Sereias apocalípticas escrita por Evil Maknae, RebOS, Laesinha, Ana


Capítulo 16
Pato.


Notas iniciais do capítulo

YO YO YO YO YO REBECCA AQUI!
Hey, pessoas! Nesse capítulo vão ter não um, nem dois mas TRÊS PERSONAGENS NOVOS.
Estamos com tudo! Somos uma fábrica de escrever histórias. -qq
Vocês vão entender o título, quando lerem então... BOA LEITURA )o)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/686214/chapter/16

 Já haviam se passado alguns dias depois da morte do Cian. O clima estava bem pesado. Primeiro a morte do Ben, que me trazia pesadelos até hoje e logo após a morte do Cian, que nós nem suspeitávamos que tinha desejos homossexuais pelo Ben. Amanda é a que mais sofria e eu entendia o seu sofrimento. O grau de amizade entre ela e o Cian era praticamente o mesmo que entre eu e Ben.

 O Cian era uma das pessoas mais chatas que eu já tinha conhecido, mas também a mais verdadeira. Todos do grupo tinham saudade de caçoar com a cara dele ou até mesmo das brigas que aconteciam. O estranho de se viver no apocalipse é que todas as coisas irritantes do mundo em que vivíamos antes traziam saudades e com pessoas as coisas não são diferentes. Eu demorava muito tempo para me tocar que alguém tinha realmente havia morrido. Às vezes eu me pegava olhando para trás no carro esperando ver o Impala Vermelho do Ben.

 No momento estávamos dentro do carro. O clima ainda estava tenso, mesmo que a morte tenha sido há alguns dias. Amanda, que até tentara se suicidar, estava cabisbaixa. Abraçava o Cookie no banco do fundo ao lado de Anna, enquanto eu estava no banco de passageiro ao lado de Layx. Estávamos na estrada. Devia estar de madrugada.

 O farol do carro iluminava o asfalto cinzento, alguns corpos cheios de sangue e ratos que atravessavam a pista correndo. Alguns zumbis surgiam em meio à escuridão e Layx passava por cima deles como sempre.

 –Estou com sede. –Cortei o silencio. –Alguém tem água?

 –Acho que tenho um pouco aqui. –Anna buscou água em sua mochila. –Esquece. Acabou a minha água também.

 –Temos que procurar mais. –Layx afirmou. –Que tal amanhã de manhã?

 –Claro. –Anna respondeu.

 Eu assenti com a cabeça.

 –Tenho que comprar mais comida para o Cookie. –Amanda falou. –Pelo menos tentar achar algo.

 –Vamos nos separar amanhã e procurar o máximo de coisas. –Layx propôs. –Vamos falar com os outros.

 Concordamos.

 O silêncio reinou pelo resto da viagem. Passamos por uma placa grande indicando a nossa chegada a uma cidade que não consegui ler muito bem o nome. Suspirei. Mais uma cidade.

 Não demorou muito para encontrarmos uma casa para ficar. A cidade era cheia de ruas. Decidimos não ficar numa casa muito grande e sim num sobrado. Parecia pequeno visto de frente.

 Paramos o carro, soltamos e entramos. Charles e Misha empurraram uma estante para a porta assegurando que zumbis não entrariam na casa. Dormimos por cerca de duas horas no máximo, até que saímos novamente, desta vez em busca de mantimento.

 ***************************

 Separamo-nos em dois grupos. Um com eu, Amanda, Layx e Anna e outro com Misha, Charles e Ivy. Nós procurávamos por comidas, água e utensílios úteis. Eles procuravam por armas e munições.

 Tinha uma rua bem grande e cheia de lojas com vitrais quebrados. Devia ser uma antiga rua de comercio, mas que tinha sido invadida pela tristeza e destruição do apocalipse. Corpos mortos no chão, animais nojentos e alguns zumbis que sempre estavam se arrastando por ai.

 –Vamos nos separar? –Amanda perguntou.

 –Tem muitas lojas, é uma boa ideia. –Respondi.

 –Eu vou com Layx em lojas por aqui e vocês duas podem ir para aquela loja grandona ali. –Ana sugeriu. –Ou ao contrário.

 –Podemos ir para a grande? Quero procurar comida ou algo pro Cookie. –Amanda pediu. Eu aceitei então fomos andando.

 Vitrais melados de sangue com vidros quebrados e cacos espalhados por todo o local. Normal. Atravessamos o buraco da vitrine, como normalmente fazíamos e entramos na loja. Tinha cheiro de mofo.

 Pegamos as lanternas e vasculhamos as prateleiras em busca de coisas úteis. Eu procurava petiscos caninos com Amanda na sessão de Pets.

 –Será que essas coisas apodrecem mesmo? –Olhei para encará-la. –Estamos comendo coisas industrializadas e que passaram da validade há um bom tempo.

 –Verdade. –Ela cheirou a embalagem. –Não parece tão podre e olha que a data de validade diz que já inspirou há um ano.

 –Pega uns, se o Cookie tiver alguma reação negativa a gente joga fora.

 –Boa. –Ela jogou algumas em sua mochila. –“Sabor picanha deliciosa”. Cookie está com sorte. Vou pegar alguns biscoitos para...

 Um barulho de algo de alumínio caindo chamou a nossa atenção. Cookie deu um grunido.

 –É um zumbi? –Cochichei.

 –Cookie não está latindo freneticamente como sempre faz. –Amanda respondeu.

 Puxei Boris do meu cinto e caminhei lentamente pelos corredores do supermercado. Fui até o local que o barulho vinha. Virei a lanterna rapidamente. A lata estava caída no chão.

 –AAAAAAAAAAAH!

 –AMANDA! –Corri. –Amanda?

 Voltei até o corredor. Cookie latia sem parar.

 Ela sumiu?

 De repente algo me agarrou pelas costas. Minha boca foi tapada por uma mão grossa e grande coberta por um pano. Um cheiro forte invadiu minhas narinas. Minha visão foi escurecendo e embaçando.

 Apaguei.

 ***********************

 –Rebecca? –Ouvi alguém chamando meu nome. –Puta merda, não fala que você morreu.

 Soltei um gemido de dor.

 –Ai, graças a todos os deuses desse mundo. –Era a voz de Amanda.

 Olhei para ao redor e vi o corpo de Amanda pendurado do meu lado. Eu também estava pendurada e meus braços doíam.

 – O que está acontecendo? –Perguntei com o pescoço dolorido.

 –Sei lá, cara. Eu acordei e nós estávamos penduradas aqui.

 Olhei ao redor. O local era bem grande. Tinha uma parede cheia de ganchos, outra com facas enormes, machados e serras. Eu e Amanda estávamos penduradas numa grande barra de ferro que ia de um lado a outro. Tinham alguns ganchos do nosso lado.

 Também havia duas portas. Uma de metal e outra era uma porta dupla com cortinas. E balcões por todo o espaço.

 –Isso é um... Açougue? –Indaguei.

 –Eu também acho que é. –Amanda concordou.

 –Mas quem é o maluco que acorrenta pessoas em um açougue?

 –Ou ele é um canibal, ou um psicopata assassino. –Ela falou. –Não importa o que seja, eu vou surrar ele até a morte.

 –Eu vou ter o prazer em ajudar.

 –Ei, ouviu isso? –Ela perguntou.

 Ficamos em silencio. Eu ouvi um barulho de passos se aproximando. De repente a porta dupla abriu e um cara alto, com cabelos vermelhos, tapa olho e rosto com cicatrizes entrou. Ele parou subitamente ao nos ver e franziu o cenho. O rapaz tirou o cigarro da boca e revirou os olhos.

 –Ai que merda... –Ele abriu uma das portas duplas. –JASON.

 O cara ficou parado na porta esperando uma resposta.

 –O que é? –Uma voz grossa soou. 

 –Venha aqui. –O homem deu mais uma tragada no seu cigarro e esperou o companheiro aparecer.

 Outro homem apareceu. Este era bem musculoso, tinha a pele cor de café com bastante leite, algumas tatuagens, cabelos longos e ondulados até o ombro, uma barba média preta e olhos pequenos meio esverdeados. Usava uma blusa cinza larga, mas que não escondia seus músculos. Ele tinha um peitoral largo. As sobrancelhas eram meio arqueadas com ar de malvado. Na esquerda, havia um corte. Nunca achei algo charmoso, mas nele até que não ficava tão ruim.

 –Elas acordaram. –Jason falou.

 –Cara, que droga é essa? –O companheiro ruivo de tapa olho falou. –Estamos quase saindo daqui para continuar a viagem e você pega mais pirralhos.

 –Eu já te expliquei sobre isso, Woody.

 –Já basta aquele garoto meio pato no freezer e você ainda pega mais duas. –O homem chamado Woody apontou para a porta de metal.

 Eu olhei para Amanda, que estava com a testa franzida. Garoto meio pato?

 –Elas vão ser as últimas. –Jason afirmou. –Eu prometo.

 Woody afirmou com a cabeça e deu outra tragada no seu cigarro. Ele saiu e nos deixou com o carrasco. Eu tive vontade de gritar para que o Woody ficasse do nosso lado, mas preferi poupar a minha morte.

 –Olá, meninas. –Jason falou sorrindo.

 –O que está rolando? –Amanda perguntou. Ela era bem direta.

 –A provável morte de vocês.

 –Eu mereço... Mais um desses. –Revirei os olhos. –Vai me dizer que você vai nos pendurar aqui até a hora de nossa morte?

 –Vocês entendem bem as coisas.

 –Vamos ficar aqui por quanto tempo? –Amanda perguntou.

 –Não te interessa. –Jason sorriu. –Pra que quer saber disso?

 –Para saber quanto tempo eu tenho para negociar contigo.

 –Negociar? –Ele ergueu a sobrancelha. –Diga-me o que você tem para oferecer.

 –O que você precisa? –Perguntei.

 –Não preciso de nada, mas eu quero saber o que vocês têm para me dar.

 –Uma... Família. –Amanda falou.

 Jason riu como se estivesse assistindo um show de piadas.

 –Família? –Ele continuava rindo. –Não preciso de família.

 –Talvez o seu parceiro precise. –Falei.

 –O Woody não faz parte das negociações.

 –Por quê? –Ergui a sobrancelha. –Ele não concorda com essa palhaçada toda?

 –O único palhaço que tem aqui está num freezer usando máscara de pato.

 –Escute aqui, cara, nós temos uma família e esta é sua chance de fazer parte dela. –Amanda continuou.

 –Vou dispensar o convite, princesa. –Ele falou com ironia.

 –Fala logo o que você quer. –Ameacei.

 –No momento, só quero matar vocês e partir rumo à base.

 –Temos informações. –Amanda continuou a negociação. –Nos tire daqui e nós te damos informações.

 –A troca não é justa.

 –Como você sabe? Temos informações muito boas. –Falei.

 –Não estou interessado em informações, as que eu precisava, já tenho.

 –Ah, qual é. –Eu já estava me irritando. –Não tem nada que você queira?

 –O que eu quero, vocês vão se recusar a me dar. –Ele levantou uma sobrancelha.

 –Vai se foder. –Amanda falou revoltada.

 –Prefiro mofar aqui até a morte. –Falei.

 –A escolha é de vocês. –Ele sorriu.

 Jason abriu a porta e saiu da sala.

 –Caralho, eu quero matar esse cara. –Eu tentava conter a minha raiva.

 –Precisamos sair dessa merda. –Amanda afirmou. –Não quero chegar ao ponto de ficar aqui e ele deixar de perguntar, para nos forçar.

 Um arrepio percorreu meu corpo.

 –Se ele chegar a nos soltar para fazer algo, nós temos que atacar. –Falei.

 –Se é que ele vai nos soltar.

 –Ok, temos que fazer um plano.

 Eu e Amanda ficamos conversando o mais baixo que podíamos. Não sabíamos as rotas de fuga, nem uma forma de soltar nossas mãos. Mofamos por umas quatro horas ou mais. Meus braços doíam e a algema já começava a criar feridas nos meus pulsos. Sangue escorreu pelo meu braço até manchar a minha blusa.

 Fechei os olhos.

 De forma bem repentina, barulhos começaram a invadir o local. Barulhos de... Pato? Demorou um tempo até que as portas duplas abriram novamente e Woody e Jason entraram.

 –O que essa aberração quer agora? –Jason pegou uma chave que estava encima de um balcão e abriu o freezer. Logicamente como tinha falta de luz, o freezer não estava ligado. –Puta merda, aquele desgraçado escapou.

 –De novo? –Woody perguntou.

 –A porta dos fundos está aberta. –Jason entrou no freezer e eu ouvi um barulho de porta fechando. –Nem sinal do desgraçado.

 –AI CARALHO. –Amanda gritou.

 Quando eu olhei para a porta dupla novamente, vi uma figura alta, magra, com manchas de sangue no corpo e uma máscara super medonha de pato. Ele carregava uma arma grande nas mãos.

 –Puta merda, que susto. –Sussurrei.

 Woody e Jason olharam ficaram lado a lado e de frente para o garoto pato.

 –Solte-as. –Ele levantou a arma e apontou para o Jason. –Agora.

 –Não se esqueça que eu sou mais forte que você, Duck. –Jason respondeu.

 –Mais forte sim, mais esperto não. –Ele se afastou mais. –Solte-as.

 Jason andou até nós, pegou uma chave e tirou as algemas. Massageei meus pulsos doloridos e tentei limpar o sangue.

 –Agora você vai nos deixar ir embora. –O garoto pato fez um sinal com a mão livre para que nós ficássemos atrás dele. –Se quiser, vai fazer parte da família.

 –O QUE? –Indaguei. –Amigo, a família nem é sua. Nós é que decidimos essa merda.

 –Discutimos isso depois. –Ele falou. –Vocês vão aceitar?

 –Como ele sabe da família? –Amanda sussurrou para mim.

 –Eu estava no freezer. Consegui ouvir. –Duck respondeu. –Adoraria fazer parte.

 –Ok... –Assenti com a cabeça.

 –Não é tão ruim. –Woody falou.

 –O QUE? –Jason olhou perplexo para o Woody. –Você está zoando com a minha cara.

 –Na verdade não. –Woody franziu o cenho. –Qual o problema?

 –Você vai querer fazer parte da família? –Jason parecia não acreditar. –Cara, nós somos machos alfa dessa droga de apocalipse.

 –Jason, se você não gostar, é só cair fora depois. Simples. –Woody parecia levar a vida bem melhor que o companheiro. –Eu topo.

 –Ok. –Duck afirmou com a cabeça. –Jason?

 Jason revirou os olhos.

 –Ok. –Ele falou finalmente. –Eu topo. Mas se você tentar me matar, seu pato desgraçado...

 –Se eu quisesse te matar já teria feito isso há muito tempo. –Duck falou e abaixou a arma.

 Em um movimento rápido, Jason saltou sobre Duck e o agarrou pela camisa. Duck não tinha porte físico para bater no Jason, então ficou gritando.

 Eu e Amanda tivemos que ajudá-lo dando socos no Jason.

 –LARGA ELE. –Gritei enquanto dava chutes na costela do Jason.

 –JASON, PARA. –Amanda subiu nas costas do Jason e mordeu seu ombro.

 Depois de um tempo, conseguimos separar os dois. Duck se afastou do Jason e segurou um machado.

 –E AINDA FALOU QUE EU IA TE MATAR. –Ele arfava de cansaço.

 –Eu tinha que liberar minha raiva por você ter fugido. –Jason falou.

 –Eu devia te prender aqui, seu...

 –Garoto, olha a língua. –Jason ameaçou. –Sorte sua eu não ter te matado. –Depois colocou a mão no ombro. –Puta merda, quem foi que me mordeu?

 –Eu. –Amanda levantou a mão. –Sua carne é macia.

 –Jura? –Ele ergueu uma sobrancelha.

 –Vamos cair fora, por favor. –Woody falou. –Tem mais alguém nessa família de vocês duas?

 –Tem. –Afirmei. –Mais três meninas e dois meninos.

 –E onde eles estão? –Jason perguntou.

 –Não sei. –Respondi.

 –Vai dizer que você se perdeu de sua família? –Ele franziu o cenho.

 –Sim, porque um idiota me sequestrou e me prendeu na porra de um açougue.

 –Vamos voltar até a casa onde estávamos. –Amanda falou. –Eles ainda devem estar nos esperando. Vocês têm carro?

 –Sim. –Woody afirmou. –Venham.

 **********************************

 Demorou um tempo para que nós achássemos a casa que estávamos antes de sermos sequestradas. Não conhecíamos a cidade, então ficamos rodando pelas ruas por um tempão até finalmente achar um caminho familiar. O carro que estávamos pertencia ao Jason e Woody. Era uma caminhonete. Na parte da frente, tinha o Woody dirigindo e o Jason no banco de caronas. Nos bancos do fundo estava Amanda na janela direita, Duck na esquerda e eu no meio. Na traseira do carro eles armazenavam uma pancada de coisa como armas, munições, roupas e alguns alimentos.

 Por sorte, Jason guardou nossas mochilas, que estavam intactas e guardadas com as outras coisas na traseira. No momento, eu apenas tentava não ficar mais assustada com o garoto do meu lado.

 Duck, assim como o nome sugere, usava uma máscara de pato que cobria a cabeça toda. Era aquele tipo de máscara de borracha ou algo do tipo que você simplesmente cobria a sua cabeça inteira, como uma toca. Era toda amarelada, com o bico do pato meio alaranjado e olhos desenhados nas laterais com olhos bem pretos. Tanto os olhos como o bico eram bem modelados, como se fosse um pato de verdade. Um pouco acima do bico havia dois furos, que era por onde ele respirava e olhava as coisas ao seu redor. Os buracos não eram tão grandes, mas eu acho que com a luz do sol em determinado ângulo, dava para ver seus olhos.

 Era bem visível que ele queria ser alguém único no apocalipse. Além da máscara estranha de pato, que tinha algumas manchas de sangue, Duck usava uma blusa completamente roxa com uma estampa de girafa sorridente e cotoveleiras pretas que cobriam uma parte do braço. Usava também uma calça larga de cor clara com bolsos e botas de borracha. No colo, ele segurava uma jaqueta de couro marrom que era bem larga. Não parecia o tipo de garoto que tinha músculos evidentes, diferente do Jason.

 Chegamos à rua da casa que estávamos. Dava para ver o Charles na janela, o que fez Amanda se agitar.

 –Ali. –Ela apontou. –Olha o Charles.

 –Ok. Vou estacionar perto. –Woody manobrou o carro.

 Estacionamos perto do carro de Layx. Saímos, pegamos nossas mochilas na traseira e seguimos até a casa. Alguns zumbis rodeavam, mas não tantos que não pudéssemos matar. Nossos amigos abriram a porta e nos ajudaram a matar alguns.

 –AI. –Ouvi um grito. –NÃO, NÃO.

 Olhei para Anna e Layx que batiam no Duck. Fui até elas.

 –Não, ele faz parte do grupo. –Segurei o braço delas.

 –Opa. –Layx parou de atacá-lo.

 –Eu não sabia que ele era humano. –Anna ajudou o Duck a se levantar. –Desculpe.

 –Sem problema. –Duck arfou. –Já estou acostumado.

 Quando o garoto pato se afastou de nós, as duas franziram o cenho para mim.

 –Rebecca, mas que droga é aquela? –Layx perguntou.

 –Eu não sei. –Respondi. –Ele apenas gosta de patos, ou sei lá.

 –Eu tomei um susto do inferno. –Anna falou guardando sua arma.

 –Sim, eu sei, todos tomam...

 –QUAL O PROBLEMA DE VOCÊS? –Duck gritou de novo.

 Revirei os olhos e continuei gritando que ele era humano, desta vez para o Misha. Quando todos os zumbis que estavam em volta de nós haviam acabado, entramos em casa, antes que surgissem mais.

 –Vemos que vocês acharam novos membros para a família. –Ivy era sempre simpática. –Prazer, sou Ivy. –Ela estendeu a mão para os três novos membros.

 –Jason. –Ele se apresentou retribuindo o gesto.

 –Prazer, sou Woody. –Woody também fez a mesma coisa.

 –Oi. –Duck segurou a mão dela. –AI.

 –Opa, desculpe. –Ela parou de apertar a mão do Duck. –Foi mal.

 –Sou Duck. –Ele respondeu massageando a própria mão. –Nunca fui tão bem recebido como hoje.

 Eu ri. Era feio rir do sofrimento alheio, mas não é todo dia que se vê gente batendo em um cara com máscara de pato.

 –Eu estou com fome. –Amanda falou. –Vocês conseguiram pegar algo?

 –Na verdade, não. –Charles respondeu. –Procuramos, mas não tinha nada. O que sobrou pra comer foram os biscoitos velhos.

 –O apocalipse está começando a pesar mais do que o normal. –Layx acrescentou.

 –Vocês sempre comiam? –Uma voz perguntou. Demoramos um tempo para perceber que era o Duck.

 –Sempre que possível. –Respondi. –Por quê?

 –Eu não sou muito acostumado a comer. –Ele falou enquanto buscava algo na sua mochila. –Mas eu tenho algumas pílulas que dão energia.

 –Onde você achou isso? –Anna perguntou.

 –No começo da minha expedição no apocalipse, eu estava procurando alguma vacina ou algo do tipo para conseguir escapar do vírus.

 –E achou? –Misha o interrompeu.

 –Não. –Ele virou sua cabeça com a máscara de pato assustadoramente rápido enquanto respondia. –Mas eu achei várias coisas interessantes nesses laboratórios. –Duck observou dentro da sua mochila, franziu a testa e depois a virou de cabeça para baixo fazendo com que uma trilha de cartelas de remédio fosse derrubada no chão. –Um minuto, eu já vou achar as pílulas.

 –Caralho... –Jason arregalou os olhos. –Você tem alguma doença que precisa ser controlada? Algo do tipo?

 –Não. –Duck respondeu. –Eu gosto de guardar pelo caso de emergência.

 –Parece que você viaja com a sua avó que sofre com problemas cardiovasculares. –Jason falou rindo da sua própria piada.

 Duck apenas continuou procurando suas pílulas.

 –Achei! –Ele levantou uma cartela bem maior do que as outras com pílulas meio azuladas. –Cada um pode tomar uma.

 –Eu não vou tomar isso. –Jason negou com a cabeça.

 –Por quê? –Woody indagou.

 –Você confia nesse garoto pato? E se for algo para nos matar? E se for algum tipo de droga?

 Woody franziu o cenho. O pior é que fazia um pouco de sentido, ainda mais porque não conhecíamos o Duck. Mesmo assim, eu sentia uma confiança estranha nele.

 –Ok. Então...  –Woody ergueu a sua sobrancelha que não estava tapada com o seu tapa olho. –Duck, você toma uma primeiro.

 –Sem problemas. –Duck afirmou com a cabeça. –Escolham uma. –Ele estendeu a cartela. –Qualquer uma.

 Woody deu espaço para que Jason escolhesse, já que foi ele que causou toda a intriga. Jason apontou para a que estava no canto. Duck tirou da cartela, colocou na boca por baixo da máscara e engoliu.

 –Vamos esperar que faça efeito. –Jason falou com os olhos estreitos. –Ou alguém quer se arriscar junto com ele?

 –Eu. –Minha boca abriu.

 Meu cérebro deu um erro momentâneo e graças à adrenalina do momento, eu me arrisquei. Por algum motivo maluco, eu também estava sem medo.

 –Tem certeza? –Charles perguntou.

 –Sim. –Continuei com a mão esticada. –Pode me dar a cartela, Jason.

 Jason não pensou duas vezes e colocou a cartela na minha mão. Duck chegou perto de mim.

 –Você não precisa fazer isso.

 –Eu não me importo. –Falei. –Só quero energia.

 Pressionei a unha sobre a camada de alumínio do fundo da cartela e retirei a pílula. Olhei para o Duck, na verdade para a sua mascara de pato, coloquei na boca e engoli. A pílula desceu rapidamente pela minha garganta e agora eu teria que lidar com as consequências, sendo positivas ou negativas.

 –Boa sorte. –Jason falou com uma sobrancelha levantada.

 –Gente. –Misha chamou. –Eu estou achando que o número de zumbis na rua está muito grande.

 Olhei para Misha, que estava na janela. Eu e meus amigos caminhamos até ele. Procurei um espaço para olhar a rua e quando finalmente consegui pude perceber a quantidade enorme de zumbis.

 –O nosso cheiro deve estar muito forte. –Layx falou. –O número está aumentando a cada dia.

 –Sinal de que a base está cada vez mais próxima. –Anna tentou suavizar o momento de tensão com uma frase bonita.

 –Acho que não precisamos nos preocupar tanto. –Jason falou. –Vocês colocaram uma estante na porta. –Ele apontou para a porta. –Se eles entrarem, a gente mete bala.

 Ivy gargalhou.

 –As meninas precisam descansar. –Charles falou enquanto olhava para a Amanda. –Saímos mais tarde.

 –Eu concordo. –Falei enquanto sentava no sofá. –Preciso de um curativo. Meu pulso está machucado.

 –Eu tenho kit de primeiros-socorros. –Duck falou.

 Demorava um tempo para percebermos que era a voz dele. Estávamos acostumados a ver o movimento da boca enquanto ouvíamos pessoas falarem. O Duck usava uma máscara, o que dificultava a situação.

 –Quer que eu faça o curativo? –A máscara de pato me encarava.

 –Tanto faz. –Respondi. –Se você permitir que eu descanse enquanto faz o curativo, beleza.

 Normalmente a Amanda que fazia os curativos, mas como ela estivera na mesma situação que eu e precisava de descanso, permiti que o Duck fizesse o trabalho.

 Colocamos colchões, cobertores, mantas e travesseiros na sala. Decidimos dormir todos juntos por causa da estranha movimentação dos zumbis. Caso um conseguisse invadir a casa, todos seriam avisados ao mesmo tempo.

 Duck enfaixava meu pulso e fazia um trabalho até legal. Anna e Misha estavam num colchão de casal juntos e conversavam lendo o diário/ caderno que os pais de Anna deixaram para ela. Charles, Amanda, Ivy, Jason e Layx conversavam entre si e comiam alguns biscoitos velhos. Woody acendia mais um cigarro e tragava com prazer lendo uma revista numa poltrona velha e verde.

 Era uma boa família.

 –Pronto. –Duck cortou um pedaço do pano. –Espero que ajude.

 –Valeu. –Agradeci e fiquei olhando ele guardando as coisas dentro de uma caixa de metal.  –Eu posso te perguntar uma coisa?

 A máscara virou rapidamente.

 –Claro. –Ele respondeu e continuou me encarando.

 –Qual o seu nome? –Desviei o olhar. –Porque não deve ser Duck.

 –Daniels. –Ele virou a cabeça e fechou a caixa. –Daniels Foklandislov. Por quê?

 –Nada. –Peguei um biscoito. –Curiosidade.

 Ele assentiu com a cabeça.

 –E o seu? –Ele perguntou.

 –Rebecca Rutherzakier. –O biscoito estava meio mole, mas era o que tinha. –E qual é a da máscara?

 –O quê?

 –Por que você usa essa máscara?

 –Você é bem curiosa. –Ele colocou a caixa na mochila e recolheu as cartelas de remédio.

 –Nunca tive um amigo que eu não conseguia ver o rosto.

 –Entendo. –Duck puxou um livro velho de sua mochila e sentou no colchão, ao meu lado. –Gosta de ler?

 –Não foge da pergunta.

 –Eu não gosto de respondê-la.

 –Você vai ter que responder mais cedo ou mais tarde.

 –Quanto mais tarde melhor.

 Revirei os olhos. Puxei o cobertor até a minha cintura e olhei para ver o que o Duck lia.

 –Ei, seu colar é igual ao meu. –Notei o seu triângulo pendurado sobre a blusa. Eu não tinha visto antes.

 –Impossível. –Ele respondeu sem ao menos olhar pra mim.

 –É sim. –Puxei meu colar de dentro da blusa com raiva. –Veja você mesmo.

 Ele virou a máscara e permaneceu em silêncio. Depois pulou em mim e colar do meu pescoço.

 –Ei! –Protestei. –Da próxima vez que você...

 –Onde você conseguiu isso? –Ele perguntou olhando fixamente para o triângulo.

 –Era de uma velha. Eu invadi uma casa há um ano e achei isso.

 –Tem toda uma história por trás disso. Só tem poucos espalhados pelo mundo. –Ele olhou para mim. –Você não leu a caixa?

 –Que caixa?

 –A caixa que o colar veio.

 –Eu tenho cara de quem lê caixas no apocalipse?

 Ele continuou olhando o triangulo até que percebeu a presença do anel pendurado.

 –O que é isso? –Ele perguntou aproximando o anel. –Tem algo escrito.

 Tomei meu colar das mãos dele.

 –Não é nada. –Respondi.

 –“BM”?

 –Quem é o curioso agora? –Devolvi o colar para o meu pescoço.

 –Era uma amiga?

 Levantei.

 –Namorado? –Ele continuou perguntando.

 –Não, ok? –A tristeza aumentou em mim. –Esqueça isso.

 –Não quer ouvir a história do colar?

 Subi as escadas do sobrado.

 –Não. –Respondi rispidamente.

 –Você está bem? –Duck me seguia.

 Ignorei e continuei subindo até chegar numa grande varanda. Duck parou na porta e eu sentei numa cadeira velha.

 –Desculpe. –Ele falou.

 –Era um amigo. –Respondi. –Sinto saudade dele. –Olhei para a noite escura. –Tenho que superar essa merda.

 –É normal. –Duck sentou na outra cadeira.

 –Mas o bom é que você arranjou outros amigos. –Ele virou a máscara para me encarar. –E acho que você pode confiar neles.

 –Jason? Duvido. –Sorri. –Woody e você? Talvez.

 –Você pode não ver a minha cara, mas tomou a pílula. –Ele cruzou as pernas.

 –Eu estava fraca. –Olhei para o Duck. –Além disso, você tomou também. E foi o Jason que escolheu.

 Duck assentiu.

 –Sua energia estará se desenvolvendo no seu corpo em poucas horas. –Ele levantou.

 –Ok.

 Ele caminhou para fora da varanda. Dava para ouvir seus passos, que pararam de repente.

 –Fico feliz que confie em mim.

 E desceu as escadas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

QUACK! :v
Não sei o que falar, só... ATÉ O PRÓXIMO CAPÍTULO.