Amy Tokisuru em Portland escrita por AJ


Capítulo 6
Capítulo 6 - Céu Escuro


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo gostaria de agradecer à Leh que está acompanhando a história. Muito obrigaduuuuuu *--*



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WALTER

A sensação de ser teletransportado era horrível. Após a nuvem de fumaça ter coberto Walter totalmente, ele sentiu que estava dentro de uma câmara de gás lacrimogêneo. Ficou difícil respirar e enxergar, mas, após um minuto ou dois, a fumaça começou a se dissipar, e ele se viu em um lugar completamente diferente da praça onde estava antes.

Parecia-se com um bosque. O chão era composto por uma areia escura que cobria todo o local. As árvores ao redor eram muito estranhas. Possuíam caules marrons finos, mais finos que postes de iluminação. Estes se estendiam até formarem galhos e sustentarem folhas vermelhas, com formatos ovais, e estas brilhavam à luz tênue do sol.

— Caramba. — Walter se aproximou de uma das árvores e tocou seu tronco. Uma camada de poeira marrom envolveu a palma de sua mão. Ele tentou limpá-la em sua camiseta...

Então Walter percebeu que não estava usando sua camiseta.

— O quê? — Olhou para baixo, e viu que suas calças também sumiram. Estava apenas usando uma bermuda azul escura, com o desenho de um tsunami. — Mas o que foi que aconteceu?

— Efeito colateral da viagem — Rick respondeu.

Walter tinha ficado tão distraído com aquele estranho lugar que se esqueceu de que Rick havia vindo junto com ele. Olhou para o rapaz e viu que estava na mesma situação. Sem camisa ou calça, apenas com uma bermuda cinza e sem estampas.

— Efeito colateral? — Walter perguntou, atônito. — Do que está falando?

— Usar magia é um pouco complicado. — Rick respondeu, se aproximando mais de Walter.

Então ele percebeu que Rick tinha marcas estranhas no tórax. Era uma espécie de lepra, porém, formadas por pequenas rochas e pedregulhos.

— Isso não é contagioso, é? — Walter perguntou, um pouco receoso.

— O quê? Isso? — Rick olhou para o próprio tórax. — Não. Como eu disse antes, a magia tem efeitos colaterais, e isso é um deles. Aparecem quando eu uso muito o meu poder de terra.

Walter ficou menos preocupado, então percebeu que isso poderia estar acontecendo com ele, já que também utilizara muito seus poderes naquela tarde. Examinou seu corpo em busca de alguma anormalidade, mas não encontrou nada à primeira vista.

— Se está procurando por alguma anomalia — Rick disse, percebendo a preocupação do garoto —, sugiro que verifique o seu pescoço.

Imediatamente, Walter apalpou o seu pescoço, assustando-se no mesmo instante.

— Ah, não — ele choramingou. — O que é isso?

Walter sentiu no lado esquerdo de seu pescoço que havia dois relevos — a mesma sensação que tinha quando tocava nas brânquias das sardinhas que pescava algumas vezes nas docas. No lado direito também havia essas aberturas.

— Essa não! — ele exclamou, sem tirar as mãos de seu novo aparelho respiratório. — Eu estou virando um peixe!

— Veja pelo lado bom — Rick comentou. — Agora você pode respirar debaixo d’água.

— Mas eu tenho guelras! Isso é completamente fora do comum — choramingou.

— Pare de ser dramático. Ninguém vai te achar estranho nesse mundo. A maioria das pessoas tem alguma anomalia no corpo.

— Nesse mundo? — Walter parou finalmente de apalpar o pescoço. — Que história é essa?

Rick sorriu.

— Bem-vindo ao mundo de Portland. O lar da magia.

Walter ficou em silêncio por um tempo, tentando processar o que acabara de ouvir. Ele estava em um planeta completamente diferente da Terra, onde tudo se baseava na magia, algo que ele nunca imaginou que existisse — apesar de poder controlar a água.

— Então vocês são como... Bruxos e magos? — perguntou, pensativo.

— Pode-se dizer que sim — Rick respondeu, erguendo os ombros. — E, falando nisso, precisamos realmente falar com um desses magos. Ele pode estar em perigo. Sofia disse que o encontrou.

— Foi esse o mago que te deu aquela pedra tele transportadora? — Walter voltou a mexer em suas guelras.

— Exato. — Rick olhou para o horizonte. Faltava cerca de uma hora para o sol se por. — Estamos no Bosque dos Rubis.

— E isso é bom ou ruim? — Walter seguiu o olhar de Rick.

— Bem. O lado bom é que é um bosque inofensivo e livre de monstros à noite.

— E o lado ruim? — Walter temeu o que iria ouvir.

— O lado ruim é que estamos a dois dias da casa do Bart. — Rick pegou uma pedra do chão e começou a brincar com ela em sua mão. — Vamos ter que andar bastante.

A noite em Portland era muito mais escura que na Terra. Talvez o motivo fosse o fato de que não havia lua ou estrelas no céu. Era simplesmente uma imensidão escura e tenebrosa, que fazia Walter sentir arrepios, além do enorme frio que estava fazendo.

— Droga, Rick — Walter resmungou, abraçando o peito nu para se aquecer. — Por que é tão escuro e frio aqui?

— Portland não tem aqueles pontos brilhantes no céu como tem na Terra, como você já pôde perceber. Isso faz das coisas aqui um pouco diferentes de lá. — Rick não parecia se incomodar com o frio. Continuava andando normalmente, e mesmo na escuridão, não esbarrava em nada.

Walter já tinha perdido as contas de quantas vezes tinha tropeçado em alguma raiz alta ou pedregulho. Às vezes ele até dava de cara com uma árvore muito escura.

— Eu ainda não entendi uma coisa — Walter disse, após alguns minutos andando em silêncio.

Rick não respondeu nada, apenas grunhiu, como se não quisesse saber o que Walter entendia ou deixava de entender.

— Escuta — chamou. — O planeta Terra e Portland são lugares completamente diferentes, certo? Mas mesmo assim, você sabe falar português, e estava se vestindo como alguém da Terra se vestiria. Como isso é possível?

— É uma longa história sobre deuses nervosinhos e não estou nem um pouco a fim de explicar isso para você — Rick disse como se estivesse encerrando o assunto.

Walter entendeu, e resolveu ficar quieto. Continuou andando olhando para o céu sem estrelas e sentiu certa tristeza. Quando Walter era mais novo, passava horas observando as constelações com Renner, e as ligavam com linhas imaginárias para fazerem desenhos. Pensou que as pessoas do mundo de Portland não tinham essa experiência. As noites eram escuras, e todos provavelmente ficavam escondidos em casa, esperando ansiosamente pelo nascer do sol.

De repente, Walter viu algo voando no céu. Parecia-se com uma pequena estrela, mas estava se movimentando, deixando um rastro vermelho luminoso por onde passava. Estrela cadente, ele pensou. Renner dizia que se você fizesse um pedido para uma estrela cadente, ele se realizaria, como que por mágica.

— Eu só queria me aquecer — Walter sussurrou.

Então, uma das árvores no bosque começou a pegar fogo. Tamanho foi o susto do garoto que ele tropeçou numa rocha e caiu.

— Que diabos! — gritou.

— Walter — Rick chamou, preocupado. — O que foi que você fez?

— Eu não fiz nada. — O rapaz se levantou, protestando. — Eu só pedi para ficar aquecido e aí isso aconteceu.

Rick olhou para o céu — para o astro luminoso — e pareceu entender.

— Não se pode fazer pedidos às Feiticeiras — ele disse, como se fizesse todo o sentido. — Elas sempre entendem ao pé da letra. Os pedidos sempre se voltam contra você.

— Desculpa, cara. Eu não sabia. Na Terra não tem esse tipo de coisa. — Walter tentou se limpar da poeira negra do chão.

— Certo. Eu deveria ter te avisado. Mas temos um problema maior agora. O fogo vai atrair curupiras.

Walter achou que fosse brincadeira, mas à luz das chamas, percebeu que a expressão de Rick estava séria.

— Curupiras? Tipo aqueles indiozinhos com cabelos vermelhos e pés virados para trás?

— Fale mais baixo — Rick ordenou, já diminuindo seu tom de voz. — Olha, não sei como são os curupiras no seu mundo, mas aqui eles são seres sanguinários e assassinos.

— Em primeiro lugar, não existem curupiras na Terra. É só uma lenda. E em segundo lugar... Sanguinários e assassinos? Você não disse que esse bosque era inofensivo?

— E é. Mas nós queimamos uma árvore. Os curupiras não vão perdoar isso. São grandes protetores da natureza. Se não nos apressarmos ou não apagarmos esse fogo, mais cedo ou mais tarde um grupo deles vai chegar e nos estripar.

Walter engoliu em seco. Sentiu suas guelras abrirem e fecharem rapidamente, parecendo estar sentindo sua preocupação.

— Bem, então vamos apagar o fogo — ele sugeriu.

— Tem razão — Rick concordou. — Sente água por perto? Subterrâneo talvez...

Walter se concentrou para ver se achava algum sinal do líquido, porém não sentiu nada.

— Desculpa. Sem água.

— Tudo bem. — Então Rick ajoelhou-se, tocando a terra, e fechou os olhos.

Logo, grande parte na areia escura do chão começou a flutuar, e se agrupar em um ponto acima da cabeça de Rick. Num movimento rápido, ele abriu os olhos e apontou para a árvore em chamas. A esfera de areia disparou contra a planta, fazendo com que o fogo ficasse abafado, apagando-se.

— Pronto. — Rick se levantou. — Agora vamos embora, antes que...

Então os dois ouviram um alto assobio, como um pio de coruja.

— Rick — Walter disse, preocupado. — O que foi isso?

Rick não respondeu. Agora que estava escuro de novo, era difícil ver qual sua expressão.

— Rick?

Então, Walter sentiu algo picar a sua nuca. Checou-a, e viu que era um dardo.

— Ai, droga. — Ele caiu no chão, sonolento.

A última visão de Walter antes de desmaiar foi a de um ser com longos cabelos ruivos brilhantes puxando as suas pernas.


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Notas finais do capítulo

Reviews pleeease :)



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