O Grande Inverno da Rússia escrita por BadWolf


Capítulo 4
Láudano




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/688048/chapter/4

Londres, Inglaterra. 21 de Abril de 1909.


            Era perto das seis da manhã quando John Watson foi acordado pelo bater da porta. Ao seu lado na cama, estavam sua esposa, Molly, e sua pequena Sarah, que cismara que havia um monstro em seu quarto e insistira para dormir com seus pais. Levantando levemente, para não acordar as duas, Watson pensara no que poderia estar acontecendo para baterem em sua porta já tão cedo. Seria algum paciente? Ele esperava que não. Tinha sido bastante relapso neste mês, deixando seus pacientes com seu médico auxiliar, e esperava que sua ausência não tivesse agravado o estado clínico de nenhum deles.

            Ao abrir a porta de seu quarto, notou que era sua senhoria, Mrs. Turner.

            -Desculpe-me incomodá-lo, sir. Um telegrama urgente acabou de chegar.

            Watson assentiu, recebendo o papel das mãos da governanta.

A caça está montada. Encontre-me em Baker Street amanhã, às 8. SH

            Watson não pôde esconder um sorriso contente.

            -Papai? O que houve?

            Ao se virar, Watson encontrou Emily, sua filha mais velha. Ela ainda vestia camisola e estava descalça, com o longo e cacheado cabelo ruivo caindo como cascata, cobrindo todo o seu ombro. Trazia o mesmo semblante traquina e curioso que ele conhecia tão bem.

            -Não é nada, minha filha. Ainda é cedo, volte a dormir.

            Percebendo que nada conseguiria arrancar, a menina emburrou o semblante, cruzou os braços e saiu dali, quase marchando de tanta raiva. Que gênio difícil ela tinha, pensava Watson. Sem dúvida, era mais uma herança de Rose Willians.

            De qualquer modo, esse convite de Holmes era bastante promissor. Com toda a certeza, um caso batera em sua porta ontem. Watson encheu-se de esperanças. Holmes poderia se animar o bastante, esquecer e superar a perda de Mrs. Hudson e assim evitar uma depressão. E, por consequência, ficar afastado da cocaína e morfina.

            Sem dúvida, ele precisava atender a este chamado.


000000000000000


Quando o táxi estacionou no endereço solicitado, Holmes e Watson se maravilharam. Norah vivia em uma das casas mais suntuosas da rua, uma façanha e tanto para um bairro como Chelsea.

            -Quem diria... Norah Reid, a viúva de um inspetor da Yard, vivendo neste casarão suntuoso em um dos bairros mais nobres de Londres. – observou Watson.

—Ela mudou bastante, Watson. Em todos os aspectos. Diria que está irreconhecível, muito embora os anos tenham sido bastante generosos com sua aparência, ainda carregada de frescor da Juventude.

—Parece que a política tem o poder de mudar as pessoas, e apenas por dentro.

—O problema é que nem sempre é para algo bom. Mas vamos deixar de lado os julgamentos e tentar ajudar o menino Eric.

Embora tivesse uma bela fachada por fora, o casarão de Norah Reid transmitia muito bem o estilo de vida da dona: bem-arrumado, porém sem muita pompa. Ao menos, foi esta a conclusão de Holmes, ao ser recebido pela governanta da casa, que pediu para que ambos aguardassem na sala de estar.

            -Mr. Holmes! – exclamou Norah, com um semblante mais fresco. – Vejo que trouxe o Dr. Watson consigo.

            -Não poderia ir adiante a um caso sem meu Boswel. Creio que a senhora compreende.

            -É claro.

            -Como vai, senhora? – disse Watson, beijando as costas das mãos de Norah Reid, com singela educação vitoriana.

            -Vou bem, doutor. Acompanhem-me até a biblioteca, pois precisamos conversar e...

—Mãe? – perguntou uma voz, jovem, a interromper a conversa. Norah, que estava conduzindo Holmes e Watson até a biblioteca, acabou surpreendida. No alto do primeiro lance da escada, estava um rapazote, em seus treze anos no máximo, percebeu Holmes. Tinha o cabelo castanho vigorosamente curto, mas despenteado para alguém de posses. Suas roupas eram de boa qualidade, mas estavam desalinhadas. Até mesmo seu colete estava desabotoado. O desleixo em sua aparência era gritante, e havia um quê de confuso em seu semblante, especialmente quando o jovem notou a presença de dois estranhos em sua casa.

—Eric? Pensei que estivesse descansando... – ela disse, voltando-se ao adolescente, cuja aparência era bastante semelhante ao de Edmund Reid. Sem dúvida, era o jovem Eric, filho do falecido inspetor, concluiu Holmes.

—Acho que já descansei bastante por hoje. É que... Eu ouvi vozes e... Bem, pensei que fosse mais uma discussão entre você e seus amigos do Parlamento...

—Não é nada disso, filho. Está tudo bem. – interrompeu o menino, temendo que ele falasse demais. – Mas a propósito, vejo que está de saída...

—Sim, estou. Aliás, mãe, não irá me apresentar estes senhores?

Voltando-se rapidamente para Holmes, cujo semblante tinha se tornado neutro, Norah ficou sem reação, mas Holmes rapidamente se apresentou.

—Meu nome é Sherlock Holmes, menino. E este é o Dr. Watson. Somos antigos amigos de sua mãe.

—Sherlock Holmes? O senhor só pode estar de brincadeira. Ele é um personagem literário.

—Eric, seja mais educado... – tentou Norah, em vão. – E ele é mesmo Sherlock Holmes. Ele conseguiu convencer a todos de que era uma invenção de Arthur Conan Doyle, mas ele é realmente quem ele diz.

—Se o senhor é quem diz... – começou o menino. – Então quero que faça observações. Sobre mim.

—Eric... – pediu Norah. – Mr. Holmes, perdoe a rebeldia de meu filho. Você sabe, ele está em uma fase conturbada e...

Holmes fez um gesto, pedindo que Norah parasse com os comentários.

—Que tipo de comentário quer que eu faça, Mr. Reid? Que você tem treze anos, possui dois buldogues ingleses, gosta de pintar por horas a fio, apesar de ser alérgico à tinta? Ou quer que eu diga algo mais pesado, como por exemplo, seu leve problema psicológico...

—Mr. Holmes... – alertou Norah, fazendo Holmes se calar. Para Holmes, aquilo era o bastante. Embora não gostasse de se gabar de suas habilidades dedutivas o tempo todo, aquela situação lhe deixou satisfeito. O menino estava claramente envergonhado.

—O senhor é bom. Mas não chega a ser Sherlock Holmes. – ele disse, dando meia volta e saindo dali.

—Eric! – pediu Norah, enquanto o menino a ignorava e subia as escadas correndo. Ao notar que seu filho fora mal-educado mais uma vez, ela voltou-se para Holmes e Watson. – Perdoem o meu filho, senhores. Decerto ele ficara bastante chocado em perceber que alguém sabe de seu.., Problema de saúde. Mas afinal, como percebera isto?

—Ele deixou cair um pouco de láudano, na camisa.  Consegui sentir a fragrância daqui. Aposto que o tal “descanso” que se referira tenha sido mais uma crise.

—De fato. Ele oscila o tempo todo entre alegria e tristeza. Às vezes ele fica nervoso, diz coisas horríveis, deploráveis sobre mim, e até sobre si mesmo. Acha-se um lixo, um desperdício de espaço, diz que o mundo seria melhor sem sua existência.

—Que terrível. – disse Watson, com sinceridade. – A senhora já procurou ajuda médica?

—Sim. Fiz isto há alguns anos, quando ele quebrou toda a casa durante uma reunião que organizei aqui com membros do Partido. Naquele dia, eu percebi que não tinha mais controle da situação. Há médicos austríacos aqui em Londres fazendo um bom trabalho nesta área. Procurei um deles, chamado Dr. Fritz, que diagnosticou Eric com histeria.

—Santo Deus. – disse Watson, enquanto Holmes escutava toda a conversa com tom neutro.

—Creio que o senhor, como médico, sabe o que significa este diagnóstico. Desde então, minha vida jamais foi a mesma. Às vezes, Eric se tranca no quarto por dias, fica sem comer, apenas pintando e pintando. Sequer permite minha entrada em seu quarto, que ele chama de ateliê. Ele pinta por horas e horas, tal como disse o Mr. Holmes, e fica com os dedos feridos, porque possui alergia à tinta. Mas nem mesmo a dor e o incômodo da alergia lhe impedem de se dedicar à Arte.

—Creio, então, que a Pintura foi sua tábua de salvação.

—Sim, de fato. Sabe-se lá como ele estaria se não fosse pela Pintura. O próprio médico o aconselhou a fazer alguma atividade, e depois de algumas tentativas, ele optou pela Pintura. O senhor tem alguma coisa a dizer, Mr. Holmes?

Holmes, que parecia distante da conversa de Norah e Watson, estando mais interessado no conjunto de vasos que a residência dos Reid possuía como adorno de sala, viu que não havia escolha senão participar da conversa.

—Não. – disse Holmes, sem tirar os olhos do vaso. Sentindo-se constrangido, Watson pensou em pedir desculpas a Norah por Holmes, mas a própria se antecipou, cortando aquele clima desagradável.

—Vamos para a biblioteca. Irei coloca-los à par da situação de Eric.

Já sentados, Holmes e Watson ouviram os relatos de Norah. Eric tinha uma personalidade instável, que oscilava entre alegria e tristeza, mas nos últimos tempos ele tinha se tornado descontrolado, impulsivo em saber sobre a morte de seu pai, Edmund Reid. Norah não entendia o porquê desse súbito interesse, até dar pela falta do diário de seu marido, para encontra-lo apenas uma semana depois, em seus pertences.

—Aquelas eram as últimas anotações de Reid. Tudo sobre sua carreira, rotina na Polícia. Jamais tive coragem de lê-las, porque nunca desejei saber dos detalhes da rotina de meu marido, os senhores devem entender. E eu o encontrei nas coisas de Eric.

—O diário mencionava Jack, Mrs. Reid? – questionou Holmes.

—Não sei dizer, Mr. Holmes. Como eu disse, eu jamais o li.

Holmes assentiu, pesaroso.

—Então, Reid não citou Jack neste diário. Ou, Eric não esteve com ele.

Norah Reid pareceu surpresa.

—Como pode pressupor algo assim? Eu o encontrei nas coisas dele!

—Você disse que ele tem grande devoção pelo pai, que ele o admira, engrandece por seus feitos na Polícia. Se Eric Reid estivesse com o diário, ele já saberia que seu pai simplesmente ocultou a identidade do maior assassino em série que Londres já testemunhou, o apreço por seu pai seria reduzido à pó. Por acaso a senhora notou alguma mudança em seu comportamento nesse sentido?

—Não. – parecia ponderar Norah Reid. – Recentemente, ele leu uma matéria qualquer no jornal e disse “se meu pai estivesse vivo, não haveria tantos bandidos nas ruas”.

Holmes parecia satisfeito. – Sinal de que ele não sabe das reais causas da morte de seu pai. Logo, ele não leu o diário, ao menos não completamente, ou Reid foi cuidadoso em não citar Jack. Ele provavelmente tem outro suspeito formado em sua mente, criado com a ajuda do diário de seu marido. Mas afinal, por que a suspeita de que seu filho está tramando um assassinato? Afinal, curiosidade não leva propriamente a vingança em tal nível.

Norah parecia inquieta.

—O revólver de Reid também sumiu.

Tanto Watson quanto Holmes suspiraram, preocupados.

—Uma pessoa emocionalmente instável como ele não pode ter acesso à uma arma! Como a senhora pôde ter sido tão relapsa?! – explodiu repentinamente Holmes, para pasmo de Watson, que não esperava tal reação explosiva e passional do detetive. Norah parecia se sentir ainda mais culpada.

—Eu a guardava em meu quarto. Vocês sabem, eu tenho uma carreira na política e vivo recebendo ameaças de pessoas mais conservadoras por minhas idéias. Eddie já havia me ensinado a atirar, pois me dizia que esse tipo de habilidade era útil para uma esposa de policial. Eu a guardava em meus aposentos por precaução.

—Há quanto tempo este revólver sumiu? – questionou Holmes.

—Três dias, senhores. Mas não tenho total certeza, pois eu apenas dei pela falta. Não costumo vasculhar aquela gaveta todos os dias. Pode ter desaparecido há mais tempo.

—Céus... – suspirou Watson, enquanto fazia suas anotações. – Isso é gravíssimo...

—Entendem meu desespero? Meu filho começa a fazer perguntas sobre a morte do pai, depois lê seu diário e rouba seu revólver... O que meu filho está tramando?

—Acalme-se, Mrs Reid. – disse Watson, estendendo seu lenço.

—Bem lembrando tocar novamente no diário, Mrs. Reid. Eu estou curioso em lê-lo. Poderia trazê-lo à mim?

—Sim. Quando Eric sair de seu quarto, irei até lá e procurarei em seus pertences.

—Ótimo. Pois bem, receio que não tenho muito a fazer agora. Seu filho está trancado em seu quarto, provavelmente. Uma melhor forma de começarmos esta investigação seria quando ele não mais estivesse em casa. Qual é o horário de suas aulas de Pintura?

—Ela terá uma aula de Pintura ainda hoje, perto do Covent Garden. Daqui a uma hora.

—Ótimo. Isso nos dá tempo para procurar por pistas. Por hora, receio que nada mais tenho a fazer senão esperar. Fingiremos ir embora, e aguardaremos Eric sair para sua aula de Pintura. Ele vai acompanhado por alguém?

—Sim. Há um motorista chamado Willian que vem busca-lo. Eu o contratei para vigiar Eric, agir como um guarda-costas. Um bom rapaz, de minha confiança.

—Percebo, a julgar por sua convicção em dizê-lo. Bom, Watson, é hora de darmos início à nossa encenação. Veremos-nos daqui a pouco, Mrs. Reid.

Norah acompanhou Holmes e Watson até a porta da frente. Embarcados de volta ao táxi, Holmes pediu que o motorista do automóvel desse a volta pelo quarteirão, e depois ficasse estacionado a alguns metros do casarão de Norah Reid.

—Você foi um tanto indelicado com Mrs. Reid, Holmes. – observou Watson, desgostoso.

—Eu conheço o olhar de Eric, Watson. Eu já o vi antes. Ele não possui histeria, não mesmo. O que ele precisa é de atenção da mãe, não opressão.

Watson riu. – Opressão? Tem certeza de que estamos falando de Norah Reid, Holmes?

—Sim, meu caro Watson. Eric é o único filho de Norah, ou melhor dizendo, a única coisa que lhe restou de Edmund Reid. Pude ver em seu olhar a quantidade de expectativas que ela coloca sobre o menino. E uma coisa eu posso te afirmar: torna-lo um pintor não estava em seus planos.

—Mas... Mas ela parecia contente por vê-lo a pintar. Até colocou-o em aulas!

—Meu caro Watson, você sempre vê o melhor das pessoas onde não há. Este é o ponto. A alergia nas mãos. Os dedos do menino estavam feridos, não estavam?

—Bom, eu não consegui notar, mas se você diz...

—Sim, eles estavam. Pois bem, já existe tintas no mercado que não propiciam reações à alérgicos. E por que Norah Reid permite que o menino permaneça ferindo suas mãos?

—Por quê... Por que ela o quer ver afastado da Pintura?

—Exatamente. Ela quer desmotiva-lo, fazer o menino desistir e procurar por outra atividade. Posso deduzir até qual atividade seja esta.

—Política. – disse Watson, com desgosto. – Céus, Holmes... Estou com dó do rapaz. Mas vejo que há algo mais a te preocupar.

—Sim. O diário. Duvido muito que seja o de Reid. Afinal, um inspetor como ele jamais deixaria de andar com seu caderno de anotações no bolso. Tenho certeza de que o verdadeiro diário se tornou cinzas, assim como seu dono.

—Um diário falsificado... Mas com que finalidade?

—Tenho teorias, mas não vou dize-las por enquanto. Veja só, é o menino Eric.

Observando do lado de fora do táxi, Holmes percebeu que o jovem Eric acabara de sair de casa e caminhava pela calçada de um lado a outro, aparentando ansiedade, decerto esperando pelo tal motorista Willian que Norah mencionou.

—Ele parece ansioso para a aula. – disse Watson, que observava o jovem rapaz finalmente embarcar em um cabriolé, apressado. – Espere, o que é aquilo? – questionou Watson, enquanto Holmes imediatamente saiu de seu próprio táxi, indo até o objeto que Eric deixara cair no chão, antes de subir.

—Poderia aguardar um minuto? – pediu Watson ao taxista, que assentiu enquanto seu amigo atravessava a rua rapidamente.

Já de volta ao seu cabriolé Holmes se sentou, estendendo para seu amigo o tal objeto que ele vira cair no chão, imediatamente Watson notou o que era.

—Céus... Isso é um revólver. – disse, analisando a caixa.

—Pelo calibre, é arma de serviço de policiais. Possui o emblema da Yard desgastado... Uns dez ou vinte anos de intenso uso... Não tenho dúvidas de que é o revólver desaparecido de Edmund Reid.

—Deveríamos segui-lo.

—Tarde demais, meu caro. O trânsito está bom. O automóvel já deve estar longe.  E ele não mais está armado para fazer qualquer loucura. Precisamos vasculhar o quarto de Eric Reid e encontrar respostas para este caso o mais rápido possível.

Batendo forte à porta, Holmes foi recebido mais uma vez pela governanta.

—O senhor mais uma vez? – perguntou a idosa.

—Escute, eu preciso falar com Norah Reid. É sobre o filho dela, Eric. É assunto de extrema urgência.

Assentindo, a idosa permitiu a entrada de Holmes, que encontrou Norah bebericando uma xícara de chá despreocupadamente.

—Mr. Holmes? Mas que pontualidade...!

Holmes interrompeu a mulher.

—Reconhece-o?

Ao notar um revólver nas mãos de Sherlock Holmes, Norah arregalou os olhos em pavor, deixando a xícara de chá cair no chão.

—Este é o revólver de meu marido! Onde o achou?

—Seu filho Eric deixou cair no chão, quando embarcava em um cabriolé para a aula. Bom, creio que a senhora deve imaginar que não é recomendado uma pessoa gozando de tal estado mental de saúde estar portando tal objeto.

—O senhor fala como se meu filho fosse um retardado. – retrucou Norah.

—Sinto se feri seus sentimentos, falando como a maioria da sociedade. Mas o fato é que, retardado ou não, seu filho foi apressadamente até um lugar, e armado. E duvido que tenha sido para estas aulas de Pintura, se é que elas realmente existem. Pergunto-me se isso está relacionado com a recente curiosidade a respeito da morte de seu marido.

—Pode ser... – começou a refletir Norah.

—Devemos seguir com o combinado e ir até o quarto dele, à procura de pistas sobre seu paradeiro.

Norah pareceu mais esperançosa.

—Sim, é claro. Venha, eu te mostro onde é.

Dentro do quarto, Holmes começou a analisar os imóveis. Revirou gavetas, armários, procurou debaixo da cama. Nada.

—Eric estava fazendo tantas perguntas sobre Edmund... Sobre as circunstâncias da morte dele... Oh, eu deveria ter previsto que ele iria agir à respeito.

—Suas lamuriações não me ajudarão, Mrs. Reid. Preciso que se lembre de mais detalhes a respeito das perguntas de Eric. Havia alguma pessoa em específico?

—Pessoa...? Não... Espere! – lembrou-se Norah, repentinamente. – Nos últimos tempos, ele andou fazendo queixas à Stanley Macintosh. Sabe, aquele industrial...

—Sim, eu sei. O membro mais jovem da famosa família Macintosh, não?

—Sim, ele mesmo. Nos últimos tempos, ele tem aparecido nos jornais, porque está investindo em ferrovias. Eric fez críticas veladas a ele, a respeito de seus métodos capitalistas de opressão à massa trabalhadora...

Holmes bufou.

—Nada mais natural que seu filho faça críticas, ouvindo tal tipo de conversa todo o tempo de seus lábios. Há mais algum detalhe a respeito de Macintosh que não me contou? Porque eu preciso que seja mais específica, Norah. Do contrário, eu...

—Edmund estava investigando Macintosh, Holmes. Um pouco antes de morrer.

Holmes pareceu surpreso.

—Reid? Investigando Macintosh? Mas por que ele se meteria com esse industrial? O que ele fizera, afinal? E como a senhora sabe?

Norah Reid estendeu o diário de Reid para Holmes, que o analisou prontamente. Após cinco minutos a ler, Holmes assentiu.

—Aposto que você não esteve a par dos últimos acontecimentos, no que tange o noticiário daquela época. A então esposa de Macintosh morreu, após uma queda de escada. Embora tudo tivesse sido encarado como um acidente, Eddie acreditava que ela tinha sido assassinada. É o que diz as últimas anotações dele.

—Mas eu nunca ouvi falar de qualquer inquérito. – retrucou Holmes, ainda não convencido e analisando as páginas do diário com uma pequena lupa.

—Parece que Edmund era o único que acreditava nisso. Sequer teve tempo de começar a investigar. O problema é que Edmund não citou Jack, ele citou Macintosh...

—... e Eric leu o diário de seu marido.- concluiu Holmes. – Penso que a senhora não deveria ter deixado seu filho ter acesso a esse tipo de informação.

—Eu não deixei. Eu o guardava em meus pertences. O problema é que Eric sempre foi bisbilhoteiro. Quando descobri o que ele fez, era tarde demais. Penso que ele lera tudo, inclusive as últimas páginas sobre suas suspeitas a respeito de Macintosh.

—E presumo que a curiosidade e agressividade de Eric tenham aumentado após esta leitura. Faz sentido, afinal. Bom, se seu filho é mesmo um rapaz tão perspicaz e obcecado assim em descobrir a verdade, deve ter preparado uma investigação...

Holmes parou em um ponto do quarto. Jogou-se ao chão, onde começou a analisá-lo com sua inseparável lupa. Pensei que jamais voltaria a usar isso novamente, pensou o detetive, disfarçando um sorriso. Após breve analisada, sendo observado por Norah, o detetive concluiu.

—Há um canto deste quarto que sofre constante movimentação de móveis. Vejo as marcas de arrasto por todo o tapete e carpete. Faz alguma idéia da razão disso? – questionou o detetive, já de pé e analisando a parede.

—Não. Não vejo a empregada arrumando isso e... Oh, meu Deus!

Norah perdeu o ar, ao notar que o detetive removera uma falsa placa de madeira, eu simulava o papel de parede do quarto, mostrando o que era um imenso quadro-negro, com nomes e rabiscos.

“Quem matou meu pai?”, estava escrito no topo.

E um nome circulado com giz vermelho, chamara a atenção de ambos.

—Macintosh. – leu Holmes, em voz alta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Parece que o caso está se complicando...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Grande Inverno da Rússia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.