O Grande Inverno da Rússia escrita por BadWolf


Capítulo 53
Novos Rumos


Notas iniciais do capítulo

Olá,

Após a tensão do ultimo cap, finalmente teremos o começo do fim da fanfic. Começaremos a ver, aos poucos, qual será o desfecho dos personagens.

Boa leitura!



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            A noite já havia caído e Grigori e Georgi ainda não haviam despertado. Era evidente, pelo hematoma encontrado no braço de cada um, que os dois meninos tinham sido sedados por Sokolov, numa possível tentativa de manter o controle das crianças e evitar que elas cometessem qualquer besteira durante a negociação. A julgar o batimento cardíaco, não muito devagar, Holmes sabia que, pelo menos, o anestésico aplicado não era morfina. Um sedativo forte, é claro, mas não um narcótico. Ao menos isto, aliviava-se o detetive. Grigori já havia sido sedado com morfina uma vez e não era do desejo de Holmes que o menino fosse exposto à droga novamente.

            -Quando será que elas acordarão? – perguntava Esther, após entregar ao seu pai um prato quente de sopa. Pela primeira vez, Esther, Holmes e Abraham estavam reunidos na cabana, à beira da lareira, sem um clima pesado sob suas cabeças. Afinal, as crianças estavam a salvo. No entanto, todos ali sabiam que os problemas estavam ainda longe de estarem plenamente resolvidos.

            -Não muito. Eles estão começando a se mexer. Creio que em breve acordarão.

            -Sim, e nos encherão de perguntas. – disse Holmes, após dar uma colherada na sopa feita por Esther. Apesar de aquela sopa ter sido feita com ingredientes simples, Holmes sabia distinguir o toque de sua esposa naquela refeição. Prestes a fazer uma observação elogiosa quanto a isto, Holmes foi interrompido pelo bater repentino da porta, que fez Esther e seu pai Abraham se aturdirem. Enquanto Holmes se levantava para verificar a porta, Abe correu para sua arma, colocando-a em suas mãos.

            -Koba. – disse Holmes, ao notar que era o bolchevique quem estava ali.

            -Pode abaixar a arma, velho. – disse Koba, com o semblante sério. – Não tenciono violência por aqui. Apenas vim ter uma conversa com... Seja lá qual for seu nome.

            -Meu nome é Sherlock Holmes. – apresentou-se o detetive. – E a julgar pelo seu comportamento, presumo que Koba não seja seu nome verdadeiro.

            -Meu nome é Josef Vissarionovitch Djugashvili, e pode parar de me chamar de Koba. Acho que Stálin combina mais comigo.

            -Stálin. “Homem de Aço”. Não é muita pretensão sua chamar a si mesmo desta forma? – questionou Esther, intervindo na conversa.

Koba – ou Stálin – ergueu uma sobrancelha para o comentário de Esther.

            -Acredito que essa é a judia a quem você tomou por esposa. – ele disse. – Mas não estou aqui para discutir a respeito de suas... “preferências altamente questionáveis”, Mr. Holmes. O fato é que Lev Sokolov está morto, mas deixou um legado naquela Fazenda. Um legado composto por cerca de vinte crianças do qual eu sou incapaz de dar explicações coerentes à Lenin.

            Holmes e Esther se entreolharam.

            -Sokolov fazia experimento com essas crianças, Koba.

            -Experimentos? Mas que tipo de experimentos? – perguntou Koba, atônito.

            -Um remédio, que ele acreditava ser capaz de suprir o ser humano com todos os nutrientes necessários à vida. – explicou Holmes, do modo mais simples possível, por imaginar que o bolchevique era leigo em Química.

            Koba levantou-se, acendendo um cigarro, sem perguntar aos presentes se deveria fumar ali ou não. Soltou uma forte baforada no ar, antes de fazer qualquer comentário. Abe parecia desgostoso com sua petulância, em agir naquela casa como se fosse seu território.

            -Então, ele queria criar um tipo de remédio capaz de substituir comida?

            -À grosso modo, sim. – respondeu Holmes.

            Como esperado, Koba reagiu muito mal, fazendo Abraham estremecer.

            -Maldito filho da puta! Enquanto meus homens economizam munição e mal têm o que comer, esse desgraçado desvia dinheiro da causa para inventar remédio!

            -Não tenho dúvidas de que foi ele quem matou Daniel Jenkins. – completou Holmes.

—Sua afirmação é correta, Holmes. Ele parou com os desvios da nossa causa e passou a receber verbas da Okhrana. E só não recebeu antes porque Jenkins deveria ser contra esse “projeto” dele, se assim posso chamar. Daniel Jenkins era um facínora, mas ao menos não era burro. Foi isto o que me trouxe para cá. Cheguei a toda a verdade sobre ele quando descobri que foi um homem infiltrado entre os meus homens quem deu aquele disparo em Jenkins. Tudo a mando dele.

            Holmes assentiu.

            -O que fará com as crianças, se eu posso questioná-lo a respeito? – perguntou Abraham, educadamente como de seu feitio. Koba deixou o cigarro cair no chão e o apagou com a sola da bota, deixando Esther desgostosa com sua grosseria, assim como o seu pai.

            -Pelo que vi, são todas inteligentes, bem cuidadas. Não sobreviverão um dia nas ruas de São Petersburgo ou Moscou, se forem abandonadas à própria sorte. Provavelmente Trótsky terá algum plano adequado para elas. Essa coisa toda de “pensar e estudar” combina mais com ele. Irei acioná-lo e deixarei que ele resolva este problema.

            Sem fazer qualquer despedida, Stálin simplesmente se direcionou até a porta e saiu da casa como um relâmpago, deixando apenas as cinzas de seu cigarro fedorento no chão.

            -Que sujeito estranho. E grosseiro. – disse Abe, limpando o chão.

            -Não gosto dele. – opinou Esther.

            -Eu também não, se isso te conforta. Mas é inegável que ele nos ajudou. De sua forma torta, mas nos ajudou. Mas não é Koba, ou “Stálin”, quem me preocupa, mas aqueles dois meninos deitados naquela cama.

            -Entendo sua preocupação, meu genro. Afinal, vocês terão de saber o que dizer a eles quando estiverem despertos. – alertou Abraham.

            O casal se entreolhou.

            -Não sei quanto a você, mas eu não quero dizer a verdade, Sherlock.

            Holmes ficou em silêncio. Sabia o que Esther queria dizer. Que um deles, apenas um deles, era o filho legítimo. O outro era neto do Duque Ivanov, grande inimigo da família de Esther, e também de Holmes.

            -A verdade é importante, mas nem sempre é necessária. – disse Abraham.

            Holmes ficou em silêncio. Seu semblante era neutro. Tomando um cigarro de seu bolso e acendendo-o, o detetive parecia pensativo.

            -A alternativa mais segura para sairmos daqui é adotá-los legalmente.

            Havia repugno no semblante de Esther, ao ouvir suas palavras. Mesmo Abraham parecia surpreso com o tom frio de Holmes em sua proposta. Percebendo que sua opinião tinha sido mais fria do que desejava, o detetive tentou se justificar.

            -Só estou tentando ser prático.

            -Claro. Não poderia esperar nada diferente de suas palavras.

—Irei arrumar o lixo lá fora. – disse o idoso, desejando deixar os dois às sós, ao perceber que a discussão poderia se acalorar. Com o bater da porta e a certeza da ausência de seu pai, Esther respirou fundo, aliviada por saber que não precisava mais representar o papel de esposa na frente de seu pai.

            -Uma adoção. Nenhum laço sanguíneo formado, apenas laços jurídicos, em papéis. Parece servir bem a você, Sherlock.

            -Não podemos proclamar nenhum dos dois meninos como Jonathan Holmes. É melhor voltarmos à Inglaterra trazendo os dois como nossos filhos adotados.

—Não era isso o que eu desejava. – retrucou Esther.

—Oh, é mesmo? Então, o que você desejava? Contar a eles toda a história? Satisfazer seu ego e assim poder afirmar de cabeça erguida a todos que conseguiu encontrar seu filho, ainda que custe manchar as duas figuras paternas que os meninos possuem?

—Bem vejo que não conhece Grigori tão bem como disse. Pois se conhecesse, saberia que os pais deles, o senhor e senhora Morozov, eram figuras distantes. Os meninos passavam mais tempo com a babá Elizabeth do que com eles.

—A verdade pode parecer dura aos seus ouvidos, Esther, mas você precisa entender que a lacuna de pai e mãe na vida desses meninos já está preenchida. De forma positiva ou negativa, já está preenchida. Se queremos ficar com eles, teremos de assumir um papel diferente.

Esther bufou revoltada.

—Eu não me conformo.

—É a opção mais segura e plausível que possuímos. Terá de se conformar.

            Após as palavras de Holmes, seguiu-se sobre a sala um silêncio aterrador, quebrado apenas pelos sons emitidos por Holmes durante suas baforadas em seu cigarro.

            -Eu não consegui. – disse o detetive, olhos baixos, focados no nada.

            -Não conseguiu o quê? – perguntou Esther, apesar de saber ao quê ele estava se referindo.

            -Deduzir qual deles era o meu filho. – disse o detetive, sem tirar os olhos de seu cigarro. – Eu... Eu acho que já não sou mais o mesmo.

            -Sherlock...

            - Eu já descobri, pelo menos umas duas vezes em minha carreira, situações em que meu cliente, ou um suspeito, era filho ilegítimo de alguém. Sabe, por meio de traços hereditários. A íris do olho, o formato das orelhas, o cabelo... Mas quando me coloquei diante daqueles dois meninos, eu... Eu tive dúvidas. Não enxergava com clareza, não tinha certeza. Eu perdi minhas capacidades dedutivas. Quando eu percebi que não era capaz de saber qual deles era, eu... Eu jamais me senti tão fracassado, em toda a minha vida. Agora vejo que minha aposentaria jamais se fez tão necessária.

            Após sentir a mão de Esther a tocar seu braço, Holmes voltou seus olhos para ela. Curiosamente, ela parecia compreender sua situação.

            -Não pode aplicar a razão em um caso que envolve emoção, Sherlock. Não estamos falando de um filho de um desconhecido, mas de seu filho. E você não conseguir agir racionalmente em relação a isto me dá um pouco de esperanças quanto à você. Portanto, não se sinta culpado por seu fracasso. – ela disse.

            -O que está me pedindo é quase impossível, Esther. Tudo o que vivemos aqui na Rússia é culpa minha. Eu deveria ter te escutado desde o momento em que você voltou para casa. Deveria ter transformado a busca pela nossa criança o caso não só de minha carreira, mas de minha vida. E o que fiz? Procurei por alguns meses, e logo perdi as esperanças. Eu entendo se você jamais me perdoar.

            Esther sentiu-se retraída com a menção da palavra “perdoar”. Afinal, ela estava pronta para perdoá-lo? Ela sentia notável arrependimento em suas palavras. Ainda assim...

            -Eu poderia dizer que o perdoo para confortá-lo, mas isso seria mentira.

            Holmes curvou os lábios, lentamente. Parecia que ele já esperava por tal resposta. Mais um pouco e ele acertaria todas as palavras proferidas por ela. Afinal, Esther sempre fora uma pessoa rancorosa. Perdoar não era algo de seu feitio.

            -Foi o que pensei. Acredito que sua perda será uma cicatriz que jamais cicatrizará. Ainda assim, espero de todo o meu coração, que um dia você possa me perdoar.

            -A vida me ensinou que dizer a palavra “nunca” é algo leviano, até mesmo para o rancor.

            -De um modo estranho, isso me reconforta. – disse Holmes, tentando pegar-lhe sua mão. Esther retraiu-se levemente ao seu toque, mas por fim, acabou por aceita-lo. Algo que o detetive viu por um avanço.

            -Está um pouco frio aqui fora... – era a voz de Abraham. Esther riu.

            -Melhor deixar meu pai entrar.


§§§§§


            -Georgi... Georgi, acorda!

            O menino Georgi sentiu alguém sacudir seu ombro. Seu sono estava pesado, como jamais sentira. Ele se sentia preguiçoso, mais do que o normal quando precisava acordar cedo para as aulas de Educação Física. Com a visão turva, o menino abriu seus olhos, para se deparar com seu irmão Grigori, completamente descabelado.

            -Me deixa em paz, Grigori... – disse o menino, voltando para o travesseiro.

            -Como você consegue pensar em dormir, sem sequer saber onde está? Hein? – resmungava Grigori, cutucando Georgi no ombro.

            -Está bem, estou acordando! – resmungou o menino, atirando seu travesseiro contra Grigori. – Agora, pare de me cutucar.

            -Tudo bem, eu paro. – disse Grigori, satisfeito.

            -Onde estamos? – perguntou Georgi, estranhando o lugar.

            -No quarto de Mr. Abe. Você se lembra dele?

            -Ah, sim. O idoso que você me disse. Quer dizer, então...

            -Que fomos resgatados! – exclamou Grigori. – Venha, eu vou te apresentar o Mr. Holmes. Puxa, você irá gostar muito dele, eu tenho certeza...

            -Mas Grigori... A casa está muito silenciosa e escura. Não acha que eles estão dormindo?

            Grigori ignorou o apelo de Georgi, e puxou seu irmão pelo corredor, até chegar a sala, onde encontrou Mr. Holmes dormindo no chão, como fizera nas últimas noites. Para sua completa abismação ele não estava sozinho. Ao notar que ele estava dormindo abraçado a uma mulher, o menino não pôde deixar de ficar boquiaberto. Sua reação, no entanto, foi mais discreta que a de Georgi, que ao se deparar com a cena, não pôde deixar escapar uma exclamação, alta o bastante para acabar com o silêncio da sala.

            -Professora Dasha?! – exclamou Georgi, fazendo o casal acordar imediatamente. Esther quase ficou em choque pela forma inesperada com a qual foi acordada. O susto do casal fez Grigori ameaçar uma risada, mas ele se conteve a tempo.

            -Crianças... Vocês acordaram. – disse Esther, com o semblante sonolento.

—Estão sentindo alguma coisa? Tontura, boca seca, algo do tipo? – perguntou Holmes, como se fosse um médico.

            -Não, sir. – respondeu Georgi, educadamente.

—Apenas um pouco de fome. – assinalou Grigori.

—Então, você está bem. Fome é algo que você sempre sente, Grigori. – disse Holmes, com diversão. Ao ouvir a queixa do menino, Esther se levantou imediatamente, ajeitando sua roupa.

—Irei esquentar um pouco de sopa. Para os dois.

—Mas professora... Eu já disse que... – protestou Georgi, em vão. Esther parecia ignorá-lo, e como uma típica mãe atenciosa, foi até a cozinha de seu pai, começando a reacender o fogo.

—Sentem-se. – disse Holmes, arrumando as cobertas.

—Mas o senhor estava dormindo. Não queremos incomodá-lo. – alegava Georgi, sempre educado.

—De forma alguma. Venham, fiquem à vontade. – disse, fazendo as crianças se sentarem ao sofá, próximo de si. Percebendo que Georgi não parava de repará-lo, Holmes decidiu se apresentar.

—Meu nome é Sherlock Holmes.

—Grigori me explicou. O senhor é o detetive dos livros, de quem falava a Professora Dasha. Eu não sabia que vocês...

—Nós somos casados. – completou Holmes o raciocínio do menino.

—Mas Mr. Holmes... A sua esposa não se chamava Esther? Por que Georgi a chama de Dasha, então?

—Foi um disfarce. O nome verdadeiro dela é Esther.

—Esther... – repetia o nome. – Mas porque ela estava disfarçada?

Para “salvação” de Holmes, Esther finalmente chegou com a sopa, fazendo a conversa terminar, pelo menos por hora. Ainda havia isto, pensou Holmes. O quê Esther fazia na Fazenda, longe de seu país e disfarçada? Ele não queria contar sobre Sokolov e seu plano diabólico de criar uma superpílula usando crianças – inclusive Georgi – como cobaia. O que ele diria, então?


§§§§§


—Crianças, há algo que precisamos conversar.

Grigori e Georgi haviam acabado de tomar seu café. Abraham havia ido à cidade para comprar passagens para o trem de volta à São Petersburgo, portanto Esther e Holmes acharam que este era o momento mais oportuno para conversar com as crianças. O casal já havia combinado contar sobre a adoção, e ambos já haviam ensaiado uma história. No fundo, os dois temiam uma rejeição, por mais que a hipótese fosse absurda para ser levantada por dois meninos que, aparentemente, sofreram um bocado da vida e não tinham família ou rumo definido.

Os dois meninos sentaram-se à mesa, com o semblante tranquilo. Esther e Holmes, sentados do lado oposto da mesa, tentavam ao máximo disfarçar seu nervosismo.

Foi Esther quem decidiu começar.

—Meninos, o que gostaríamos de contar é que...

—... Vocês são nossos filhos. – interrompeu Holmes, causando pasmo a Esther. Os dois meninos arregalaram os olhos imediatamente com a revelação de Holmes. Esther estremeceu, temendo ser esta uma reação indicativa a uma rejeição.

—Filhos? Como assim? – foi Georgi quem tomou a iniciativa. – Nós tínhamos um pai, uma mãe... Eu me lembro.

—Eu também me lembro. Lembro também da Liz. – assentiu Grigori. Holmes assentiu. Provavelmente, estavam comentando sobre Elizabeth, a babá que cujo rastro, curiosamente, levou Esther até a Rússia.

—Vocês eram filhos adotivos. Foram levados de nós quando crianças, e por um engano foram criados pela família Morozov. Mas vocês dois são nossos filhos.

Esther engasgou, ainda sem acreditar que Homes seguiu um plano exatamente oposto ao que havia sugerido, e sem informa-la.

Foi a vez de Grigori falar.

—Mas Mr. Holmes, eu me lembro de que o senhor estava atrás da esposa, mas em nenhum momento o senhor mencionou que tinha filhos. Não me lembro disso.

—Esther, minha esposa, veio até a Rússia porque estava atrás de nossos filhos. Só mais tarde, eu descobri que são vocês. E desculpe-me, Grigori, por não ter mencionado a criança -, digo, as crianças— para você. Esse era um ponto doloroso demais para mim.

Grigori recolheu os olhos. – Entendo.

—Então... Vocês são nossos verdadeiros pais? – questionou Georgi.

—Sim. – disse Esther, que permanecera quieta porque ainda tentava absorver todo o teor da conversa. Mais tarde, ela teria uma conversa séria com Holmes, quando as crianças não estivessem por perto.

—Quais eram os nossos nomes? Digo, vocês devem ter escolhido nomes diferentes para a gente, não? – perguntou Grigori, curioso como sempre. Georgi acabou sorrindo com a idéia.

—Provavelmente não eram Georgi nem Grigori. – disse o menino.

Oh, Holmes. Agora eu quero ver como você irá se safar dessa, já que só possuíamos um nome...

—Sheridan Jonathan Holmes e...

Urgh! Essa tradição de escolher nomes bizarros da família Holmes!

—... Sarasate Benjamin Holmes. – completou Holmes, deixando Esther boquiaberta. Por Adonai! Ainda bem que eu não o deixei escolher o nome do bebê! E que história é essa de Sarasate?!

Os meninos ficaram em silêncio. Provavelmente estavam tentando digerir a idéia de ter tais nomes bizarros e provavelmente estrangeiros demais para sua mentalidade. Diante da reação atônita dos garotos, Holmes acabou por deixar escapar uma gargalhada, que não tornou o acontecido mais agradável aos meninos.

—Não se preocupe, iremos manter os nomes de vocês.

Os meninos não se contiveram e deixaram escapar um suspiro aliviado.

—Entao, iremos morar na Inglaterra? –perguntou Georgi.

Holmes assentiu, no que era apenas a primeira pergunta de uma série que praticamente tornou aquela conversa uma sabatina. Esther até se limitava a responder uma coisa ou outra, mas deixou a tarefa toda para Holmes. Ao que tudo indicava, ele tinha um talento para mentir com o qual ela não poderia competir.

Por fim, exaustas de tanto perguntar e tendo sua curiosidade temporariamente saciada, as duas crianças esqueceram o assunto, indo brincar na neve, do lado de fora. Holmes e Esther estavam mais uma vez sozinhos, e como era de se esperar, Esther não deixou passar a oportunidade de discutir reservadamente com Holmes.

—Por que fez isso?

Holmes deu de ombros.

—Não ficou satisfeita com o que fiz?

—Sua pergunta não responde a minha pergunta. Por que? – insistiu Esther.

O detetive bufou.

—Porque você estava certa. Não seria justo deixar a lacuna de pais deles preenchida por um casal ausente, que decerto teve filhos por mera exigência da sociedade. Minha opinião teria sido diferente se soubesse que os Morozov foram excelentes pais. A propósito, você se engana quando diz que não conheço Grigori tão bem assim. Pois o conheço muitíssimo bem, e foi exatamente o silêncio dele a respeito dos pais que me fez concluir, bem antes de você, que os Morozov os tratavam com frieza. Pois o tempo todo ele me pediu para que eu encontrasse o irmão, não os pais. Esse não é o tipo de pedido que uma criança sequestrada faz.

Esther suspirou.

—Claro, de você, nenhum elogio vem completo.

Holmes piscou os olhos, descrente.

—Estou cansado de ouvir essa frase.

—Como?!

—Nada. Mas enfim, começamos essa conversa com a palavra “primeiro”, portanto o que mais você tem a tratar comigo?

—Você se aproveitou de mim.

Holmes arregalou os olhos. – Como é?!

—Sabe que tenho o sono pesado, e o que fez? Aproveitou-se do meu cansaço para me abraçar enquanto eu dormia. Dormimos abraçados e sem meu consentimento. Quão baixo é você, Holmes.

Holmes riu.

—Você não parecia nem um pouco incomodada.

—Não faça insinuações. Estou há noites sem dormir decentemente, preocupada com as crianças. E mal posso desfrutar sossegadamente de meu momento de paz porque você se aproveita dele para...

—Está falando demais, Esther. Não fiz nada desonroso em seu sono.

—Que seja. Só não quero que isso se repita. Nunca mais. Entendeu? Não somos mais um casal. Estamos dormindo juntos porque meu pai ainda acredita nisso e não quero aborrecê-lo com más notícias. Mas logo a farsa cessará, pois contarei tudo a ele aos poucos, e inclusive sobre seus erros como marido. Tenho certeza de que ele me dará razão quando ele souber que não quero reatar.

Holmes suspirou, pesadamente, sentindo-se derrotado.

—Está bem. Se sua vontade é esta, eu vou respeitá-la.


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Notas finais do capítulo

Mais um chega pra lá da Esther, rs. E Holmes é bem sacana, se aproventiando para dormir de conchinha com ela - não usei esse termo por temer que soasse inadequado a esta época, mas o fato é que eles estavam dormindo de conchinha mesmo. #EntendedoresEntenderão

E no fim, Holmes decidiu ouvir a Esther e ser menos frio com as crianças. Pra mim, é uma meia verdade contar que as crianças são deles, não chega a ser uma mentira.

E no próximo cap...

TCHAN TCHAN TCHAN TCHAN

A volta de uma personagem que foi muito especulada aqui como a grande vilã da fanfic... Pois é... Tremam nas bases, porque Holmes e Esther terão uma última provação até embarcar para a Inglaterra. Alguém imagina o que é?

Obrigada por permanecerem acompanhando, desde os leitores mais antigos até os mais novos! Até quarta!



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