If I Die Young escrita por Kaya Levesque


Capítulo 8
Homeless


Notas iniciais do capítulo

VOLTEI! Acho que vou começar a postar às quintas, parece que nunca consigo esperar até sexta... Olha, não sei de onde tirei 4000 e tantas palavras, porque sério, nem acontece tanta coisa assim nesse cap, não entendi pq ficou gigante.
Enfim gente, rápido agradecimento à Mrs Dreams pelo trigésimo review da fic ♥ Além dela, as minas que comentaram no cap passado, vocês são mara! Boa leitura!!!
Homeless – Ed Sheeran



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Lori: My sweet, sweet, boy I love you.

(s03ep04, Killer Within)

 

No dia seguinte, ao abrir os olhos, pude ver minha respiração se condensando à minha frente. Fiquei admirando-a por alguns minutos, com preguiça de levantar; afinal de contas, em minha cama estava muito mais quente do que fora dela, e eu não tinha nada de importante para fazer naquele dia. Exceto que... eu tinha. Lembrei-me de Ron e seu pai e tudo que acontecera no dia anterior e bufei, deitando de bruços.

Tudo bem, o dia anterior não fora um completo disperdício, porque eu tinha entregado o desenho a Carl e ele havia adorado. Depois, ainda ficamos durante mais algum tempo no lago, apenas jogando conversa fora, e só decidi voltar para casa quando o frio realmente tornou-se insuportável. Spencer estava enlouquecendo porque eu passara meia hora do horário combinado e com certeza não deixaria de me lembrar daquilo quando fosse me pedir um favor.

No entanto, eu precisava falar com Ron e saber o que havia acontecido com Pete. Queria ter certeza de que meu amigo estava bem e longe de seu pai. E, basicamente, foi só isso que me fez sair da cama naquele dia – embora mais tarde eu houvesse desejado não tê-lo feito.

Antes de me vestir, fui até o espelho e tirei o curativo que Maggie fizera em minha testa na tarde anterior. O pequeno corte havia criado uma casquinha, e decidi que estava bom o bastante; não ia andar por aí com aquele monte de gaze na minha cabeça.

Quando me empacotei com um trench coat e um cachecol, fui até a janela, apenas para ver como estavam as coisas do lado de fora. Ao olhar para baixo, vi Reg falando com Maggie, que tinha uma expressão séria. A garota assentiu, e logo ele entrou em casa, sumindo de vista enquanto ela se afastava. Ouvi a porta bater e vozes no andar de baixo, e fiquei curiosa. O que estava acontecendo?

Esperei para ter certeza de que Deanna entrara em seu escritório novamente antes de sair do quarto e descer as escadas silenciosamente. Rumei para a cozinha para encontrar Reg bebendo café encostado no balcão com uma expressão distante. Ele se virou ao me ouvir entrando e deu um pequeno sorriso.

— Bom dia — disse.

— Bom dia — respondi. Peguei uma pera na fruteira e dei uma mordida generosa. — Então — comecei. — O que você estava falando com Maggie? Vi vocês pela janela do quarto — acrescentei, antes que ele pudesse perguntar.

Reg respirou fundo e bebeu mais um gole do café antes de começar a falar.

— Deanna decidiu fazer uma reunião com algumas pessoas da comunidade pra decidir se Rick deve ou não ficar aqui — contou. — Todos vão poder opinar, inclusive as pessoas do grupo dele, e no final vamos decidir se devemos mandá-lo embora.

Passei alguns segundos processando a informação. Havíamos mandado apenas um grupo embora desde o começo, e eu não lembrava muito bem o que acontecera por simplesmente não ter prestado atenção naquela época. As pessoas estavam assustadas e não sabiam da história toda; claro que iam querer vê-lo fora de Alexandria o mais rápido possível.

Eu pensava em Carl e Judith. Como o garoto se sentiria caso Rick fosse mandado embora? Ele mostrou uma devoção intensa ao homem nas poucas vezes em que fora mencionado em nossa conversa da noite anterior, ficaria arrasado se tivesse que vê-lo partir. E Judith? Ela perdera a mãe, e agora teria que crescer também sem o pai?

— Oh — foi tudo que pude dizer.

— Pois é — comentou Reg. — E a senhorita vai ficar em casa. Quer dizer, bom... não em casa, já que a reunião vai ser no nosso quintal, mas não vai participar. Pode ficar com Enid.

Assenti lentamente, ainda um pouco perdida em pensamentos.

— Claro — falei por fim. — Eu não ia querer ouvir mesmo. Mas você ainda não me disse o que falou para Maggie.

— Ah, certo — disse o homem, distraíndo-se com seu café. — Bom, eu disse a ela o que vou dizer a Deanna na reunião.

— Que é...?

Reg riu.

— Você é difícil, não é? — dei um sorriso e assenti, concordando. — Bem... os homens das cavernas eram nômades — começou Reg, novamente assumindo novamente aquele olhar desfocado —, e todos eles morreram. Depois evoluímos para isso — ele gesticulou para a cozinha ao nosso redor — e nós vivemos. Civilização começa quando paramos de fugir, quando vivemos juntos — houve mais uma pausa antes que ele terminasse: — Quando paramos de mandar as pessoas embora.

Assenti, sorrindo. Reg sempre tivera um pouco de poeta.

— E você? — perguntou ele. — O que diria pra ela?

Dei de ombros, mas o homem continuou me encarando, esperando uma resposta. Suspirei.

— Por um lado, Rick quase me matou de medo ontem — falei. — Eu realmente achei que ele ia atirar em todos vocês...

— Somos dois — comentou Reg.

— ...mas depois, eu falei com Maggie — continuei — e ela me disse que ele quer mostrar a Deanna que o modo que ela faz as coisas não condiz mais com o que o mundo se tornou.

— E o que você acha disso? — indagou ele.

— Honestamente? — perguntei. Reg assentiu e eu suspirei. — Bom, foi algo que eu pensei ontem à noite, voltando pra casa...

— À noite? — interrompeu ele. Senti meu rosto corar ao perceber o deslize que tinha cometido. Reg me lançou um sorriso cúmplice e riu. — Tudo bem, vi você saindo ontem.

— Você contou a ela? — perguntei, receosa.

— Não, não — garantiu o homem. — Você sabe como Deanna fica quando você sai depois de anoitecer e eu não queria que ela se estressasse mais.

— Desculpe — falei, envergonhada. Embora os Monroe não fossem minha família de sangue, eu lhes devia alguma obediência; afinal de contas, eles haviam me criado.

— Apenas não faça de novo — pediu Reg. — Mas você estava pensando ontem à noite, e?

— Bom, eu... não sei do que Maggie estava falando, na verdade — confessei. — Eu não vivi isso, nem mais ninguém aqui. Mas ela me contou que há grupos lá fora que poderiam nos matar pra tomar este lugar. E... eu não quero que isso aconteça. Então, se tivermos que contar com Rick para proteger Alexandria, então que seja.

— E sobre Pete? — perguntou Reg.

— Ela falou sobre isso também — eu disse, assentindo. — Se o mandarmos embora, ele pode voltar, sozinho ou não. E isso não seria bom. Nós temos que mantê-lo longe de Jessie e dos meninos.

— Ah, mas já estamos fazendo isso — assegurou ele. — Pete se mudou para outra casa, e não vamos deixá-lo chegar perto de sua família.

Assenti, terminando de comer a pera.

— Acha eu deveria ir ver como Ron está? — perguntei, hesitante.

Reg balançou a cabeça.

— Dê algum espaço a ele, o garoto deve estar confuso.

Assenti.

— Mas, de qualquer forma, saia de casa hoje — recomendou Reg. — Vamos passar o dia organizando as coisas por aqui e Deanna não quer que você se envolva. Vá passear por aí.

Soltei uma risada curta.

— Estou expulsa, então? — perguntei. O homem balançou a cabeça, rindo.

— De certa forma — disse. joguei o resto da pera no lixo e rumei para a sala. — Ei, Emily — chamou Reg quando eu já estava na porta calçando as luvas. Virei para ele, as sobrancelhas erguidas. — Tome cuidado.

Assenti, concordando, embora não soubesse bem ao que ele se referia. Apenas dei as costas e saí da casa.

Lá fora, minha respiração tornou a se condensar. Desci as escadas de madeira enquanto observava que várias árvores da comunidade estavam sem folhas, o que indicava que o inverno estava em seu ápice. Engraçado como havia passado depressa; nos outros anos, a estação pareceu se arrastar, e, no entanto, neste, mal chegara e já estava perto do fim. Andei calmamente, encarando o céu e pensando se teríamos alguma neve antes da primavera.

Distraída, não notei que havia alguém indo em direção à casa dos Monroe até que ele me chamou.

— Emily — ouvi a voz de Carter.

Tirei os olhos das nuvens para ver o homem vindo em minha direção. Seus cabelos ralos eram loiros, contrastando com sua pele um tanto amarelada e olhos claros. Ele sempre ostentava um semblante preocupado, e hoje não era diferente.

— Bom dia, Carter — falei, educadamente.

— Bom dia — respondeu ele, parando à minha frente. — Escute, não pude falar com você depois do velório, mas... eu sinto muito pelo que aconteceu com Aiden.

— Ah — falei, baixando os olhos. — É, foi horrível.

— Bom, mas se tudo correr bem hoje, vamos evitar que mais coisas como essa aconteçam — prometeu ele. Franzi a testa, surpresa e confusa ao mesmo tempo. O que ele queria dizer com aquilo?

— Como assim? — perguntei.

— Bom, é hoje que teremos aquela reunião pra saber se vamos ou não mandar aquele homem embora, não é mesmo? — rebateu ele, sorrindo.

Ele acenou uma última vez e foi embora, deixando-me plantada lá, incrédula. Tudo bem: Rick não estava no topo da minha lista de pessoas favoritas agora; ele havia apontado uma arma para minha família e dito coisas horríveis. Mas a morte de Aiden não fora culpa dele. E eu estava cada vez mais certa de que não poderíamos proteger Alexandria se o policial fosse embora. Além disso, o modo como Carter dissera “aquele homem” como se estivesse falando um palavrão... aquilo me preocupou. E se todos na comunidade pensassem da mesma maneira?

Respirei fundo, deixando o ar gelado inundar meus pulmões e continuei andando, sem destino certo. Caminhei por casas e gramados cheios de orvalho, observando como o inverno mudava a paisagem. De uma hora para a outra, tudo parecia estar em tons mais pálidos do que o normal, o que era algo que eu achava lindo sobre essa estação do ano.

Apenas quando passei por Glenn, que ia em direção aos muros, foi que lembrei o que Maggie havia me dito no dia anterior, sobre me proteger.

— Glenn — chamei.

O asiático se virou, surpreso, como se não esperasse ser visto ali. Ele deu uma última olhada em direção aos paredões antes de se voltar para mim.

— Ei — disse. — Você, ah, precisa de ajuda com algo?

— Sim — respondi. — Na verdade, preciso.

— Isso não é sobre nossa conversa, é? — perguntou ele, as sobrancelhas erguidas. — Você contou a alguém?

— Hum, não — falei, incomodada. — Eu falei pra você que não ia dizer nada, por que pensou que eu iria?

— Certo — disse ele. — Desculpe, eu costumava ser péssimo em guardar segredos quando era mais novo, tenho medo que todos sejam assim.

Não pude deixar de rir.

— Na verdade, estou aqui para falar sobre algo que Maggie me disse ontem — falei. — Ela me disse para vir falar com você.

— Estou ouvindo — garantiu ele.

— Eu queria saber se você podia me ensinar a usar armas — soltei num fôlego só. Ao ver a expressão surpresa do rapaz, decidi acrescentar: — Não precisa ser agora, eu não quero que seja agora, ainda preciso me acostumar com a ideia, mas só queria saber...

— Tudo bem — disse ele, me interrompendo rapidamente. — Tudo bem, ah... é que eu não sou dos melhores professores. Mas se você quiser mesmo, eu posso falar com alguém. Isso, claro, depende de qual tipo de arma você quer aprender a usar.

— Hum — falei, em dúvida. — Todas?

Glenn riu.

— Se quiser facas, pode falar com a Rosita — informou ele. — Você sabe, Rosita Espinosa, a garota com o boné. E armas de fogo, Abraham ou Daryl. Daryl não é de conversar muito, mas é bem menos exigente do que o Abraham, você escolhe.

— Claro — falei. Ele assentiu e ia se virar para os muros novamente, quando lembrei de algo: — Tara continua na enfermaria?

— Sim — respondeu ele. Detectei uma nota de impaciência em sua voz e franzi a testa. — Na verdade, Rosita está lá com ela.

Assenti.

— Até mais, então — falei, virando-me na direção oposta e tornando a caminhar sem destino.

Ouvi os passos de Glenn até virar a esquina numa casa, e depois, nada.

Decidi não aparecer na enfermaria àquela hora, afinal eu não estava com tanta pressa assim, e não queria incomodar. Pensei em voltar para casa, mas logo lembrei que Reg havia me expulsado pelo dia, por causa da reunião. Eu não podia ir à casa dos Anderson, já que Jessie devia estar enfrentando alguns problemas com os meninos, nem queria ir até Mickey ou Enid.

Acabei, como sempre, no lago. Sentei no banco, observando a água ir de lá para cá em pequenas ondas e o movimento das rãs nas bordas, enquanto tentava evitar pensar em alguma coisa. Não queria pensar em Rick, em armas ou na reunião. Por um momento, desejei que pudesse piscar os olhos e voltar para quando tudo era mais simples. Quando não havia necessidade de se ter armas; quando meus pais me levavam para passear nas Quintas do Sorvete, feriado inventado por minha mãe; quando minha avó contava histórias sobre sua vida no Congo e me ensinava francês; quando os Monroe eram apenas amigos da família, e eu não tinha ideia de quem eram os Anderson ou os Grimes...

Pouco depois do meio-dia, quando o clima estava agradável o suficiente para que eu me livrasse das luvas, ouvi passos atrás de mim. Virei-me para ver Carl se aproximando com as mãos nos bolsos do casaco e sem seu chapéu.

— Oi — falei, sorrindo.

— Ei — disse ele, nem de longe tão animado.

Enquanto ele sentava a meu lado, vi sua respiração se condensando à frente do rosto, assim como a minha, e seus lábios ligeiramente roxos. Ele fungou um pouco e notei como seu nariz estava vermelho, franzindo a testa.

— Você estava chorando? — perguntei. Carl franziu a testa.

— Não — disse, com a voz um pouco anasalada. — Provavelmente é só uma gripe.

Assenti, voltando a olhar o lago.

— Você soube da reunião? — perguntei, tentando engatar uma conversa com ele.

— Que reunião?

Hesitei por um momento. Assunto errado.

— Deanna organizou — comecei. — Ela quer que todos deem suas opiniões sobre Rick ser mandado embora.

Carl me encarou por alguns segundos.

— Ela quer mandá-lo embora? — perguntou por fim.

— Não é bem assim — falei, na defensiva. — Ela quer saber se todos concordam que ele vá.

Ele passou alguns instantes apenas encarando o lago parecendo exasperado e sem saber o que dizer.

— Você quer que ele vá? — perguntou.

— Não — respondi imediatamente.

— Seja sincera — pediu ele.

— Eu estou sendo sincera — repliquei. — Eu sempre sou, caso não esteja claro. Não consigo nem jogar pôker porque envolve muita mentira.

— Tudo bem — disse ele. — Só pensei que talvez você estivesse mentindo pra me fazer sentir melhor. Mas por que pensa assim, de qualquer forma? Achei que ele tinha te assustado.

— E assustou, é só que... — suspirei, sem saber como continuar. — É complicado. Nem eu mesma entendo direito, mas não quero que você e Judith fiquem sem seu pai.

Carl me olhou, surpreso, e assentiu.

— Por que você está aqui? — perguntou, parecendo decidir que seria melhor mudar de assunto. — Esperava que você fosse pra casa do Ron.

— Eu não vou pra lá — falei. — Não quero falar com Ron agora, ele provavelmente vai ficar tagarelando sobre Pete. Reg me expulsou de casa e eu queria pensar um pouco, então vim pra cá.

— É um ótimo lugar para pensar — concordou Carl. — Mas você não fica com frio? Devem estar fazendo uns dez graus.

Soltei uma risadinha.

— Na verdade, não — respondi. — Eu gosto do frio. Menos quando me deixa doente.

Ficamos alguns instantes em silêncio, apenas admirando a paisagem e me vi observando alguns pássaros levantarem voo de uma árvore na outra margem. O Sol já havia aparecido por entre as nuvens, deixando o tempo menos frio, e desenrolei o cachecol do meu pescoço.

— Então, você vai participar? — perguntou Carl, cruzando os braços. — Da reunião?

— Não — falei. — Por isso fui expulsa de casa, Deanna “não quer que eu me envolva” — desenhei aspas com os dedos. — E você?

— Não sei — disse ele. — Acho que nada que eu disser vai servir de muita coisa. Além disso, alguém tem que cuidar da Judith.

— Eu posso ajudar você — ofereci.

— Sério? — perguntou, lançando-me um sorriso debochado. — Porque ela dá bastante trabalho.

— Claro — falei. — Eu não tenho nada pra fazer, posso ser babá por uma noite.

Carl riu e descruzou os braços, levantando-se.

— Eu vou indo — disse — Quero ver Tara na enfermaria antes de voltar pra casa.

Assenti, me sentindo um pouco triste. Afinal de contas, eu gostava de falar com Carl. E, assim que ele saísse, eu estaria só com meus pensamentos de novo.

— Posso ir com você? — perguntei, me arrependendo na hora. Senti o sangue subir para minhas bochechas enquanto pensava no que responderia caso ele dissesse não, mas Carl sorriu.

— Claro.

Respirei fundo, agradecendo silenciosamente enquanto me levantava, indo atrás dele. Logo, estávamos andando lado a lado pelas ruas estranhamente vazias da comunidade. Ao passarmos pela casa dos Miller, achei que a sra. Miller ia acenar para mim, como sempre fazia, mas ela apenas franziu o rosto e nos deu as costas.

Ao chegarmos à enfermaria, Carl bateu na porta algumas vezes, antes de uma voz feminina dizer que podíamos entrar. Lá estava mais quente do que do lado de fora, e tirei o casaco, deixando-o dobrado em meu braço. O lugar estava praticamente igual ao que estava no dia anterior, com o mesmo cheiro de álcool em gel, só que mais vazio.

— Rosita? — chamou Carl.

— Aqui em cima — respondeu a mulher.

Carl olhou ao redor, confuso por claramente nunca ter ido até lá. Guiei-o até as escadas e subimos silenciosamente. No andar de cima haviam mais macas, todas divididas em leitos com cortinas separando-as. Numa dessas macas, Tara estava deitada com um curativo ao redor da cabeça e os olhos fechados, respirando calmamente.

— Ei — disse Rosita sentada numa cadeira de plástico ao lado dela com um livro aberto no colo.

— Oi — falei. Carl acenou com a cabeça.

— Nenhuma melhora? — perguntou.

— Nada — disse Rosita. — Vamos movê-la para o andar de baixo hoje à tarde, assim não temos que ficar subindo com a medicação.

Assentimos e ficamos observando-a por mais alguns instantes. Eu nunca tinha prestado muita atenção a Tara, mas ela sempre parecia estar franzindo as sobrancelhas por algo. Agora, no entanto, sua expressão estava tranquila como eu nunca vira antes; era como se a garota estivesse apenas dormindo.

— Ei, Carol não precisa de você na casa? — perguntou Rosita para Carl. — Porque ela ficou sozinha com Judith.

— Verdade — disse Carl, então se virou para descer. — Você vem? — perguntou ao perceber que eu não havia me movido.

— Vou aparecer lá mais tarde — prometi. — Mas quero ficar mais um pouco.

O garoto balançou a cabeça e virou para as escadas. Puxei uma cadeira para perto da maca de Tara e olhei para Rosita, sem ter certeza de como conversar com ela. Achei melhor falar sobre Glenn primeiro.

— Então, ah — comecei brilhantemente. — Glenn disse que você pode me ensinar a usar uma faca.

Rosita me olhou, estreitanto os olhos. Olhando-a de perto, ela parecia uma daquelas garotas populares do Ensino Médio, só que um pouco mais velha, e, de certa forma, mais intimidante. Ela deu uma risadinha e fechou o livro, balançando a cabeça e apoaindo o queixo nas mãos.

— Como é?

— Você sabe — falei, sentindo minhas bochechas queimarem lentamente pela reação dela. Definitivamente, eu tinha um talento especial para passar vergonha na frente daquelas pessoas. — Ele disse que você pode me ensinar a me defender.

Ela pensou um pouco e assentiu, tornando a se encostar na cadeira e cruzando os braços.

— Claro — disse — Mas esse é um pedido um pouco estranho para se fazer agora, você não acha?

— Acho — concordei. — Mas Maggie disse que eu conseguiria aprender. Não estou tão certa disso, mas...

— Todos conseguem aprender — interrompeu Rosita.

— Foi o que ela disse — comentei. — Mas não tenho certeza se quero aprender.

— E por quê? — quis saber ela.

Bufei, dando de ombros.

— Medo? — perguntei retoricamente. — Nervosismo? Não sei. Meu pai não era um cara que gostava de armas. Fui criada para pensar que elas são ruins.

Rosita apertou os lábios.

— Elas eram — concordou. — Eram uma merda, mas antes de tudo isso. Hoje, elas salvam sua vida.

— Exatamente — falei, voltando meu olhar para Tara — Por isso estou pedindo para aprender a usá-las. Claro que não vai ser agora... Deanna está tendo alguns problemas com o grupo de vocês, mas... eu pensei que depois, quando as coisas se acalmassem, eu poderia.

— Você soube da reunião que Deanna vai fazer, então? — perguntou ela, também olhando para Tara.

— Bom, vai ser na minha casa, não é? — ri sem vontade. — Você vai participar?

— Não, eu tenho que ficar com ela.

Assenti, compreensiva. Então pensei em outra coisa que Glenn havia me dito.

— É verdade que seu nome é Rosita Espinosa? — perguntei, confusa. Rosita riu.

— Verdade — confirmou.

— Como assim? — perguntei, rindo — Sabe, meu espanhol não é dos melhores... mas seu nome significa “rosinha espinhosa”?

— Precisamente — disse ela, rindo também. — Acho um ótimo nome, faz jus à dona.

— Acho que sim — falei, levantando-me. — Eu devia ir agora, falei para Carl que ia ficar de babá com ele.

A mulher assentiu.

— Judith é ótima — disse. — Carl adora se gabar sobre como toma conta dela sozinho, mas ela é uma das crianças mais calmas que já conheci, principalmente quando está brincando com os copos.

Dei uma risadinha.

— Então até mais — despedi-me. — E, hum, obrigada.

— A qualquer hora — respondeu ela, abrindo o livro novamente.

Desci as escadas para o primeiro andar, vestindo o casaco novamente e saindo da enfermaria. Minhas luvas e meu cachecol ainda estavam em minhas mãos, mas como eu não podia ir para casa, teria de continuar segurando-os.

Caminhei por Alexandria, agora vendo mais pessoas do que antes. Algumas me davam sorrisos contidos, enquanto outras acenavam, e ninguém mais estava agindo estranhamente comigo como a sra. Miller fez quando passei com Carl.

Cheguei à casa dele e subi os degraus, batendo na porta em seguida. Imaginei o que Michonne diria se atendesse a porta por causa do incidente da noite passada, e ri da minha própria estupidez. Do lado de dentro, ouvi um choro de bebê, o que significava que Judith estava chateada com algo, e passos vindo em minha direção. Logo, Carol abriu e sorriu para mim.

— Olá — disse. — Acho que ainda não fomos oficialmente apresentadas. — A mulher estendeu a mão: — Sou Carol.

Sorri de volta e apertei sua mão.

— Emily Green. Carl está?

Ela assentiu, ainda sorrindo.

— Está, sim, pode entrar.

Passei por ela, entrando na casa pela primeira vez desde que fora designada para o grupo. Era uma típica casa que comportava uma família grande demais, com sapatos deixados aleatoriamente no pé da escada e casacos em cima das poltronas.

— Não repare na bagunça — pediu Carol, pegando meu trench coat. — É quase impossível manter as coisas organizadas por aqui, parece que uma alcateia mora neste lugar. — A mulher pendurou meu casaco no gancho e notei Judith no canto, chorando dentro de um berço. Carol suspirou. — Você se importa de ficar com ela um pouquinho enquanto vou chamar Carl?

— Não! — falei. — Foi pra isso que eu vim, pra ajudá-lo na hora da reunião.

O sorriso de Carol diminuiu um pouco à menção do evento, mas ela disfarçou e pegou Judith no berço. A garotinha parou de chorar quase imediatamente e se apertou contra mim quando a mulher colocou-a em meu colo. Carol sorriu uma última vez antes de subir as escadas, desaparecendo no segundo andar.

A menina olhou para mim e fez um beicinho, indicando que ia começar a chorar novamente e procurei algo para distraí-la.

— Você gosta da janela, Judith? — perguntei, andando até lá e abrindo as cortinas.

Ainda assim, ela continuou com a mesma expressão triste e começou a chorar. Olhei ao redor desesperadamente. Certo, ou Rosita havia mentido e Carl estava certo, ou Judith não gostava de mim.

— Não, não, não — falei.

Comecei a balançar Judith. Ela pareceu se acalmar mais, e comecei a cantarolar uma música do filme preferido de Spencer, Juno. Eu sabia muito bem que ele só gostava de assistir por causa da Ellen Page, mas a trilha sonora era ótima. Fora que, nos primeiros créditos, as cenas eram desenhos. A música que cantei para Judith foi a última do filme, Anyone Else But You. Ela parou de chorar totalmente e se encostou no meu ombro, como se estivesse acostumada a ouvir música e continuei até ouvir passos atrás de mim. Virei e senti um arrepio descer por minha coluna.

Michonne estava lá, e, junto dela, Rick. O rosto do homem estava inchado e roxo, com vários hematomas e band-aids, e lembrei do que ele havia dito no dia anterior. Aquilo me deixou atônita por alguns minutos, e apenas me recuperei quando o homem deu um pequeno sorriso.

— Ela gosta de você — observou. Me obriguei a sorrir por menos que fosse.

— Não parecia há uns minutos — comentei.

Naquele momento, Carl e Carol desceram as escadas. O garoto olhou de mim para seu pai, que acenou com a cabeça antes de sair, acompanhado por Michonne. Carol foi para a cozinha e Carl caminhou em minha direção para pegar sua irmã. Ele franziu a testa para mim.

— Tudo bem? — perguntou, a voz baixa. Assenti. — Eu sinto muito, não...

— Certo — disse Carol, nos olhando de perto do fogão. — Quem vai querer chocolate quente?


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Notas finais do capítulo

Então? Ah, vocês viram os posters individuais da sétima temporada?? Murri. Enfim gente, comentem o que acharam! Beijinhos e até o próximo capítulo!!



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