Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 20
Capítulo Vinte - Entre Pai e Filha


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.
Divirtam-se!



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Charlotte encarou os olhos do pai, aguardando por sua explicação, que parecia terrivelmente difícil de ser verbalizada, já que cada vez que ele abria a boca, a fechava em seguida, sem emitir uma palavra se quer.
–Comece do motivo de ter ido embora. —Decidiu a menina, tentando dar um caminho para ser seguido.
Christopher assentiu e respirou fundo, parecendo tomar coragem.
–No dia que sua irmã morreu, fiquei furioso...
–Todos ficamos. —Cortou ela e o viu assentir, mas o olhar estava vago e distante.
–É, todos ficamos. —Concordou e fixou os olhos nela. —Só que eu decidi seguir o Monstro que havia matado Katherine.
O nome soara pesado e saudoso, mas muito distante.
–E?
Christopher encarou Alfred, que estava em total silêncio, tentando não prestar atenção na conversa que se desenrolava a sua frente.
–Querem que eu saia? —Alfred se manifestou, notando o olhar de Christopher.
–Não! —Char dissera mais alto do que pretendia, estava nervosa, embora disfarçando bem. Ela o encarou por um minuto, em uma rápida e silenciosa conversa. —Você não vai arredar um dedo de onde está.
Alfred rolou os olhos, mas deu um sorriso de canto e assentiu. Char parecia que enlouqueceria se ficasse sozinha com o pai e Alfred imaginava se não estaria do mesmo modo, caso fosse ele e sua mãe ali, mas ele sabia que ela estava morta.
–Certo. —Disse pra menina, que sorriu um pouco, parecendo se acalmar.
Char olhou para Christopher novamente, vendo ele observar a conversa que ela tivera com Alfred, notou que havia quase diversão nos olhos do pai e se conteve para não bufar.
–Prossiga. —Char pediu.
–Esperei você, Fernanda e Harry irem dormir, todos no seu quarto. —Informou e ela manteve o olhar. —Lembro de antes de ir falar com Suzana, sentei na sua cama e contei uma história pra vocês, o único que ainda ouviu alguma coisa foi Harry, já que você e a Nanda já dormiam. —Ele deu um curto sorriso. —Quando deixei seu quarto, fui até sua mãe e lhe disse o que pretendia.
–Deixe-me adivinhar. —Interrompeu ela, com um tom debochado. —Ela fez um escândalo?! Típico.
–Sua mãe estava nervosa, era de se esperar uma reação como aquela.
–E depois que ela se acalmou?
Charlotte conversava como se não estivesse enlouquecendo, mantinha a postura e tom calmo, como se fosse uma conversa corriqueira.
–Acho que ela nunca se acalmou, Charlotte. —Ele suspirou. —Mas eu não ia desistir, então falei que iria de qualquer maneira. —Christopher baixou os olhos e encarou as próprias mãos. —Suzana disse que se eu saísse por aquela porta, era pra eu nunca mais voltar.
–Mas você saiu, mesmo sabendo que poderia perder tantas coisas. —Não era uma pergunta. —Mesmo sabendo que deixaria uma filha tão nova pra trás.
Christopher ergueu os olhos para encarar a filha, achando que encontraria raiva ou mágoa nos olhos verdes, mas se surpreendeu ao notar que não havia nenhuma dessas coisas, pelo contrário, havia certa curiosidade e determinação.
–Sim, eu saí. —Char deu um sorriso de canto.
–Você o matou?
Christopher se sentia a margem da situação. Sempre imaginara como seria reencontrar a filha, sempre a imaginou forte, mas nunca pensou que ela teria crescido tão forte e feroz.
–Matei.
–Que bom. —Char o encarou decidida, sem titubear uma única vez. —Mas por que nunca voltou?
Christopher pensou em toda a história em uma fração de segundos, mas não sabia como falar sem que ela ficasse com raiva da mãe.
–Eu voltei. —Disse baixinho e viu os olhos dela escurecerem.
–Voltou? —A voz tinha um tom perigosamente irritado. —E por que não me procurou? —Christopher desviou o olhar por um tempo curto, mas significativo. —Minha mãe, não foi?
Apesar de ela ter feito uma pergunta, era notório que ela só fizera por querer ouvir a confirmação.
–Sim, Suzana me proibiu.
–Sabe qual a parte engraçada disso tudo? —Ela questionou quase delicadamente, atraindo os olhares dos dois homens. —Eu não me surpreendo, nem um pouco.
–Suzana sempre foi protetora com você, Char...
–Não tente defende-la, por favor.
Char se colocou de pé e caminhou lentamente pelo tão conhecido quarto, precisava colocar as idéias em ordem. Tudo no que acreditara desde a morte da irmã, parecia uma mentira muito bem planejada e que ela caíra perfeitamente.
–O que mais você tá escondendo? —Exigiu por fim. —O que diabos é esse Vale Vermelho? O que você faz aqui? Como...?
–Chapeuzinho, respira, lembre-se de respirar. —Alfred a interrompeu, o tom leve e arrastado pela ironia, e ela tomou ar. —Uma pergunta por vez.
Char rolou os olhos, o fazendo sorrir. Ambos se divertiam internamente com a relação que desenvolveram em tão pouco tempo. Talvez o que os ligasse fosse a diferença que tinham com todos os demais de onde viviam e como lidavam, na grande parte com deboche e indiferença, com a vida e tudo ao redor.
–Me responda. —Pediu ela, encarando seu pai.
–Eu vim parar no Vale depois de tentar voltar pra casa e sua mãe não permitir. —Informou com cautela. —Judith é uma senhora que conheci na casa da mãe de Suzana, quando ela ainda era viva...
–E?
–Encontrei Judith em uma caravana, a caminho de Mirelis, mas não estava disposto a ir pra casa de minha mãe.
–E então essa Judith lhe apresentou o caminho das pedras? —Debochou, voltando a sentar e puxando uma uva do caixo.
–Judith disse que havia um lugar para mim.
–No Vale Vermelho. —Completou e ele assentiu.
–Ela me trouxe aqui e me apresentou a tudo e todos.
–E isso foi o suficiente para deixar o passado e fingir que não tinha uma filha. —Sorriu, enquanto mastigava lentamente uma uva.
–Eu nunca esqueci.
–Claro que não. —Rolou os olhos.
–Você não pode achar que...
–Na verdade eu posso achar o que eu quiser. —Cortou, com os olhos frios. —Você desapareceu por anos, me deixou achar que você estava morto e acreditar nisso. —Sorriu de modo duro. —Eu perdi minha irmã e em seguida meu pai. —Deu de ombros. —Nada que ninguém nunca tenha passado em Ventanis.
–Charlotte. —A voz saiu em um fio.
–Mas a verdadeira questão não é essa, não é mesmo?
–Então qual é a questão? —O homem a frente havia murchado e envelhecido uns bons cinco anos.
Char ignorou a expressão triste e magoada do pai, pois ele não tinha direto de se sentir traído, o contrário dela.
–Quem é você agora, Cristopher? —A pergunta fora afiada como uma faca e fria como gelo.
Alfred viu Christopher arregalar os olhos de modo assustado e sua expressão ser domina por dor, como se tivesse levado um soco no estômago.
–Eu ainda sou o mesmo, apenas com algumas feridas a mais. —Disse ele e ela sorriu friamente.
–Espero que sim. —Pegou mais uma uva e a rolou entre os dedos. —Eu realmente espero que sim.
Char sabia que Christopher estava escondendo algo, que havia mudado muito mais do que ousava falar, ela só não sabia em que aspectos e isso a perturbava, mas não iria demonstrar sua perturbação, não em frente à ele.
Christopher manteve os olhos na filha, ele sabia que ela era forte e que provavelmente estava maquinando algo em sua mente aguçada e sagaz, não é como se houvesse abandonado-a realmente, sempre mantivera um olhos nela, a acompanhando de longe, contundo sem quebrar o acordo que fizera com Suzana, jamais se deixou ser visto por ela ou qualquer um que o conhecesse. Um dia Char saberia a verdade completa, mas não naquele momento e se fosse para ele ser perdoado, que fosse na hora certa.


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Notas finais do capítulo

E ai? Curtiram?
Deixem seus comentários.
Beijos e até o próximo capítulo.



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