Treinando a Mamãe escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 10
Finalmente


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente, ´tô quase caindo de cara em cima desse notebook de tanto sono. Eu ia postar às 14h, mas apaguei. Só que na verdade, na verdade, minha intenção era ter postado às 02 da madrugada (mas fez 15°C, e eu não conseguia me mover de tanto frio, me desculpem. virei 100% escrava do clima, não sei o que aconteceu, não sei o que está acontecendo)
Hm... meu olho tá fechando
Ai que sono filho da mãe.
Vou comer alguma coisa! Espero que gostem do capítulo, que é o meu favorito depois do 7. Mas é claro que não gosto dele mais do que o último.
*chuva de purpurina*



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— Você não vai colocar uma roupa? — Maggs brincou, ao entrar na cozinha e me ver apenas de lingerie e cabelos bagunçados fazendo a comida. — Ihhh, hoje vai chover! Katniss cozinhando?!

Ri, mas estava triste. Edward acabou de sair, saltitante feito uma rã para ver o pai.

— O que aconteceu, menina? — perguntou, deixando as bolsas de compras em cima da mesa, vindo até mim. Olhei em seus olhos castanhos claros, apertei a colher que fazia um molho de macarrão. Tenho boas mãos para cozinhar, é o que dizem.

— Edward vai embora em uma semana — falei, mordendo com força os lábios para não começar a chorar. — Peeta chegou hoje com a esposa perfeita, bonita e calma, que é uma mãe muito melhor do que eu, Maggs.

Comecei a chorar, logo sentindo seus braços me ampararem. Nunca pensei que ela fosse fazer isso.

— Katniss, você precisa aceitar o seu passado, que abandonou tudo para viver o seu sonho.

Chorei ainda mais, soluçando. O perfume que Maggs usava hoje era o mesmo que minha avó usava.

— Eu queria tanto mudar as coisas, Maggs! Tanto! — A apertei contra mim, como se fosse meu salva-vidas.

— Infelizmente você não pode, mas pode fazer um futuro melhor — segurou meu rosto com suas mãos carinhosas. — Por que não faz uma comida para Edward comer quando voltar? Qual é a comida favorita dele?

— Eu não sei! — gritei, quase desesperada, como se exigisse que ela soubesse todas as drogas de coisas que tinham em minha mente. — Eu não sei nada sobre ele, além de que gosta do Beatles, Elvis Presley, Peter Pan e DC!

Me afastei dela, caminhando com passos enraivados para o corredor dos quartos.

— A comida favorita dele é macarrão à bolonhesa e torta salgada. Ama tomar chá gelado. Sobremesa preferida? Sorvete de morango com pistache. Por que não cozinha isso?

Suspirei, tentando controlar as lágrimas incontáveis.

— Não sei que horas ele chega — falei, dando de ombros. — E hoje é aniversário do Peeta. Pouco provável que volte ainda hoje.

— Já ligou para ele? — balancei a cabeça em negativa, então, logo ela me jogou meu celular. — Faça sua obrigação de mãe. Ninguém pode ser uma mãe melhor do que você para o Edward.

Decidida, me virei, indo até meu quarto, encontrando tudo organizado, com exceção do cobertor que cobria a cama. Ao parecer, Edward gosta muito de se mexer enquanto dorme, como eu.

Mãe? — perguntou, confuso.

— Ed, eu vou fazer um jantar para nós dois, estou fazendo uma comida especial, e quero que você por favor volte a tempo de comermos juntos, está bem? — Fui logo direta, sem me importar. — E tenho uma supresa para você.

Eu acabei de sair daí! — disse rindo. Como sua risada é gostosa.

— Eu sei! — respondi, sorrindo. — Me promete?

Nós vamos ficar uma eternidade sem nos vermos novamente, mãe. É claro que eu prometo. Só não posso confirmar o horário que vou chegar, está bem?

Às vezes, eu me surpreendia com toda sua educação.

— Espero você — avisei, ansiosa.

Coloque a coca-cola no gelo, amiga! — gargalhei, cobrindo os olhos com o antebraço. — Beijooos!

— Beijos!

E desligamos o celular.

*

— Prove isso, por favor — quase enfiei a colher com um pedaço da comida na garganta de Maggs, que bufou, tomando de minha mão e veio até a cozinha, pegando da panela.

— Por que Prim vem aqui tantas vezes e te compra comida? — sorri, grata pelo elogio. — São seis horas. Não vai desejar ao Peeta um feliz aniversário?

Suspirei, com dor nos ombros.

— Acha que eu deveria? Eu já fiz toda a janta, sobremesa para até amanhã e... Acho que vou ligar para a Amy.

— Nada disso! — ela brigou, em reprovação. — Ela só te leva para farra!

— Mas é minha amiga! — debati, bufando.

— Amigos, Katniss, te levam para o caminho bom. Por mais que você queira beber, fumar um pouco e "aproveitar" sua vida, lembre-se que tem um filho, um filho que te ama, e isso se torna recíproco a cada segundo. Liga para o Peeta, o deseje felicitações.

Suspirei, concordando.

— Vou tomar um banho, Maggs. Muito obrigada por tudo. Vá para casa. Ed me disse que você tem visita hoje, não é? — sorriu, concordando.

— Sim, meus netos vieram me ver. Passaram para a UCLA.

— Você não tem 54 anos? — perguntei, confusa. Ao que me lembro, ela só tem uma filha.

— Sim, mas família não é quem necessariamente compartilhamos nosso sangue. É também que a gente considera. Por isso, ligue para o Peeta, ligue para o Edward. Clove não é sua inimiga, ponha isso em sua mente. Mas ela tem o que era exclusivo seu, pelo simples fato de ser carinhosa.

Prendi o ar, na intenção de não voltara chorar.

— Já conversaram? Você e ela já conversaram? — perguntei, séria.

— Claro que sim. Você nunca atende o telefone residencial. É uma moça muito educada.

— Ela é uma babaca! Uma babaca! — exclamei, indo com passos furiosos para o banheiro tomar um banho. — Que saco! A atual do meu ex mais querida do que eu! Como pode uma coisa dessas?!

Maggs ria, arrumando poucas coisas.

— Não se esqueça do dinheiro em cima do microndas, Maggs! — gritei. — É seu! Por ter ficado o final de semana aqui!

— OBRIGADA! — agradeceu, e eu sorri.

Edward tinha até mesmo mudado a forma da qual eu tratava as pessoas, mas principalmente a minha forma de enxergar o mundo.

22:38 da mesma noite

— Peeta, atende esse celular... — falei, andando de um lado para o outro no quarto, com o celular em meu ouvido. Já achava que eles estavam na Inglaterra com outro número de telefone.

Peeta Christopher Sheeran Mellark, atende a droga desse celular ou você NÃO vai ter mais como ouvir nada! — bramei furiosa, quando caiu na caixa-postal mais uma vez. — Você sabe que horas são? Dez da noite! Idiota! Babaca!

E desliguei, impaciente. Joguei o celular no sofá, acertando a barriga de Bandike, que apenas suspirou profundamente, fazendo o aparelho deslizar para o seu lado. Revirei os olhos. Folgado.

Romeu latiu, pedindo colo, e não tinha como resistir ao sorrisinho que eu juro que ele carrega no rosto, um sorriso torto. Não sorri de volta, mas o peguei no colo. Nas noites mais difíceis, eles dois eram meus companheiros.

Às vezes, eu sonhava comigo aos 20 anos outra vez, recebendo a notícia de que minha avó tinha morrido em um sério engavetamento de trânsito. Não fui para seu enterro. Não conseguiria ver o seu caixão velado,em Liverpool, e tudo o que eu podia fazer por ela em vida, eu fiz, dizendo o quanto amava e era grata. Não conseguiria ver o caixão da única pessoa da família que eu olhava nos olhos e não sentia raiva. Antes mesmo de eu acordar, Romeu e Bandike se aconchegam em mim, "cavando" os espaços que meu corpo deixava na cama, então, se deitavam, aquecendo muito mais do que meu corpo, aqueciam minha alma.

— Será que já estão chegando? — perguntei, mesmo sabendo que não iriam responder. Ele espirrou no meu rosto umas cinco vezes antes de me olhar com a língua de fira, fazendo-me rir sinceramente, beijando o alto de sua cabeça peluda. — Vocês são adoráveis...

A campainha tocou, então, logo corri para atender, para finalmente comer o macarrão que eu fiz — e estava uma maravilha, sem dúvidas —. Abri a porta radiante, sentindo meu cabelo balançando por causa da "corrida" até a porta, quando vi um par de olhos com heterocromia. Um azul e o outro verde. Azul como um oceano, verde como a campina.

— E aí? — disse, sem esboçar um sorriso completo, apenas metade dele, com Edward no colo, dormindo como um anjo. — Eu não queria que ele fosse embora, mas não o deixei dormir comigo e a Clove porque você pediu para trazê-lo.

Sua voz era ainda mais real, os fios loiros - que estavam em tons mais escuros -, quase lhe cobriam os olhos.

Ai meu Deus, eu vou vomitar. Sempre imaginei que Peeta fosse ficar mais bonito, mas agora ele estava aqui, dez anos mais velho, bem mais alto, forte, com uma voz impressionantemente forte, mas gentil. Era cem vezes melhor do que eu pensava.

— Tudo bem, me dê ele aqui — pedi, estendo os braços. Bufou, e eu imitei seu ato, cruzando os braços. — Vai começar a palhaçada? Eu já o carreguei no colo com esse peso todo. Posso fazer de novo.

Revirou os olhos, acomodando Edward ainda melhor em seus braços, com as penas curtas ao redor de sua cintura.

— Dane-se, eu estou a um tempão com ele no colo, onde Teddy dorme?

— Mal educado — resmunguei, dando passagem, quando Bandike e Romeu começaram a latir loucamente, mas mantendo distância de Peeta, que morre de pavor de animais.

Ai meu Deus, ai meu Deus, onde fica o quarto dele, Katniss, por favor — ri de seu drama, vendo que se segurava para não fazer um escândalo e subir nas paredes feito o Homem-Aranha.

— Sai, meninos, está tudo bem — bem mal, já que Peeta estava aqui, comigo, na minha casa, com Edward no colo. Mas disfarcei, é claro.

— Vem, é por aqui — falei, em um tom mais baixo, vendo que Edward havia se mexido um pouco, fazendo um barulho de bebê com a garganta, esfregando os olhos. Parecia não ter crescido desde a primeira vez que o peguei no colo quando dormia. Abri a porta do quarto dele, que havia ficado pronto. Peeta foi direto para onde estava a cama, deitando o menino como se fosse de porcelana. Saí dali, segurando o ar com todas as minhas forças para não desabar. Ali estava ele, seis anos depois do nosso encontro que até envolveu alguns chacoalhões dele em mim depois que acertei um tapa em sua cara. Foram necessário quatro pessoas para nos separarem.

Fui para a sala, me sentei no sofá. Romeu e Bandike foram dormir com Ed, já conheço a peça.

— Você quem comprou o quarto para ele? — Peeta perguntou, parecendo na sala menos de um minuto depois.

— Sim, na segunda semana, mas só agora que ficou pronto — suspirei decepcionada, balançando a cabeça em negativa. — Vou mandar um semelhante para a sua casa em Cambridgeshire.

— Não precisa — falou, calmo. Não olhávamos um nos olhos do outro, disfarçávamos. — Ele decorou o próprio quarto lá.

— Ah... Tudo bem então — e ficamos em um silêncio arrasador.

Ouvi seus passos irem em direção a porta, até o som de diversas coisas caíram no chão.

— Ai, inferno — xingou, enquanto eu ia até onde ele estava, começando a rir mais uma vez. As fotos que eu e Edward temos juntos nas últimas três semanas foram reveladas por Prim, as melhores, então eu colocarei em porta-retratos e em um álbum de fotos, caíram no chão, umas vinte delas. Por sorte, estávamos sorridentes na maioria.

— Me desculpe — falou, pegando-as, e eu o ajudei, ainda rindo. Seu rosto branco estava todo vermelho. — As fotos ficaram legais.

Sorri.

— Eu sei.

Dois segundos em silêncio foi o suficiente para ele cair na gargalhada, e eu também, por alguma razão, então ficamos sentados no chão, rindo.

— Você não muda não, Katniss? — perguntou, esfregando os olhos, com um sorriso, levantando-se, sem me estender a mão.

— Claro que não, e nem você. Percebe-se sua ignorância com a educação sobre como tratar uma dama — arqueou uma sobrancelha, observando-me ficar de pé. — 'tá, não sou mais uma dama, mas e dai? Você entendeu.

Ele me encarou, rindo novamente. Não consegui conter um sorriso. Na última vez que nos vemos, precisaram literalmente nos segurarem, porque ele ia me bater, já que eu tinha começado a bater nele, em seu corpo com força. Muita força. Nem eu sabia que era tão forte assim depois dos meus cinco dedos ficarem marcados em se rosto.

— Ok, que seja. Estou indo — se virou, caminhando até a porta, sem mais delongas, tempo ou discurso. Não, não e não, Peeta.

— Espere! — falei, com uma mão na testa e outra na cintura. — Não quer jantar?

Ele se virou, até que parecia calmo. Parecia, não estou muito certa.

— Não posso. Clove está um pouco doente ainda — levei discretamente os olhos para sua mão esquerda, onde uma aliança de ouro bonita e fina estava no anelar. Senti vontade de chorar, na verdade, estou a um passo disso. Olhei novamente para seu rosto, com traços aperfeiçoados. A perfeição era ele, se houvesse.

— Eu fiquei duas benditas horas na cozinha fazendo um jantar para eu e Edward, com sobremesa, pois ele estava sobre sua responsabilidade, e você não comer nem um pedaço do bolo?

Franziu o cenho, semicerrando os olhos. Estava desconfiado.

E eu, prestes a voar em seu pescoço e agredí-lo, pois a noite não estava exatamente como eu planejei.

— É de que? — perguntou, com as mãos no bolso.

— Chocolate.

— Receita da Matilda? — Foi inevitável não conter um sorriso. Assistíamos ao filme Matilda inúmeras vezes juntos, e sempre tive uma boa mão para cozinhar. Todas as vezes que eu fazia um bolo, tinha que ser de chocolate, bem como a receita do filme, que aprendi com minha avó. Não fiquei tão espantada por Ed gostar tanto desse bolo também.

— Qual outra eu faria? — perguntei, arqueando uma sobrancelha, cruzando os braços na frente do corpo. Ele suspirou, fechando os olhos por um instante, então os abriu, menos de um segundo depois. Podíamos começar a terceira guerra mundial aqui e agora, com apenas uma palavra.

— Preciso ir. Não deixe de me ligar caso aconteça alguma coisa e... — seu celular apitou. Rapidamente leu a mensagem, enquanto eu desviava o olhar para as pinturas na parede, mordendo os lábios, segurando a súbita vontade de chorar. — A Clove precisa de mim. Ela ainda está com febre e náuseas por causa da Gripe Suína.

Bufei, dando de ombros.

— Que seja. Posso ficar com o Ed sem interrupções? — perguntei, dando um passo a frente. — Segui os seus conselhos, e estamos nos dando melhor, justamente nessa última semana. Quando ele começa a estudar?

Peeta sorriu, passando uma mão no cabelo, que quase caía em seus olhos. Esse gesto permaneceu com o passar dos anos, mesmo com o cabelo aparado ele fazia isto.

— Em duas semanas, mas os meus pais querem ficar um pouco com ele quando chegarem de Orlando.

— Como... — senti vergonha, mas continuei. — Como eles estão?

— Estão ótimos, obrigado. Estão comemorando alguns tantos anos de casados aí.

Ri. Eles se casaram na Igreja quando eram bem novos, aos 15 para 16 anos, algo assim.

— Fico feliz por eles. Diga-os isso, por favor — balançou a cabeça em concordância. — Mas eu não desejo nada de bom para a sua esposa.

Meu tom era sério. Por mim, Clove deixava de existir, podendo deixar o caminho mais favorável para Peeta me perdoar. Pensei que fosse brigar comigo, mas ao invés disso, mais uma vez ele caiu na risada.

Como sua risada é linda, ainda mais pessoalmente.

— Ela é adorável. Você poderia conhecê-la com calma um dia, Katniss. Sério, Edward ia gostar.

— Como você é podre, Christopher... — falei, com os olhos semicerrados. — Usando o Ed para aproximar nós duas. Ela deve me odiar. Não que esse sentimento seja totalmente recíproco, mas vai nessa mesma linha.

Ficou um pouco mais sério. Céus... Que absurdo. Ele é como uma mulher para mim, por ser casado, mas que visão. Que. Vi. São.

— Estou falando bem sério. Você não está levando essa coisa de ser mãe finalmente à sério? Não que eu acredite que você tenha mudado, não mesmo. Você é uma pessoa que podemos passar a vida inteira tentando entender a razão de suas maluquices, e podemos acabar malucos como você, mas estou dizendo, que quando isso tudo acabar, ou seja, na semana que vem, se você continuar nesse padrão, de cozinhar a comida favorita dele, levá-lo a lugares divertidos que a maioria das crianças gostam, ele vai esperar como uma árvore ao lado do telefone por uma ligação sua, e como não sei se você realmente mudou, pois foi o que você fez até os cinco meses de vida dele... — suspirou, fechando os olhos. Que ótimo, porque uma lágrima pesada caiu do meu olho direito, de pura dor. São nesses momentos que a gente tem noção das nossas atitudes.

— Eu mudei, Peeta — falei baixo. Uma das razões que acho que sou uma atriz cobiçada para filmes de drama ou romances, é pelo fato de que sou intensa. Eu sou uma pessoa intensa. Não finjo as minhas lágrimas, sou tão natural quando a luz do Sol, e cada emoção que tenho é com todas as minhas forças. Eu me entrego a qualquer personagem. A diferença é que uso algumas táticas para me conter no dia a dia, mas diante a sinceridade de Peeta... É diferente.

— Eu ainda nem vi as reportagens, entrevistas, e prefiro ficar assim mesmo — disse, ficando irritado.

Argh! — resmunguei. — Que se dane você e o que você pensa agora, acontece que admito que te dei ouvidos, finalmente, e não espere que eu vá dizer isso de novo. Muito obrigada pelos conselhos, e nesse final de semana, eu pude ver que Edward é bem mais do que um erro que a gente cometeu no passado. Ele é uma das melhores coisas que já me... aconteceram.

Surpreendi com minhas próprias palavras.

— Acredito em parte de suas palavras pela animação da qual o Teddy veio falar comigo hoje, mas fique você sabendo que — deu um passo à frente. Um metro de distância nos separava fisicamente, pois temos nove anos de puro rancor, ódio e ressentimentos entre nossas almas. — Eu não vou responder pelos meus atos. Não estou brincando, eu falo de tudo o que sei ao seu respeito, o que você fez com ele quando era apenas um bebêzinho com diversos problemas cardiorrespiratórios.

Seu tom sério fez eu me arrepiar. Ninguém fala comigo desse jeito, mas ele pode, ele fala, porque ele sabe de muita coisa.

— Peeta — tomei posição, dando mais um passo, decidida. — Eu posso ter me esquecido o significado da palavra amor, e muito pouco saber sobre o que é ser mãe. Eu me desfiz desses significados anos atrás, e juro, com todo o meu coração, com toda a minha alma, que eu estou disposta a fazer você, Edward, e o mundo inteiro, ver de longe o quanto eu me importo com aquele menino.

Ele me fitou por alguns instantes, da mesma forma que eu o fitei. O silêncio era desconfortável, mas não a ponto de querer acabar com ele. Ao menos estávamos um diante do outro sem nos agredir.

— Você tem uma semana, não para me fazer mudar de opinião, mas a sua forma de ver as coisas como são — disse, calmo. O Peeta que eu me recordo, de seis, nove anos atrás, não falaria nesse tom comigo. Isso me deixou estranha, pois não era uma reação que eu esperava. "A maternidade muda a gente", lembro-me do que me disse, e ao meu ver é totalmente verdade. Até o olhar dele era tão mais suave de forma que eu pensava ser impossível.

— Está insinuando que eu não consigo? — perguntei, dando dois passos lentos, com um olhar mortal. Ele, abusado de um jeito que apenas ele consegue, sorriu cínico.

— Os flashes te deixaram surda também? — perguntou, sarcástico. Eu odeio o sarcasmo.

— Não, seu babaca — falei, bufando, depois de revirar os olhos. Dei quatro passos pra trás. — Mas diz que duvida de mim para eu poder fazer. É assim que funciona a vida.

Ele achou graça. Acabei sorrindo no final, um tanto gentil.

— Não vou decepcionar vocês outra vez — prometi, em um tom baixo. Fico sempre afetada quando se trata de Edward, Peeta e meu passado. — Não posso fazer isso. Por favor... — quase corri até ele, ficando a um espaço pouco menor que um metro. Podia sentir nossas respirações como uma só. Novamente senti vontade de chorar, mas me segurei.

— Deixe ele comigo. Não apareça com ela, por favor... — pedi em uma súplica, quase, querendo rodear meus braços ao redor dele, e chorar com a cabeça em seu peito.

— Clove é a minha esposa — disse, dando um passo para trás. — E não importa o que aconteça, ela não é mãe biológica dele, você é. Seja mais do que uma mãe biológica. Isso qualquer mulher pode ser. Posso te dar a minha vida e afirmar que o melhor e maior presente que você pode dar pra o meu filho é cumprir sua função de mãe. É apenas isso que ele quer, e infelizmente eu não posso suprir isso, dar esse presente.

— Estou me esforçando — falei, quase em um sussurro. — Não cozinho desde o acidente com a minha avó — olhei em seus olhos, pois eu estava de olho nos meus pés. Ele me olhava com atenção, receoso. — Faz quatro anos. Mas por ele, para agradar ele, eu fiz isso. Peeta, é um caos sair na rua sem um disfarce, mas eu saí, só para podermos tirar fotos juntos e ver um sorriso no rosto dele.

Esperei algo, mas como não sabia do que, ele quebrou o silêncio.

— Quebra o coração dele mais uma vez que eu quebro tudo o que você passou esses anos construindo — ameaçou, em um tom baixo, de repreensão. — Me ligue caso precise de ajuda ao que se refere a ele, qualquer momento.

Balancei a cabeça em concordância, devagar, seguindo-o até à porta principal.

— Tchau, boa noite e... — Antes que ele passasse da porta, o impedi com minhas palavras. — Feliz aniversário. Tudo de bom pra você.

Sorriu, um mínimo sorriso, mas eu lia aqueles olhos como o roteiro do filme Titanic, do início ao fim.

— Obrigado. Boa noite, até logo.

Balancei a cabeça em concordância; e o mais inesperado aconteceu: abri os braços para um abraço de despedida, e ele estendeu a mão para apertar, também como despedida. Rimos.

— Ok, de novo – falei, mas aconteceu ao contrário, eu quem estendi minha mão para ele apertar, e ele abriu os braços como um abraço. Rimos mais uma vez.

— Ok, deixemos isso para uma outra ocasião — disse, balançando a cabeça em negativa. — Não peço desculpas por ter ignorado suas ligações ou por ter me atrasado. Clove vomitou pra caramba depois que chegamos no hotel, depois ficou com vertigens. Edward para completar quebrou um negócio aí, do hotel, que ganharam em 1800 não importa. Só saímos às sete.

Balancei a cabeça, tentando manter a calma. Clove. Talvez eu mate ela caso eu esteja na TPM.

— Já levou ela ao médico? — perguntei.

Ele revirou os olhos.

— Com ciúmes, Katniss? — questionou, dando dois passos para trás, saindo do apartamento.

— Acho que sim — falei, batendo um pé no chão.

— Não é gravidez, para sua informação. É gripe suína. Nós dois temos muito cuidado com isso, ainda mais nessas últimas semanas, que usamos como Lua-de-Mel, já que a fotografia é um hobbie.

Semicerrei os olhos, possessa.

— Eu vou começar a contar até 10 — avisei, séria, com os olhos apertados e os braços cruzados na frente do rosto. Peeta deu um sorrisinho vencedor idiota. — Estou no 8.

— Você nem começou a contar. Mas ok. Clove mandou lembranças — provocou, piscando, mordendo o lábio inferior. Ele ficava terrivelmente atraente dessa forma, e sabia.

— Mande meu desprezo e o meu grande... — arqueou as sobrancelhas, divertido, como se dissesse "acha que é bom xingar sendo mãe?". — Dane-se.

E bati a porta, ouvindo a gargalhada dele.

Ousado! — gritei, abrindo a porta novamente, vendo-o de lado, rindo, com um braço na frente do corpo à espera do elevador.

— Como se você tivesse o direito de me chamar dessa forma — disse, cantarolando. — Insolente.

Fiquei boquiaberta, um tanto ofendida.

— Arrogante!

— Meu lindo rosto não é espelho, Katniss — respondeu, revirando os olhos héteros mais uma vez. — Lembre o Teddy que só porque estou perto não significa que ele deva parar de me ligar.

Arrumou a gola da blusa, em um gesto para disfarçar o desconforto de falar pessoalmente comigo, talvez.

— Claro — falei, com um leve aceno e um sorriso torto, segurando a lateral da porta, como se eu estivesse me escondendo. — Não vou me esquecer de lembra-lo disso.

Balançou a cabeça, concordando, entrando no elevador.

— Obrigado. E... — ficou de frente para mim, já dentro do elevador. — Cuida dele.

— Eu vou. Não se preocupe.

Então, as portas começaram a se fechar, e quando fecharam, foi o que cortou nossos olhares, presos um no outro. Seu olho azul estava ainda mais azul com a luz amarelada vintage, arrancando o ar dos meus pulmões.

Cuida dele, foi o que sua boca disse, mas aquele olhar... Eu conheço esse olhar. Era um "Cuide-se" junto. Eu vi, eu podia enxergar aquele adolescente de 15 anos ali, escondido — e muito bem —, atrás do homem que ele é hoje aos 25 anos.

Mas eu não podia me dar o luxo de pensar assim, porque ele é casado, é como uma mulher para mim, como deve ser. Ele pertence à Clove, e Clove à ele.

Busquei imediatamente o celular, como se aquilo fosse o meu oxigênio, antes que eu começasse a gritar aos soluços desesperados.

Katniss? — A voz ecoou meus ouvidos, fazendo meu coração se aliviar um pouco.

— Finnick, você tem a manhã de amanhã disponível? Eu gostaria muito de te encontrar de novo.

Que droga — disse, irritado. Fiquei tensa. — Era para eu ter te ligado para dizer isso primeiro! Pensei que estivesse dormindo esta hora. E ontem, vi suas fotos nos sites aproveitando o dia na Calçada da Fama com o Edward.

Abri um sorriso, relaxada. Era fácil conversar com ele.

E você é uma atriz de Hollywood, pensei que estivesse brincando comigo.

— Finnick! Isso horrível! — falei, rindo. — Sim, saí com ele ontem, conhecer alguns lugares. Então, não deu para te ligar. Mas e aí? Aceita?

Claro! — disse, e parecia estar sorrindo. — Tenho uma cafeteria ótima, que você vai gostar, com certeza.

— Obrigada — falei, segurando o telefone com as duas mãos. — Isso é muito importante para mim.

Digo o mesmo... — falou, delicado. Sorri, anotando um pouco avoada o endereço da cafeteria.

— Até amanhã então, saio de casa às oito, mas tenho que voltar às 10h ou Edward vai acordar e brigar comigo.

Ele riu bastante.

Também precisa da autorização dele para sair?

— Não sei, mas... coisa de criança. E como estamos nos acertando ainda, não quero que briguemos novamente.

Ah, entendo completamente. A peça se repete aqui em casa e... — afastou um pouco o telefone do rosto, provavelmente. — Anny Louize Singer Odair! Para! Não! Não! AI MEU DEUS! — e um barulho alto foi ouvido. — Katniss, é só falar que aparece! Anny acabou de... O que foi que você arrumou aí? Olha essa cozinha, minha filha!

— Eu só esquentei a comida que o senhor fez! Pai, você quem cozinha verdadeiras bombas! Quero um lanche do Subway por ter tentado contra a minha vida! Olha isso! Era pra ser uma lasanha!

— Isso é frango...

Comecei a rir, cobrindo o rosto com uma mão.

— Finnick, acho que vamos ter que adiar nossa saída — sugeri, não querendo fazer isso, mas pelos sons de coisas desgrudando de algum lugar, não sei se estaria tudo organizado até amanhã pela manhã.

Que nada, eu já precisei arrumar algumas coisas assim, dessa vez não foi demais e... querida, vou ligar para a pizza — Anny riu, animada, e ouvi passos se distanciarem, quase pulando. — Só vou dormir um pouco mais tarde.

— Mas você tem que trabalhar. Eu só tenho trabalho na semana que vem.

Está tudo bem, juro. Já tive que arrumar coisas mais desastrosas do que um microondas queimado e frango nas paredes. É fácil depois que conhecemos o Veja MultiUso— gargalhei, permanecendo com um sorriso no rosto. Ele riu também, talvez pela própria desgraça.

E o Ed? Como está? — perguntou, carinhoso. Como ouvi sua voz um pouco melhor, deduzi que estava com o celular entre o ombro e o ouvido.

— Está bem, no quarto dormindo. Ontem, ele passou o dia comentando sobre a Anny. Mas ele terá que manter a amizade por telefone. Semana que vem vai voltar para a Inglaterra.

Oh, Katniss... Eu sinto muito — Seu tom era suave como uma nuvem de verão.

— Por que? — perguntei, com o cenho franzido.

Porque você ama muito ele, e é recíproco, não é? Olha, eu preciso arrumar essa cozinha, mas saiba que eu já passei por uma situação semelhante, e não vejo a hora de podermos conversar. Não me incomodo de receber sua ligação. Só é meio difícil de eu poder te atender entre às 14 e 19h, mas...

— Finnick, só de estar falando comigo depois de tudo o que aconteceu hoje, eu sou muito grata. Muito mesmo, nem sei como agradecer.

Posso dar a certeza de que ele sorriu.

— Deixe eu pagar a conta na cafeteria amanhã e não fure comigo, é o que eu peço!

Senti meus olhos se encherem d'água.

— Mal posso esperar por amanhã — falei, desesperada por alguém que me entendesse.

— Nem eu. Boa noite.

— Boa noite — e desliguei, jogando o celular no sofá. Fui para o meu quarto, começando a chorar, chorar, chorar.

Soluços descomunais saíam dos meus lábios, comecei a suar, de tanto que eu chorava. Peeta é casado, Finnick me entende, Edward ama Clove, meus cachorros não gostam de mim, eu sou eu.

— Shhh, mãe, está tudo bem — ouvi a vozinha de Edward, na porta de oé, caminhando apressado até mim. — Está tudo bem.

E se deitou ao meu lado, depois Bandike e Romeu pularam na cama junto, aconchegando-se em mim.

— Quer me contar o que aconteceu? — perguntou, colocando uma perna sobre minha cintura, me abraçando bem apertado, e eu não conseguia devolver por causa das lágrimas.

— Eu quero voltar dois anos atrás — falei, com a voz embargada. — Poder cuidar melhor de você, ter impedido o casamento do seu pai, ter ajudado a esposa do Finnick, valorizado umas coisas aí.

— Não entendo essas coisas, mãe... — falou, um pouco decepcionado. — Tenho apenas 9 anos. Mas olha — segurou meu rosto com suas mãos com calos nas pontas, mas era tão gentil como um vento. — Vai ficar tudo bem. As coisas são como devem ser, não como queremos que sejam.

O abracei, beijando o alto de seus cabelos, que pude sentir pela primeira vez que tinha o aroma de chocolate, e seu pescoço, cheiro de bebê.

Finnick disse que Edward me ama e é recíproco. Oh, Finn diz diversas coisas verdadeiras, mas no momento, essa foi a mais real de todas.

Embolei-me ainda mais à Edward, sentindo-o sorrir, murmurando algo que não compreendi, mas levei como algo bom. Também murmurei algo inteligível, como “finalmente”.

Finalmente eu tinha me encontrado, e era ao lado de Edward, amando e sendo mãe dele.

Edward Sheeran Mellark


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Notas finais do capítulo

Bom, tomei um pouco d'água, o que me fez despertar um pouco - mas não tanto assim, porque preciso de comida -, só que quero agradecer a todos que comentaram no capítulo anterior, devo dizer que estou muito, muito feliz mesmo. Não pedi nenhum comentário, mas recebi quinze, e devo dizer que é uma honra enorme escrever para vocês, ler cada um de vocês, respondê-los e criar vínculos. Nossa, ter passado dos 100 comentários foi uma alegria enorme. Valeu mesmo a todos vocês que fazem parte disso!
Espero que tenham gostado, e por favor, tem alguns que ainda ficam insistindo por mais romance entre o Peeta e a Katniss, ou Katniss e Finnick, o foco dessa fic, treinando a mamãe, é a relação da Katniss e do Edward, exclusivamente. Fiquei até um pouco decepcionada comigo mesma por ter tido tanto Peeta e Katniss hoje, no entanto, vai ter um desfecho para cada casal, um desfecho decente, não fiquem preocupados quanto a isso.
Mas sexta-feira promete, com muitas coisas fortes B) Ainda não comecei a escrever, mas vou logo, logo que terminar de responder todos os comentários de TAM! *sorriso*
É isso, pessoal, boa semana, o próximo capítulo vai ser bem rápido pois esse ficou enrolando, mas vão ver o quão necessário foi isso tudo.
Muito obrigada por ler, espero que tenha gostado. Fiquem com Deus, beijos, beijos!
AAAAHHHH! *fechando os olhos, por ter ficado com dor de cabeça* O GIF, GENTE, ESSE GIF É DO MASON COOK, O EDWARD QUE EU MENTALIZEI antes de postar, aí como eu também concordo que seja um pouco difícil de imaginar, aí está.
Também vale informar que eu estou à procura de fotos entre pai e filho, que seria o Peeta e o Ed, e de mãe e filho, que no caso seria a Clove e o Ed, mas alguns também para serem usados com a Katniss e o Teddy (mudei pra não ficar repetindo o nome). Vou usar bastantes no capítulo da semana que vem... - pensativa, séria, fazendo cálculos -. Então quem tem alguma foto nesse estilo, ou que acha que ficaria interessante eu me inspirar, nossa, eu ia ficar super feliz, de verdade.
Vou ficando por aqui, dessa vez é sério, agradecendo mesmo cada um de vocês. Valeu por continuar até aqui comigo! *aceno com um sorrisão*