá. É estranho, sabe?
—Qual parte?
         A questão fez Char dar um sorriso de canto e jogar as pernas para fora da cama, mas Alfred notou a falta de ânimo.
—Sempre achei que fosse uma garota comum que só sabe e aprende mais rápido que a maioria, contudo em pouco tempo descobri que sou uma feiticeira e mais poderosa que os demais. –Suspirou e o encarou. –É como descobrir que estava vivendo a vida de outra pessoa durante todo esse tempo e só agora perceber quem sou realmente.
—Às vezes eu penso nisso também. –Ele assumiu. –Como acordar de um sonho para uma realidade completamente diferente do que esperávamos.
—É estranho. –A menina suspirou.
         O silêncio se instalou no quarto, sendo quebrado somente pela forte chuva do lado de fora, mas que parecia explodir em contato com o telhado, porém Char se sentia reconfortada pelo som.
         Char fechou os olhos e respirou fundo, se deixando acalantar pelo som da chuva e pelo trovão que ribombou quase musical, ignorando sua dor de cabeça.
Charlotte Brand. –O sussurro baixo, feminino e sutil a chamou para as profundezas de sua mente. –Você é minha Brand Eileen, minha Espada Bela como o Sol, a partir de agora. –Isso a fez abrir os olhos de uma vez. –Guarde esse nome.
         Alfred a encarou sem entender, os olhos dela estavam tão claros e intensos que o surpreendeu, era diferente de tudo que ele já vira, quase esbranquiçados, contudo extremamente brilhantes e famintos.
—Tenho que ir ver os Anciãos. –Ela anunciou se erguendo da cama.
—O que houve? –Alfred questionou, também se colocando de pé.
        Charlotte o encarou por um longo momento e por fim deu um sorriso de canto, ignorando a dor de cabeça.
—Tenho que saber meus limites, Alfred.
          Alfred não compreendeu, mas notou haver algo diferente na postura dela, não longe da majestade que sempre se via na menina, contudo algo mais imponente, quase impetuoso, era uma visão a se admirar.
—Irei atrás de algo para comer. –Anunciou ele.
         Charlotte sorriu e foi até o banheiro. Havia uma bomba ligada diretamente à tina de seu quarto, água fria era tudo que ela necessitava para desperta por completo.

 

  Charlotte recusou as ofertas de companhia e saiu para a chuva de inicio de manhã, ela não saberia dizer com exatidão o horário, mas sabia já passar das 08h da manhã, mesmo que ainda estivesse levemente escuro e todos estivessem se mantendo dentro de suas casas, onde era seco e quente. A chuva tocava com gentileza sua pele, quase uma caricia, embora as gotas não fossem pequenas e sutis.
         Char parou ao lado de fora e sacodiu seu cabelo, tentando retirar o máximo possível da água, contudo ela estava ensopada. A garota empurrou a porta da casa dos Anciãos e três pares de olhos se voltaram para ela.
—Chá? –Elizabeth ofereceu, com um pequeno sorriso irônico.
           Charlotte compreendeu a piada, mesmo que soubesse ser uma oferta real, e retribui o sorriso com tranquilidade, enquanto retirava a capa vermelha e a pendurava.
—Sem açúcar, por favor. –Disse ela.
—Achávamos que você não viria. –Richard comentou e Char deu de ombros.
—E por qual motivo?
—A chuva.
—Um fenômeno natural não é algo a qual vá me parar. –Ela atravessou a sala e sentou em uma das cadeiras em volta da mesa, pegando o chá que Elizabeth colocara. –Você não deve temer a força da natureza, somente respeitá-la.
—Você parece diferente. –Simone observou, enquanto a garota dava um gole no chá.
         Char arqueou uma sobrancelha e a encarou.
—Pareço?
—O que você viu, menina? –Havia uma curiosidade voraz na mulher.
—Por que acha que vi algo, Simone? –Char não escondia o cinismo que bailava em seu sorriso e olhos.
—Tem algo em você, algo que eu não vi ontem. –Ela a encarava com atenção. –Alguma coisa adormecida que despertou ai dentro.
         Charlotte deu um risinho anasalado e bebeu mais um gole do chá, sem dar importância para o que Simone dizia e para a poça de água que se formava ao seu redor, mas ela sabia exatamente o que a mulher via.
—E então, vamos começar aprendendo o que? –Questionou, mudando de assunto.
Char fingiu não ver a troca de olhares dos três mais velhos, enquanto pegava um biscoito amanteigado.

  As estrelas já começavam a se mostrar quando Char sentou no degrau da escada em frente à casa dos Anciãos, a chuva parara após o almoço, único momento que Char realmente tivera descanso.
—E então, o que achou? –Milena quis saber, prendendo os longos cachos loiros em um rabo de cavalo.
—Você é uma instrutora bem assustadora. –Char sorriu e os olhos cor de café da menina brilharam.
         Milena fora selecionada para ensinar os princípios da magia, começando por tentar fazer as flores crescerem a seu comando, o que Charlotte falhara miseravelmente, já que nunca se dera bem com plantas.
—E você não nasceu pra cuidar de plantas. –Retrucou sorrindo.
—Concordamos plenamente com isso, minha cara. –Char se ergueu e estalou os pulsos em um único movimento giratório com as mãos. –Nunca me dei bem com flores, não para cuidar pelo menos.
—Todo Ancião precisa controlar cada estágio da magia antes de se aprofundar nos próprios poderes, Charlotte. –Simone informou, descendo as escadas.
—Diga isso às plantas. –Revidou ela cinicamente. –Elas não me ouvem e eu não gosto delas.
        Alfred riu ali perto, muito tranquilo encostado em uma árvore enquanto a via treinar e provocar os demais Anciãos.
—Mas...
—Eu sei, eu sei. –Ela bufou. –Terei que aprender para dar o próximo passo. –Rolou os olhos.
         Charlote sentiu o vento dançar ao seu redor e sorriu, atraindo o olhar curioso de Simone.
—Parece que nós sabemos qual a essência do seu poder. –Comentou e Char sorriu.
—Talvez Simone, talvez. –Sorriu abertamente. –Mas se eu fosse você, não apostaria nisso.
         Havia uma graça surreal nos movimentos da garota, parecia que ela se movia com o vento enquanto passava por Simone e subia os degraus para pegar sua capa vermelha que estava no encosto de uma das cadeiras.
—Você não irá contar o que aconteceu, não é mesmo? –Richard quis saber, o que fez a menina rir despreocupadamente.
—Não, não irei.
—Então realmente você viu algo?
         Charlotte sorriu e puxou a capa, amarrando-a em volta de seus ombros enquanto descia, sem realmente ligar para a curiosidade dos Anciãos.
—Eu não disse isso.
           Alfred sorriu, sempre vira uma chama ardente, selvagem e impiedosa em Charlotte, contudo naquele momento havia mais, muito mais, ela era o fogo bailando com o vento. O que Alfred achava muito mais perigoso, porque para fazer uma fogueira normalmente se aproveitava do vento para lhe dar vida e fazê-la consumir a madeira e o que encontrasse em seu caminho.


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Notas finais do capítulo

E aí? Curtiram?
O que acharam da nossa Brand Eileen? Quem vocês acham que a nomeou? Alguma suspeita ou teoria?
Deixem seus comentários.
Beijos e até o próximo capítulo.



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