Mayra não era a pior colega de quarto do mundo, mas certamente existiam melhores. Durante os dois dias que se passaram nos falamos poucos, com curtas frases, a garota não permanecia no quarto por mais de quinze minutos, a não ser que já estivesse passado das onze horas, e o toque de recolher já houvesse começado. Nem sempre ela ligava para o toque de recolher, e pra ser sincera, acho que quase ninguém ligava, mas depois das onze a única coisa que ouvíamos era pessoas sussurrando, tomando cuidado para não serem pegas pelos vigias do campus. Estava falando com Alice pelo Skype , o que estava acontecendo com bastante frequência, em quanto ela não parava de tagarelar sobre o quanto sentia a minha falta.

— Eu preciso desligar – anunciei para a vampira, na tela do notebook, quando minha recém colega-de-quarto entrou batendo a porta com uma força bastante exagerada, e seu costumeiro cigarro, apagado, na mão.

— Está tudo bem? — Alice perguntou. Não disse nada, apenas desliguei o aparelho fechando a tela. Não sabia se estava tudo bem.

Os cabelos loiros e curtos da garota pareciam mais bagunçados do que o normal, e sua carranca denunciava que algo estava chateando. Não que fosse de meu interesse. Não que eu me importasse. Mas, a porta continuava sendo de uso coletivo, ela não podia simplesmente quebra-la. Me ajeitei na cama observando-a levar o cigarro apagado a boca entre aberta, sem ao menos enfiar uma toalha em baixo da porta. Ela tentou, em vão, acender o cigarro com um isqueiro, mas suas mãos tremulas não colaboraram. Ela virou na minha direção, jogando o cigarro e o isqueiro em sua cama.

— Não quero saber o que aconteceu – disse, me levantando e indo na direção do banheiro. Mas antes que eu pudesse fechar a porta um travesseiro atingiu a minhas costas.

— Você tem irmãos, Cullen? – perguntou.

— Já pedi para não me chamar assim – lembrei-a. Não era o sobrenome. Era a maneira como falava. Virei de frente para a mesma, que tinha os braços cruzados na altura do peito. – Não tenho irmãos.

— É claro que não – ela bufou, irritada. Chutando a mobília do quarto. Não pedi que ela parasse, até porque estava denegrindo a sua parte, e não a minha. – Não vai me pedir pra parar?

Neguei.

— Ele é um idiota! – disse. Jogando-se na minha cama. – Sabe, não me importo se não quer ouvir. Vou falar mesmo assim – ela me olhou, como se pedisse permissão para continuar. Mas, não falei nada, apenas permaneci em silencio esperando que ela continuasse. – Meu irmão é um idiota. Ele tem pouco menos que a minha idade, um ano de diferença, eu acho. Ele sumiu por uma semana, e voltou agora, matriculado nessa faculdade. Dá pra acreditar? Não que eu me importe muito, mas meus pais se importam. Sei que ficaram péssimos quando ele sumiu.

Ela cortou o assunto em uma parte tão sem sentido quanto começou. Imaginei, conhecendo Mayra do jeito que conheço, que ela havia enfrentado o irmão, e por pouco não tivessem saído no braço. Ela era bastante esquentada, e se aquilo fosse um problema de família suas discussões não seriam apenas verbais. De repente tudo me pareceu estranho e suspeito demais. O irmão dela se quer tinha idade para entrar na faculdade.

— Como se chama o seu irmão? – perguntei. Ela me olhou com o cenho franzido.

— Ele não faz o seu tipo.

— E qual seria o meu tipo? – perguntei, curiosa.

— Ele – ela apontou para o retrato com Paul que ficava na escrivaninha. – E com certeza é o meu tipo também.

— Só quero saber o nome do seu irmão – minha voz soou um pouco arrogante.

— Tyler – ela disse. – O nome dele é esse. Tão babaca quanto o dono dele.

Peguei meu celular no bolso da calça em quanto Mayra permanecia deitada em minha cama com os olhos fechados. Entrei no facebook o mais rápido possível, quase roendo as unhas com a demora da lenta e carregada internet. Digitei o nome do garoto, com a junção do sobrenome de Mayra. Lockwood.

Seu amigo a uma semana.