— Mano! To em casa! Trouxe comida! — Disse Jéssica, fazendo tumulto ao adentrar a casa, pouco importando-se do horário. — A mãe já chegou? Ela tá em casa?

— Deve estar chegando. — Gritou o irmão, tão barulhento tanto.

Martha e Inácio trabalhavam num shopping próximo. Era bom pois iam juntos e voltavam juntos, mas o horário era meio chato.
Elisa desceu a escada, já de pijamas.

— Cunhadinha! Me ajuda aqui!

Ela prosseguiu, pegou o refrigerante e Jessica levou as duas caixas de pizza para a mesa.

— Cadê o Filipe? — Perguntou Elisa, estranhando que o garoto não a estivesse a acompanhando. Afinal, ele sempre estava.

— Foi para casa. Achei melhor vir sozinha hoje.

— Hum. — Achou aquilo suspeito. Mas se tivesse alguma coisa errada Jessica contaria mais tarde. Tinha o mesmo sangue que Dona Martha e não conseguia se conter, apenas abria a boca e falava.

— Mas eai? O que me contas?

— Sobre?

— Não sei. Faculdade, serviço. Como você dá conta mesmo? E ainda namora o problemático do meu irmãozinho.

Elisa riu e afirmou estar tudo tranquilo. Cinza se encostou a perna de Jessica e ganhou uma calabresa de brinde.
Logo Bruno desceu as escadas, um tanto estranho.

— Vocês não vão acreditar. — Falou, seu rosto mostrava uma dor profunda.

— O que houve? — Perguntaram as duas.

— Meus posters! Estão todos arrancados da parede. Arranhados! Filho da puta, eu vou matar esse gato.

— Miauuu!  — Gritou o felino; pelos arrepiados.

Bruno, em um momento de pura ira deu um passo à frente em direção aquele que havia estragado anos de coleção.

— Pare com isso!  Você é o adulto aqui! Já devias ter entendido que isso é coisa de gato!

— Coisa de gato? Coisa de gato? Me diga por que esse maldito gato só faz essas coisas comigo? Heim?

— Por que você é descuidado! Pare de deixar coisas importantes em lugares que ele possa pegar!

— Os pôsteres eram na parede! Quase no teto! Esse ser imundo pega tudo o que for meu, não importa a que altura esteja!

— Então deixa a porta do teu quarto fechada!

— Eu sempre deixo! Não tem como eu ter esquecido ela aberta!

— Er, — Interrompeu Elisa. — Eu que a deixei aberta, me desculpe. — Disse Elisa, envergonhada pelo erro cometido. Sabia que Cinza era perigoso com Bruno, mas nem lembrou disso quando saiu do quarto para tomar seu banho.

Bruno olhou para a namorada, ainda triste.

— Tudo bem. — E decidiu voltar para o quarto, ficar o resto da noite emburrado.

Mas antes disso Jessica gritou: - Isso quer dizer que posso ficar com teu pedaço de pizza?

Bom, então apenas para garantir sua alimentação... ele voltou.

Na esquina da mesma rua, Beatriz se surpreendia ao chegar em casa e ver uma luz acessa. Morava sozinha e tinha quase certeza que havia desligado tudo ao sair de casa. Porém, como essa certeza não era de 100%, atreveu-se a entrar na residência. A luz vinha de seu quarto, então foi até ele com o coração em uma mão e o telefone com o número da polícia já discado, na outra.
Mas o que encontrou foi apenas um jovem deitado em sua cama, sem nenhuma permissão.

“ O que Vitor estava pensando? ” — Perguntou-se.

Ele dormia com o notebook aberto do seu lado. A tela estava preta, mas ela imaginava bem o que ele estava olhando até pegar no sono. Bateu uma foto do desacordado e enviou para Bruno.
Ambos tinham a chave da casa dela já que a mesma morava sozinha. Beatriz tinha medo de dar alguma merda e ninguém poder ajudar, então havia entregado a chave para os meninos. Logo depois percebeu como a ideia era idiota, pois os dois iam e vinham sem nem avisar e a deixavam louca.

Mandou a seguinte mensagem para Bruno:

“Quer vir dormir aqui?

Elisa tá aqui...

Então vou ter que mandar o coitado embora.

Por que não dorme com ele? :B
Ele não está mais namorando sabe...

—|_

Foi só uma ideia...
Uma ótima ideia :D

Cala a boca.
Amanhã tu vai falar com o Vitor né?
Cara, para de ser filho da puta e dá uma atenção para ele.

Ok,  ok. Vou tentar :v

Tentar porcaria nenhuma. Tu vai acordar as 7h e vai na casa dele!

7h? kkkkkk Nem as 9h eu consigo!

Passa o tel para a Elisa ‘-‘

Tás mandando muito heim.

Sempre :v

Be, aqui é a Elisa.

Oie
Faz um favor p mim? Antes de tu sair amanhã obriga o teu namorado a acordar? É por um bom motivo.

O que houve?

A namorada do Vitor terminou com ele.

Aquela dos peitos?

Isso, isso...

O Bruno nem me disse nada :v

Poisé, ele nem falou com o Vitor ainda. Então, joga água amanhã se for preciso tá?

Ok.”

Bom, agora era só acordar ele e manda-lo embora. Parecia fácil, certo? Então... Não era. Pois o rosto dele dormindo tranquilo era terrivelmente, argh. Ela precisava se tratar.
Se ajoelhou do lado da cama. Fez um carinho no cabelo dele.
Era tão bom.

— Vitor... — Falou baixinho. — Vamos Vitor, acorda se não o lobo mal pode te atacar.

Nada.

— Ei... — Passava a mão pelo cabelo dele, carinhosamente. — Acorda.

Ela estava naquela Friendzone a quanto tempo? Não conseguia nem se lembrar. Era um saco não controlar os sentimentos...  
Quantas vezes já precisou por seu juízo a prova?
Essa noite era mais uma dessas “complicadas”.

Ela só queria ter coragem de abrir o jogo. Quem sabe receber um não já curava esse drama todo, né?
Mas não tinha.
Pois a certeza que receberia o “não” era devastadora.

Mas quer saber? Que vá a merda.

Tirou o notebook dali e o chamou novamente.

— Vitor. — Falou alto, pela primeira vez.

— Ham? O que foi?

— Vai para o lado. — Mandou, e ele meio dormindo ainda apenas foi.

— Bia? Ah, é mesmo. Desculpa, eu entrei e você não tava, então peguei no sono.

— Ok. — Deitou-se e se tampou, virada para o lado contrário do dele.

— Err. Eu to indo para casa. — Disse, já se levantando.

— Não precisa. Dorme ai, não me importo.

Ele ficou vermelho.

— Bia, mesmo que a gente seja amigo tu continua sendo uma garota. Não pega bem eu dor....

Virou para o lado dele e o abraçou, se ajeitando para dormirem abraçadinhos.

— Bia!?

— Eu sou lésbica.