If I Die Young escrita por Kaya Levesque


Capítulo 9
Coming Down – Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Olá! Sim, podem soltar fogos, IIDY voltou três dias mais cedo do que o previsto. Por quê? Bom gente, porque essa é a famigerada última semana de férias. Pra algumas pessoas as aulas já voltaram (Mrs Dreams, meu amorzão), então aqui o prêmio de consolação de vocês.
Anyways, esse semestre vai ser uma bosta pra mim e pra mais um tanto de gente por causa de quatro letrinhas: ENEM. Além disso, os simulados na minha escola (que, para o registro, eu odeio) e um provão de matemática (sou de humanas). Significa que eu vou ter que estudar pra caralho, brigar com minha mãe e ficar sem tempo pra escrever.
Por isso, eu decidi postar os dois capítulos que já estão prontos essa semana. Na verdade, era pra ser só um capítulo que sairia na quinta, mas ficou gigante, então eu decidi dividir, senão ninguém ia ler. A parte dois vai sair na quinta-feira normalmente, e depois só Deus sabe quando eu vou postar de novo.
Ah, e obrigada por todos os reviews, acompanhamentos e visualizações, não vou mentir não... adoro!
Enfim, perdoem as notas gigantes e não desistam de mim. Boa leitura!
Coming Down – Halsey



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Deanna: Someday this pain will be useful to you.

(Start to finish, s06ep08)

 

Pelo resto da tarde, Carl e eu nos ocupamos em entreter Judith. Àquela altura, todos na casa haviam saído para a reunião, deixando-nos sozinhos com a menina. Rosita tinha razão, ela gostava de seus copos, principalmente do barulho que um fazia quando um se chocava contra o outro. Também descobri que a garota era apaixonada por música. Cantei canções de todos os artistas que conhecia, de May Jailer a Amy Winehouse, passando por Beatles e Band of Horses. Sempre que ela começava a ficar teimosa, eu cantarolava alguma coisa e Judith parava o que quer que estivesse fazendo para me ouvir.

— É por causa da garota que cuidava dela antes — explicou Carl quando eu terminei de cantar Hey Jude. O menino nos olhava da cozinha, onde fazia a papa que seria o jantar de sua irmã. — Ela gostava de cantar e Judith gostava de ouvir.

— O que ela cantava? — perguntei, olhando-o.

— Tom Waits? — devolveu ele, retoricamente. — Não sei bem. Ela cantou uma música chamada The Parting Glass uma vez.

Assenti animadamente para indicar que sabia qual era a música.

Oh all the money that e'er I spent, I spent it in good company — cantarolei.

Carl balançou a cabeça e olhou para mim, sorrindo.

— Você conhece? — perguntou.

Dei de ombros.

— Reg tem um CD chamado Come Fill Your Glass With Us — expliquei. — Eu costumava ouvir bastante.

Carl assentiu, voltando para a papa de Judith e voltei a cantar para ela. Quando seu irmão saiu da cozinha, peguei-a no colo e sentei no sofá enquanto Carl se aproximava. Ele deixou o prato na mesa, pegando a menina, que deu alguns gritinhos ao perceber que ia comer. Não pude deixar de rir e peguei a papa, franzindo o rosto numa careta ao sentir seu cheiro. Aquilo parecia com meus sapatos após dar uma volta na Bertha.

— Eu sei — comentou Carl, imitando minha careta. — Mas ela gosta.

Duvidei que alguém pudesse gostar de comer aquilo, mas Carl tinha razão. Sua irmã devorou a papa de meia suja com tanta vontade que nem pareceu se importar com quem estava lhe dando. Ao terminar, ela chutou as pernas de Carl até que ele lhe deixasse descer e logo ela estava se arrastando pelo carpete para brincar com seus blocos de letrinhas.

O garoto e eu comemos em silêncio enquanto observávamos a menina bater a letra A contra o N furiosamente. Não era um silêncio incômodo, mas eu não gostava de nenhum tipo de silêncio, então decidi conversar.

— O que você faz por aqui além de cuidar da sua irmã? — perguntei.

Ele deu de ombros.

— Eu não tinha muitas opções além de ficar com o Ron — disse. — Mas acho que isso não vai mais ser possível.

Franzi as sobrancelhas.

— Ele ficou com raiva de você? — perguntei, preocupada. Carl deu de ombros.

— Não nos falamos mais desde aquela briga — disse. — Mas acho que não seria sensato tentar.

Dei de ombros.

— Bom, você pode ficar comigo — sugeri, prestativa.

O garoto me encarou, incrédulo.

— Ah, claro — disse, ironicamente. — Eu vou mesmo me aventurar na casa de Deanna Monroe depois que meu pai apontou uma arma para ela e sua família, continue tendo ótimas ideias, Emily.

— Você pode morrer sozinho, então — falei. Nós dois rimos e franzi as sobrancelhas. — Bom, você disse que não tinha muitas opções, o que quer dizer que tem algumas, certo?

Ele me encarou, parecendo hesitar antes de me contar algo, mas cedeu por fim.

— Eu saí com Enid — disse. — Sabe, lá pra fora.

Olhei-o com a expressão congelada por alguns minutos. Ele acabara de dizer o que eu ouvira?

— Fora... da comunidade? — perguntei, hesitante.

— É — respondeu ele, dando de ombros. — Eu só fui uma vez, mas Enid disse que já faz há um tempo. Você... sabia, certo?

Olhei para o outro lado, fingindo que estava distraída com algo que Judith fizera, para que meu olhar incrédulo não me denunciasse. Claro que eu não sabia! Mas pensando bem, aquilo explicava um monte. O modo como Enid sempre desaparecia durante algumas horas do dia; aquela vez em que ela apareceu com as mãos sujas de terra e a mesma mochila suspeita que eu já vira em tantas outras ocasiões; como ela às vezes sumia durante a tarde, depois que saíamos da casa de Ron.

Já seria ruim o batante saber que Enid havia escondido isso de mim sem que outro sentimento estranho queimasse em meu peito. Por que Carl decidira se aproximar dela e não de mim? Eu era bem mais simpática que a garota, qualquer um – inclusive ela própria – concordaria. E como Enid demorara semanas para começar a falar comigo de verdade e ficara amiga de Carl, um estranho, tão de repente?

— Claro — respondi a pergunta de Carl, ainda encarando sua irmã. — Enid me conta tudo. Claro que eu nunca entendi... de qualquer forma, você quer suco?

Me pus de pé num salto, pegando os pratos e decidida a deixar a conversa para trás. Não queria ficar com raiva de Enid, muito menos de Carl, ou pensar em como aquela mentira soara amarga em minha boca. “Enid me conta tudo”, até parece. Apenas rumei para a cozinha, jogando os pratos na pia desordenadamente. Carol dissera para não nos preocuparmos com a louça, e era exatamente isso que eu iria fazer.

Abri a geladeira e procurei o suco de laranja que Carol mencionara mais cedo, pouco antes de sair. Antes que eu pudesse pegar a jarra com o líquido amarelo, ouvi um baque surdo e Judith começou a chorar.

— O que foi? — perguntei, olhando Carl pegar a garotinha no colo.

— Ela bateu a cabeça — respondeu ele. O garoto indicou o congelador enquanto balançava sua irmã. — Pode pegar gelo?

Assenti, abrindo a porta e pegando a forma de gelo de dentro. Tirei alguns cubinhos, tentando tocar neles o mínimo possível, e os enrolei num pano de prato, voltando para a sala. Carl me entregou Judith, que tinha o rostinho vermelho banhado de lágrimas, e colocou o embrulho frio em sua testa. Infelizmente, aquilo só a fez gritar mais alto. Talvez estivesse muito frio ou talvez ela não gostasse de ficar no meu colo. Qualquer que fosse a razão, nada fez a garota parar de chorar, nem copos nem nenhuma música que tentei cantar.

Foi então que seu irmão acenou com a cabeça em direção ao corredor e o segui até a janela no final do mesmo. Ali havia uma caixinha de música que, depois de Carl dar corda algumas vezes, começou a tocar uma melodia suave. Judith soluçou mais uma vez, encostando-se em meu ombro, e Carl se aproximou, colocando o gelo na testa dela.

Naquele meio-tempo, observei a paisagem pela janela. Devia ser bem tarde, mas nenhuma casa da vizinhança tinha as luzes acesas, o que indicava que todos ainda deviam estar na reunião. Me perguntei a razão da demora, notando como nossas respirações se embaçavam no vidro, indicando que estava realmente frio do lado de fora. Senti pena das pessoas de pé em meu quintal naquele momento.

Lentamente, a garota começou a se acalmar. Seu irmão ainda teve de dar corda na caixinha várias vezes antes que ela parasse de chorar, mas, eventualmente, os soluços cessaram. Quando aconteceu, Carl a segurou e caminhei para a cozinha, jogando o resto do gelo na pia. Franzi a testa ao notar que só aquele pequeno contato havia deixado minha mão direita fria como se eu a houvesse enfiado dentro do congelador.

Ao voltar, não pude deixar de hesitar um pouco, observando Carl e Judith discretamente. O garoto olhava da caixinha para ela com uma expressão tranquila no rosto que ficava muito bem nele enquanto a menina dava sua atenção inteira para a bailarina na caixinha. De perto, era possível ver o quanto os dois se pareciam, e, como eu sabia como Lori era, notei que a menina tinha diversos traços da mãe.

Me aproximei, tocando a testa de Judith, que piscava pesadamente. Havia um pequeno inchaço no ponto mais vermelho e sua pele estava fria como a de meus dedos. Tirei a mão da cabeça dela e toquei a de Carl, esperando que ele estremecesse e me olhasse feio. No entanto, não foi isso que ele fez.

O garoto me encarou, e só então percebi o quão próximos estávamos. Tão perto que eu podia ver as sardas minúsculas que enfeitavam seu nariz, como se alguém houvesse soprado canela em seu rosto. Olhei em seus olhos, constatando que eram do tom de azul que me tomaria dias de trabalho, misturando tintas até encontrar o tom certo, mas que no final valeria à pena. Seus lábios ainda estavam um pouco roxos, mesmo depois de tanto tempo dentro de casa, e, de repente, quis saber se estavam tão gelados quanto pareciam. Comecei a me aproximar lentamente, notando que ele fazia o mesmo, e senti uma contorção agradável no estômago. Era quase como se houvessem diversas borboletas voando ali dentro e jogando o ar invernal para todos os lados.

Nossos narizes haviam se tocado quando ouvimos a porta da frente abrir e a voz de Carol soou pelo corredor:

— Carl? — chamou, parecendo cansada. — Emily?

Ambos nos afastamos como se houvessemos levado um choque. Dei as costas para ele, mordendo a parte interna da bochecha para esconder o sorriso que teria denunciado minha alegria infantil, e rumei para a sala. Lá, Carol tirava seu casaco, parecendo mais velha do que nunca, e esticou os braços para pegar Judith.

— E então? — perguntou Carl, ansioso. — O que decidiram?

Senti um desânimo me atingir quando lembrei da razão para estarmos ali. Aquilo me fez sentir como uma idiota sorrindo por um motivo bobo.

— Não decidiram — disse Carol, simplesmente.

Franzi a testa e olhei para Carl, que não devolveu o gesto, encarando a mulher.

— Como assim? — exigiu.

Carol suspirou, e aquele simples ato pareceu envelhecê-la mais dez anos.

— Carl, eu não sei como lhe contar isso...

— Aconteceu alguma coisa com meu pai? — perguntou o garoto. Notei um tremor quase imperceptível em sua voz.

— Não — respondeu Carol, protamente. — Ele... fez alguma coisa.

— Você está me matando aos poucos — reclamou Carl. — Pode, por favor, só dizer o que aconteceu?

— Seu pai matou Pete — disse ela num fôlego só.

Levei as mãos à boca, arregalando os olhos. Pete estava morto e eu não sabia como me sentir sobre isso. Por um lado, sabia que ele era um grande acréscimo à comunidade, porque era nosso único médico. Além disso, sua família certamente ia sentir sua falta, apesar de tudo; pensei em Ron e no pequeno Sam, que teria de crescer sem o pai.

No entanto, havia outra parte, uma vozinha no fundo da minha mente que descordava daquilo tudo. Ele mereceu. Afinal, um homem que abusava da própria família não seria uma perda gigante para a sociedade, seria?

Pensar daquela forma me assustava.

— Por quê? — perguntou Carl, parecendo bem menos chocado que eu.

— Deanna permitiu — esclareceu Carol. — Pete... fez algo.

Então os olhos azuis da mulher se tornaram para mim, e demorei para reconhecer a expressão estampada em seu rosto: pena. Pena?

— O que ele fez? — perguntou Carl, soando menos impaciente.

— Ele invadiu a casa ao lado — contou a mulher. — Roubou a espada de Michonne e ia usá-la para matar Rick... se Reg não houvesse o impedido.

Ela tornou a olhar para mim e foi imitada por Carl. Ambos tinham a mesma expressão e eu não entendi o que estava acontecendo. Então liguei os pontos. Reg havia o impedido... e Carol estava me olhando cheia de pena... uma ideia começou a martelar em minha cabeça. No entanto, logo que ela criou forma, eu ri, sabendo que era absurda. Esperei que os outros me acompanhassem, mas eles apenas me encararam e logo a risada morreu em meus lábios.

Oh, não — falei. Carol franziu as sobrancelhas e apertou os lábios numa linha fina. Carl tinha uma expressão quase idêntica e balançava a cabeça negativamente. — Não, não, não...

A mulher abriu a boca para dizer alguma coisa, mas nem me dei ao trabalho de ficar para ouvir. Avancei para a porta, sem me importar em fechá-la depois de sair, e logo estava correndo pelas ruas escuras e vazias da comunidade em direção a minha casa. Aquilo não era real, não podia ser real, Reg estava bem, eu chegaria lá e ele estaria bem...

Em algum ponto do caminho, lembrei que havia deixado meu casaco na casa de Carl, e senti o frio começar a atravessar minhas roupas como várias agulhas fininhas fariam. Minha respiração se condensava à frente de meu rosto e a brisa parecia congelar minhas lágrimas, mantendo-as dentro de meus olhos.

Ao dobrar mais uma esquina, ouvi o barulho de pés batendo contra a calçada rapidamente atrás de mim, o que indicava que alguém, Carl ou Carol, devia ter me seguido. Apressei o passo, não só para chegar mais rápido, mas para que quem quer que estivesse correndo atrás de mim não me alcançasse. Forcei meus pulmões doloridos a engolirem mais um pouco do ar gelado e senti as pontas dos dedos começarem a ficar dormentes.

Ao me aproximar da casa, pude ouvir uma conversa acalorada, embora não distinguisse bem as palavras, e então finalmente eu havia alcançado o portão. Toquei a parede de pedra fria com a ponta dos dedos e encarei a cena à minha frente, que ficaria gravada em minha memória para sempre.

Logo em meus pés, Pete jazia, morto. Ou, bem, algo que costumava ser Pete. Seu cérebro estava totalmente espalhado no chão, como se sua cabeça houvesse decidido explodir ali mesmo. Sangue ainda jorrava do que antes fora seu rosto, tingindo o chão com o líquido viscoso e escuro. O homem ruivo, Abraham, estava de joelhos atrás dele, com metade do rosto coberta de vermelho. Aquilo fez meu estômago se contrair, mas não da maneira que fizera quando eu estivera com Carl; não, aquilo não eram borboletas, era náusea.

No entanto, eu ainda não vira tudo.

Mais adiante, deitado perto da multidão de Alexandrinos que me encarava, Deanna estava ajoelhada, amparando alguém – Reg. Encarei o homem que me salvara e me criara enquanto a poça de sangue jorrava de seu pescoço e aumentava no chão.

Sem nem ao menos perceber o que estava fazendo, caminhei até ele. Ajoelhei-me no meio do sangue e coloquei as duas mãos juntas no corte em seu pescoço, para impedir que mais espacapasse do ferimento. Olhei para o rosto de Reg Monroe, pálido e tranquilo, como se ele estivesse apenas dormindo, e implorei mentalmente para que não me deixasse; para que não se juntasse aos outros.

Quando percebi que não estava retardando, muito menos impedindo o fluxo de sangue, foi aí percebi que estava tentando estancar o sangramento de um cadáver. Olhei para minhas próprias mãos, manchadas de vermelho, e soltei um ruído gutural, meio soluço, meio grito.

Alguém me pegou pelos cotovelos e me ergueu como se eu fosse uma grande boneca de pano. De repente, Rick estava na minha frente, o rosto ainda machucado e com mais sangue do que o de Abraham, segurando meus ombros e falando coisas incompreensíveis. Parecia que eu estava imersa em um grande tanque de água fria que me fazia tremer, escorria por entre meus dedos e não me deixava escutar.

Pisquei e pontos negros começaram a surgir nos cantos de meus olhos, dançando para lá e para cá, impedindo-me de ver direito. Pisquei novamente, e vi o sangue de Reg começar a pingar de minhas mãos para o chão. Pisquei mais uma vez e os olhos azuis de Rick encaravam os meus.

Então eu pisquei de novo. E não consegui mais abrir os olhos.


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Notas finais do capítulo

Não sei como começar essas notas, mas primeiro eu peço piedade. Sério gente, eu falei de novo e de novo e de novo que o shipp ia demorar a rolar, nem sei por que mantiveram as esperanças; todo mundo sabe que eu só decepciono. Se faz vocês sentirem melhor, daqui a pouco a Emily vai perceber que talvez ela goste do Carl.
Por falar em Carl, diz se esse gif não é a coisa mais linda do mundo! Botei primeiramente porque não tinha nenhum da Emily e segundamente porque é muito lindo, quero morder a Judith.
Enfim, hoje vocês têm passe livre pra me xingar bastante nos reviews, inclusive as fantasmas, podem escrever um "vadia" e mandar. Não se preocupem, eu não vou me ofender, sei que sou meio filha da puta mesmo.
Beijinhos e até o próximo capítulo!