Early Sunsets Over Suna escrita por gaara do deserto


Capítulo 12
O Começo - Parte II - Feitiço


Notas iniciais do capítulo

Cha, agora melhorou!



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Tudo era areia, mas ela não tinha medo, apesar de segurar firmemente a mão de Gaara e isso a contradizia bastante. Por breves segundos Sakura pensou se aquilo fora uma imprudência de sua parte.

Ela não parecia controlar a si mesma. Tudo era impulso. As conseqüências, a situação, palavras, gestos, tudo tinha sabor de impulso. Arrependimento, talvez. Arrependimento por sentir que, de alguma forma, estava traindo Sasuke. Mas o mesmo sentimento puxava a raiva. Raiva por ter consideração ao Uchiha, quando sequer foi ou seria retribuída.

E nessa confusão, onde seus sentimentos se misturavam como uma complexa poção, feitiço, veneno, não houve lugar para o espanto que sentiu quando seus pés tocaram o solo.

Um paradoxo; uma viagem tão curta em comparação ao turbilhão de pensamentos que sucederam-se na mente de Sakura. Uns sujos, outros temerosos, e muitos raivosos. Devia ser o “lado veneno” da confusão.

- Muito obrigado por ter me acompanhado até aqui, Sakura.

De que forma a kunoichi podia comparar a doçura que parecia vir da voz de Gaara com a vil dissimulação de Sasuke? Era incompreensível.

- Onde estamos? – perguntou Sakura, não reconhecendo o lugar, exceto que podia saber que ainda estavam em Suna.

Era a laje de uma casa. Havia um pouco mais a frente um parapeito simples de ferro, bem distribuído ao redor do recinto. Tinha um ar abandonado, como se não fosse habitado ou visitado há muitos anos.

- Essa, Sakura – respondeu o ruivo, sério -, um dia foi a minha casa.

- Hã? Você já morou aqui, Gaara? – Sakura sabia muito pouco da infância dele ou de qualquer coisa antes do Chunnin Shiken. O máximo que soubera por intermédio de Naruto era que o rapaz havia tido a melhor criação de Suna (em suas próprias palavras) e que o Yondaime Kazekage tentara matá-lo várias vezes.

- Esse é um dos raros lugares que me deixam em paz. Um lugar em que deixo de ser o Kazekage e volto a lembrar da minha alcunha de “monstro”. Esquisito, não?

Sakura achou uma combinação bem estranha de sentimentos. Mas ela não podia falar nada, sentia-se em igual estado.

Como se fosse um pacto silencioso. Algo simbiótico.

Gaara aproximou-se do parapeito, deslizando uma das mãos pelo ferro encoberto de poeira, de lembranças... Do registro de amarguras de outrora.

Monstro – aquilo já não fazia tanta diferença. Incomodava-lhe, é verdade, sempre escondido no subconsciente dele. Afinal, convivera bastante com isso.

Os pés de Sakura não deixariam aquilo por menos. Tanto que ela acompanhou o ruivo no gesto, postou-se ao lado dele, solidária. Mas não tinha idéia do que fazer a seguir.

- Você morou com a sua mãe aqui? – ela decididamente precisava saber de mais. Que ao menos tentasse, para que o convite não fosse em vão.

Os olhos de Gaara, que fitavam seus tormentos antigos, resolveram fitar a kunoichi ali. Não sabia o que o levara a querer a companhia dela, não sabia que motivos o teriam levado a apresentar a ela um lugar que só ele compartilhava. É verdade que já fora surpreendido naquela laje algumas vezes quando deram por sua ausência, porém, ele não insistia pela presença de mais alguém a lhe velar, meramente ia embora ou pedia desculpas, cansado. No fim, tinha que emergir de suas reminiscências.

- A minha mãe? – ele sacudiu a cabeça – Minha mãe sempre foi a morte.

Ela pasmou-se com a resposta dele. Será que Sakura extrapolara algum limite?

- Então – as mãos da garota apertaram o ferro -, com quem você morava aqui, Gaara?

- Com meu tio... Yashamaru. – a resposta veio breve, ocultando subentendidos.

A verdade é que custava-lhe algum esforço para pronunciar o nome dele. Significava muito. Não era como estar a encará-lo. Ele e a lapide simplória. Nada mais.

- Yashamaru? – era meio leviano o modo tão fácil com que ela pronunciava aquele nome – Você tinha um tio?

O acompanhamento “tinha” era ainda mais imprudente. Sakura estava invadindo as memórias do ruivo com uma facilidade ingênua. E ele estava deixando, sem querer.

- Ele foi uma das poucas pessoas que não me olharam com medo ou desprezo – sussurrou Gaara, voltando a fixar um ponto invisível à sua frente.

“Isso se parece tanto com o que o Naruto diz...” – Jinchuurikis pensavam da mesma forma, em qualquer lugar. Gaara podia não carregar mais o Ichibi, entretanto não havia nada que apagasse o que ele sofrera. Não era estar explorando esse lado do ruivo, só era uma verdade irrefutável.

- Gomenasai – disse ela, baixando os olhos claros.

- Pelo quê? – perguntou Gaara, surpreso pelo pedido de desculpas inesperado.

- Eu... também tive medo de você – confessou a garota. Certamente não era algo que ele esperava. Não tinha motivos para cobrar alguma atenção ou respeito dela, isso nem lhe passara pela cabeça.

- Erm... – ele nunca ficara sem palavras na frente de alguém – Você não precisa pedir desculpas, Sakura. Quem sabe até eu mesmo me desprezei... Ou tive medo de ser o que eu sou.

- Parece que muitos shinobis que eu conheço se sentiram assim um dia. – disse ela, pensando em si própria e em seus amigos. O teria sido dela sem o apoio emocional que Ino fora em sua infância? Esse devia ser o “lado poção” da confusão. Viera um pouco depois, substituindo o veneno.

O silencio recaiu, não desconfortavelmente, um pouco proposital, e cada vez mais o pacto que nenhum dos dois havia feito crescia. Contudo, o tempo não parara, continuava avançando tanto para eles quanto para os habitantes perto e longe daquela laje. O crepúsculo começara a envolver-lhes, calma e sorrateiramente. Extremamente atípico.

- Nunca pensei que houvesse tanto em comum entre nós... – comentou Sakura, perdoando-se por ter feito mau juízo de Gaara num passado bobo e cheio de infantilidade. Quem podia comparar o ruivo e Sasuke e ter duvidas ao dizer quem inspirava mais bondade e confiança?

“Será que as coisas seriam iguais se ele não tivesse ido?”, pensou a kunoichi, retomando coragem suficiente para encarar Gaara.

O que o Kazekage à sua frente significaria agora? Um representante de uma nação, um amigo de Naruto, alguém que ela simplesmente conhecera de vista.

- Se é assim e estamos nos perdoando por pecados mútuos – disse o ruivo, olhando-a completamente agora –, quero pedir desculpas por achar que você era inútil.

- Quando você achou isso? – espantou-se Sakura.

- Em varias ocasiões. Quando a conheci, por exemplo. Tive a impressão que era meramente escoltada pelo Naruto e o Uchiha Sasuke.

Ela sentia-se envergonhada. Ele também fizera um mau juízo dela. Se bem que não deixava de ser verdade e ela estava grata por ter mudado tanto.

- Que bom que você só “achou” – deixou escapar o que ia pensando – Teria sido terrível se você tivesse “certeza”.

E sorrindo, a vergonha passou.

- Isso prova que até um Kazekage se engana – sussurrou ele em resposta – Você está irreconhecível, Sakura.

Podia Sasuke um dia lhe proferir iguais palavras?

- O mesmo vale para você, Gaara – tudo era impulso. Ela confirmara isso antes. Mas já não tinha tanta confiança de que isso era verdade. Aproximou-se mais dele, um simples pretexto. Fazia um pouco de frio quando começava a escurecer ali. O ruivo não percebeu aquele gesto, ficou calado. Ela realmente era uma companhia maravilhosa.

“Meu coração fica mais leve perto de você, Sakura... Isto por que agora sei que tenho um.”

A brisa de Suna surgiu, quase como gracejo proposital, fazendo com que as mechas ruivas de Gaara tocassem as róseas de Sakura.

- Eu ainda não sei por que me trouxe aqui, Kazekage-sama – brincou a kunoichi, sorrindo.

- Queria compartilhar isso com você – disse ele, em voz baixa, um pouco de receio escondido em suas palavras – Só não sei direito o motivo.

Sakura tinha certeza de que aquele era o “lado feitiço” da confusão.

Impulso. Tocou a mão de Gaara. Um contato de pele impensável.

- Sakura...?

Mas e agora? O que Sasuke realmente significava para ela? Um simples fantasma que em seu conteúdo conservava alguma solidez e levara consigo uma boa parte de seus sonhos juvenis?

Aquela aproximação, o toque inconseqüente de mãos. Não havia o que temer. A distancia dissolvia-se, centímetros que eram ignorados como avisos sem importância.

O corpo dela colou-se ao de Gaara, com ou sem permissão, ou um pedido mudo, que não pode ser ouvido. Era algo novo para os sentidos do ruivo. Se antes ele mal podia escutar seus batimentos cardíacos, agora eles pareciam terem se ampliado centenas de vezes.

Seus lábios chamavam-se. A ordem fora atendida na mais completa submissão. Seus lábios juntarem-se, por fim.

Sakura, em seus antigos contos de fadas, sonhara ardentemente pelo dia em que “seu Sasuke-kun” a tomaria nos braços e a beijaria. Isso estava fora de cogitação agora. Por sua vontade, esqueceria Sasuke.

Fora um simples gesto, tímido e fresco. Gaara nunca provara nada tão intenso em toda a sua existência.

A noite chegara, sorrateiramente, surpreendo-lhes ali, pegos pela solidão, por pedidos de desculpas, por algum em comum. Simbiótico. Urgente.


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Notas finais do capítulo

Minhas sinceras desculpas aos leitores, tem sido uma tortura ter os caps. na minha cabeça e não poder escrevê-los por incompetencia do pc.
Reclamem com ele, não tenho toda a culpa.
Bem, está aí um cap. O proximo é quando Deus quiser.
E chega de propaganda enganosa. Agora é que começa a parte GaaXSaku!