O Grande Inverno da Rússia escrita por BadWolf


Capítulo 29
Preparativos


Notas iniciais do capítulo

Olá,

E quem estava esperando entre o encontro de Grigori com a Diva Irene Adler, eis o cap. Espero que corresponda às expectativas de vocês.

Boa leitura!



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Londres, Inglaterra. 25 de Julho de 1910.

(Um mês depois...)


            Grigori estava inquieto, debaixo de suas cobertas. Fazia uma madrugada úmida, como todas costumavam ser em Londres, mas o menino detestava quando o vento batia na janela. Isso era comum, ele percebeu, quando se morava no quarto andar de um prédio. Fazia dois meses que Sherlock Holmes tinha voltado de uma visita inesperada e reaparecido, bastante animado com uma possível viagem a Rússia. Claro, Grigori não estava muito animado com a possibilidade de retornar àquele país miserável, mas ele se esforçava em ajudar. Afinal, Mr. Holmes parecia ser um bom homem, dos raros tipos que cumpriam com sua palavra. Se ele era tão bom quanto diziam os livros que ele lera com Emily, Holmes poderia ser capaz de encontrar seu irmão, Georgi. E quem sabe, descobrir sobre o que aconteceu com sua mãe, com sua babá Bea... Ajudar Holmes era sua melhor chance de reencontrar sua família.

            O menino virou-se para um dos lados da cama. Olhou para suas malas – quem diria que ele teria malas! – prontas sobre o chão. Amanhã seria o grande dia. Mr. Holmes tinha dito que fariam uma viagem ao Continente, e de lá seguiriam de trem para Rússia. O navio estava cortado devido às recentes turbulências navais, e Mr. Holmes não queria se arriscar.

            Grigori suspirou, abnegado. Ele jamais tinha viajado de navio e queria saber qual era a sensação de navegar em alto-mar. Uma pena.

            Ainda assim, a perspectiva de voltar à sua terra natal, tão indesejada, lhe incomodava. Por mais belo que fosse o futuro que lhe acenava depois dessa viagem, ele tinha medo. Medo das coisas que lhe aguardavam lá.

O menino desistiu do calor das cobertas e se aventurou a descer e tomar um copo de leite. Mr. Holmes tinha dado total liberdade para que ele fizesse o que quisesse em sua casa, mas ainda assim o menino sempre procurava agir com educação. Sua convivência com Holmes era tranquila, embora o detetive passasse o dia todo fora e Grigori ficasse na casa de Watson até que Holmes aparecesse, já no fim da tarde. Ele sempre dizia que estava cuidando dos “preparativos da viagem”, e concluía o assunto sem entrar em maiores detalhes.

Quando estava nos corredores, ele percebeu que a luz no quarto de Mr. Holmes estava acesa, ainda àquela hora. Timidamente, ele decidiu bater na porta.

—Você deveria estar dormindo, Grigori. – observou Holmes, acenando para que o menino entrasse. – O que houve?

—Pensei em pegar um copo de leite, mas... Percebi que o senhor ainda está acordado.

Holmes assentiu.

Grigori percebeu que Holmes, como em muitos momentos, estava completamente absorto em papéis dispostos sobre a mesa. Grigori jamais teve a coragem de checa-los, mesmo quando ele não estava em casa, e ainda mais porque ele era um completo analfabeto. Nos últimos tempos, ele também tinha deixado a barba crescer um pouco, o que não combinava com sua aparência, sempre impecável. Como ele vivia coçando o rosto e reclamando que sentia a pele pinicar, Grigori percebeu que Holmes não estava fazendo isso de boa vontade, muito menos estava acostumado a ostentar esse visual. Certamente teria haver com a viagem à França.

—Teremos um longo dia pela frente. Iremos à França e de lá tomaremos um trem para a Rússia. Ouvi dizer que essa viagem dura semanas e que é cansativa.

—De fato, sir. Por isso, o senhor deveria estar dormindo.

Holmes sorriu rapidamente.

—Aprecio sua preocupação, meu jovem, mas preciso estar preparado para o dia de amanhã. Aliás, eu percebo que está sem sono.

Grigori assentiu. – Não é de meu agrado voltar à Rússia, sir.

—Mas você estará em uma situação diferente.

—Sim, mas... Eu tenho certeza de que o meu país estará na mesma.

            Holmes pareceu compreender as palavras tristes daquela criança.

            -Bom, eu sinto muito coloca-lo sobre tal situação. Se acaso não deseja mais viajar comigo, eu compreenderei. E ainda assim, manterei todas as promessas que fiz. – disse Holmes.

            -De forma alguma, sir! – exclamou Grigori. –Eu preciso encontrar meus pais, e Georgi! E iremos trazer sua esposa de volta!

            Holmes pareceu animado com a força de vontade do menino.

            -Parabéns pela coragem, rapazinho. Agora, se me permite...

            O menino concordou. – Boa noite, Mr. Holmes.

            -Boa noite. – disse Holmes, sorrindo levemente para si mesmo, quando finalmente a porta se fechou e ele voltou a estar sozinho outra vez.

            Agora, que tinha certeza de que o menino tinha ido se retirar, ele pôde puxar para fora do lugar o armário, que tinha usado para esconder sua recente investigação.

            Holmes escondera o objeto de Grigori por um forte motivo. Sabia que o menino ficaria impressionado com o emaranhado de linhas, fotografias e recortes de jornais colados de forma aparentemente desordenadas na parede. Holmes admirava aquela confusão de linhas e informações com grande admiração. Tivera pouco tempo, mas o bastante para entender bem a situação na qual estava se embrenhando na Rússia.


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            Uma das coisas que mais impressionava Grigori era a capacidade de Sherlock Holmes de estar de pé plenamente disposto no dia seguinte mesmo depois de uma madrugada em claro. O menino sempre cambaleava nas manhãs em que se seguiam de horas a fio, acordado de madrugada, e aquela não era uma delas. Ele só conseguiu dormir plenamente quando terminou de beber seu copo de leite, e isso era perto das duas.

            -Com sono? - perguntou Holmes, ao ver que o menino já bocejara pela quarta vez.

            -Um pouco, sir.

            -Bom, podemos arranjar um café ou você pode dormir no trem.

            -Oh, não! Nada de café!

            Holmes ficou curioso.

            -Pensei que o americano que lhe ensinou o inglês tivesse lhe ensinado também a arte de apreciar um bom café.

            O menino sempre era reticente quanto àquele tipo de assunto. Ele parecia não gostar muito de falar sobre como conseguiu aprender tão bem o inglês, embora Holmes já tivesse percebido que um americano lhe ensinara.

            -Nada nesse mundo me faria gostar de café!

            Holmes riu, com diversão. – Então, será uma boa soneca no trem.

            -Eu não vou dormir.

            -Oh não? Duvido muito.

            -Eu jamais andei de trem na França. Estou curioso para saber como é.

            Holmes riu brevemente. – Depois dos primeiros trinta minutos olhando só para pasto e vaca você irá dormir, confie em mim. Eu, por exemplo, nem espero esses trinta minutos e leio meu jornal, ou mesmo tiro uma soneca rápida. Mas ainda bem que teremos companhia na Rússia.

            -Mesmo? Será esta mulher misteriosa que o senhor vem se encontrando?

            -Modere seu tom, rapaz. – alertou Holmes. – Embora eu saiba que não foi sua intenção, é preciso ser cuidadoso, pois suas palavras poderiam ser interpretadas como algo malicioso.

            -Desculpe, Mr. Holmes. – disse Grigori, curvando os olhos.

            -Está tudo bem. Também não é preciso ficar triste. Apenas estou te alertando para ser mais cuidadoso com as palavras. Pessoas tendem a se ofender por bem pouco.

            -Tudo bem, sir.

            Já na estação de trem, Holmes pediu para que Grigori ficasse ao seu lado, em meio ao tumulto e ao intenso vai-e-vém de pessoas por todos os lados. O menino obedeceu, atento à multidão apressada pela estão ferroviária.

            -Aqui é um bom lugar para colocar o método dedutivo em prática. – observou Holmes.

            -Pra mim, todas essas pessoas parecem apressadas. – observou Grigori.

            -Isso é uma coisa que todas têm em comum aqui, mas garanto-te que é só isso. Dá para perceber, por exemplo, que aquele homem sozinho no canto é um homem recém-casado, destro, médico e que sofre de gota.

            Instantes depois, enquanto Sherlock Holmes e o menino Grigori observavam o homem, lendo um jornal, uma mulher jovem se aproximou e lhe deu um beijo no rosto. Ambos pareciam nitidamente felizes.

            -A felicidade e o frescor dos recém-casados. – observou Holmes, com certa nostalgia e tristeza. – Se há uma coisa nessa vida que me surpreende até hoje é que eu sei o que é isso.

            O menino ainda parecia chocado.

            -Impressionante, sir.

            Holmes percebeu a surpresa do menino e riu.

            -Queria ser assim. – disse Grigori.

            -E poderá se quiser. Mas é necessário treino e estudo, e muita dedicação também. Não é algo impossível ou inalcançável. Bom, posso dar-te algumas lições, se desejar.

            -Seria maravilhoso. – disse Grigori, animado.

            Minutos depois, uma mulher, acompanhada de um rapaz de cerca de vinte anos, se aproximou. Sua presença imediatamente atraiu a atenção de praticamente todos os homens na estação. Mesmo as mulheres pareciam notá-la, cochichando entre as outras sobre aquela senhora de boa estirpe, vestida elegantemente e de andar majestoso, que remetia à alguém da nobreza. Foram os cochichos alheios que chamaram a atenção de Holmes, e fizeram seus olhos se voltarem para o foco de tamanho rebuliço. Como o detetive esperava, era Irene Adler, fazendo sua costumeira entrada triunfal. Usava um belo casaco de peles, um chapéu pequeno e elegante. Seu vestido era negro com detalhes verde-escuros. À sua mão, apenas uma bolsinha pequena. O jovem rapaz, loiro e tão estonteante quanto à mulher ao seu lado, ajudava dois homens de modos grosseiros e humildes a carregar uma infinidade de malas que chegavam, de todos os tamanhos e tipos. Holmes não se espantou com o fato. Mulheres tinham o hábito de carregar - literalmente - parte de suas casas em suas malas, enquanto homens como ele tendiam a ser mais práticos, se preocupando com o essencial, tal como uma escova de dente e um par de camisas e meias limpas.

            -Bonjour, Mounsier Holmes. - ela disse.

            -Bonjour, Mademoiselle. – retribuiu Holmes.

            -Está tudo bem, Peter. – disse Adler, virando-se ao rapaz que a acompanhava. – Já me encontro em companhia.

            -Mantenha contato, mãe. – ele disse, dando um beijo carinhoso em seu rosto. – E não se esqueça de me dar notícias.

            -Darei, meu filho. – disse Adler, se despedindo com ternura, dando-lhe um elegante adeus com um aceno, enquanto o jovem se afastava dali.

            -Meu filho, Peter. – explicou Adler. – A única coisa boa que Godfrey me deixou neste mundo. Aliás, estou mais uma vez surpresa, Mr. Holmes, em ver que o senhor também tem os seus.

            -O quê? – perguntaram Grigori e Holmes, em uníssono.

            -Bom, já dizia minha mãe que toda panela tem uma tampa, mas... Estou surpresa que tenha encontrado uma.

            Holmes ficou visivelmente irritado com suas insinuações.

            -Miss Adler, ele não é meu filho.

            -Oh não? Então, quem é esse pirralho?

            -Grigori, senhora. – disse o menino. – E eu não sou pirralho.

            Adler riu. – Bom, imagino que seja algumas de suas extravagâncias. Aliás, onde está o seu “segundo reforço”? Estou entusiasmada para saber quem tão bem conhece o submundo do crime de São Petersburgo. Deve ser um russo estonteante, rústico, viril...

            Holmes rolou os olhos.

            -Não se assanhe, Adler. Meu reforço está bem longe de atender ás suas expectativas românticas. Não é mesmo, Grigori?

            O menino sorriu, voltando seu olhar divertido para Adler, que então percebeu o que os dois estavam querendo dizer.

            -Oh, o senhor só deve estar brincando... Esse... Esse fedelho franzino! Realmente, estamos encrencados!

            -Grigori conhece muito bem as ruas de São Petersburgo, Adler, e será de muita ajuda. Aliás, não questione os meus “reforços”, pois quem tem que apresentar resultados sou eu, não você. Lembre-se que você está aqui para...

            -Cooperar, eu sei... – disse Adler, abrindo um vistoso leque. – Tudo bem, então vamos logo, pegar esse bendito trem.

            Sem cerimônia, Irene Adler saiu à frente dos dois. Grigori apenas trocou um olhar divertido e cúmplice com Holmes. Certamente, aquela viagem iria render mais que o previsto.


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            Sherlock Holmes, Irene Adler e o menino Grigori sentaram-se em um dos compartimentos da primeira classe. O menino parecia deslumbrado com o luxo do lugar, e imaginava que a famosa casa do Czar – casa não, Palácio! – seria algo naquele nível.

            -O Czar é um homem muito rico, Grigori. Comparar esse trem aos luxos de sua vida seria uma ofensa a ele, acredite. Aliás, é a primeira vez que vou à Rússia e estou deveras curioso em como deve ser São Petersburgo.

            -Já estive lá duas vezes. – disse Adler. – Pareceu-me um tanto... Exagerado, em alguns aspectos. Uma mania de grandeza terrível, um exagero nas exuberâncias... Beira ao brega. Não houve um baile em São Petersburgo que eu não me sentisse assim.

            -Interessante. – disse Holmes. – Então, deduzo que deixastes amigos por São Petersburgo.

            -Admiradores, na verdade. – disse Adler, com certa arrogância na voz. – E algumas mulheres morrendo de inveja.

            -Claro. – respondeu Holmes, com sarcasmo. – Mas afinal, Grigori... Grigori?

            Quando Holmes se virou, notou o menino dormindo profundamente, com a cabeça caída. Um tanto penalizado pelo desconforto do garoto, Holmes decidiu desloca-lo e coloca-lo numa posição confortável.

            -Olhe só para você. – observou Adler, observando Holmes ajeitando Grigori no banco do trem. – Diria que daria um bom pai.

            Holmes resmungou, incomodado com a observação. Se ela soubesse que ele já era pai, e que o filho dele estava perdido em algum lugar do mundo...

            -Ele não é meu filho, Adler.

            -Sei que não, mas a idéia parece encaixar. Ele se parece com você.

            Holmes riu. – Se todas as crianças de cabelo negro fossem meus filhos... Eu estaria perdido. Além de quê, os olhos dele são azuis, não cinzentos, ou verdes. Ele não puxou nem os meus olhos nem os olhos de minha...

            Ao perceber que deixara escapar demais, Holmes se calou, mas já era tarde. Adler já estava com a pulga atrás da orelha.

            -Sua... ? – pediu Adler.

            -Mãe. – completou Holmes, mentindo.

            Adler bufou, insatisfeita.

            -Mas deixando de lado essas questões, Mr. Holmes... Quais serão os nossos passos em São Petersburgo?

            -Bom, o mais difícil será localizar o esconderijo onde a pessoa desaparecida que estou procurando esteve escondida. Ela pode ter deixado boas pistas de seu paradeiro, caso as pessoas que ela esteve procurando realmente a raptou. Certamente, está no submundo de São Petersburgo, por isso Grigori será necessário.

            -Compreendo. E depois?

            -Iremos refinar nossa busca. Certamente, precisaremos de suas aproximações com a alta sociedade russa, caso necessário. Aliás, quando nos encontraremos com o resto da Companhia?

            -Combinei que iríamos nos encontrar em Lyon. – disse Adler.

            Céus, dias e dias de viagem com uma Companhia de Teatro... Holmes sentia que não tinha mais idade para isto.

            -A propósito... – disse Adler, num tom confidencial. – Eu gostei de seu novo visual.

            Holmes riu, passando levemente a ponta dos dedos sobre seu queixo. Ele tinha deixado a barba crescer propositalmente. Desde que abandonou o disfarce de John Sigerson, Holmes retornou à costumeira aparência impecável, com um rosto sempre bem barbeado. Não que ele reclamasse. Usar barba o incomodava bastante, pelo menos até o ponto em que sua barba ficava com os fios mais longos e menos espetados. Mas ainda assim, o resultado não agradava a Holmes. Em sua opinião, dava-lhe uma aparência suja, mesmo estando devidamente aparada e alinhada.

—Foi necessário. Preciso ficar irreconhecível.

            -Acho que combina com você. Por que jamais deixou assim?

            -Porque, minha cara Adler, assim como você eu também sou um ator. E você sabe que o rosto barbeado torna-se mais versátil para disfarces. Só abro concessões quando o disfarce precisa ser convincente.

            -Entendi. – disse Adler, enquanto acendia um cigarro, ignorando completamente o aviso “É proibido fumar”. Holmes fez o mesmo, acendendo seu cachimbo com o mesmo fósforo que ela usou para acender o cigarro. Logo, os dois estavam envolto de nuvens de fumaça, enquanto conversavam.

            -Não precisava ter me ameaçado sobre Godfrey. Bastava o dinheiro.

            -Já disse. Gosto de mostrar minhas cartas.

            Adler resmungou em resposta.

            -Poderia me dar detalhes de quem exatamente estamos procurando?

            Depois de dar uma longa baforada em seu cachimbo, Holmes voltou seus olhos para Irene. A mulher parecia curiosa, mas usou seu conhecido tom de indiferença, como se estivesse perguntando as horas. Ela era mesmo uma mulher de artimanhas.

            -Estamos? Ou seria “eu” estou procurando?

            Adler franziu a testa, com sarcasmo. – Sozinho é que não está. Afinal, eu estarei te ajudando...

            -Não necessariamente a encontra-la.

            -Então, é uma mulher!

            -Não, uma “pessoa”.

            Irene ainda não estava satisfeita.

            -É uma mulher, sim! Posso ver em seus olhos! Quem é ela? Alguém muito importante para o Governo a ponto de te tirar de sua aposentadoria apenas para resgatá-la?

            -Não é nada disso! – Holmes se esforçava em negar.

            -Pode dizer pra mim, seu bastardo! Poderia ser uma princesa que eu não vou aumentar meu preço. Quero dizer... Bom, um anel de rubi certamente faria um bom agradecimento.

            Foi a vez de Holmes rir. Adler ainda parecia aborrecida.    

            -Não posso ser a última a saber! Espere, vamos esclarecer algumas coisas... Eu estarei em meio à alta roda da sociedade russa. E se eu encontrar alguma pista sobre ela? Preciso saber o quê exatamente está procurando.

            -Não é necessário. Você me serviria apenas como “ponte” para seus colegas russos.

            -Duvido que eles sejam tão abertos a conversar sobre uma mulher raptada com um forasteiro... Não adianta, Mr. Holmes. Minha ajuda é muito mais relevante do que está a limitar.

            Holmes bufou, apagando seu cachimbo.

—Sim, Adler. Estamos procurando por uma mulher. Loira, francesa, que viveu muitos anos na Inglaterra, cerca de 40 anos de idade. Não, ela não pertence à Realzea Britânica e nem a qualquer realeza deste mundo. É uma mulher... Comum.

Adler ainda parecia descrente.

—Uma mulher que faz Sherlock Holmes se mover até os confins da Terra, se aliar a uma antiga desafeta e abandonar a sua aposentadoria pode ser tudo, menos “comum”. Mas tudo bem, ao menos estou satisfeita em saber um pouco do que estou procurando. Por hora. Mais tarde, terá de me dizer melhor a respeito dela. Começando por seu nome.

—Ela se chama Esther, mas eu tenho certeza de que estava aqui com uma identidade falsa...

No mesmo momento, Grigori se mexeu, certamente incomodado pela conversa dos dois adultos e soltou um resmungo qualquer.

            -Parece que nosso “amiguinho” está sendo perturbado de seu doce sono. – brincou Adler. – Mas afinal, é um menino adorável.

            -E pelo andar da hora, já devemos estar próximos de Lyon. – observou Holmes, satisfeito de que a conversa tinha mudado de rumo. – Acho que é hora da Bela Adormecida acordar.

            -Pobre do menino, Mr. Holmes. Ele é só uma criança.

—Que precisa acordar em algum momento.

—O senhor falando desta forma mais parece ter nascido já de cabelos grisalhos e bigodes! Quem é o senhor? Adão?

            -O seu senso de humor está muito rabugento, Miss Adler. Seria a idade?

            A mulher cruzou os braços, depois de apagar seu cigarro. De repente, o trem começou a perder velocidade. Certamente estavam chegando na estação ferroviária de Lyon.

            -Vamos lá, Grigori. É hora de acordar. – disse Holmes, dando leves tapas no ombro do menino. Sem sucesso. O menino ainda estava sonolento e resistente a se levantar.

            -Grigori! – pedia Holmes.

            -Mais delicadeza, homem! – reclamou Adler, outra vez. – Afinal, você não gostaria de ser acordado com um balde de água sobre sua... Oh, meu Deus!

            Adler gritou, ficando depois sem palavras ao perceber que Holmes, já impaciente com a preguiça de Grigori, despejou sobre o rosto do menino dorminhoco parte de um copo d’água que estava sobre a bandeja. Ou seja, fazendo exatamente o contrário do pedido de Adler.

            O menino acordou, obviamente, sobressaltado. Parte da gola de sua camisa estava molhada. Soltando alguns poucos gritos, ele notou que não era pesadelo algum, mas sim, que estava no trem a caminho de Lyon acompanhado de Sherlock Holmes e Irene Adler.

            -Boa tarde, Grigori. Bem vejo que desfrutara de seu sono.

            O menino apenas assentiu, levantando-se ainda com vagareza, enquanto ouvia-se os funcionários do trem avisando que aquele era o trecho final da viagem. Retirando suas malas e apetrechos, Holmes ajudou Adler a desembarcar do trem, já estando dentro da estação ferroviária de Lyon.

            -Agora, irei te apresentar aos meus colegas de trabalho. Ou melhor, minha “segunda família”.

            -Espero que sua “segunda família”, Miss Adler, seja o mínimo do que se pode dizer normal. – disse Holmes, já sentindo calafrios.


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Notas finais do capítulo

Ihhh... Quão "bizarra´" será esta segunda família da Adler??
Algo me diz que vem treta...

Espero que tenham gostado do cap. Até o próximo!!!



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