Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um) escrita por Ally Faro


Capítulo 19
Capítulo Dezenove - Amargo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.
Divirtam-se!



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          Charlotte respirou fundo, tentando conter toda a bagunça que estava sua mente. Eram tantas informações ao mesmo tempo, que a deixava irritada por não estar compreendendo nada de fato.
–Você sabe que quem está no direito de dar ordens aqui sou eu, não é? —Disse por fim, a voz apesar de dura, contendo certa ironia, direcionada a Alfred e ele sorriu, a fazendo rolar os olhos.
–Deixa de ser irritante, Chapeuzinho.
           Charlotte sempre achara interessante o quão o apelido tão simples e que ela geralmente não apreciava, soava tão íntimo na boca dele.
          Kyle assistiu, com certa irritação, a intimidade que Char tinha com o outro, a tranquilidade com que conversavam e o modo como ela se atirou nos braços dele sem nem pestanejar quando o viu. Também com surpresa a viu o provocando, mas atendendo ao pedido dele e finalmente sentando na cadeira, encarando-o.
–Aqui estou, Alfred. —Ela rolou os olhos.
–Você já comeu? —Olhou a bandeja com comida sobre a mesa.
         Char tinha a impressão que havia comido, mas não tinha certeza de quanto tempo fazia e nem se realmente comera algo após acordar. Era comum, de qualquer modo, que houvesse comida sobre sua mesa.
–Acho que sim.
          Alfred bufou e apontou para a comida.
–Come alguma coisa.
–Não. —Disse ela decidida. —Você e ele... —Apontou com o queixo para o pai, que ainda estava no mesmo lugar, a olhando fixamente. —Os dois têm muito a explicar.
–Nós explicamos e você come, Charlotte. —Disse com simplicidade, mas não uma ordem.
         Charlotte poderia ter sorriso, mas conteve a vontade. Char gostava daquele jeito dele, que dizia o que devia ser feito e apesar da forma como falava, nunca era uma ordem, era sempre opcional e algumas vezes usava como moeda de troca.
–Pelos mil Demônios. —Falou ela e lembrou que não estava a sós com Alfred e seu pai.
         Char olhou para Kyle, que observava a cena com olhar duros, seus olhos cinza finalmente encontraram os dela, que lhe deu um sorriso minúsculo, mudando toda a sua expressão, precisava de Kyle ainda e não estragaria um jogo tão bem construído sem saber o que a aparição de novos integrantes representava pra ela.
          Kyle viu uma certa dúvida nos olhos dela, assim como uma timidez estranha no sorriso pequeno, ainda não havia notado aquela expressão.
–Você poderia nos dar licença, Kyle? —A voz doce soou mais delicada ao se dirigir pra ele, que assentiu e devolveu o sorriso.
–Qualquer coisa é só chamar, Charlotte.
–Não é como se eu fosse precisar ser salva, não é? —Sorriu de canto e ele balançou a cabeça negativamente, também sorrindo.
           Kyle começou a se dirigir a saída, mas não sem trocar um olhar com Christopher, que devolveu sem titubear. Fora por isso que Kyle sempre gostara do homem, ele não baixava a cabeça pra ninguém, sabia respeitar, mas em momento algum demonstrava menos que sua bela autoconfiança. Christopher era forte e inteligente, o que fazia metade do Vale Vermelho se preocupar com a influência dele, mas ainda assim, respeita-lo e obedece-lo.
–Nos falamos depois. —Christopher lhe falou e Kyle assentiu.
–Leve o tempo que precisar.
         Kyle, apesar da raiva que sentira por como o outro lhe falou anteriormente, não questionaria sua raiva de pai. Era irônico que justo Christopher fosse pai de Charlotte, ele sabia que o homem tinha uma filha quando foi parar no Vale Vermelho, mas era somente isso, Chris nunca foi de falar muito de sua família, só informara sobre ter uma família fora dali e nada mais, não com ele pelo menos, talvez tivesse conversado com outra pessoa, sendo que era um homem de fácil convivência e quando dava para fazer piadas, era alguém divertido, mas nem todos tinham esse seu lado.
–Feche a porta. —Charlotte disse para Christopher após Kyle sair. —E já que temos tanto a falar, seria bom todos sentarem.
–E se não for pedir muito, seria bom você vestir algo mais... apropriado. —Christopher disse com calma.
        Char franziu o cenho e olhou para as pernas, mesmo que o vestido fosse comprido, era tão fino que delineava todo seu corpo e ela só notara realmente naquele instante, quando o vestira, só percebeu ser um vestido marfim, nada mais, porém naquele instante via o quão seu corpo aparecia por conta do tecido. O pedido era razoável, principalmente por conta do olhar de Alfred, que mesmo controlado, ainda era homem e não conseguia evitar escorregar os olhos por seu corpo.
–Na verdade é pedir muito sim. —Ela falou, mais para contradize-lo do que por achar que não era um pedido razoável. —Mas irei, enquanto isso dê jeito em um café, sinto que precisarei de algo forte pra passar por essa conversava e pelo que notei, vocês têm passagem liberada por aqui, o contrário de mim.
–O que quer dizer com isso? —Alfred a encarou de sobrancelha arqueada.
–Sou uma hóspede com restrições, Alfred. —Falou sem se importar, era fácil falar com ele, desde o momento que realmente começaram a conversar. —A minha liberdade só existe entre essas quatro malditas paredes de pedra, não posso simplesmente passear por aí e conhecer o lugar, estou em confinamento e quando vou a algum lugar, é no meio da madrugada, quando não posso ver ninguém e sempre acompanhada.
         Char viu a raiva escurecer os olhos do rapaz.
–Você está presa aqui desde quando? —Christopher quis saber, se metendo na conversa, ainda de pé no meio do quarto.
–Desde que acordei, após a Lua Cheia. —Mesmo com raiva, informou.
–Ele não tinha o direito. —O homem falou, a voz rouca pela irritação.
–Então diga isso a ele. —Disse ela bruscamente, se colocando de pé. —Não é como se eu tivesse alguma autoridade por aqui, de qualquer modo.
         Charlotte encarou os olhos do pai, em uma cor bem pouco mais clara de verde que os dela, tão pouco que ninguém notava a diferença, mesmo sua mãe dizia que ela tinha os olhos de Christopher, o que não era complemente verdadeiro. A menina queria saber quem era Ele, a pessoa de quem Christopher falava. Será que se referia a Kyle?
–Char, eu...
–Arrume meu café enquanto vou me vestir, depois me conte suas desculpas.
       Charlotte fora ríspida e sabia disso, não era como se não estivesse feliz em saber que seu pai, por quem chorou tanto a morte, estava vivo. Ela estava feliz, mas isso não diminuía a raiva que estava por ele ter sumido por todos aqueles anos, a deixando acreditar em sua morte e o prantear.
       Alfred a viu bater a porta do banheiro atrás de si e do vestido marfim de seda que apesar de cobrir, revelava bastante, e depois ouvir a chave girando, então olhou para Christopher, que estava de olhos fechados, massageando as têmporas.
–Não é como se justo ela fosse estar com um cartaz de boas-vindas após tantos anos, não é mesmo? —Chris balançou a cabeça em negativa.
–Não, mas não esperava ser tratado com tanta raiva.
–Ela vai superar, só está com raiva agora e é teimosa demais pra admitir e mostrar qualquer outra coisa que não fúria. —Os olhos do homem abriram e focaram no rapaz, sentado muito tranquilamente em uma das cadeiras.
–Vocês são tão próximos desde quando?
–Eu acho melhor você ir pegar o café dela, antes que ela saia daquele banheiro. —Alfred deu um sorriso maroto. —Ela fica mais calma com uma dose de cafeína ou de chá bem forte.
       Christopher estreitou os olhos e encarou Alfred.
–Você é inteligente demais pra sua idade e própria sorte, Alfred.
–Eu sei. —Ele sorriu, pegando uma uva sobre a mesa e levando a boca.
         Alfred viu o homem rolar os olhos e sair do quarto, finalmente se viu sozinho, suspirou e deixou a tensão que sentia domina-lo por um momento, até ouvir a porta do banheiro ser destrancada, revelando Char com um vestido rubro e bem menos revelador.
–Será que isso é aceitável o suficiente? —Ironizou, seguindo até a cadeira próxima a ele.
–Dê uma chance a ele.
–Fala sério.
         Char fez um muxoxo e ele riu, atraindo o olhar dela.
–Sei que você tem direito a perguntas e explicações, mas eu tô curioso. —Comentou e ela ergueu uma sobrancelha, enquanto comia um pedaço de bolo. —Você e o Kyle?
         Charlotte não conseguiu evitar e acabou se engasgando, o que fez Alfred rir.
–Merda. —Pegou o copo de suco e virou em longas goladas.
–Não morre antes de me contar. —Zombou.
–Não sei de que merda tá falando. —Ela arriscou encara-lo, depois de se recuperar, não totalmente ainda.
–Ah, você sabe sim. —Ele sorria debochado, vendo o rosto vermelho dela por ter acabado de se engasgar. —Você ainda vai me contar.
–Não sei do que tá falando. —Repetiu e ele rolou os olhos, mas Christopher reaparecera no quarto, salvando Char de explicações.
–Não pense que se verá livre dessa questão, Chapeuzinho. —Falou enquanto o mais velho fechava a porta, equilibrando um bule e três xícaras sobre uma bandeja.
–Eu já disse o quanto te odeio? —Ela sorria para Alfred, apesar de tudo.
–Algumas vezes. —Ele sorriu de volta, abrindo espaço na mesa, para que Christopher colocasse a bandeja.
         Charlotte finalmente tomou um gole de seu café puro, forte e sem açúcar. Char sabia que todos achavam café amargo horrível, mas era assim que gostava e tinha que ser, principalmente em um momento como aqueles, somente isso para lhe dar forças para o que estava por vir.
          Todos já estavam sentados em algum lugar, mesmo Christopher arrastara mais uma cadeira para o quarto e a encarava.
–Por onde eu começo? —Christopher questionou, mais pra si que qualquer outra coisa.
        Charlotte fez um grande esforço pra não demonstrar nervoso e nem respirar fundo, na verdade o ar parecia escasso naquele instante. Mas ela sabia que teria que suportar, afinal revelações precisavam ser feitas e ela necessitava ouvi-las.


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Notas finais do capítulo

E ai? Curtiram?
Deixem seus comentários.
Beijos e até o próximo capítulo.



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