Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 33
Capítulo Trinta e Três - Cavaleiros


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.
Divirtam-se!
P.S.: Não tive tempo de revisar, então se houver algum erro, por favor me avisem para que eu possa ajustar.



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                Charlotte pegou a xícara de chá que lhe fora oferecida e brincou na borda, vendo Alfred colocar dois cubos de açúcar no seu.

—Você deve ter muitas perguntas. –A senhora lhe questionou, colocando chá para si mesma.

—Algumas. –Ela concordou.

—Sou Elizabeth. –Ela se apresentou e deu um gole no chá.

          Char sentiu o cheiro do Hortelã-pimenta tomar suas narinas, agradável e familiar, fazendo sua boca salivar e ela levar a xícara aos lábios para o primeiro gole. Havia algo tão familiar no cheiro, mas ao mesmo tempo desconhecido.

         Charlotte afastou a xícara dos lábios em um piscar de olhos e agarrou a mão de Alfred com a que estava desocupada. Um pouco do liquido quente derramou na mesa e respingou na camisa do rapaz.

—Que droga, Char. –Ele falou, limpando a blusa, mas deixando o chá sobre a mesa.

         Os olhos verdes da menina fuzilaram a velha a sua frente, que lhe encarava sorrindo calmamente.

—Que merda vocês colocaram no chá?

—Tão desconfiada. –Elizabeth falou, dando um gole generoso no próprio chá.

—Não é desconfiança sem fundamento, não é mesmo? –A menina disse, deixando a irritação a mostra, mas sob controle.

—É você quem diz. –Elizabeth estava bem calma, mas havia um brilho diferente no castanho de seus olhos.

         Char abandonou a xícara sobre o tampo da mesa e sorriu, mas sem tirar os olhos da velha. Alfred notou a raiva clarear os olhos da menina, mas ele próprio se mantinha atento aos três velhos na sala, seja o que Charlotte sentira no chá, ele não seria tolo de ir contra até ter uma explicação.

—Hortelã-pimenta é a melhor escolha para esconder qualquer outra coisa, o cheiro e gosto são fortes para que, dependendo do que se coloque junto, passe despercebido. –Ela se ergueu, sentindo o vento soprar em seu cabelo. –Não sei exatamente o que você colocou no meu chá e nem se fez o mesmo com Alfred, porém ninguém vai tomar merda nenhuma aqui.

—E você pensa que é quem para mandar em algo? –A senhora que fazia crochê quis saber, deixando suas agulhas e lãs de lado.

—Não estou mandando. –Char deu de ombros, sentindo a esmeralda gelar em seu pescoço. –Não tenho o porquê de mandar em alguém aqui, porém é um esclarecimento muito simples.

—Você achou que estávamos envenenando seu chá? –O homem questionou.

          Alfred viu o vento, que ele não sabia como poderia estar tão forte dentro da casa, começar a apagar o fogo das velas, inflar a capa vermelha de Charlotte e fazer seu cabelo chicotear.

—Não afirmarei que foi veneno. –A voz dela estava vazia assim como a expressão, mas o fogo em seus olhos dançava com o vento. –Mas havia algo naquele chá e tenho certeza que eu não gostaria de tomar.

          Alfred viu o fogo da lareira aumentar, fazendo a madeira estalar e jogar faíscas para os lados, assim como o vento que começava a bater portas, janelas e derrubar coisas. Era forte e estranho demais para estar dentro de uma sala.

—Você é selvagem demais para uma Anciã. –O homem disse, se erguendo de sua cadeira de balanço, com um sorriso perigosamente predatório.

—Isso é você quem diz. –Revidou ela, a voz leve, apesar da irritação.

—Vamos Richard, conte de uma vez por todas. –Elizabeth bufou, ainda bebendo seu chá.

—No seu chá havia uma erva chamada Raiz de Algodão. –Ele informou, fazendo a menina arquear a sobrancelha. –A usamos como calmante.

—E por que tentaram me dar sem consentimento? –Ela exigiu.

—Porque os novatos geralmente chegam arredios e desconfiados. –A mulher que fazia crochê se juntou aos outros dois.

         Alfred se ergue e parou as costas de Charlotte.

—Vocês não os ajudam a manter a calma, vão por mim. –Char debochou.

—A Raiz de Algodão além de relaxar, os deixa sonolentos o suficiente para podermos conversar sem incidentes. –O homem disse.

Incidentes? –Ela riu e a janela bateu fortemente. –Você quer dizer que consegue saber tudo o que deseja das pessoas sem que elas possam escolher de fato se contarão ou não.

          O homem sorriu e deu de ombros.

—É um ponto de vista.

         Char sentiu um puxão e sua cabeça girou, a fazendo sentir que iria de encontro ao chão, mas se manteve de pé, ainda encarando os Anciãos, que pareciam mais curiosos que antes.

—Por que eu estou aqui? –Ela quis saber, se forçando a não demonstrar que se sentia fraca.

—Temos muito para conversar, menina. –Ele respondeu. –Mas acho melhor você parar de fazer o que está fazendo. –Char franziu o cenho e o homem sorriu. –Se acalme, simplesmente isso.

           Alfred se surpreendeu ao notar que todo aquele vento dentro da sala, que causara uma boa bagunça no ambiente, se formara por causa de Charlotte.

           Char olhou em volta, depois encarou diretamente o fogo da lareira, que dançava furiosamente, como se respondesse a ela, que sentiu o coração palpitar. O fogo não estava só parecendo lhe responder.

—Eu acho que você chamuscou meu tapete. –A mulher que estava fazendo crochê dissera.

           Char a encarou.

—Da próxima vez não tentem me drogar. –Deu de ombros e a mulher sorriu.

           Charlotte viu tudo parar de uma única vez, mas sabia que não havia sido a responsável por isso, poderia ter sido pela bagunça que o vento causou, mas não pela parada brusca.

—Sou Simone. –Ela se apresentou calmamente, mas os olhos eram curiosos. –Não estávamos esperando alguém tão jovem e... Intenso.

—Eu não estava esperando um clube do chá e crochê. –A menina revidou, cruzando os braços em frente ao peito.

           Char ainda sentia as mãos formigarem e o corpo parecer ser puxado por uma força invisível, mas se mantinha calma e controlada.

—O que acha de nos sentarmos? –Elizabeth convidou.

—E de preferencia sem chá. –Richard informou, sorrindo.

           Alfred encarou Charlotte, que suspirou e assentiu.

          Char sentiu o sussurrar de uma fraca brisa que entrava pela janela e seguiu até o sofá, onde Alfred sentou ao seu lado.

—E veja se nossa jovem Anciã já não achou seu primeiro Cavaleiro. –Elizabeth comentou, sentando no outro sofá.

Cavaleiro? –Alfred fez careta com a palavra.

—Chama de protetor, guardião, até cúmplice, se desejar. –Ela brincou na xícara.

—Todo Ancião tem Cavaleiros, geralmente são Lobos. –Simone informou, gesticulando levemente com a mão. –E mantemos muitos da Elite por perto, normalmente os mais poderosos.

—Com habilidades especificas e únicas. –Richard concordou.

—Então todos que estão lá fora são Lobos e Feiticeiros? –Char fez careta.

—Basicamente. –Elizabeth resumiu.

           Charlotte suspirou e passou a mão no cabelo.

—E como isso acontece?

—Não sabemos ao certo. –Richard comentou. –Contudo é algo mais instintivo.

—Instintos exigem que escolhamos aqueles que nos oferecem algo em troca do que doamos, por mais que falemos que sentimento é dado e não uma troca. –Simone informou.

          Charlotte pensou sobre o assunto em fração de segundo. Não poderia dizer ser mentira que sua relação com Alfred iniciara instintivamente e nem que descordava sobre o que Simone dissera de sentimentos.

—Como se reconhece um Cavaleiro? –Char achara o nome um tanto quanto zombeteiro, mas não diria isso em voz alta, não para os Anciãos.

—É um acordo mútuo. –Elizabeth declarou. –Quando se conheceram, a compreensão não foi reciproca?

           Char sorriu, assim como Alfred. Eles poderiam ter tido muita reciprocidade, mas não quanto à compreensão, não no início pelo menos.

—Digamos que sim. –Falaram, fazendo Elizabeth arquear ambas sobrancelhas.

—E para que os Cavaleiros foram criados? –Char questionou. –Sendo que na Lua Cheia eles não poderão nos proteger.

         Richard deu um sorriso aberto.

—Ah, menina, é isso que você pensa?

         Char fez careta.

—Considerando que os Lobos adoram carne fresca? É, é isso que eu penso.

          Alfred poderia ter achado ofensivo, se não tivesse com vontade de sorrir da ironia da menina.

—Não, não os Cavaleiros.

—Por que? É contraproducentes comer carne humana? –Ela debochou e Elizabeth rolou os olhos.

—Eles comem carne humana, mas não as nossas. –Ela deu de ombros.

—Meus amigos e familiares ficam muito felizes com a notícia. –Char sentiu o sarcasmo escorrer por suas palavras.

—O que Elizabeth quis dizer é que os Cavaleiros sentem que não podem nos devorar, não sabemos se eles nos reconhecem ao certo ou somente sentem a Ligação conosco. –Simone esclareceu. –Obviamente não seria inteligente ficar passeando pela Floresta durante a Lua Cheia, porque nossos Cavaleiros respondem diretamente a nós, mas não aos demais Anciãos.

—Então você está me dizendo que Alfred não iria me devorar se me encontrasse durante a Lua Cheia, mas poderia fazer com você?

—Exatamente.

—Bem, não deixa de confortar. –Debochou outra vez e Simone sorriu.

—Os Cavaleiros não brigam entre si, se você quer saber. –Richard alertou. –Então se você estiver com Alfred, nunca nenhum outro tentará ataca-la... Não muito.

—Descobrimos isso de uma forma bem interessante. –Elizabeth falou.

—Espero realmente que ninguém tenha perdido uma perna durante a descoberta. –Alfred disse, de cenho franzido e Char sorriu em concordância.

            Char sentiu o corpo estremecer involuntariamente e a cabeça girar.

—Você está bem, menina? –Simone questionou.

—Por que não estaria? –Revidou Char, mas a cabeça parecia pesar uma tonelada. –Em uma média, quantos Cavaleiros cada Ancião tem?

—Não temos uma média. –Richard comentou. –Mas normalmente são os mais jovens que acabam nos descobrindo.

—Descobrindo? –Char fez careta.

—Muitos simplesmente chegam ao nosso Vilarejo e acabamos por adotar, por assim dizer. –Simone falou. –Embora nem todos que estejam lá fora sejam de fato Cavaleiros.

—Os que não são Cavaleiros saem do Vilarejo uns dois dias antes de todas as Luas Cheias e vão para o mais distante possível. –Elizabeth informou. –Para a segurança deles e nossa.

—E os Feiticeiros que vivem aqui?

—É um método para nos mantermos protegidos de Caçadores e Monges.

—Os malditos Monges. –Simone bufou.

—Alguém, além das pessoas que estão aqui, sabem da localização do Vilarejo? –Char questionou.

—Não. –Richard afirmou. –O Vilarejo é algo bem privado, nem mesmo as pessoas da Elite tem permissão de vir até nós.

—E se houvesse uma emergência? –A menina quis saber.

—Nós iriamos até o Vale Vermelho ou mandaríamos o que eles precisam.

—E se eu quiser ficar viajando? –Ela questionou.

—Você não será obrigada há permanecer o tempo inteiro conosco, Charlotte. –Simone esclareceu. –Só manter o local do Vilarejo em sigilo.

—Interessante. –Disse ela com simplicidade.

—No momento só ficará para aprender a usar suas habilidades, a controlar e separar seus sentimentos dos poderes. –Richard alertou.

—Os Monges ainda nos caçam, Charlotte. –Simone disse, uma magoa antiga brilhando em seus olhos. –Então precisamos passar despercebidos entre eles.

—A última vez que soubemos de um Ancião que foi descoberto por Monges, ela morreu. –Elizabeth informou.

—Entendo. –Char disse, parecendo cansada.

—Você aprenderá a controlar seus dons. –Richard comentou levemente. –É uma questão de tempo.

—Espero que sim.

—Nós, Anciãos, temos muitas vantagens sobre todos os outros Feiticeiros, assim como muitos segredos sobre nossos poderes.

—Tipo? –Ela o encarou e ele sorriu.

—Você aprenderá no momento certo.

—Acho que vocês devem descansar agora, criança. –Simone disse. –Amanhã teremos um longo dia, Charlotte.

—Vá até Mark e ele lhe dirá onde ficarão. –Elizabeth mandou.

          Charlotte estava cansada demais para discutir e sua cabeça parecia pesar mais do que o corpo seria capaz de suportar.

—Com licença. –Disse a menina, se erguendo e sendo acompanhada por Alfred.

—Mandaremos algo para se alimentarem.

           Char não conseguiu evitar o sorriso cínico ao encarar os três Anciãos.

—Espero que não tentem me drogar novamente.

           Richard sorriu.

—Não se preocupe. Precisamos de você sóbria para treinarmos, se não será inútil.

           Char não discutiu e seguiu para fora da casa. Mark os aguardava do lado de fora, brincando com duas bolinhas de aço da mão.

—Vejo que a conversa foi bem agradável. –Disse o ruivo, se erguendo da grama e limpando a calça.

—Eles são uns amores. –Debochou ela, fazendo o rapaz sorrir.

—Eu achei que vocês sairiam trocando os pés lá de dentro, mas veja só, vocês estão completamente conscientes.

—Não é tão fácil me drogar, não tanto quanto parece. –Ela deu de ombros e o rapaz sorriu novamente.

          Alfred olhou em volta, o tempo parecia não ter mudado absolutamente nada do lado de fora, não havia uma única planta fora do lugar. O rapaz se perguntou do que Charlotte seria capaz de verdade.

          Chapeuzinho Vermelho era mais do que ele sempre imaginara, contudo ele nunca pensou que ela seria tão poderosa e indomável.    


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Notas finais do capítulo

E ai? Curtiram?
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Beijos e até o próximo capítulo.



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