Amy Tokisuru em Portland escrita por AJ


Capítulo 16
Capítulo 16 - TR




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WALTER

Após o susto, Rick não perdeu tempo em se levantar e correr para dar um abraço em sua amada. Ficaram um bom tempo assim. Walter não podia ver a expressão de Rick, já que estava de costas para ele, mas Lilly derramava lágrimas e sorria o tempo todo. Ele imaginou que o amigo estava exatamente assim.

Sarah não entendeu o motivo de tamanha surpresa da parte do casal, mas Rick assegurou que explicaria tudo quando pudesse. No momento, ele precisava ficar a sós com Lilly. Eles foram para o antigo quarto de Rick para conversar, enquanto Walter terminava de tomar o seu chá.

Passado mais ou menos dez minutos, Rick reapareceu na sala e olhou para Walter com uma expressão dura. Sem entender a razão, Walter se levantou e foi em direção ao rapaz.

— Alguma coisa errada? — perguntou.

— Precisamos conversar, Walter — Rick disse, e o instruiu para que o seguisse até o quarto.

Ao entrar, viu Lilly sentada no baú de madeira. A garota era esbelta e alta, com cabelos negros que iam até a metade de suas costas. Em seu braço moreno esquerdo, enxergava-se um corte não muito fundo que estava cicatrizando-se. Fora isso, não parecia ter acontecido nada mais grave. Sua roupa que uma vez devia ter sido branca, agora estava suja de terra e grama. Ela encarava Walter com uma expressão apreensiva, e ele ficou sem entender o motivo.

— O que está acontecendo? — Walter soou preocupado, exatamente como estava.

— TR. Esse nome te lembra alguma coisa? — Rick cuspiu as palavras, como se estivesse perguntando algo que já sabia a resposta.

Walter ficou sem saber o que dizer. A verdade era que ele conhecia esse nome, mas só o tinha ouvido no sonho que teve na noite passada. Como Rick poderia saber disso se ainda não tinha tido a oportunidade de contar sobre o sonho a ele?

— O que tem ele? — perguntou, medindo cuidadosamente as palavras que ia dizer.

— Foi esse desgraçado que sequestrou a Lilly, não a Sofia. Ela é só uma criada dele. — Rick olhou ainda mais severo para Walter antes de continuar. — E ela não é a única.

Foi aí que Walter finalmente entendeu o porquê de tanto ódio no olhar.

— Espera. Você não está achando que eu sou criado do TR, está?

— Calma, Walter. Ninguém está te acusando de nada. — Dessa vez foi Lilly quem falou. — Nós só queremos saber o que está acontecendo.

— É, e eu também quero, porque também não estou entendendo nada. — Walter tentou falar baixo, mas não conseguiu. Ele não gostava de ficar encurralado assim, ainda mais com Rick achando que ele estava envolvido nisso.

— Tudo bem. Então vou explicar tudo do início. — Lilly se levantou o colocou a mão no ombro de Walter, para acalmá-lo. — Enquanto eu fui refém do TR, eu o vi praticar uma série de rituais antigos.

— Que tipo de rituais?

— O tipo que faz ele entrar no sonho de alguém — Rick respondeu.

— Exatamente — Lilly confirmou. — Com esse ritual, ele conseguiu entrar nos sonhos de certas pessoas. Uma delas era Sofia Seiko.

— E como a Sofia sabia que a Lilly era importante para mim, não tenho dúvidas de que TR usou esses sonhos para dar instruções a ela — Rick explicou enfim.

— Agora eu entendi. — Walter balançou a cabeça. — E como eu fui uma das pessoas que teve os sonhos invadidos por TR, vocês acham que eu estou trabalhando para ele também.

— Nós não dissemos que você está trabalhando para o TR, Walter — Lilly falou. — O fato é que eu só pude ouvir os nomes que ele usou, mas não vi os sonhos.

— E nós ficaríamos agradecidos se você pudesse nos contar. — Foi o que Rick disse, mas para Walter soou mais como “E você vai nos contar se não quiser que eu acabe com você”.

Walter suspirou. Ele não poderia esconder o que TR disse em seu sonho ou Rick nunca mais iria confiar nele. Precisava contar tudo em detalhes, incluindo a parte que o vilão dizia que eles eram irmãos.

— Rick, você tem que acreditar em mim — Walter começou. — Eu não conheço o TR. A primeira vez que ele falou comigo foi no meu sonho essa noite. Eu não te contei porque achei que era apenas um pesadelo idiota. Não pensei que fosse real.

— E o que ele queria com você? — Rick perguntou, impaciente.

Walter foi forçando sua memória para se lembrar de cada detalhe do sonho. Ele estava na cabine, então saiu e encontrou Renner. Ele estava sendo possuído por alguma coisa. Walter perguntou quem era, e ele respondeu.

— O TR disse que é meu pai.

Rick ficou olhando para Walter com uma expressão tão difícil de explicar que ele preferiu desviar o olhar e encarar o chão para continuar contando.

— E não é só isso — Walter continuou. — Ele disse, que você, a Sofia e eu somos todos filhos, ou melhor, criações dele.

Houve um longo e tortuoso silêncio. Ficou tudo tão quieto que Walter conseguiu ouvir vários sons fora do quarto. Os grilos cantando. A passos da mãe de Rick na cozinha. Até murmúrios de pessoas fora da casa.

— Você está mentindo, não está? — Rick quebrou o silêncio.

— Só estou repetindo o que o TR disse — Walter explicou. — Eu também achei que fosse mentira.

— Ele disse apenas isso?

— Bom. Ele também mencionou outra garota. Uma tal de Amy Toko... Amy Toki...

— Amy Tokisuru — Lilly completou.

Os rapazes a encararam como se ela tivesse acabado de dizer um palavrão.

— Conhece essa garota? — Rick foi o primeiro a perguntar.

— Não, mas ela foi uma das pessoas a qual TR usou o ritual do sonho — a garota explicou. — Foi pouco antes dele entrar nos seus, Walter.

— Eu não entendo. O que é que o TR quer? — Walter perguntou para ninguém em especial.

— Não sei, mas coisa boa não é. — Rick olhou para Walter mais uma vez. — Olha, Walter, eu não acho que você esteja mentindo. Para o seu bem é melhor que não esteja mesmo.

— Rick, é a verdade. Eu juro. — Walter não mentiria para o único amigo que tivera na vida. Ele não gostava que ficassem duvidando dele.

— Certo. — Rick suspirou. — Nós dois temos que saber o que esse maldito está querendo.

— Eu quero ajudar também — Lilly disse, levantando-se.

— Não, Lilly — Rick protestou. — Você já passou por muita coisa. Eu quero que você fique segura aqui com os meus pais. — Antes que a garota pudesse responder, Rick continuou falando. — Walter, vamos continuar com o plano de ir até o Bart. Se existe alguém que sabe de tudo, esse alguém é ele.

— Quanto falta para chegar lá? — Walter perguntou, já imaginando que ia ter que andar até estafar novamente.

— Se formos andando, só amanhã — Rick respondeu, tão animado quanto Walter estava.

— Pode não dar tempo. Se TR não precisa mais de mim, então ele deve estar planejando algo para hoje — Lilly alertou.

— Tem razão, mas de que outro jeito nós podemos chegar lá?

— Eu tenho uma ideia — ela disse, sorrindo.

Antes de saírem da casa, Sarah ofereceu para os rapazes algumas camisas que pertenciam ao pai de Rick, já que eles estavam só de bermuda desde que chegaram em Portland. Eram camisas simples de lã marrom claro, e serviram nos dois já que eles tinham mais ou menos o mesmo tipo físico.

Lilly os levou para conhecer um estábulo não muito longe. Era bem grande e antigo, feito com paredes de tijolos que deviam chegar aos seis metros de altura. A grande porta de madeira de eucalipto estava aberta, e eles entraram sem problemas.

Lá dentro vários cavalos estavam presos. Várias cores e raças podiam ser encontrados ali, desde pardos até escuros, grandes até pequenos.

Havia um velho homem cuidado dos animais ali. Ele estava colocando feno para um dos equinos quando o trio se aproximou.

— Senhor Midas? — Lilly chamou.

O velho parou o que estava fazendo e olhou para a garota. Eles deviam ser amigos, pois o ancião de cabelos e barba espessa grisalha sorriu.

— Lilly, Rick. — Midas encarou Walter. — Você é novo para mim.

— Walter é um amigo meu — Rick explicou. — Senhor Midas, a gente precisa de um favor.

— Pode pedir qualquer coisa, meu rapaz. — Midas tinha uma voz grossa e o sotaque de alguém que, na Terra, teria vindo do interior.

— Eu e Walter precisamos ir à um lugar e queríamos um de seus cavalos emprestado.

— Entendi. — Midas largou o tridente a qual estava usando para dar feno ao equino e pediu que o grupo o seguisse.

Alguns passos depois, eles pararam na frente de um curral onde jazia um cavalo grande, com pelugem castanho escuro e uma cara não muito simpática.

— Esse é o Allen. — Midas abriu a porta do curral e acariciou o focinho do animal. — Acabou de ser alimentado.

— Perfeito — Rick falou. — Então, Walter, já andou de cavalo antes?

Não. Walter nunca havia andado de cavalo. Ele nem sequer chegara perto de um alguma vez. Não que ele tivesse medo, Walter só não tivera a oportunidade.

— Não é muito difícil, é? — Walter podia não ter medo, mas sempre que fazia algo pela primeira vez ficava meio nervoso.

— Não se preocupe. Sou eu quem vai cavalgar. — Rick riu. — Você só precisa ficar atrás e se segurar.

Walter assentiu.

Midas pegou uma sela dupla que estava pendurada em uma estaca na parede e levou cerca de dois minutos até conseguir ajustá-la no cavalo. Depois, instalou um cabresto no animal e ofereceu a corda a Rick.

— Obrigado, senhor Midas — disse Rick pegando a corda. — Vou ficar te devendo uma.

— De nada. — Midas deu dois tapas amigáveis no ombro de Rick. — Você sabe que pode contar comigo sempre que quiser. Agora, se me dão licença, eu preciso voltar a alimentar os meus cavalos.

Rick puxou o cavalo com calma para fora do estábulo. Allen parecia estar um pouco estressado pois volta e meia ele dava uma de teimoso e parava de andar. Walter não teria paciência em uma situação dessas. Ele provavelmente puxaria o cavalo com irritação, então o animal acabaria vencendo-o, empurrando-o para o chão. Mas Rick foi totalmente compassível e, quando Allen parava, ele dizia algo como “Vamos, garoto. Está tudo bem”, e o equino voltava a andar.

Quando eles finalmente estavam do lado de fora, Rick passou a corda que segurava Allen para Walter, para que ele pudesse se despedir de Lilly. Walter não pode recusar esse favor. Ele ficou nervoso olhando para o cavalo que o encarava descontente. O garoto esperava que os cavalos não pudessem sentir o medo nos seres humanos assim como os cachorros.

— Eu tenho que ir agora Lilly. — Walter ouviu Rick dizer. — Prometa que vai ficar segura aqui.

— Sim — a garota respondeu. — E você prometa que vai tomar cuidado com aquele monstro.

Rick aproximou seu rosto de sua amada e lhe deu um beijo. Um longo e demorado beijo. Walter desviou o olhar, um pouco constrangido. Ele não pôde deixar de sentir um pouco de inveja do amigo. No fundo, Walter também queria poder ter alguém que pudesse amar e ser amado. Claro que ele não conversava sobre isso com ninguém. Nas docas, sentir amor era um sinal de fraqueza. Algo que seus inimigos poderiam usar contra você, exatamente como TR estava fazendo com Lilly e Rick.

— Vamos, Walter. — Rick subiu no cavalo e se ajeitou na sela.

Subir no equino foi trabalhoso. Walter levou cerca de dois minutos para conseguir e nesse período ele teve certeza de ter escutado Rick rir daquele momento embaraçoso.

— Agora se segura e aproveite a viagem. — Rick deu um chute de leve na barriga do cavalo e ele disparou rumo a um campo extenso ao lado do vilarejo.

Andar de cavalo não era tão ruim. Primeiro porque Walter não precisava usar suas próprias pernas, portanto não iria se cansar. Segundo porque era bom sentir a brisa da tarde batendo no rosto serenamente, expulsando qualquer sensação de calor que Walter poderia sentir. Allen era rápido, eles não iriam demorar a chegar em seu destino.

O único lado ruim foi o fato de que a sela não era muito confortável. Depois de quase uma hora na garupa, Walter já estava com o bumbum dormente. A sorte foi que Rick sugeriu que eles parassem para descansar assim que chegaram perto de um pequeno lago.

Walter desceu, esticou as canelas e bebeu um pouco da água doce do lago. Rick fez a mesma coisa após amarrar o cavalo em uma árvore perto da margem para que ele pudesse beber um pouco também.

— Então, Rick — Walter puxou assunto, debruçando-se próximo às margens do lago. — Sei que não é da minha conta, mas o que você e a Lilly conversaram quando estavam a sós?

— Bem. — Rick terminou de lavar o rosto e respondeu: — Eu pedi mil desculpas a Lilly por ter desistido dela. Então ela disse que estava tudo bem, e que eu fiz o certo em não me juntar a Sofia e TR.

— Que bom que ela foi compreensiva. — Walter fechou os olhos e usou os braços para apoiar a cabeça na grama. — Você é um cara muito sortudo, Rick.

— Eu sei. — Rick se deitou na grama também.

— Como foi que ela escapou? — Walter continuou a perguntar. Não podia evitar ser curioso.

— Depois que o TR terminou seus rituais nojentos, Lilly caiu no sono, e quando acordou ele tinha desaparecido. — Rick fez uma breve pausa. — Esse TR... Ele é maligno, Walter. Ele machucou a Lilly. Nunca vou perdoá-lo por isso.

Walter abriu os olhos e ficou a observar as nuvens. Pelo menos o céu durante o dia, no mundo Portland, era igual ao da Terra.

— Ela disse qual era a aparência de TR? — perguntou a primeira coisa que lhe veio em sua mente, depois de estar ficando quase sem ideias sobre o que questionar.

— Não. Disse apenas que era um rapaz jovem. — Rick se levantou. — Mas não vem ao caso. Já descansamos o bastante. Vamos prosseguir.

Walter queria ficar mais um pouco ali deitado, mas Rick tinha razão. Ele levantou-se enquanto o amigo desamarrava Allen da árvore.

Os dois cavalgaram por pelo menos mais duas horas, sem parar. Nesse período eles já haviam passado por todo o campo e chegado a uma floresta densa e de árvores com raízes altas, o que os obrigou a diminuir o ritmo.

Depois de uma eternidade, eles finalmente atravessaram aquele bosque. Sem a copa das árvores para cobrir o céu, Walter pôde ver o sol quase se pondo no horizonte.

— Estamos chegando, Walter — Rick avisou.

Após a floresta não demorou muito para que eles avistassem outro vilarejo. As casas desta vila eram um pouco diferentes que as do vilarejo da família de Rick. Ao invés de serem feitas de pedras cinzentas, eram construídas com madeira, muito provavelmente dos troncos das árvores escuras na floresta a qual haviam acabado de atravessar. Os telhados eram negros como o céu do mundo Portland a noite.

Pouco antes de entrarem na vila, Rick e Walter desceram do cavalo e o deixaram amarrado em outra árvore, que estava mais escondida nas sombras. Rick explicou que não era raro que pessoas tivessem seus animais roubados.

— Finalmente chegamos. — Rick suspirou. — Estou ansioso para rever o Bart.

Walter deu uma boa olhada no vilarejo e depois disse:

— É. E eu estou ansioso para conhecê-lo.


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