Amy Tokisuru em Portland escrita por AJ


Capítulo 5
Capítulo 5 - Um Lugar Estranho




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AMY

Uma águia gigante. Depois de um dia cheio de surpresas desagradáveis, uma águia duas vezes maior que o tamanho padrão surgir foi o que faltou acontecer para fazer Amy surtar.

Após o livro aparecer aberto em cima de sua escrivaninha com uma possível ameaça de morte escrito na página, ela achou, no máximo, que o ser da capa negra de antes apareceria e a levaria para o além. Mas quando leu a frase “sua vida corre perigo”, a última coisa que passaria por sua cabeça era que uma ave de rapina enorme fosse passar voando por cima de sua casa.

Amy ainda estava sentada em sua cama, apavorada com o livro, quando ouviu o grito de uma ave. Achou o fato estranho e foi até a janela para verificar — um pouco manca, já que seu pé ainda estava machucado graças ao susto no banheiro. Então ela viu. Mesmo de longe, era possível perceber o quanto o animal alado era grande. Estava voando em direção à casa de Amy, numa velocidade incrível.

Por um momento, ela pensou que a águia estava vindo para matá-la, cumprindo a ameaça feita no livro, porém a ave passou por cima de sua casa e continuou seu trajeto. Isso não tornava o fato menos estranho. Amy se beliscou várias vezes para ter certeza de que ainda não estava tendo um pesadelo, mas, se fosse, ela não estava conseguindo acordar.

— Mas que droga! — Amy jogou o livro com toda a força contra a parede.

Imediatamente, o objeto começou a pegar fogo. Toda a raiva de Amy estava sendo descontada nele, que virava cinzas pouco a pouco. Logo, não havia mais nada além de poeira negra.

Após isso, pegou seu celular que estava dentro da mochila e ligou para Jau. O garoto atendeu após a terceira chamada.

— Jau — Amy chamou, quase em prantos. — Eu preciso de sua ajuda. — Ela se sentou na cama. — Acho que estou enlouquecendo.

— Pois é, Amy — Jau respondeu. — Eu acho que estou enlouquecendo também. Não vai acreditar no que acabei de ver.

— Me deixa adivinhar. Uma águia gigante? — ela perguntou, tentando decidir se ria ou se chorava. Ela não estava louca afinal.

— Como você sabe?

— Bom, Jau, isso prova que não estamos loucos. Nós dois vimos à mesma coisa, o que significa que... essa droga de águia existe mesmo!

O fato não poderia ser mais assustador. O que uma ave mutante viera fazer em sua cidade? Coisa boa não seria.

— O que quer fazer? — Jau perguntou.

Ela demorou um pouco antes de dizer.

— Vamos seguir a águia. — Amy se odiou assim que terminou a frase.

Era loucura ir atrás de uma ave gigante que provavelmente era hostil. Mas não ia simplesmente ficar em casa enquanto algo acontecia lá fora. Amy precisava ver o que estava havendo.

Jau pareceu hesitar, mas acabou concordando com a amiga.

— Vamos nos encontrar no lugar de sempre e ver para onde a ave foi.

Amy saiu de casa assim que desligou a chamada. Não havia nenhum rastro da ave na sua rua, portanto, ela não havia destruído nada. No entanto, conforme ia andando, Amy notou uma coisa estranha. Não havia ninguém. Todas as estradas pela qual passava estavam desertas, inclusive as docas, o que era estranho, já que, nessa hora do dia, ainda deveriam ter homens trabalhando.

Jau estava lá, esperando Amy, olhando para o ancoradouro e, provavelmente, se perguntando a mesma coisa que ela.

— Amy — ele começou. — Cadê todo mundo?

— E como eu vou saber? — ela respondeu, irritada. — Você acha que...

— A águia? Não. Aqui estaria destruído se ela tivesse devorado todo mundo, mas parece que está tudo intacto.

De repente, o vento começou a ficar mais forte. Soprava impiedosamente levantando a poeira e irritando a visão dos jovens.

— Que ótimo. — Amy colocou o braço na frente dos olhos para protegê-los. — E isso, Jau? O que você acha que é?

— Sinceramente? — ele disse, imitando o gesto da amiga. — Eu não sei. Deveríamos procurar um abrigo. Esse vento está me cegando.

— Certo, mas onde?

Jau não pôde responder. Ele foi interrompido por uma voz que parecia vir do próprio vento.

Ora, ora, pronunciou. Minha vinda aqui não foi totalmente em vão.

A voz era feminina, e tão gélida que dava calafrios. Vinha de todos os lados. Amy olhou aos arredores para ver se encontrava a dona da voz, mas com o vento forte foi impossível ver alguma coisa.

— Quem está aí? — Amy gritou, esperando respostas.

Ah, querida, sou apenas eu. O vento.

Amy não entendeu o que a voz quis dizer com isso, mas de alguma forma tinha relação com o fato de uma ventania forte ter se formado de repente.

— Para onde foram todas as pessoas? — Jau perguntou, lembrando-se deste detalhe.

As pessoas? A voz gargalhou. Não se preocupe. Elas se tornaram parte do ritual, mas foi inevitável.

— Ritual? — Amy estava ficando cada vez mais confusa. — Do que está falando?

Queridinha, não tenho tempo de explicar os detalhes. Você só precisa saber de uma coisa. Eu e você vamos fazer uma viagem.

Então ela apareceu. A dona da voz surgiu de repente na frente de Amy, que, mesmo com as vistas ruins graças à ventania, conseguiu descrever a estranha como alta, pele rosada, e tinha cabelos negros longos, que estavam esvoaçando com a força do vento. Seu vestido branco cobria-lhe todo o corpo, e não estava usando nada nos pés.

— Quem é você? — Amy perguntou de novo, desta vez, querendo respostas mais razoáveis.

— Pode me chamar de Sofia, e, como eu disse antes, vamos fazer uma viagem. — Sofia segurou com força o braço esquerdo de Amy.

— Me larga! — Amy tentou se soltar das garras da garota, mas foi inútil. A magrela era mais forte do que parecia.

— Não se preocupe. Não vai doer nada.

Então todo o vento parou completamente. Amy sentiu como se o ar estivesse sendo sugado de seus pulmões. Olhou para cima e viu uma coisa ainda mais estranha que uma águia gigante. No céu, um estranho vórtice escuro começou a se formar, que ia aumentando cada vez mais, ficando parecido com um buraco-negro.

— O quê?! — De repente, Amy ficou apavorada, mais do que ficara durante o dia todo. — Você não pode estar querendo dizer que...

Sofia apenas riu como se estivesse assentindo o que Amy pensou. As duas iam ser sugadas por aquele vórtice e parar em outro lugar.

— Ei, sua bruxa — Jau gritou. — Não vou deixar que leve minha amiga a lugar algum sem mim. — O garoto correu em direção a Sofia, provavelmente para empurrá-la e fazê-la soltar Amy.

No entanto, assim que Jau tocou na vilã, um raio negro caiu em cima dos três. Amy sentiu como se tivesse sido pega por um tornado.

A viagem realmente não doeu. Mas ser sugada com toda a força por um buraco-negro era tão divertido quanto correr a duzentos quilômetros por hora num trem desgovernado. Para Amy, pareceu como se estivesse escorregando num enorme tobogã preto, o que era péssimo, já que odiava esses tipos de brinquedos.

Então ela finalmente caiu. Para sua sorte, havia aterrissado em algo macio. Levantou-se devagar, um pouco tonta graças à viagem. Percebeu que havia caído num estranho amontoado de gosma azul-marinho, o que era nojento. Seu corpo estava cheio de meleca azul agora.

— Mas que droga é essa? — Amy pegou um pouco do estranho elemento que estava em seu cabelo e o examinou.

Tinha cheiro de peixe podre e água do mar, misturados. Ela sentiu náuseas só de imaginar de onde aquilo poderia ter vindo. Tentou se limpar o máximo que pode. Quando terminou, explorou os arredores. O lugar não parecia ser habitado, havia apenas árvores estranhas de uma espécie que ela nunca tinha visto na vida. Os troncos eram de um cinza escuro, assim como as raízes, que estavam expostas, fazendo com que ela tropeçasse periodicamente. E o mais esquisito eram as folhas. Longas, lilases e brilhavam à luz fraca do sol. Amy as acharia bonitas, se não fossem tão assustadoramente exóticas.

Então, a garota se deu conta de que nem Jau e nem Sofia estavam por perto, o que a deixou nervosa. Precisava encontrar o seu amigo antes que algo de ruim acontecesse.

— Jau — ela gritou. — Você está aí?

Nenhuma resposta. Amy ficou aflita. Vários minutos se passaram e quanto mais ela andava, mais achava que não havia ninguém naquela floresta. Seus pés já estavam começando a doer. Sentou-se em uma das raízes acinzentadas para poder descansar.

— Droga, Jau. — Seus olhos se encheram de lágrimas. — Cadê você?

Ela odiava pensar que seu amigo poderia estar morto. Seja lá o que Sofia queria, o assunto era com Amy. Jau apenas se intrometeu, então ele era apenas um fardo que a garota ventania poderia se livrar.

Levantou-se, triste, e voltou a andar. Pouco tempo depois, ela finalmente se deparou com algo que não era uma planta: um lago. Uma bela manancial de águas azuis e cristalinas, que refletiam a luz do sol, que não estava muito forte.

Amy correu em sua direção e tentou lavar os restos de gosma azul que haviam ficado nela. De repente, ouviu um alto pedido de socorro.

— Jau? — ela reconheceu imediatamente. — Jau, é você? — Levantou-se e olhou ao redor.

À primeira vista, nem sinal do rapaz, porém, Jau apareceu entre as árvores, correndo como se estivesse fugindo de algo medonho.

— Jau! Aqui! — Amy gritou, feliz por ver o amigo.

O amigo a viu e continuou correndo, assustado, mas dessa vez em direção a ela.

— Amy, nós temos que correr... — Ele parou, ofegando tanto que quase desmaiou. — Tem um... um... um monstro atrás de mim!

— O quê? Monstro? Jau, do que você está falando? — Em outras ocasiões, Amy poderia achar que era brincadeira ou loucura, mas ele estava sério de mais para ser mentira (além do que, este dia estava indo de mal a pior).

— É... Sim... — Ele tomou mais fôlego e começou a descrever o tal monstro: — Era grande... Desse tamanho. — Levantou seus braços para o alto o máximo que pôde. — E era azul, tinha dentes afiados, rugia!

— Fica calmo. — Amy olhou para o lado da floresta de onde Jau tinha saído. — Olha. Seja lá o que for que estava correndo atrás de você, desistiu.

Jau seguiu o olhar da amiga.

— É... talvez... — Respirou, aliviado. — Onde é que nós viemos parar?

— Não sei — ela respondeu, decepcionada. — Estou com medo. Esse lugar não é normal.

— Jura? — Jau olhou para Amy sarcasticamente. — Deveríamos nos esconder antes que aquele monstro volte.

— Pode ser, mas só tem árvores estranhas para todo lado. Onde iríamos nos esconder?

— Não sei, só...

Então parte da água do lago começou a borbulhar, como se algo estivesse emergindo.

— O que é isso? — Amy perguntou, nervosa.

— Não sei, e não quero ficar para descobrir. — Jau segurou o braço da amiga delicadamente. — Vamos Amy.

Antes que a garota pudesse reagir, ela viu algo sair do lago, algo terrivelmente assustador.

Era grande e azul, assim como Jau descrevera. Sua pele era escamosa e tinha duas presas saindo de sua boca. Suas mãos de anfíbio possuíam grandes ventosas e, em menos de um segundo, agarrou a perna de Jau, puxando-o para a água.

O garoto gritou desesperado. Amy tentou segurar seu braço, mas o monstro era mais forte do que ela. Seu amigo foi levado para o lago.

— Não... NÃO! — Amy gritou, em desespero, enquanto via Jau e a criatura desaparecerem nas águas cristalinas.


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