Imperium Lan - A Queda de Um Império escrita por Accord2


Capítulo 8
Maximus: Nem Todos Somos Corajosos




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Tinham parado em Libertus para reabastecer a nave, tanto com combustível como com água e alimentos. Estavam de volta à metrópole, depois de terem lançado um ataque bem sucedido a Boris. A base rebelde nesse planeta estava dizimada e Maximus não se podia encontrar mais do que satisfeito com a victória. Aproveitou o momento para sair da nave, aqueles corredores metálicos e monótonos eram difíceis de suportar por muito tempo. Tinha o dia todo para fazer o que quisesse, o capitão tinha-os dispensado.

Chovia a potes e o céu, negro como se fosse de noite, era rasgado, quase interruptamente, por relâmpagos barullhentos. O vento estava forte e levava tudo o que encontrava. Não está lá um dia muito bom para passear. Mas sempre é melhor do que estar na nave. Maximus abrigou-se num café de esquina e pediu algo para bebericar. Era por volta da hora de almoço e o café estava cheio de gente que, na sua pausa de almoço, enchia o estômago faminto com sandes caseiras de queijo de ovelha e presunto bem salgado. Cheirava a pão acabado de fazer, e por uma janela velha o rapaz espreitou-o a sair do forno a fumegar. Aquilo deu-lhe uma fome do outro mundo e pediu uma sandes com pão quente. A manteiga derretida com o calor do pão escorria por todo o lado e o presunto era salgado e era tão bom que Maximus viu-se obrigado a pedir mais.

Sentou-se numa mesa com vista para rua e olhava pensativo lá para fora. Tinha salvo um rebelde e não sabia como se devia sentir em relação a isso. Não sabia se estava a trair Mimi, ou se tinha quebrado a promessa. Nessa noite mal dormira. Passou-a a fitar o tecto escuro, deitado na cama de cima do beliche. Nem sabia bem porque tinha feito aquilo, porque propôs aquilo ao líder, agiu num instinto.

—Passa-se algo? – Perguntou Pedrus, um colega do exército e que dormia no mesmo quarto.

—Não. – Mentiu. Não estava com disposição de contar a história toda, muito menos a uma pessoa que só conhecia de vista.

—O líder disse que depois de amanhã chegamos à metrópole. Estou desejoso da pausa e de regressar a casa para a minha mulher. – Pedrus era mais velho, já tinha mais de trinta anos e até já tinha filhos. - Tens alguém à tua espera?

—Os meus pais.

—E nada de amores?

—Nope. Nada de amores. – Maximus nos últimos dias andava impaciente, queria chegar o mais depressa possível a casa. Queria visitar a campa de Mimi, levar-lhe flores e contar-lhe o que tinha acontecido no último ano. Sabia que iria estar apenas a falar para uma campa de pedra fria, mas isso de certo modo fazia-o sentir-se mais perto do espirito da companheira. Nas últimas cartas enviadas pelos pais estes demonstraram a sua preocupação e disseram que Maximus ainda se iria apaixonar de novo, que ainda era um jovem e iria conhecer muitas pessoas ao longo da sua vida. Não sabia o que pensar sobre isso. Sentia que não era capaz de amar mais ninguém além de Mimi, que se voltasse a apaixonar estaria a traí-la.

—Todo gatão como és pensei que tivesses amores, mais do que um. – disse rindo-se. Maximus tentou-se rir, mas não conseguiu. – Ah, estou desejoso de chegar, mas parece que ainda vamos parar em Cate, parece que vamos destruir mais uma base rebelde.

—Seja como o líder disser. Os rebeldes têm o que merecem.

—É verdade rapaz, esmagar e ganhar.

—Esmagar e ganhar. Pedrus, que achas daquele rebelde que está nas oficinas.

—Aquele que salvas-te da morte? –Maximus ficou incomodado, não sabia se Pedrus estava zangado ou não, sentiu que não devia ter tocado no assunto. – Não sei. Parece boa pessoa, mas nunca se sabe, afinal é um rebelde. Pode ser que mude de lado se passar tempo conosco.

—Pode ser, seja como os deuses quiserem. Vou ao templo, queres vir? – Maximus habituara-se a rezar nos últimos meses. Fazia-o para aliviar a mente e honrar o espirito da amada. Gostava de falar com o sacerdote da nave e todos os dias ia ao templo da nave. Hoje estava em terra e queria aproveitar para visitar um templo a sério, o da nave era apenas uma miniatura.

—Não, eu cá não acredito nisso da religião. Tretas de mulher. Vá vai lá rapaz, boa sorte com esse templo e que o vento não te leve. – disse rindo-se.

O templo de Libertus seguia o estilo da maioria dos templos do Império. As suas colunas altas de mármores eram coroadas por desenhos esculpidos dos deuses em mármore da mais rica. O telhado tinha telhas cor de sangue e a porta era verde azeitona. O interior cheirava a incenso e finos raios de luz entravam por pequenas janelas nas altas paredes. Uma enorme estátua de Abacus, o deus dos deuses, erguia-se bem em fronte de todos. O deus estava sentado no seu trono de mármore cor de marfim. Os seus trajes eram cor de azul marinho e tinha na sua cabeça uma coroa de louro incrustada com pedras preciosas. Sem dúvida que Libertus era uma das cidades mais ricas do espaço colonial. Aos pés de Abacus, minúsculas como formigas, pessoas rezavam, não deviam ser mais do que dez. O sacerdote conduzia a oração.

Deus grandioso, guiai-nos na nossa jornada, guiai-nos de volta a casa. Deixa que as estrelas brancas e puras aceitem em si a nossa suplica e nos iluminem o caminho na noite escura que há de vir. Deixa que o calor do sol afaste o frio da noite e que a sua luz inesgotável afaste a sua escuridão. Somos pequenos e precisamos da Tua proteção. Deus bondoso como és, ajudai-nos, guiai-nos, perdoai-nos.

Maximus juntou-se lhes na oração. As vozes ecoavam pelas paredes brancas chegando aos ouvidos dos deuses. Sentou-se num dos bancos e deixou-se ficar horas e horas, até que o sol se foi e a noite começou a entrar pelos vidrais coloridos com as figuras dos deuses. Os deuses têm sido bondosos comigo. Já tinha participado em duas batalhas e sobrevivera a ambas, matando vários rebeldes. A sua primeira batalha foi um mês depois de entrar na Força. A nave sofreu um ataque surpresa no espaço e, embora ainda estivesse em treino, lutou ao lado dos colegas mais experientes. Nessa batalha abateu sete naves inimigas sem sofrer um único tiro. A sua segunda batalha foi em Boris, quando atacaram a base inimiga. Destruiu duas naves inimigas e sofreu um tiro na asa que quase o matou, mas ainda não tinha chegado a sua hora. Amanhã seria a sua terceira batalha. Sentia-se nervoso, bastante nervoso. Já tinha ouvido Janos dizer que por mais batalhas que lutem que um homem está sempre nervoso na véspera. Rezava aos deuses para que sobrevivesse, embora a morte não assustava. Para ser honesto não sabia se queria mesmo sobreviver, sentia-se totalmente indiferente ao seu destino. Se morresse podia por fim voltar a abraçar Mimi. Mas apesar disso rezava pela vida.

Estavam no espaço, prestes a entrar na atmosfera de Cate. Tinham acordado há muito, mais cedo do que o habitual. Iam atacar de surpresa os rebeldes, à semelhança do que acontecera em Aucy. Pelos corredores da nave homens corriam para os seus postos, outros davam ordens e outros corriam desorientados vestindo ainda os uniformes.

—Vamos lá pasteleiros, ainda estão assim? Toca a despachar. – gritava Janos. O líder estava impaciente como sempre.

Maximus estava na sua nave individual há muito. Quando a campainha soou ligou os motores da nave com a máxima intensidade e preparou-se para arrancar. Tinham acabado de entrar na atmosfera e em Cate ainda nem era manhã e os rebeldes estavam a dormir, o que lhes dava a vantagem inicial. Quando o portão da nave mãe se abriu os mecânicos desprenderam as naves e deram o sinal de partida. O rapaz puxou a alavanca dos travões e descolou em direção ao planeta.

Centenas de naves encheram o ar. Raios de luz eram disparados contra a base, contra as casas, os campos, contra tudo que fosse rebelde. Algo parecia errado a Maximus, tinham se passado vários minutos desde o início do ataque e ainda não havia sinal dos rebeldes. Olhou à sua volta e não os encontrava em lado nenhum. Contactou pelo o rádio o comandante, que lhe disse para não se preocupar. Maximus não conseguia não se preocupar, como poderia fazer isso se algo dentro de si lhe dizia que aquilo ia terminar terrivelmente mal. Os minutos foram passando e o comandante deu ordens para aterrarem e verem o que se passava. Maximus não queria aterrar, sentia que isso seria o seu fim. As naves individuais foram aterrando uma a uma e os homens foram saindo com as armas nas mãos, vasculhando a área.

 Os primeiros raios de luz anunciavam a alvorada e ainda não havia sinal dos rebeldes. Foi então que o pior pesadelo de Maximus se concretizou. Das montanhas geladas, bem debaixo da neve surgiram centenas e centenas de naves que pintaram o céu da alvorada de negro. Os imperiais estavam em vantagem numérica, mas estavam fora das naves, o que significava que não podiam lutar. Do céu começou a chover feixes de luz, bombas, pedras, tiros. Os soldados da Força foram bombardeados sem misericórdia. Muitos ainda tentaram correr para as naves mais foi em vão, depressa explodiram em espectaculares bolas laranjas e fumo. Outros disparavam com as suas armas para o céu, mas isso revelou-se tão inútil como matar um pessoa atirando esponjas.

Maximus correu procurando abrigo. Escondeu-se num dos edifícios da base rebelde que tinham sobrevivido ao ataque. Sentiu-se molhado e percebera que se tinha mijado. Estava cheio de medo, percebera que ia morrer. A nave mãe era atacada por todos os lado e aqui e ali viam-se nuvem grossas de fumo negro. Não iria durar muito mais tempo e depressa cairia sobre o campo de batalha matando todos os homens.

—Malta, apanhei um! - Maximus virou-se e viu um rebelde com uma arma fazendo pontaria à sua cabeça. – Mãos no ar, sacana.

Maximus nem pensou, levantou as mão imediatamente rendendo-se. Estava morto de medo e percebeu que afinal queria viver, que ainda tinha amor à sua vida.

—Vá, por aqui, vamos te fazer prisioneiro e esfolar-te a pele como vocês fazem com os nosso.

Maximus nem respondeu, seguiu à frente do rebelde, com a arma crava nas suas costas. Foi levado para uma praça da base, onde já estavam outros imperiais cativos. Atrás de si a nave mãe caiu num grande explosão, fazendo tremer o chão e levantando uma enorme nuvem de pó. Os imperiais eram atados e levados para naves de carga, que partiam depois para o outro lado das enormes montanhas geladas que se erguiam em volta do vale.

—Para onde nos vão levar!? – exigiu saber um dos prisioneiros. Percebeu pela voz que era Pedrus.

—Cala-te ou levas com um feixe de luz nos cornos. Vais para onde te levarmos, escumalha.

Maximus nem pestanejava com medo. Sentia-se um cobarde. Toda a sua coragem desaparecera no momento em que percebeu que estavam a perder a batalha. Para onde tinha ido? Não sabia. Só sabia que era um cobarde, que tinha sido feito cativo e que muito provavelmente iria morrer.

Os rebeldes riam-se por ter as calças molhadas e sempre que os ouvia rir olhava para o chão como um cachorrinho submisso. Preferia ter sido morto do que passar aquela vergonha. Era assim que ia vingar a amada? Como poderia vingá-la se nem se conseguia conter? Sentia-se estúpido, parvo, idiota. Sentia-se uma vergonha, uma mancha na família. Que diriam os pais daquilo? Certamente reprovariam.

            Entrou numa das naves cargueiro e foi levado, voando em vou rasante sobre a neve pura. Do outro lado apenas havia floresta, mas no meio da floresta havia uma entrada secreta. Percebeu então o plano dos rebeldes. Tinham-se escondido aí dos radares, numa entrada para o subsolo que levava a uma outra base que a Força desconhecia. A nave entrou por aí e aterrou por fim num enorme hangar subterrâneo.

            -Fora. Toca a sair. Vá, sigam aquele ali.

            O jovem seguiu para onde lhe foi ordenado. Pelo canto do olho viu o rebelde que salvara e ficou surpreendido. Esse, falava com quem aparentava ser o líder dos rebeldes. Pareciam estar a discutir algo muito importante, não sabia dizer o que era. Estava sentado no chão com os restantes imperiais quando viu o rebelde da oficinas aproximar-se.

            -Tu! Maximus, vem comigo. Quero-te dizer uma coisa.


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