Amy Tokisuru em Portland escrita por AJ


Capítulo 4
Capítulo 4 - Águia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/689799/chapter/4

WALTER

Walter não sabia para onde ir. Depois que fez a estupidez de revelar os seus poderes e causar um acidente logo em seguida, tudo o que pôde fazer foi correr. Correu tanto que já tinha esgotado todas as suas forças. Seus membros inferiores imploravam por descanso. Estava quase sem fôlego algum. Ele teve que parar.

Ficou tão exausto que caiu no chão. Respirar era difícil, e seu diafragma estava doendo muito. Mas ele não estava longe o bastante. Logo, a notícia do homem do rio Glacial iria se espalhar. Mesmo que ninguém acreditasse nas histórias de um pescador, seria difícil ignorar a palavra de muitos pescadores.

Walter levantou-se e limpou a poeira. Olhou ao seu redor e viu que estava em uma praça, mas não conseguiu recordar qual, haviam muitas na cidade de Almada. Sentou-se em um dos bancos e refletiu. Por que mesmo ele havia feito isso? Ah, certo. A garota de cabelos castanhos. Walter se sentiu um idiota. Teve vontade de chorar. Claro que ele não fez isso, era orgulhoso demais — mesmo que ninguém estivesse olhando. Ficou lá, sentado, olhando para o céu, se perguntando para onde iria. Talvez ele pudesse roubar um carro e sair da cidade. Não, pare de pensar isso. Walter podia ser qualquer coisa, exceto um criminoso.

Permaneceu sentado por vários minutos, olhando para os carros que estavam passando. O que ele estava esperando? Tinha que correr. Um milagre não iria cair do céu.

Quando Walter menos esperava, uma mão tocou em seu ombro, que fez com que ele virasse imediatamente.

— Você? — Walter disse, levantando-se. — O que está fazendo aqui?

— Fica calmo, garoto — Rick pediu. — Eu só vim conversar.

— Da última vez que queria conversar, você me pediu para assassinar alguém.

— Talvez eu tenha dito de maneira errada. — Rick se aproximou mais de Walter. — Me escuta, por favor. Eu preciso da sua ajuda.

— Não, sai fora — Walter recuou. — Eu já tenho meus próprios problemas. Não quero me envolver com pessoas como você.

— Você já está envolvido, Walter. Você é um de nós. Precisa se juntar a mim ou...

— Ou o quê? — Walter desafiou. — O que você vai fazer comigo?

Rick não respondeu imediatamente. Ele meditou, e então respondeu:

— Não vou fazer nada. — Rick sentou-se e suspirou, cabisbaixo. — Pode ir embora. Eu não vou mais te procurar.

Walter estava achando aquilo muito fácil.

— Só isso? Não vai mais me procurar? Mas está se esquecendo de que eu moro aqui. E você deve ter vindo do México ou sei lá de onde.

— Em primeiro lugar — Rick disse, levantando a cabeça para encarar Walter — não faço a menor ideia do que seja México. E em segundo lugar, eu vi a sua briga com aquele homem. A julgar pela reação de todos, não estão acostumados com os seus poderes, o que significa, Walter, que você quem precisa ir embora. E quanto antes melhor. Logo ela vai aparecer.

— Mas que droga, cara! — Walter gritou, sem se importar se alguém iria escutar. — De quem você está falando? Por que você nunca diz algo que faz sentido?

Rick não respondeu. Parecia estar prestando atenção em outra coisa, pois virou para trás, apreensivo.

— Essa não. — Rick levantou-se. — Não pode ser.

— Não pode ser o quê, Rick? — Walter perguntou, mas logo percebeu do que Rick estava falando.

Ele pôde ouvir um som muito alto e agudo, como o guincho de uma águia. Também ouviu um som estrondoso, como o bater de asas de uma ave — uma ave gigante.

— O que é isso? — Walter perguntou a Rick, aflito.

— Ela está aqui — ele respondeu, como se fosse óbvio. — Eu achei que ela me seguiria, mas... tão rápido?

— Ela quem, Rick? — Walter se enfureceu novamente. — Será que pelo menos uma vez você pode explicar as coisas?

— Sofia, ela está aqui. — O rosto de Rick estava tão apreensivo que nem se parecia com o cara de dois dias atrás, todo decidido e autoritário. — Ela veio me pegar. Nos pegar.

Walter resolveu não fazer mais perguntas. O que ele viu voando no céu fez com que ele se calasse completamente.

Ele tinha ouvido o som de uma águia porque a criatura realmente era uma. A única diferença é que esta era duas vezes maior que uma águia comum, o que fazia dela extremamente assustadora. As penas de sua cabeça eram brancas, possuía um bico torto amarelo e pontudo, e o resto de seu corpo era constituído por penas negras. Além disso, tinha enormes garras, quatro em cada pata, o que fazia da ave uma ameaça maior ainda.

— Isso é... — Walter gaguejou. — Uma águia...

— Sárius — Rick respondeu. — É a ave de Sofia. O que significa que ela deve estar...

Bem pertinho, uma voz feminina completou.

Walter de repente teve calafrios. A voz que ouviu era gélida e tenebrosa, parecida com o sibilar de uma cobra. Não dava para saber de onde ela tinha vindo. Walter olhou ao redor e não viu ninguém.

— Fique atento — Rick aconselhou. — Ela pode aparecer...

Em qualquer lugar, a voz feminina completou a frase de Rick de novo. Ah, meu pequeno Rick. Achou mesmo que poderia se esconder de mim?

— Sofia! — Rick gritou. — Pare de se esconder atrás desse pássaro e apareça.

Quem é você para me dar ordens? Apesar de continuar falando, não havia nenhum corpo visível, o que deixou Walter cada vez mais amedrontado.

— Vamos resolver isso longe daqui — Rick implorou.

Não, meu amigo. Você veio até aqui porque quis, e me fez um grande favor. Agora eu posso capturar dois coelhos com apenas uma cajadada. Ouviu-se uma risada.

— Droga — Rick resmungou. — Walter, me escuta só dessa vez. Vai embora, corre!

Walter não hesitou em obedecer. Começou a correr igual a antes, e de repente toda a dor que sentira nas pernas voltou. Mesmo assim, continuou correndo. No entanto, seu caminho foi bloqueado pela enorme águia, que pousou de súbito em sua frente, causando um temor tão grande em Walter que o fez cair.

Não vou deixar você fugir de mim, queridinho.

Por um momento, Walter chegou a pensar que o dono desta voz era a própria águia, porém, a imagem de uma garota apareceu em sua frente de repente.

— Prazer em conhecê-lo, rapaz da água — ela disse, sorrindo. — Meu nome é Sofia, a dama dos ventos.

Sofia era alta e magra, com cabelos negros e longos que iam até a cintura. Sua pele era rosada, e seu rosto era cheio de sardas. Aparentava ter cerca de dezessete anos. Estava usando um longo vestido sem mangas branco que ia até os pés. O mais impressionante nela eram os olhos. Cinzentos e profundos, e gritavam afastem-se.

— O que... quer comigo? — Walter gaguejou, enquanto se levantava.

— Só quero uma aliança, querido. — Sofia aproximou-se de Walter tão rápido que seus olhos não puderam acompanhar. — Você não é nada mal. — Ela tocou no rosto de Walter, deixando-o constrangido. — Tão fofinho e bonitinho. É bem do jeito que imaginei, e ainda melhor. — Sofia praticamente fungou o garoto. — Você tem um delicioso aroma de peixe. Eu adoro peixes.

Walter se afastou das garras da garota águia.

— Dizia algo sobre alianças — ele mudou de assunto.

— Não confie na Sofia, Walter — Rick interferiu. — Lembra-se da pessoa que eu queria que você eliminasse? É ela.

Walter olhou para Rick com indignação. Como ele, sozinho, poderia matar uma garota que apareceu montada em uma águia gigante com garras enormes?

Sofia devia ter se sentido da mesma forma, pois começou a gargalhar.

— Ah, Rick, por favor. — Tentou parar de rir para continuar falando. — Sinceramente, de todos os seus planos, devo dizer que esse foi o mais estúpido.

— Teria sido um bom plano se você não tivesse aparecido aqui. — Rick fez uma expressão tão séria que Walter se assustou.

— Então, da próxima vez — Sofia disse, parando de rir — certifique-se de apagar todos os vestígios de que você fez uma viagem dimensional. Não demorou muito para que eu descobrisse a existência daquela peste com quem você falou. Você deveria ter matado ele. Mas claro que não fez isso. Você é um coração mole. Não tem nada a ver com o seu poder.

— Pelo menos eu tenho um coração — Rick retrucou. — Você sequestrou alguém precioso para mim para poder me chantagear. Você é horrível.

— Eu estava ficando impaciente, querido Rick. Eu já tinha feito de tudo para que você pudesse se juntar a mim, e você se recusou. Eu tinha que tentar algo diferente. E sabe de uma coisa? Eu realmente achei que dessa vez você iria ceder. Mas o que você realmente fez? Fugiu. Fugiu para encontrar alguém que me matasse no seu lugar. Só assim poderia se livrar de mim, não é Rick?

— É. Você adivinhou tudo. Mas sabe de uma coisa? — Rick sorriu. — Já que está aqui, neste mundo, não vai poder fazer mal a Lilly. — Sem mais nem menos, Rick avançou com todas as suas forças em direção à Sofia, gritando alto.

— Ah, por favor. — Antes que Rick pudesse lhe dar uma investida, Sofia desapareceu no ar novamente.

— Talvez você tenha razão. Não posso fazer mal a ela agora. Mas quer ter uma batalha aqui? Neste mundo?

— Está de brincadeira? — Rick abriu o sorriso mais ainda. — Eu estou louco para isso.

Então, o rapaz deu um soco forte na terra, que causou um terremoto perigoso. Walter caiu de novo e já estava começando a ficar envergonhado por causa disso.

— Garoto — Rick chamou, dirigindo-se a Walter. — Saia daqui. Eu distraio a Sofia.

Sim, Walter queria muito dar o fora, mas ver Rick tão empolgado em batalhar por alguém com quem se importava fez com que se sentisse um covarde por ter cogitado fugir da vez anterior. Decidiu ficar. Talvez ele só atrapalhasse estando ali, mas precisava fazer alguma coisa. Não poderia mais fugir de seus medos. Tinha que encará-los e nunca mais fugir.

— Desculpe, Rick — respondeu, levantando-se pela segunda vez. — Eu vou ficar.

Rick parecia não entender a decisão do garoto, mas não discutiu. Então eles notaram que a águia de Sofia havia levantado voo novamente. Seus guinchos estavam mais altos, como se fossem gritos de guerra.

— Tudo bem, Walter — Rick começou. — Se vai ficar, precisa me ajudar. O que sabe fazer?

— Bom... Hoje mais cedo eu controlei a água e a fiz sufocar um garoto. Isso serve?

— Talvez, mas... — Rick olhou ao redor. — Não estou vendo água por aqui. Você sente a presença dela em algum lugar?

— Eu não tenho certeza, eu...

Garotos, a voz de Sofia ecoou pelou vento. Parem de tagarelar e prestem atenção em mim.

Então, uma enorme rajada de vento afastou os dois um do outro. Sofia não queria que Walter e Rick conversassem mais do que deveriam, o que era problema para Walter, já que ele não sabia o que fazer.

Apenas lembrou-se da última pergunta que Rick fez para ele. Você sente a presença da água em algum lugar? Walter tentou se concentrar bastante. Nas docas era fácil, já que havia água por todos os lados, mas naquela praça, não havia quase nada, exceto... Walter finalmente sentiu o líquido correndo de baixo dos seus pés. É claro! Os encanamentos.

Sofia estava bem focada em atacar Rick usando a águia, para a sorte de Walter. Assim, ele tinha mais tempo para se concentrar. Mas era difícil, assistindo a uma batalha tão alucinante quanto aquela. Rick desviava de todas as tentativas da águia de investi-lo, agarrá-lo ou bica-lo. Fazer escudos de pedra também era um de seus truques. Às vezes, ele também atacava, controlando rochas medianas e arremessando elas em direção à ave. Esta ficava tonta na hora do ataque, mas logo se recompunha, e voltava a tentar acertar Rick.

— Walter — ele gritou, enquanto desviava de mais uma investida de Sárius. — Você pode começar a me ajudar a qualquer momento.

— Ah... certo. — Walter voltou a se concentrar na água dos canos no subsolo da praça.

Ele conseguia sentir sua presença, mas não era forte o suficiente para fazê-la subir. Precisava de uma ajuda. Então se recordou de que Rick havia dado um soco no chão e causado um tremor alguns minutos atrás. Talvez ele pudesse fazer mais do que causar apenas tremores.

— Rick — Walter chamou. — Será que você poderia fazer uma rachadura no chão? Ficaria mais fácil para mim.

Rick desviou de mais uma tentativa da águia de agarrá-lo, então respondeu:

— É claro que eu posso. — Rick não perguntou o porquê de Walter querer o chão partido, apenas fez o que ele pediu. Com apenas mais um soco, uma cratera surgiu no meio da praça.

Era o suficiente para Walter. Concentrou-se o máximo que pôde até conseguir, finalmente, fazer a água levitar, como antes, nas docas.

— Legal — Rick elogiou.

Ah, por favor, Sofia disse, sem estar presente. Acha mesmo que pode comigo, Walter?

— Talvez sim, talvez não — o rapaz respondeu. — Mas de qualquer maneira... — Walter controlou a corrente de água em direção à Sárius, fazendo com que a ave se desequilibrasse e perdesse altitude. — Isso é por ter dito que eu tenho cheiro de peixe, vadia.

Ah, você ficou magoado? Ela disse, tentando alcançar um tom fofo, o que era difícil com sua voz de cobra. Pois eu vou lhe mostrar o motivo pelo qual eu gosto de peixes. Sárius, vai!

A ave esqueceu-se da existência de Rick e avançou contra Walter, abrindo seu bico o máximo que pode.

— Essa não — Walter lamentou-se.

Seria o seu fim. Ele acabaria como comida de uma ave gigante, controlada por uma garota estranha de outra dimensão. No entanto, um muro de pedra foi erguido em sua frente em poucos segundos. Sárius bateu seu bico com tanta força que guinchou alto de dor. Walter estava salvo. Ele olhou para Rick, agradecendo com um sorriso, mas Sofia pareceu ter ficado furiosa, pois os ventos estavam ficando mais fortes.

— Isso não é bom. — Rick se aproximou de Walter novamente, o suficiente para poderem conversar sem gritar. — Não podemos continuar lutando aqui. Vamos acabar destruindo tudo e ferindo pessoas.

Rick tocara num assunto importante. Walter olhou ao redor em busca de pessoas que pudessem estar gritando de pavor com as cenas horríveis que estavam se desenrolando naquele lugar. Porém, ao não ver ninguém por ali, o rapaz finalmente se lembrou que parte da cidade era aquela. A praça que há pouco tempo fora abandonada pois em poucos dias o local seria destruído e transformado em uma propriedade privada do governo. Bom, o lado bom era que os responsáveis não iriam ter que se preocupar com a parte da destruição.

Mesmo assim, seria bom se eles dessem um jeito de irem ainda mais longe, pois aquele lugar, mesmo abandonado, era muito visível. Qualquer um que ficasse curioso com os barulhos e tremores que estavam acontecendo ali poderia se aproximar e acabar se machucando por culpa de Sofia.

— Você tem razão, mas para onde vamos? — Walter questionou a Rick, tenso.

— Vou voltar para o meu mundo. — Rick pegou do bolso de sua jaqueta uma pedra lilás e brilhante. — Foi com isso que eu vim para o seu planeta. Posso voltar para lá o usando de novo.

— Ah é? E isso pode levar nós dois? — Walter perguntou, ignorando completamente a parte que Rick dissera que era de outro planeta.

— Talvez... — admitiu Rick.

— Talvez?!

A conversa foi temporariamente interrompida, pois eles viram que um tornado estava se formando no meio da praça. Se eles não andassem logo com isso, seriam puxados pelos ventos fortes e, enfim, derrotados.

— Você precisa confiar em mim, Walter — Rick pediu.

Walter hesitou, mas decidiu que era melhor tentar isto do que ficar ali e lidar com a fúria de Sofia.

— Tudo bem.

— Obrigado. Vamos no três. Um. Dois... — Rick jogou a pedra no chão com toda a força.

Então, os dois foram envolvidos por uma espessa fumaça lilás e desapareceram.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem até aqui e, se gostaram e querem mais, deixem suas reviews!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amy Tokisuru em Portland" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.