Amy Tokisuru em Portland escrita por AJ


Capítulo 7
Capítulo 7 - Respostas


Notas iniciais do capítulo

Opa! Olha eu aqui agradecendo a Leh de novo, rsrs. Mas fazer o quê? Ela é uma fofa mesmo *--*



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AMY

Amy não tinha certeza do que estava sentindo. Medo, raiva, tristeza... Talvez uma mistura dos três. A sensação que tinha era de que estava morrendo por dentro. Sua mente estava no limite. O que mais faltava acontecer para que ela surtasse completamente?

Mas Amy não podia se dar ao luxo de desabar agora. Seu amigo estava se afogando graças a um anfíbio superdesenvolvido. Mesmo que fosse loucura, ela precisava entrar no lago e salvar Jau. Mesmo que isso custasse sua vida.

Sem hesitar, pulou na água — que por sinal estava gelada — e, com dificuldade, conseguiu abrir os olhos e ver para onde Jau havia sido levado. Ele estava sendo carregado pela criatura, que nadava velozmente. Se continuasse assim, ela nunca o alcançaria, e seu amigo iria sentir falta de ar mais cedo ou mais tarde. Não! Não posso aceitar isso.

Amy não era boa nadadora, mas fez de tudo para poder alcançá-lo. Nadou e mergulhou com todas as suas forças. Seus braços cansaram, sua visão ficou turva, seu fôlego se esvaiu e estava prestes a perder a consciência. Acabou. Esse é o meu fim.

Então, algo inesperado aconteceu. Amy sentiu um forte puxão, tirando-a da água. Quando deu por si, já estava em terra novamente, às margens do lago.

— Mas o quê? — Ela se levantou rapidamente e olhou ao redor.

Logo Amy a viu. Sofia. Estava flutuando sobre o lago, convocando ventos fortes no mesmo. Conseguiu tirar Jau de lá através de um redemoinho, com monstro e tudo. Sofia controlou os ventos para pousar ambos no solo suavemente.

Sem esperar um segundo, Amy correu em direção ao amigo, que estava deitado e inconsciente. Ela ainda não havia se dado conta de que o monstro estava se levantando, rugindo ferozmente, como um porco-selvagem, pronto para atacá-la. Então uma águia — dessa vez de tamanho normal — voou em direção à criatura e arranhou os olhos desta com suas garras afiadas. O pobre anfíbio gemeu de dor e saiu correndo, confuso, em direção ao lago, espalhando um pouco de sangue verde por onde passava.

— Acabe com ele, Sárius — Sofia ordenou à sua águia.

Sem hesitar, a ave girou como uma broca e avançou contra o tórax da criatura. Sangue verde se espalhou por todo o lago. No lugar de onde deveria estar o coração do monstro, havia um enorme buraco. Antes que pudesse cair morto, uma fumaça lilás e espessa cobriu-o. Quando se dissipou, não restava mais nada além das manchas verdes de sangue.

Amy estava sem palavras. Ficou olhando perplexa para a ave, enquanto esta voava em direção à dona e pousava em seu braço sem nenhuma proteção contra as garras de Sárius. Então ela lembrou-se de que seu amigo ainda estava inconsciente. Colocou sua mão abaixo do nariz dele. Ela não pôde sentir sua respiração.

— Essa não. — Ela se ajoelhou sobre Jau e pressionou o tórax dele com as mãos, igual via nos filmes, para ver se ele reagia, mas nada aconteceu. — Por favor, Jau. Não faz isso comigo! — Seus olhos se encheram de lágrimas instantaneamente.

— Eu cuido disso. — Sofia tinha se aproximado tão vagarosamente que Amy se assustou com sua presença. — Permita-me. — Ela se agachou e tocou na testa de Jau.

Imediatamente, o garoto tossiu toda a água que havia engolido. Então olhou para sua amiga e sorriu. Logo após isso, seu rosto corou.

Só então Amy percebeu sua posição. Ela ainda estava ajoelhada sobre Jau. Saiu rapidamente de cima do amigo, com seu rosto enrubescendo também.

— Droga, seu idiota. — Ela estendeu a mão para ajudá-lo a se levantar. — Que bom que você está vivo. — Amy abraçou Jau, e ficou meio minuto assim.

Sofia pigarreou.

— Meninos. Eu odeio interromper o momento amoroso de vocês, mas...

— Você! — Amy soltou o amigo bruscamente e apontou para a garota com a águia ainda no braço. — Você nos trouxe para cá. O que você estava pensando?

Sofia murmurou algo que Amy não entendeu e levantou o braço, fazendo com que Sárius voasse para longe dali.

— A garota que controla as chamas. — Ela olhou Amy dos pés à cabeça. — Eu te trouxe aqui por que quero a sua ajuda.

— Minha ajuda? — Amy esbravejou. — Você me traz a um lugar desconhecido contra a minha vontade, coloca a mim e ao meu melhor amigo em perigo e ainda quer que eu te ajude?

— Fique calma, não queria te colocar em perigo. O fato de nós termos parado em lugares diferentes não estava nos meus planos. Foi um efeito colateral da mágica. Além disso, eu salvei a vida dos dois, não foi?

— Mas foi você que quase nos matou para começar. Eu me recuso a ajudar você.

Amy estava com tanta raiva que sentiu todos os fios de seu cabelo esquentarem em sua nuca. Vapor começou a emanar de seu corpo e suas roupas, antes molhadas devido à água do lago, começaram a se secar.

— Pense bem, garota. Eu sou a única pessoa que pode levar vocês de volta para casa. Sem mim, vocês vão ficar perdidos nesse mundo.

— Nesse mundo? — Jau se intrometeu na conversa. — E que mundo é esse?

— Mundo Portland — Sofia respondeu, sem olhar para o garoto. — Um lugar completamente diferente do mundo de vocês.

— Nos leve de volta para casa se não... — Amy levantou sua mão e esta se acendeu em chamas. — Eu vou matar você. — Ela tentou soar confiante, mas bem sabia que não tinha nenhuma chance contra Sofia.

Tudo o que a garota dos ventos fez foi soprar e o fogo na mão de Amy se apagou.

— Eu não quero te machucar, ruivinha. Só se você me der motivos para isso. — Sofia alterou seu tom de voz para impaciente.

Amy não sabia como responder a isso. Não hesitaria em atacar Sofia, mesmo que soubesse que iria perder a luta. Mas ela não podia arriscar com seu amigo por perto. A vida de Jau para Amy era mais importante que a dela própria.

— Por que me chamou de ruivinha? Eu sou morena... — Ela pegou uma mecha do seu cabelo e a levou para seu campo de visão, então percebeu que seu cabelo realmente estava avermelhado. — Mas o quê?

— Seu cabelo todo está assim, Amy. Ficou com esse tom quando você começou a gritar com a Sofia — Jau informou.

— Pois é. Efeito colateral da mágica. Eu já disse isso — Sofia esclareceu, mas ainda não fazia sentido. — Mágica é uma coisa perigosa aqui. Ela sempre tem efeitos colaterais ou se volta contra você de alguma maneira.

— Então eu vou ficar ruiva toda vez que usar o fogo ao meu favor? — Amy perguntou, para entender melhor o assunto. Mesmo que ainda não confiasse em Sofia, esperava que ela respondesse às suas dúvidas.

— Exatamente.

— Mais uma coisa — Jau disse. — Lá na Terra, quando perguntamos onde estavam todos da cidade que haviam desaparecido e você disse que fazia parte do ritual. Que ritual?

— O ritual é como o efeito colateral. Para que eu pudesse abrir aquele portal de teletransporte, é preciso que todos os considerados sem mágica se tornem ausentes por um tempo. Esse tipo de ação antes da mágica é chamado de ritual. A população já deve ter aparecido e ninguém irá perceber nada. Mais alguma pergunta?

— Espera. — Amy olhou para Jau, e então olhou para Sofia novamente. — Se todos os “sem mágica” deveriam desaparecer, como o Jau está aqui agora?

— Pois é. — Sofia olhou perplexa para o garoto. Nem mesmo ela parecia saber o porquê disso. — Mas enfim. Logo o sol irá se por. Devemos ir para casa do meu marido. Vou responder o que quiserem saber a mais quando chegarmos.

— Seu marido? Quantos anos você tem? — Jau perguntou, atônito.

— Dezessete — Sofia respondeu, indiferente. — Vamos.

Amy e Jau seguiram Sofia por alguns minutos, até chegarem a uma espécie de vilarejo, onde algumas pessoas estavam acendendo tochas na entrada de suas casas. Todas elas eram feitas com paredes de madeira marrom escura, e o teto, de um material negro que Amy nunca tinha visto.

Outras pessoas olhavam para o trio com expressões assustadas no rosto. Talvez já tivessem tido alguma experiência ruim com Sofia, ou então só estavam intrigados em ver garotos tão diferentes deles. Quem sabe Amy pudesse perguntar isso para a garota águia junto com as outras milhares de dúvidas que pairavam sobre sua cabeça.

Conforme o céu ia escurecendo, Amy foi notando que não havia lua ou estrelas no céu, e não era porque estava nublado ou algo assim. Aquele planeta definitivamente não era a Terra, e ela só havia se convencido disso nesse momento. Seu pai estava a quem sabe quantos anos luz daquele lugar. Ele iria ficar preocupado quando chegasse do hospital e não a encontrasse em casa. Precisava voltar o mais rápido possível, mas sabia que deveria fazer as vontades de Sofia para isso, ou nunca mais voltaria a ver seu pai.

— Ali — Sofia disse então, apontando para uma casa mais à frente.

Ela era um pouco maior que todas as outras, e as paredes, ao invés de serem de madeira, pareciam ser de tijolos e concreto, assim como as casas do planeta Terra. Já o teto continuava igual aos outros.

— Não se preocupem se meu marido agir um pouco estranho. Ele está meio... doente. — Sofia falou como se estivesse inventando essa desculpa na hora.

A porta funcionava do mesmo jeito que de costume na Terra. Sofia pegou uma chave dourada debaixo de um tapete velho e empoeirado no chão e destrancou a fechadura.

— Vocês têm costumes bastante parecidos com os nossos — Jau notou.

Sofia não disse nada. Abriu a porta e o interior da casa ficou visível. Tinha apenas três cômodos. A sala de estar, um quarto, e uma cozinha que possuía um fogão a lenha. Na sala, ao invés de uma TV e sofá, havia várias estantes com livros e outros objetos estranhos, além de grande um cristal luminoso pregado em uma das paredes. No centro, jazia uma mesa com algumas cadeiras. Numa delas, estava sentado um rapaz, ainda mais novo que Sofia, com quinze anos aproximadamente. Tinha cabelos com um estranho tom de amarelo que não se parecia com o louro tradicional. Ele estava lendo algo à luz de uma vela quando percebeu que a porta foi aberta.

— Sofia! Meu amor. — O rapaz sorriu e se levantou, para abraçar a esposa. — Não disse que ia trazer visitas.

— Oi — ela respondeu, sem emoção. — Jovens, esse é Bart, o meu querido marido. Bart, esses são Amy e um amigo dela. Os dois são da Terra. O planeta, quero dizer.

— Do planeta Terra? Isso é incrível! — Bart se dirigiu a Jau e tocou em suas bochechas, cabelo, ombros, como se estivesse fazendo uma revista policial. — Interessante. Mesma estatura, mesmo tom de pele, vestimentas quase semelhantes.... Vocês falam a nossa língua?

— Ah... sim — Jau respondeu, um pouco constrangido.

— Formidável! — Bart foi em direção a Amy.

— Se tocar um dedo em mim eu lhe esgano — a garota disse, sombriamente.

— Oh, interessante. — O jovem ignorou a ameaça de Amy e pegou nos cabelos dela. — Que belo tom de vermelho temos aqui. É parente de algum caipora?

Amy não sabia se era uma pergunta séria ou se o comentário foi para ofender, então olhou para Sofia como se estivesse pedindo ajuda.

— Bart, querido — Sofia falou. — Estamos um pouco cansados da viagem e ainda temos coisas a esclarecer. Poderia nos dar um tempo?

— Ah, é claro. — Bart se afastou e voltou a se sentar onde estava lendo seu livro.

— Puxa vida — Jau exclamou. — Eu retiro o que eu disse antes sobre costumes parecidos. Vocês se casam na adolescência.

— Jau, não é para tanto — Amy disse. — Em alguns países da Terra as pessoas se casam antes da puberdade.

— Verdade, mas aqui é diferente. Eles já têm casa própria e independência, sem pais chatos dizendo o que fazer. Vocês têm que ir à escola? — Jau perguntou à Sofia.

— Escola? Só se quisermos... E são poucos que podem — ela respondeu.

— Incrível!

— Chega — Amy disse, um pouco alto de mais. — Viemos aqui por outro motivo. Sofia, você disse que queria minha ajuda, portanto, desembuche.

— Muito bem — ela concordou. — Vamos conversar no quarto.

O quarto, de todos os cômodos, era o mais semelhante aos tradicionais da Terra. Uma cama de casal, uma cômoda larga com três gavetas, e um guarda-roupa de madeira escura na lateral. O lugar só não possuía iluminação.

— Esperem um segundo — Sofia pediu. — Eu vou acender as velas.

Imediatamente, Amy se concentrou assim como fizera de manhã, e todas as velas do quarto se acenderam espontaneamente.

— Sem demoras, por favor — ela disse, impacientemente.

— Tudo bem. — Sofia sentou-se na cama e convidou os jovens a fazerem o mesmo.

— Não, obrigado. Estamos bem — Amy respondeu.

— Vocês quem sabem. Então, quem vai perguntar primeiro?

— Ah, eu, eu! — Jau levantou a mão como se estivesse na sala de aula. — Bom. Apesar das diferenças, vocês têm costumes idênticos aos nossos. Como isso é possível?

Amy olhou para Jau com certa raiva. Ela não queria saber sobre a história de Portland, só queria dar o que Sofia queria e ir embora. Mas decidiu não dar broncas no amigo agora, afinal, ele quase morrera há alguns minutos.

— Uma história complicada — Sofia disse.

Ótimo, Amy pensou, como se já não estivesse complicado o suficiente.

— É o seguinte — a garota dos ventos continuou. — Nossos mundos já foram um só planeta, há uns cem mil anos, eu acho. Ele era governado pelos dois grandes deuses: Lucian, o deus da luz, e Quasar, o deus da escuridão. No entanto, os dois sempre estavam em conflito, pois eles possuíam ideais diferentes em relação ao planeta. Enquanto Lucian era a favor da magia, Quasar acreditava que ela deveria desaparecer, e que tudo poderia avançar sem ela. Esse conflito gerou muitas guerras e mortes. Quando os dois se deram conta de que não iriam chegar a lugar nenhum, resolveram dividir o planeta em dois. Quasar ficou com a Terra, e Lucian com Portland. Os dois planetas são idênticos. As fronteiras, os oceanos... A única grande diferença é que na Terra não existe magia. Bom, pelo menos não normalmente.

— Interessante — Jau disse, fascinado com a história que acabara de ouvir.

— É. Mas é claro que toda essa baboseira não passa de uma lenda. — Sofia deitou na cama preguiçosamente. — Ninguém realmente acredita que existam... Como posso dizer... Extraportistas.

— Mas você não só acredita como sabe de nossa existência — Amy apontou. — Tanto que foi até lá para me buscar.

— E tem mais — Jau continuou. — Quando o vento começou a soprar forte, ouvimos sua voz dizendo: minha vinda aqui não foi totalmente em vão. O que isso significa?

Sofia se levantou novamente, com uma expressão meio frustrada no rosto, como se pensasse: Eu digo coisas de mais.

— Eu estava atrás de outro garoto. Ele pode controlar a água. Mas, infelizmente, Richard, que controla o solo, chegou antes de mim, e o convenceu a entrar no grupo dos malvados. Nós acabamos numa luta, e quando eu finalmente obtive vantagem, eles fugiram. Vieram para Portland.

— Então eu sou só um prêmio de consolação para você? — Amy perguntou, com uma pitada de mágoa.

— Amy, escuta. — Sofia pegou nas mãos da garota. — Foi muita sorte que Richard não tenha notado sua presença. Quando eu te achei, foi como uma luz no fim do túnel. Talvez juntas nós possamos pará-lo.

— E qual o objetivo dele?

— Ainda não sei. Richard queria que eu me juntasse a ele, mas recusei. Então ele disse que iria procurar ajuda em outro lugar, em outro planeta. Ele sabia que você e o outro garoto estavam na Terra de alguma maneira.

— Como ele sabia? — Jau perguntou, coçando a cabeça.

— Ele sequestrou o meu marido. O Bart é fanático pela Terra, e já conseguiu provar algumas vezes que ela existe. No entanto, a maioria ignora ou não acredita. Mas Richard sabia que era verdade, e obrigou Bart a dizer como viajar para seu planeta. Quando eu descobri isso, imediatamente o segui.

Amy balançou a cabeça, tentando processar tantas informações. Aquela história era confusa de mais para ela.

— Só não entendi uma coisa — disse, apesar de ser mentira. Havia mais de uma coisa que ela ainda não entendia. — Se eu tenho mágica, por que eu estava na Terra, que é um lugar sem mágica?

— Não tenho certeza, mas só há uma explicação lógica. — Sofia respirou fundo. — Você foi levada para lá quando criança por alguém que não queria você aqui.

— Espera aí... O quê? — Aquilo não poderia ser possível. Se Sofia tivesse razão, então o pai de Amy, Thomas, não era realmente seu pai. — Não pode ser...

— Sinto muito Amy. Se tem uma família lá, podem não ter contado a você que é adotada. Você é uma portista.

E era justamente isso que faltava para fazer Amy surtar.


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